Urântia

OS DOCUMENTOS DE URÂNTIA

- A REVELAÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO -

INDICE

Documento 133

O Retorno de Roma

133:0.1 (1468.1) Quando se preparou para deixar Roma, Jesus não se despediu de nenhum de seus amigos. O escriba de Damasco apareceu em Roma sem anúncio e desapareceu da mesma maneira. Passou-se um ano inteiro até que aqueles que o conheciam e o amavam perdessem a esperança de vê-lo novamente. Antes do final do segundo ano pequenos grupos daqueles que o haviam conhecido se perceberam mutuamente atraídos pelo interesse comum nos ensinamentos dele e pela memória mútua de seus bons momentos com ele. E estes pequenos grupos de estoicos, cínicos e cultuadores dos mistérios continuaram a manter estas reuniões esporádicas e informais até a época do aparecimento em Roma dos primeiros pregadores da religião cristã.

133:0.2 (1468.2) Gonod e Ganid haviam comprado tantas coisas em Alexandria e em Roma que enviaram todos os seus pertences à frente numa caravana de carga para Tarento, enquanto os três viajantes passeavam prazerosamente através da Itália pela grande Via Ápia. Nesta viagem encontraram todas as espécies de seres humanos. Muitos nobres cidadãos romanos e colonos gregos viviam ao longo desta estrada, mas a descendência de um grande número de escravos inferiores já começava a aparecer.

133:0.3 (1468.3) Um dia, enquanto descansavam na hora do almoço, a meio caminho de Tarento, Ganid fez a Jesus uma pergunta direta sobre o que ele pensava do sistema de castas da Índia. Disse Jesus: “Embora os seres humanos difiram de muitas maneiras uns dos outros, diante de Deus e no mundo espiritual todos os mortais estão em pé de igualdade. Há apenas dois grupos de mortais aos olhos de Deus: aqueles que desejam fazer a sua vontade e aqueles que não desejam. Quando o universo contempla um mundo habitado, também distingue duas grandes classes: aqueles que conhecem a Deus e aqueles que não O conhecem. Aqueles que não podem conhecer a Deus são contados entre os animais de qualquer reino. A humanidade pode ser apropriadamente dividida em muitas classes de acordo com diferentes qualificações, conforme elas possam ser vistas fisicamente, mentalmente, socialmente, vocacionalmente ou moralmente, mas como estas diferentes classes de mortais aparecem perante o tribunal de julgamento de Deus, elas estão em pé de igualdade; Deus verdadeiramente não faz acepção de pessoas. Embora não possam escapar do reconhecimento das habilidades e dotações humanas diferenciais em questões intelectuais, sociais e morais, vocês não devem fazer tais distinções na irmandade espiritual dos homens quando congregados para adorar na presença de Deus”.

 

1. Misericórdia e Justiça

 

133:1.1 (1468.4) Um incidente muito interessante ocorreu certa tarde à beira da estrada quando eles se aproximavam de Tarento. Observaram um jovem rude e agressivo atacando brutalmente um rapaz menor. Jesus apressou-se em socorro do jovem agredido e, quando o havia resgatado, segurou firmemente o ofensor até que o rapaz menor tivesse escapado. No momento em que Jesus soltou o pequeno brigão, Ganid se lançou sobre o garoto e começou a espancá-lo com força e, para espanto de Ganid, Jesus prontamente interferiu. Depois de conter Ganid e permitir que o garoto assustado escapasse, o jovem, assim que recuperou o fôlego, exclamou excitado: “Não consigo entender você, Professor. Se a misericórdia exige que você salve o rapaz menor, a justiça não exige a punição do jovem maior e ofensor?” Ao responder, Jesus disse:

133:1.2 (1469.1) “Ganid, é verdade, você não entende. A ministração da misericórdia é sempre obra do indivíduo, mas a punição da justiça é função dos grupos administrativos sociais, governamentais ou do universo. Como indivíduo, sou obrigado a mostrar misericórdia; tenho que ir resgatar o rapaz agredido e, com toda a consistência, posso empregar força suficiente para conter o agressor. E isso é exatamente o que eu fiz. Consegui a libertação do rapaz agredido; esse foi o fim da ministração de misericórdia. Então, detive o agressor à força por um período de tempo suficiente para permitir que a parte mais fraca da disputa escapasse, após o que me retirei do caso. Eu não prossegui para fazer julgamento do agressor, para assim avaliar o seu motivo – para julgar tudo o que entrou em seu ataque contra seu semelhante – para então empreender a execução da punição que minha mente poderia ditar como justa compensação pelo erro dele. Ganid, a misericórdia pode ser pródiga, mas a justiça é rigorosa. Não consegue você discernir que duas pessoas provavelmente não concordarão quanto à punição que satisfaria as exigências da justiça? Um imporia quarenta chicotadas, outro vinte, enquanto outro ainda aconselharia confinamento em solitária como punição justa. Você não pode ver que neste mundo é melhor que tais responsabilidades recaiam sobre o grupo ou sejam administradas por representantes escolhidos do grupo? No universo, o julgamento cabe àqueles que conhecem plenamente os antecedentes de todas as transgressões, bem como sua motivação. Na sociedade civilizada e num universo organizado a administração da justiça pressupõe a emissão de uma sentença justa resultante de um julgamento equânime, e tais prerrogativas são concedidas aos grupos jurídicos dos mundos e aos administradores oniscientes dos universos mais elevados de toda a criação”.

133:1.3 (1469.2) Durante dias eles conversaram sobre este problema de manifestar misericórdia e administrar justiça. E Ganid, pelo menos até certo ponto, entendeu por que Jesus não se envolveria em combate pessoal. Mas Ganid fez uma última pergunta, para a qual nunca recebeu uma resposta plenamente satisfatória; e essa pergunta foi: “Mas, Professor, se uma criatura mais forte e irascível o atacasse e ameaçasse destruí-lo, o que você faria? Você não faria nenhum esforço para se defender?” Embora Jesus não pudesse responder plena e satisfatoriamente à pergunta do rapaz, visto que ele não estava disposto a lhe revelar que ele (Jesus) estava vivendo na Terra como a exemplificação do amor do Pai do Paraíso a um universo que o observava, ele disse o seguinte:

133:1.4 (1469.3) “Ganid, posso entender muito bem como alguns destes problemas o deixam perplexo e vou me esforçar para responder à sua pergunta. Primeiro, em todos os ataques que pudessem ser feitos contra a minha pessoa, eu determinaria se o agressor era ou não um filho de Deus – meu irmão na carne – e se eu achasse que tal criatura não possuísse julgamento moral e razão espiritual, eu iria me defender sem hesitação com a plena capacidade dos meus poderes de resistência, independentemente das consequências para o atacante. Mas eu não atacaria assim um semelhante com status de filiação, mesmo em legítima defesa. Ou seja, eu não o puniria antecipadamente e sem julgamento por seu ataque a mim. Eu tentaria, por todos os artifícios possíveis, impedi-lo e dissuadi-lo de fazer tal ataque e mitigá-lo caso eu não conseguisse evitá-lo. Ganid, tenho absoluta confiança no supracuidado do meu Pai celestial; estou consagrado a fazer a vontade do meu Pai do céu. Não acredito que um mal real possa me acontecer; não acredito que o trabalho da minha vida possa realmente ser comprometido por qualquer coisa que meus inimigos possam querer me infligir, e certamente não temos violência a temer da parte dos nossos amigos. Estou absolutamente certo de que o universo inteiro é amigável para mim – eu insisto em acreditar nesta verdade todo-poderosa com uma confiança de todo o coração a despeito de todas as aparências em contrário.

133:1.5 (1470.1) Mas Ganid não estava plenamente satisfeito. Muitas vezes eles conversaram sobre estes assuntos, e Jesus contou-lhe algumas de suas experiências de infância e também sobre Jacó, o filho do pedreiro. Ao saber como Jacó se assumiu como defensor de Jesus, Ganid disse: “Oh, estou começando a ver! Em primeiro lugar, muito raramente qualquer ser humano normal iria querer atacar uma pessoa tão gentil como você, e mesmo que alguém fosse tão irrefletido a ponto de fazer tal coisa, com certeza haverá algum outro mortal por perto que se apressará em ajudá-lo, assim como você sempre vai em socorro de qualquer pessoa que você observe estar em perigo. No meu coração, Professor, concordo com você, mas em minha cabeça ainda penso que, se eu fosse Jacó, teria gostado de punir aqueles sujeitos rudes que ousaram atacá-lo só porque pensaram que você não se defenderia. Presumo que você esteja bastante seguro em sua jornada pela vida, já que gasta muito do seu tempo ajudando os outros e ministrando a seus semelhantes em aflição – bem, provavelmente sempre haverá alguém por perto para defendê-lo”. E Jesus respondeu: “Essa prova ainda não chegou, Ganid, e quando vier, teremos que cumprir a vontade do Pai”. E isso foi tudo o que o rapaz conseguiu que seu professor dissesse sobre este difícil assunto de autodefesa e não-resistência. Em outra ocasião ele de fato arrancou de Jesus a opinião de que a sociedade organizada tinha todo o direito de empregar a força na execução de seus justos mandados.

 

2. Embarcando em Tarento

 

133:2.1 (1470.2) Enquanto permaneciam no desembarque do navio, esperando que o barco fosse descarregado, os viajantes observaram um homem maltratando a esposa. Como era seu costume, Jesus interveio em favor da pessoa sujeita ao ataque. Ele avançou por trás do marido irado e, batendo gentilmente em seu ombro, disse: “Meu amigo, posso falar com você em particular por um momento?” O homem zangado ficou perplexo com tal abordagem e, após um momento de hesitação embaraçosa, gaguejou – “uh… por que… sim, o que você quer comigo?” Quando Jesus o levou para um lado, disse: “Meu amigo, percebo que algo terrível deve ter acontecido com você; eu desejo muito que você me conte o que poderia acontecer com um homem tão forte para levá-lo a atacar sua esposa, a mãe de seus filhos, e isso aqui mesmo diante dos olhos de todos. Tenho certeza de que você deve sentir que tem algum bom motivo para esta agressão. O que a mulher fez para merecer tal tratamento do marido? Ao olhar para você, acho que discirno em seu rosto o amor pela justiça, se não o desejo de demonstrar misericórdia. Arrisco-me a dizer que, se você me encontrasse à beira do caminho, atacado por ladrões, acorreria sem hesitar em meu socorro. Ouso dizer que você fez muitas coisas assim corajosas ao longo de sua vida. Agora, meu amigo, me diga, qual é o problema? A mulher fez algo errado ou você destemperadamente perdeu a cabeça e a agrediu sem pensar?” Não foi tanto o que ele disse que tocou o coração deste homem, mas o olhar bondoso e o sorriso compassivo que Jesus lhe concedeu ao concluir seus comentários. Disse o homem: “Percebo que você é um sacerdote dos cínicos e estou grato por ter me contido. Minha esposa não cometeu nenhum grande mal; ela é uma boa mulher, mas me irrita pela maneira como me provoca em público, e perco a paciência. Sinto muito por minha falta de autocontrole e prometo tentar cumprir minha promessa de outrora a um de seus irmãos que me ensinou o melhor caminho há muitos anos. Eu lhe prometo”.

133:2.2 (1471.1) E então, ao despedir-se dele, Jesus disse: “Meu irmão, lembre-se sempre de que o homem não tem autoridade legítima sobre a mulher, a menos que a mulher lhe tenha proposital e voluntariamente dado tal autoridade. Sua esposa se comprometeu a passar a vida com você, para ajudá-lo a lutar em suas batalhas e para assumir a parte muito maior do fardo de gerar e criar seus filhos; e em troca deste serviço especial é apenas justo que ela receba de você aquela proteção especial que o homem pode dar à mulher como a parceira que tem que carregar, gerar e nutrir os filhos. O cuidado amoroso e a consideração que um homem está disposto a conceder à sua esposa e seus filhos são a medida da realização dos níveis mais elevados de autoconsciência criativa e espiritual por parte desse homem. Não sabe você que homens e mulheres são parceiros de Deus no sentido de que cooperam para criar seres que crescem para se apossar do potencial de almas imortais? O Pai do céu trata o Espírito Mãe dos filhos do universo como alguém igual a Ele mesmo. É divino compartilhar sua vida e tudo o que se relaciona a ela em igualdade de condições com a parceira-mãe que compartilha tão plenamente com você essa experiência divina de se reproduzirem na vida de seus filhos. Se puder amar seus filhos como Deus o ama, você amará e cuidará de sua esposa como o Pai do céu honra e exalta o Espírito Infinito, a mãe de todos os filhos-espíritos de um vasto universo”.

133:2.3 (1471.2) Ao embarcarem no barco, olharam atrás para a cena do casal com os olhos cheios de lágrimas, parados num abraço silencioso. Tendo ouvido a última metade da mensagem de Jesus ao homem, Gonod passou o dia todo ocupado com meditações a esse respeito, e resolveu reorganizar seu lar quando voltasse para a Índia.

133:2.4 (1471.3) A viagem para Nicópolis foi agradável mas lenta, pois o vento não esteve favorável. Os três passaram muitas horas recontando suas experiências em Roma e relembrando tudo o que lhes acontecera desde que se conheceram em Jerusalém. Ganid estava ficando imbuído do espírito de ministração pessoal. Ele começou a trabalhar como camareiro do navio, mas no segundo dia, quando entrou em águas religiosas profundas, chamou Yeshua para ajudá-lo.

133:2.5 (1471.4) Eles passaram vários dias em Nicópolis, a cidade que Augusto havia fundado cerca de cinquenta anos antes como a “cidade da vitória” em comemoração à batalha de Áccio, sendo este local a terra onde ele acampou com seu exército antes da batalha. Alojaram-se na casa de um certo Jeramy, um prosélito grego da fé judaica, que haviam conhecido a bordo. O apóstolo Paulo passou todo o inverno com o filho de Jeramy na mesma casa durante sua terceira viagem missionária. De Nicópolis navegaram no mesmo barco para Corinto, a capital da província romana da Acaia.

 

3. Em Corinto

 

133:3.1 (1471.5) Quando chegaram a Corinto, Ganid estava ficando muito interessado na religião judaica e, por isso, não foi estranho que, um dia, quando passaram pela sinagoga e viram as pessoas entrando, ele pediu a Jesus que o levasse ao serviço. Naquele dia, eles ouviram o discurso de um rabino erudito sobre o “Destino de Israel” e, após o culto, encontraram um certo Crispo, o principal dirigente desta sinagoga. Muitas vezes eles voltaram aos serviços da sinagoga, mas principalmente para encontrar Crispo. Ganid passou a gostar muito de Crispo, sua esposa e a família deles de cinco filhos. Ele gostava muito de observar como um judeu conduzia sua vida familiar.

133:3.2 (1472.1) Enquanto Ganid estudava a vida familiar, Jesus ensinava a Crispo os melhores caminhos da vida religiosa. Jesus realizou mais de vinte sessões com este judeu voltado para o futuro; e não é surpreendente, anos depois, quando Paulo estava pregando nesta mesma sinagoga, e quando os judeus haviam rejeitado sua mensagem e votado para proibir sua pregação na sinagoga, e quando ele foi então aos gentios, que Crispo com a sua família inteira abraçasse a nova religião, e que ele se tornasse um dos principais suportes da igreja cristã que Paulo posteriormente organizou em Corinto.

133:3.3 (1472.2) Durante os dezoito meses em que Paulo pregou em Corinto, sendo posteriormente acompanhado por Silas e Timóteo, ele conheceu muitos outros que haviam sido ensinados pelo “tutor judeu do filho de um mercador indiano”.

133:3.4 (1472.3) Em Corinto eles encontraram pessoas de todas as raças vindas de três continentes. Ao lado de Alexandria e Roma, era a cidade mais cosmopolita do império mediterrânico. Havia muito para atrair a atenção nesta cidade, e Ganid nunca se cansava de visitar a cidadela que ficava quase 600 metros acima do mar. Ele também passava grande parte de seu tempo livre na sinagoga e na casa de Crispo. Ele ficou a princípio chocado e depois encantado com a condição da mulher no lar judaico; foi uma revelação para este jovem indiano.

133:3.5 (1472.4) Jesus e Ganid frequentemente eram convidados em outra casa judaica, a de Justo, um mercador devoto, que morava ao lado da sinagoga. E muitas vezes, subsequentemente, quando o apóstolo Paulo permanecia nesta casa, ele ouvia o relato destas visitas com o rapaz indiano e seu tutor judeu, enquanto Paulo e Justo se perguntavam o que teria acontecido com um professor de hebraico tão sábio e brilhante.

133:3.6 (1472.5) Quando estava em Roma, Ganid observou que Jesus se recusava a acompanhá-los aos banhos públicos. Várias vezes depois, o jovem procurou induzir Jesus a se expressar ainda mais a respeito das relações entre os sexos. Embora respondesse às perguntas do rapaz, nunca parecia disposto a discutir estes assuntos longamente. Certa noite, enquanto passeavam por Corinto perto de onde a muralha da cidadela descia para o mar, foram abordados por duas mulheres públicas. Ganid estava imbuído da ideia, e com razão, de que Jesus era um homem de altos ideais e que abominava tudo o que participasse da impureza ou cheirasse ao mal; consequentemente, ele falou rispidamente com estas mulheres e rudemente as dispensou. Quando Jesus viu isso, disse a Ganid: “Você tem boas intenções, mas não deve presumir falar assim com os filhos de Deus, mesmo que aconteça serem seus filhos em erro. Quem somos nós para julgar estas mulheres? Acaso você conhece todas as circunstâncias que as levaram a recorrer a tais métodos de obtenção de subsistência? Pare aqui comigo enquanto conversamos sobre estes assuntos”. As cortesãs ficaram ainda mais estupefatas com o que ele disse do que Ganid.

133:3.7 (1472.6) Enquanto eles permaneciam ali ao luar, Jesus prosseguiu dizendo: “Vive dentro de cada mente humana um espírito divino, uma dádiva do Pai no céu. Este bom espírito sempre se esforça para nos conduzir a Deus, para nos ajudar a encontrar Deus e a conhecer Deus; mas também dentro dos mortais existem muitas tendências físicas naturais que o Criador colocou lá para servir ao bem-estar do indivíduo e da raça. Ora, muitas vezes, homens e mulheres ficam confusos em seus esforços para compreender a si mesmos e lidar com as múltiplas dificuldades de ganhar a vida num mundo tão amplamente dominado pelo egoísmo e o pecado. Eu percebo, Ganid, que nenhuma destas mulheres é intencionalmente perversa. Posso dizer por seus rostos que experienciaram muita tristeza; elas sofreram muito às mãos de um destino aparentemente cruel; elas não escolheram intencionalmente este tipo de vida; elas, num desânimo beirando o desespero, renderam-se à pressão da hora e aceitaram este meio repugnante de ganhar a vida como a melhor saída para uma situação que para elas parecia sem esperança. Ganid, algumas pessoas são realmente perversas de coração; elas deliberadamente escolhem fazer coisas ruins, mas, diga-me, ao olhar para estes rostos agora manchados de lágrimas, você vê algo mau ou perverso?” E enquanto Jesus fazia uma pausa para a resposta dele, a voz de Ganid embargou enquanto ele gaguejou sua resposta: “Não, Professor, não vejo. E peço desculpas pela minha grosseria para com elas – eu imploro o perdão delas”. Então disse Jesus: “E eu digo por elas que te perdoaram, assim como falo pelo meu Pai no céu que Ele as perdoou. Agora todos vocês venham comigo à casa de um amigo, onde buscaremos refrigério e planejaremos uma vida nova e melhor à frente”. Até então, as mulheres espantadas não haviam pronunciado uma palavra; elas se entreolharam e seguiram silenciosamente enquanto os homens lideravam o caminho.

133:3.8 (1473.1) Imagine a surpresa da esposa de Justo quando, nesta hora tardia, Jesus apareceu com Ganid e estas duas estranhas, dizendo: “Vocês nos perdoarão por virmos a esta hora, mas Ganid e eu desejamos algo para comer e compartilharmos com estas nossas amigas novas, as quais também precisam de nutrição; e além de tudo isso, viemos até vocês com a ideia de que estariam interessados em aconselhar-se conosco quanto à melhor maneira de ajudar estas mulheres a terem um novo começo na vida. Elas podem lhes contar a história delas, mas presumo que tiveram muitos problemas, e a própria presença delas aqui em sua casa atesta como elas anseiam sinceramente conhecer pessoas boas e com quão boa vontade abraçarão a oportunidade de mostrar ao mundo inteiro – e até mesmo aos anjos do céu – que mulheres corajosas e nobres elas podem se tornar.

133:3.9 (1473.2) Quando Marta, a esposa de Justo, havia colocado a comida na mesa, Jesus, despedindo-se inesperadamente deles, disse: “Como está ficando tarde, e como o pai do jovem estará nos esperando, pedimos para sermos dispensados enquanto deixamos vocês aqui juntas – três mulheres – as filhas amadas do Altíssimo. E orarei por sua orientação espiritual enquanto vocês fazem planos para uma vida nova e melhor na Terra e uma vida eterna no grande além”.

133:3.10 (1473.3) Assim, Jesus e Ganid se despediram das mulheres. Até então as duas cortesãs nada haviam dito; da mesma forma, Ganid ficou sem palavras. E por alguns momentos Marta também ficou assim, mas logo ficou à altura da ocasião e fez por estas estranhas tudo o que Jesus esperava. A mais velha destas duas mulheres morreu pouco tempo depois, com brilhantes esperanças de sobrevivência eterna, e a mulher mais jovem trabalhou no local de comércio de Justo e mais tarde tornou-se membro vitalício da primeira igreja cristã em Corinto.

133:3.11 (1473.4) Várias vezes, na casa de Crispo, Jesus e Ganid encontraram um certo Gaio, que posteriormente se tornou um leal apoiador de Paulo. Durante estes dois meses em Corinto eles mantiveram conversas pessoais com dezenas de indivíduos valiosos e, como resultado de todos estes contatos aparentemente casuais, mais da metade dos indivíduos assim afetados se tornaram membros da comunidade cristã subsequente.

133:3.12 (1473.5) Quando Paulo foi pela primeira vez a Corinto, não pretendia fazer uma visita prolongada. Mas ele não sabia quão bem o tutor judeu havia preparado o caminho para seus trabalhos. Além disso, ele descobriu que grande interesse já havia sido despertado por Áquila e Priscila, sendo Áquila um dos cínicos com quem Jesus entrara em contato quando em Roma. Este era um casal de refugiados judeus de Roma, e rapidamente abraçaram os ensinamentos de Paulo. Ele morou com eles e trabalhou com eles, pois também faziam tendas. Foi por causa destas circunstâncias que Paulo prolongou sua estada em Corinto.

 

4. Trabalho Pessoal em Corinto

 

133:4.1 (1474.1) Jesus e Ganid tiveram muitas outras experiências interessantes em Corinto. Eles tiveram conversas íntimas com um grande número de pessoas que beneficiaram grandemente da instrução recebida de Jesus.

133:4.2 (1474.2) Ele ensinou ao moleiro a respeito de moer os grãos da verdade no moinho da experiência viva de modo a tornar as coisas difíceis da vida divina prontamente recebíveis até mesmo pelos fracos e débeis entre os semelhantes mortais. Disse Jesus: “Dê o leite da verdade àqueles que são bebês na percepção espiritual. Em sua ministração viva e amorosa sirva o alimento espiritual de forma atrativa e adequada à capacidade de receptividade de cada um de seus indagadores.”

133:4.3 (1474.3) Ao centurião romano ele disse: “Dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. O serviço sincero a Deus e o serviço leal a César não entram em conflito, a menos que César presuma atribuir a si mesmo aquela homenagem que só pode ser reivindicada pela Deidade. A lealdade a Deus, se você O vier a conhecer, o tornaria ainda mais leal e fiel em sua devoção a um imperador condigno”.

133:4.4 (1474.4) Ao zeloso líder do culto mitraico ele disse: “Você faz bem em buscar uma religião de salvação eterna, mas erra ao buscar uma verdade tão gloriosa entre os mistérios e filosofias criados pelo homem. Não sabe que o mistério da salvação eterna reside dentro de sua própria alma? Não sabe que o Deus do céu enviou Seu espírito para viver dentro de você, e que este espírito conduzirá todos os mortais que amam a verdade e servem a Deus para fora desta vida e através dos portais da morte até as alturas eternas da luz onde Deus espera para receber Seus filhos? E nunca se esqueça: vocês que conhecem a Deus são filhos de Deus se realmente anseiam ser como Ele”.

133:4.5 (1474.5) Ao instrutor epicurista ele disse: “Você faz bem em escolher o melhor e estimar o bom, mas é sábio quando falha em discernir as coisas maiores da vida mortal que estão corporificadas nos reinos do espírito derivados da realização da presença de Deus no coração humano? A grande coisa em toda a experiência humana é a realização de conhecer o Deus cujo espírito vive dentro de você e procura conduzi-lo nessa longa e quase interminável jornada de alcançar a presença pessoal do nosso Pai comum, o Deus de toda a criação, o Senhor dos universos”.

133:4.6 (1474.6) Ao empreiteiro e construtor grego ele disse: “Meu amigo, à medida que você constrói as estruturas materiais dos homens, desenvolva um caráter espiritual à semelhança do espírito divino dentro da sua alma. Não deixe que sua realização como construtor temporal ultrapasse sua realização como filho espiritual do reino do céu. Enquanto você constrói as mansões do tempo para outro, não negligencie assegurar o seu direito às mansões da eternidade para si mesmo. Lembre-se sempre, há uma cidade cujas fundações são a retidão e a verdade, e cujo construtor e criador é Deus”.

133:4.7 (1474.7) Ao juiz romano ele disse: “Ao julgar os homens, lembre-se de que você mesmo algum dia também irá a julgamento perante o tribunal dos Governantes de um universo. Julgue justamente, misericordiosamente mesmo, pois você mesmo algum dia irá assim desejar consideração misericordiosa às mãos do Árbitro Supremo. Julgue como você seria julgado em circunstâncias semelhantes, guiando-se, assim, tanto pelo espírito da lei quanto por sua letra. E assim como concede justiça dominada pela equanimidade à luz da necessidade daqueles que sejam trazidos perante você, também você terá o direito de esperar justiça temperada pela misericórdia quando algum dia estiver diante do Juiz de toda a Terra”.

133:4.8 (1475.1) À dona da hospedaria grega ele disse: “Ministre sua hospitalidade como alguém que recebe os filhos do Altíssimo. Eleve o trabalho árduo de sua labuta diária aos altos níveis de uma bela arte através da compreensão crescente de que você ministra a Deus nas pessoas em quem Ele habita por seu espírito que desceu para viver dentro dos corações dos homens, procurando assim transformar suas mentes e levar suas almas ao conhecimento do Pai do Paraíso de todas estas dádivas concedidas pelo espírito divino”.

133:4.9 (1475.2) Jesus fez muitas visitas a um mercador chinês. Ao se despedir, ele o admoestou: “Adore somente a Deus, que é seu verdadeiro espírito ancestral. Lembre-se de que o espírito do Pai sempre vive dentro de você e sempre aponta a direção de sua alma para o céu. Se você seguir os guiamentos inconscientes deste espírito imortal, certamente continuará no caminho elevado de encontrar Deus. E quando você de fato alcançar o Pai no céu, será porque ao buscá-Lo você se tornou cada vez mais semelhante a Ele. E então adeus, Chang, mas apenas por uma temporada, pois nos encontraremos novamente nos mundos de luz, onde o Pai das almas de espírito providenciou muitas paradas aprazíveis para aqueles que estão destinados ao Paraíso.”

133:4.10 (1475.3) Ao viajante da Bretanha ele disse: “Meu irmão, percebo que você está buscando a verdade e sugiro que o espírito do Pai de toda a verdade possa residir dentro de você. Já alguma vez se esforçou sinceramente para conversar com o espírito de sua própria alma? Uma tal coisa é realmente difícil e raramente produz consciência do êxito; mas toda tentativa honesta da mente material em se comunicar com seu espírito residente obtém certo êxito, apesar de que a maioria de todas essas magníficas experiências humanas ter que permanecer por muito tempo como registros supraconscientes nas almas de tais mortais conhecedores de Deus”.

133:4.11 (1475.4) Ao rapaz fugitivo Jesus disse: “Lembre-se, há duas coisas das quais você não consegue fugir – de Deus e de si mesmo. Onde quer que vá, leve consigo a você mesmo e ao espírito do Pai celestial que vive dentro do seu coração. Meu filho, pare de tentar enganar a si mesmo; dedique-se à prática corajosa de enfrentar os fatos da vida; apegue-se firmemente às garantias da filiação com Deus e à certeza da vida eterna, como eu o instruí. A partir deste dia tenha o propósito de ser um homem autêntico, um homem determinado a enfrentar a vida com valentia e inteligência”.

133:4.12 (1475.5) Ao criminoso condenado ele disse na última hora: “Meu irmão, você caiu em maus tempos. Você se perdeu; você se emaranhou nas malhas do crime. Por falar consigo, sei que não planejou fazer o que está prestes a custar sua vida temporal. Mas você de fato cometeu este mal e seus semelhantes o julgaram culpado; eles determinaram que você morrerá. Você ou eu não podemos negar ao estado este direito de autodefesa da maneira que ele escolher. Parece não haver forma de escapar humanamente da penalidade pelo seu erro. Seus semelhantes têm que julgá-lo pelo que você fez, mas há um Juiz a quem você pode apelar por perdão e que o julgará por seus reais motivos e melhores intenções. Você não precisa temer enfrentar o julgamento de Deus se seu arrependimento for genuíno e sua fé sincera. O fato de seu erro acarretar a pena de morte imposta pelo homem não prejudica a chance de sua alma obter justiça e usufruir de misericórdia perante os tribunais celestiais”.

133:4.13 (1476.1) Jesus desfrutou de muitas conversas íntimas com um grande número de almas famintas, demasiadas para caberem neste registro. Os três viajantes desfrutaram de sua estada em Corinto. Com exceção de Atenas, que era mais renomada como centro educacional, Corinto era a cidade mais importante da Grécia durante esta época romana, e a permanência de dois meses neste próspero centro comercial deu oportunidade para os três ganharem muita experiência valiosa. A permanência deles nesta cidade foi uma das mais interessantes de todas as paradas no caminho de volta de Roma.

133:4.14 (1476.2) Gonod tinha muitos interesses em Corinto, mas finalmente seu negócio ficou concluído e eles se prepararam para navegar até Atenas. Viajaram num pequeno barco que podia ser transportado numa trilha por terra desde um dos portos de Corinto a outro, a uma distância de dezesseis quilômetros.

 

5. Em Atenas – Discurso sobre a Ciência

 

133:5.1 (1476.3) Eles logo chegaram ao antigo centro da ciência e do aprendizado gregos, e Ganid ficou entusiasmado com a ideia de estar em Atenas, de estar na Grécia, o centro cultural do antigo império alexandrino, que havia estendido suas fronteiras até mesmo à sua própria terra da Índia. Havia poucos negócios a fazer; então Gonod passou a maior parte do tempo com Jesus e Ganid, visitando os muitos pontos de interesse e ouvindo as interessantes discussões do rapaz e seu versátil professor.

133:5.2 (1476.4) Uma grande universidade ainda prosperava em Atenas, e o trio fazia visitas frequentes aos seus salões de ensino. Jesus e Ganid tinham discutido minuciosamente os ensinamentos de Platão quando assistiram às palestras no museu de Alexandria. Todos eles apreciavam a arte da Grécia, cujos exemplos ainda podiam ser encontrados aqui e ali pela cidade.

133:5.3 (1476.5) Tanto o pai como o filho gostaram muito da discussão sobre ciência que Jesus teve em sua estalagem, certa noite, com um filósofo grego. Depois que esse pedante havia falado por quase três horas, e quando terminou seu discurso, Jesus, em termos do pensamento moderno, disse:

133:5.4 (1476.6) Os cientistas poderão algum dia medir a energia, ou as manifestações de força, da gravitação, da luz e da eletricidade, mas estes mesmos cientistas nunca poderão (cientificamente) dizer a vocês o que são estes fenômenos do universo. A ciência lida com atividades de energia física; a religião lida com valores eternos. A verdadeira filosofia brota da sabedoria que faz o possível para correlacionar estas observações quantitativas e qualitativas. Sempre existe o perigo de que o cientista puramente físico possa ser afligido pelo orgulho matemático e pelo egoísmo estatístico, para não mencionar a cegueira espiritual.

133:5.5 (1476.7) A lógica é válida no mundo material e a matemática é confiável quando limitada em sua aplicação às coisas físicas; mas nenhuma delas deve ser considerada totalmente confiável ou infalível quando aplicada aos problemas da vida. A vida abrange fenômenos que não são integralmente materiais. A aritmética diz que, se um homem puder tosquiar uma ovelha em dez minutos, dez homens podem tosquiá-la em um minuto. Isso é matemática sólida, mas não é verdadeira, pois os dez homens não poderiam fazê-lo; eles se atrapalhariam tanto que o trabalho ficaria muito atrasado.

133:5.6 (1477.1) A matemática afirma que, se uma pessoa representa uma certa unidade de valor intelectual e moral, dez pessoas representariam dez vezes este valor. Mas, ao lidar com a personalidade humana, estaria mais próximo da verdade dizer que tal associação de personalidade é uma soma igual ao quadrado do número de personalidades envolvidas na equação, em vez de uma simples soma aritmética. Um grupo social de seres humanos em harmonia de trabalho coordenado representa uma força muito maior do que a simples soma de suas partes.

133:5.7 (1477.2) A quantidade pode ser identificada como um fato, tornando-se assim uma uniformidade científica. A qualidade, sendo uma questão de interpretação da mente, representa uma estimativa de valores e, portanto, tem que permanecer uma experiência do indivíduo. Quando tanto a ciência quanto a religião se tornarem menos dogmáticas e mais tolerantes com a crítica, a filosofia começará a alcançar a unidade na compreensão inteligente do universo.

133:5.8 (1477.3) Há unidade no universo cósmico, se ao menos vocês pudessem discernir o seu funcionamento em atualidade. O universo real é amigável para todos os filhos do Deus eterno. O verdadeiro problema é: como pode a mente finita do homem alcançar uma unidade de pensamento lógica, verdadeira e correspondente? Este estado de mente de conhecimento do universo pode ser alcançado apenas pela concepção de que o fato quantitativo e o valor qualitativo têm uma causação comum no Pai do Paraíso. Tal concepção da realidade produz um discernimento mais amplo da unidade proposital dos fenômenos do universo; revela até mesmo uma meta espiritual de realização progressiva da personalidade. E este é um conceito de unidade que pode sentir o pano de fundo imutável de um universo vivo de relações impessoais em constante mudança e relacionamentos pessoais em evolução.

133:5.9 (1477.4) A matéria e o espírito e o estado que se interpõe entre eles são três níveis inter-relacionados e interassociados da verdadeira unidade do universo real. Independentemente de quão divergentes os fenômenos de fato e valor do universo possam parecer, eles são, afinal, unificados no Supremo.

133:5.10 (1477.5) A realidade da existência material liga-se à energia não reconhecida, bem como à matéria visível. Quando as energias do universo são tão desaceleradas que adquirem o grau de movimento necessário, então, sob condições favoráveis, estas mesmas energias se tornam massa. E não se esqueçam, a mente que sozinha pode perceber a presença de realidades aparentes também é real. E a causa fundamental deste universo de energia-massa, mente e espírito é eterna – ele existe e consiste na natureza e nas reações do Pai Universal e Seus coordenados absolutos.

133:5.11 (1477.6) Todos ficaram mais do que assombrados com as palavras de Jesus e, quando o grego se despediu deles disse: “Finalmente meus olhos contemplaram um judeu que pensa em algo além da superioridade racial e fala algo além da religião”. E eles se retiraram para a noite.

133:5.12 (1477.7) A estada em Atenas foi agradável e proveitosa, mas não foi particularmente frutífera em seus contatos humanos. Demasiados dos atenienses daquela época eram intelectualmente orgulhosos de sua reputação de outros tempos ou mentalmente estúpidos e ignorantes, sendo descendentes dos escravos inferiores daqueles períodos anteriores quando havia glória na Grécia e sabedoria nas mentes do seu povo. Mesmo assim, ainda havia muitas mentes perspicazes a se encontrar entre os cidadãos de Atenas.

 

6. Em Éfeso – Discurso sobre a Alma

 

133:6.1 (1477.8) Ao deixarem Atenas, os viajantes seguiram por Trôade para Éfeso, a capital da província romana da Ásia. Fizeram muitas viagens ao famoso templo de Ártemis dos efésios, a cerca de três quilômetros da cidade. Ártemis era a deusa mais famosa de toda a Ásia Menor e uma perpetuação da deusa-mãe ainda mais antiga dos tempos antigos da Anatólia. O ídolo grosseiro exibido no enorme templo dedicado à sua adoração tinha a reputação de ter caído do céu. Nem toda a formação inicial de Ganid para respeitar as imagens como símbolos da divindade havia sido erradicada, e ele achou melhor comprar um pequeno santuário de prata em homenagem a esta deusa da fertilidade da Ásia Menor. Naquela noite eles conversaram longamente sobre a adoração de coisas feitas por mãos humanas.

133:6.2 (1478.1) No terceiro dia de sua estada eles caminharam junto ao rio para observar a dragagem da foz do porto. Ao meio-dia conversaram com um jovem fenício que estava com saudades de casa e muito desanimado; mas, acima de tudo, ele tinha inveja de um certo jovem que havia recebido uma promoção em detrimento de sua posição. Jesus falou palavras consoladoras para ele e citou o antigo provérbio hebraico: “A dádiva de um homem abre espaço para ele e o leva diante de grandes homens”.

133:6.3 (1478.2) De todas as grandes cidades que visitaram nesta viagem pelo Mediterrâneo, eles aqui alcançaram o menor proveito para o trabalho subsequente dos missionários cristãos. O cristianismo garantiu seu início em Éfeso em grande parte por meio dos esforços de Paulo, que residiu aqui por mais de dois anos, fazendo tendas para se sustentar e conduzindo palestras sobre religião e filosofia todas as noites na principal sala de audiências da escola de Tirano.

133:6.4 (1478.3) Havia um pensador progressista ligado a esta escola local de filosofia, e Jesus teve várias sessões proveitosas com ele. No decorrer destas conversas Jesus usou repetidamente a palavra “alma”. Este grego erudito finalmente lhe perguntou o que ele queria dizer com “alma”, e ele retorquiu:

133:6.5 (1478.4) “A alma é a parte do homem autorreflexiva, que discerne a verdade e que percebe o espírito, que para sempre eleva o ser humano acima do nível do mundo animal. A autoconsciência, em si e por si mesma, não é a alma. A autoconsciência moral é a verdadeira autorrealização humana e constitui o fundamento da alma humana, e a alma é aquela parte do homem que representa o potencial valor de sobrevivência da experiência humana. A escolha moral e a realização espiritual, a capacidade de conhecer a Deus e a pulsão de ser como Ele são as características da alma. A alma do homem não pode existir separada do pensamento moral e da atividade espiritual. Uma alma estagnada é uma alma moribunda. Mas a alma do homem é distinta do espírito divino que reside dentro da mente. O espírito divino chega simultaneamente com a primeira atividade moral da mente humana, e esta é a ocasião do nascimento da alma.

133:6.6 (1478.5) “A salvação ou perdição de uma alma tem a ver com o fato de a consciência moral atingir ou não o status de sobrevivência por meio da aliança eterna com a dotação espiritual imortal associada a ela. A salvação é a espiritualização da autorrealização da consciência moral, que assim se torna possuidora de valor de sobrevivência. Todas as formas de conflito da alma consistem na falta de harmonia entre a autoconsciência moral, ou espiritual, e a autoconsciência puramente intelectual.

133:6.7 (1478.6) “A alma humana, quando amadurecida, enobrecida e espiritualizada, se avizinha do estado celestial no sentido de que se aproxima de ser uma entidade que intervém entre o material e o espiritual, o eu material e o espírito divino. A alma em evolução de um ser humano é difícil de descrever e ainda mais difícil de demonstrar porque não pode ser descoberta pelos métodos de investigação material ou prova espiritual. A ciência material não pode demonstrar a existência de uma alma, nem a pura comprovação do espírito. Apesar do fracasso tanto da ciência material quanto dos padrões espirituais em descobrir a existência da alma humana, todo mortal moralmente consciente sabe da existência de sua alma como uma experiência pessoal real e factual.”

 

7. A Estadia em Chipre – Discurso sobre a Mente

 

133:7.1 (1479.1) Em breve os viajantes zarparam para Chipre, parando em Rodes. Desfrutaram da longa viagem marítima e chegaram ao destino na ilha muito repousados de corpo e revigorados de espírito.

133:7.2 (1479.2) O plano deles era desfrutar de um período de verdadeiro descanso e diversão nesta visita a Chipre já que sua viagem pelo Mediterrâneo estava chegando ao fim. Eles desembarcaram em Pafos e imediatamente começaram a reunir suprimentos para sua estada de várias semanas nas montanhas próximas. No terceiro dia após a chegada partiram para os montes com seus animais bem carregados.

133:7.3 (1479.3) Durante duas semanas o trio se divertiu muito, e então, do nada, o jovem Ganid adoeceu gravemente. Por duas semanas ele sofreu de uma febre alta, muitas vezes delirando; tanto Jesus quanto Gonod se mantiveram ocupados assistindo o garoto doente. Jesus cuidou do rapaz com desenvoltura e ternura, e o pai ficou maravilhado com a gentileza e a habilidade manifestadas em toda a sua ministração ao jovem aflito. Eles estavam longe das habitações humanas e o garoto estava doente demais para ser deslocado; então eles se prepararam o melhor que puderam para lhe restituir a saúde ali mesmo nas montanhas.

133:7.4 (1479.4) Durante as três semanas de convalescença de Ganid, Jesus contou-lhe muitas coisas interessantes sobre a natureza e seus vários humores. E como eles se divertiram enquanto vagavam pelas montanhas, o garoto fazendo perguntas, Jesus as respondendo, e o pai maravilhado com a atuação toda.

133:7.5 (1479.5) Na última semana de sua estadia nas montanhas Jesus e Ganid tiveram uma longa conversa sobre as funções da mente humana. Depois de várias horas de discussão, o rapaz fez esta pergunta: “Mas, Professor, o que você quer dizer quando fala que o homem experimenta uma forma mais elevada de autoconsciência do que os animais mais elevados?” E conforme reafirmado em fraseologia moderna, Jesus respondeu:

133:7.6 (1479.6) Meu filho, já lhe falei muito sobre a mente do homem e sobre o espírito divino que vive nela, mas agora deixe-me enfatizar que a autoconsciência é uma realidade. Quando qualquer animal se torna autoconsciente, torna-se um homem primitivo. Tal realização resulta de uma coordenação de função entre a energia impessoal e a mente que concebe o espírito, e é este fenômeno que garante a concessão de um ponto focal absoluto para a personalidade humana, o espírito do Pai no céu.

133:7.7 (1479.7) As ideias não são simplesmente um registro de sensações; as ideias são sensações mais as interpretações reflexivas do eu pessoal; e o eu é mais do que a soma das sensações de uma pessoa. Começa a haver uma espécie de abordagem à unidade numa individualidade em evolução, e essa unidade é derivada da presença residente de uma parte da unidade absoluta que ativa espiritualmente tal mente autoconsciente de origem animal.

133:7.8 (1479.8) Nenhum mero animal poderia possuir uma autoconsciência temporal. Os animais possuem uma coordenação fisiológica de reconhecimento de sensação associada e memória correspondente, mas nenhum experimenta um reconhecimento significativo da sensação ou exibe uma associação proposital dessas experiências físicas combinadas, como é manifestado nas conclusões de interpretações humanas inteligentes e reflexivas. E este fato da existência autoconsciente, associado à realidade de sua experiência espiritual subsequente, constitui o homem um filho potencial do universo e prenuncia sua obtenção final da Unidade Suprema do universo.

133:7.9 (1480.1) Tampouco o eu humano é meramente a soma dos estados sucessivos de consciência. Sem o funcionamento efetivo de um classificador e associador de consciência, não existiria unidade suficiente para garantir a designação de uma individualidade. Uma mente não-unificada assim dificilmente poderia atingir níveis conscientes de status humano. Se as associações da consciência fossem apenas um acidente, as mentes de todos os homens então exibiriam as associações descontroladas e aleatórias de certas fases da loucura mental.

133:7.10 (1480.2) Uma mente humana, construída exclusivamente a partir da consciência das sensações físicas, nunca poderia atingir os níveis espirituais; este tipo de mente material careceria totalmente de um senso de valores morais e não teria um senso orientador de domínio espiritual, o qual é tão essencial para alcançar a unidade harmoniosa da personalidade no tempo e que é inseparável da sobrevivência da personalidade na eternidade.

133:7.11 (1480.3) A mente humana começa cedo a manifestar qualidades que são supramateriais; o intelecto humano verdadeiramente reflexivo não está totalmente limitado pelos limites do tempo. O fato de os indivíduos diferirem tanto em seus desempenhos de vida indica, não apenas as dotações variáveis da hereditariedade e as diferentes influências do ambiente, mas também o grau de unificação com o espírito residente do Pai que foi alcançado pelo eu, a medida da identificação de um com o outro.

133:7.12 (1480.4) A mente humana não suporta bem o conflito da dupla lealdade. É uma grande tensão para a alma passar pela experiência de um esforço para servir tanto ao bem quanto ao mal. A mente supremamente feliz e eficientemente unificada é aquela integralmente dedicada a fazer a vontade do Pai no céu. Conflitos não resolvidos destroem a unidade e podem terminar em ruptura da mente. Mas o caráter de sobrevivência de uma alma não é promovido pela tentativa de garantir a paz de espírito a qualquer preço, pela renúncia a nobres aspirações e pelo comprometimento de ideais espirituais; ao contrário, tal paz é alcançada pela firme afirmação do triunfo daquilo que é verdadeiro, e esta vitória é alcançada na superação do mal com a poderosa força do bem.

133:7.13 (1480.5) No dia seguinte partiram para Salamina, onde embarcaram para Antioquia, na costa da Síria.

 

8. Em Antioquia

 

133:8.1 (1480.6) Antioquia era a capital da província romana da Síria, e aqui o governador imperial tinha sua residência. Antioquia tinha meio milhão de habitantes; era a terceira cidade do império em tamanho e a primeira em perversidade e flagrante imoralidade. Gonod tinha negócios consideráveis para transacionar; então Jesus e Ganid ficaram praticamente por conta própria. Eles visitaram tudo sobre esta cidade poliglota, exceto o bosque de Dafne. Gonod e Ganid visitaram este notório santuário da vergonha, mas Jesus se recusou a acompanhá-los. Tais cenas não eram tão chocantes para os indianos, mas eram repulsivas para um hebreu idealista.

133:8.2 (1480.7) Jesus tornou-se sóbrio e reflexivo à medida que se aproximava da Palestina e do fim da viagem deles. Conversou com poucas pessoas em Antioquia; raramente passeou pela cidade. Depois de muito questionar por que seu professor manifestava tão pouco interesse por Antioquia, Ganid finalmente induziu Jesus a dizer: “Esta cidade não fica longe da Palestina; talvez eu volte aqui algum dia”.

133:8.3 (1481.1) Ganid teve uma experiência muito interessante em Antioquia. Este jovem comprovou ser um aluno capaz e já havia começado a fazer uso prático de alguns dos ensinamentos de Jesus. Havia um certo indiano ligado aos negócios de seu pai em Antioquia que se tornara tão desagradável e descontente que sua demissão fora considerada. Quando Ganid ouviu isso, dirigiu-se ao local de trabalho de seu pai e manteve uma longa conferência com seu compatriota. Este homem sentia que tinha sido colocado no trabalho errado. Ganid contou a ele sobre o Pai no céu e de muitas maneiras expandiu seus pontos de vista sobre religião. Mas de tudo o que Ganid disse, a citação de um provérbio hebraico fez o maior bem, e essa palavra de sabedoria foi: “O que quer que sua mão encontre para fazer, faça isso com toda a sua força”.

133:8.4 (1481.2) Depois de preparar a bagagem para a caravana de camelos, eles desceram para Sidon e daí para Damasco e, depois de três dias, prepararam-se para a longa trilha cruzando as areias do deserto.

 

9. Na Mesopotâmia

 

133:9.1 (1481.3) A viagem de caravana pelo deserto não era uma experiência nova para estes homens tão viajados. Depois que Ganid observou seu professor ajudar com o carregamento de seus vinte camelos e o observou se voluntariar para conduzir seu próprio animal, ele exclamou: “Professor, há algo que você não consiga fazer?” Jesus apenas sorriu, dizendo: “O professor certamente não é sem honra aos olhos de um aluno diligente”. E assim partiram para a antiga cidade de Ur.

133:9.2 (1481.4) Jesus ficou muito interessado na história inicial de Ur, o local de nascimento de Abraão, e estava igualmente fascinado com as ruínas e tradições de Susã, tanto que Gonod e Ganid estenderam sua estada nestas regiões por três semanas a fim de conceder a Jesus mais tempo para conduzir suas investigações e também para providenciar a melhor oportunidade de persuadi-lo a voltar para a Índia com eles.

 

133:9.3 (1481.5) Foi em Ur que Ganid teve uma longa conversa com Jesus a respeito da diferença entre conhecimento, sabedoria e verdade. E ficou grandemente encantado com as palavras do sábio hebreu: “A sabedoria é a coisa principal; portanto, adquira sabedoria. Com toda a sua busca por conhecimento, obtenha compreensão. Exalte a sabedoria e ela o promoverá. Ela o levará à honra se você apenas a abraçar”.

 

133:9.4 (1481.6) Finalmente chegou o dia da separação. Todos foram valentes, especialmente o rapaz, mas foi uma árdua provação. Eles ficaram com os olhos cheios de lágrimas, mas de coração corajoso. Ao se despedir de seu professor, Ganid disse: “Adeus, Professor, mas não para sempre. Quando eu voltar a Damasco, procurarei você. Eu o amo, pois acho que o Pai do céu tem que ser algo como você; pelo menos sei que você é muito parecido com o que me contou sobre Ele. Vou lembrar-me do seu ensinamento, mas, acima de tudo, nunca vou esquecer você.” Disse o pai: “Adeus a um grande professor, aquele que nos tornou melhores e nos ajudou a conhecer a Deus”. E Jesus respondeu: “A paz esteja com vocês, e que a bênção do Pai no céu esteja sempre com vocês”. E Jesus ficou na praia e observou enquanto o pequeno barco os levava para o navio ancorado. Assim, o Mestre deixou seus amigos da Índia em Cárax, para nunca mais vê-los neste mundo; nem eles, neste mundo, iriam saber que o homem que mais tarde apareceu como Jesus de Nazaré era este mesmo amigo de quem eles haviam acabado de se despedir – Yeshua, seu professor.

 

 

 

 

133:9.5 (1481.7) Na Índia, Ganid cresceu para se tornar um homem influente, um digno sucessor de seu eminente pai, e espalhou muitas das nobres verdades que aprendera com Jesus, seu amado professor. Mais tarde na vida, quando Ganid ouviu falar do estranho professor na Palestina que encerrou sua carreira na cruz, embora reconhecesse a semelhança entre o evangelho deste Filho do Homem e os ensinamentos de seu tutor judeu, nunca lhe ocorreu que estes dois fossem na verdade a mesma pessoa.

 

133:9.6 (1482.1) Assim terminou aquele capítulo da vida do Filho do Homem que poderia ser denominado: A missão de Yeshua, o professor.

 

Paper 133

The Return from Rome

133:0.1 (1468.1) WHEN preparing to leave Rome, Jesus said good-bye to none of his friends. The scribe of Damascus appeared in Rome without announcement and disappeared in like manner. It was a full year before those who knew and loved him gave up hope of seeing him again. Before the end of the second year small groups of those who had known him found themselves drawn together by their common interest in his teachings and through mutual memory of their good times with him. And these small groups of Stoics, Cynics, and mystery cultists continued to hold these irregular and informal meetings right up to the time of the appearance in Rome of the first preachers of the Christian religion.

133:0.2 (1468.2) Gonod and Ganid had purchased so many things in Alexandria and Rome that they sent all their belongings on ahead by pack train to Tarentum, while the three travelers walked leisurely across Italy over the great Appian Way. On this journey they encountered all sorts of human beings. Many noble Roman citizens and Greek colonists lived along this road, but already the progeny of great numbers of inferior slaves were beginning to make their appearance.

133:0.3 (1468.3) One day while resting at lunch, about halfway to Tarentum, Ganid asked Jesus a direct question as to what he thought of India’s caste system. Said Jesus: “Though human beings differ in many ways, the one from another, before God and in the spiritual world all mortals stand on an equal footing. There are only two groups of mortals in the eyes of God: those who desire to do his will and those who do not. As the universe looks upon an inhabited world, it likewise discerns two great classes: those who know God and those who do not. Those who cannot know God are reckoned among the animals of any given realm. Mankind can appropriately be divided into many classes in accordance with differing qualifications, as they may be viewed physically, mentally, socially, vocationally, or morally, but as these different classes of mortals appear before the judgment bar of God, they stand on an equal footing; God is truly no respecter of persons. Although you cannot escape the recognition of differential human abilities and endowments in matters intellectual, social, and moral, you should make no such distinctions in the spiritual brotherhood of men when assembled for worship in the presence of God.”


1. Mercy and Justice


133:1.1 (1468.4) A very interesting incident occurred one afternoon by the roadside as they neared Tarentum. They observed a rough and bullying youth brutally attacking a smaller lad. Jesus hastened to the assistance of the assaulted youth, and when he had rescued him, he tightly held on to the offender until the smaller lad had made his escape. The moment Jesus released the little bully, Ganid pounced upon the boy and began soundly to thrash him, and to Ganid’s astonishment Jesus promptly interfered. After he had restrained Ganid and permitted the frightened boy to escape, the young man, as soon as he got his breath, excitedly exclaimed: “I cannot understand you, Teacher. If mercy requires that you rescue the smaller lad, does not justice demand the punishment of the larger and offending youth?” In answering, Jesus said:

133:1.2 (1469.1) “Ganid, it is true, you do not understand. Mercy ministry is always the work of the individual, but justice punishment is the function of the social, governmental, or universe administrative groups. As an individual I am beholden to show mercy; I must go to the rescue of the assaulted lad, and in all consistency I may employ sufficient force to restrain the aggressor. And that is just what I did. I achieved the deliverance of the assaulted lad; that was the end of mercy ministry. Then I forcibly detained the aggressor a sufficient length of time to enable the weaker party to the dispute to make his escape, after which I withdrew from the affair. I did not proceed to sit in judgment on the aggressor, thus to pass upon his motive—to adjudicate all that entered into his attack upon his fellow—and then undertake to execute the punishment which my mind might dictate as just recompense for his wrongdoing. Ganid, mercy may be lavish, but justice is precise. Cannot you discern that no two persons are likely to agree as to the punishment which would satisfy the demands of justice? One would impose forty lashes, another twenty, while still another would advise solitary confinement as a just punishment. Can you not see that on this world such responsibilities had better rest upon the group or be administered by chosen representatives of the group? In the universe, judgment is vested in those who fully know the antecedents of all wrongdoing as well as its motivation. In civilized society and in an organized universe the administration of justice presupposes the passing of just sentence consequent upon fair judgment, and such prerogatives are vested in the juridical groups of the worlds and in the all-knowing administrators of the higher universes of all creation.”

133:1.3 (1469.2) For days they talked about this problem of manifesting mercy and administering justice. And Ganid, at least to some extent, understood why Jesus would not engage in personal combat. But Ganid asked one last question, to which he never received a fully satisfactory answer; and that question was: “But, Teacher, if a stronger and ill-tempered creature should attack you and threaten to destroy you, what would you do? Would you make no effort to defend yourself?” Although Jesus could not fully and satisfactorily answer the lad’s question, inasmuch as he was not willing to disclose to him that he (Jesus) was living on earth as the exemplification of the Paradise Father’s love to an onlooking universe, he did say this much:

133:1.4 (1469.3) “Ganid, I can well understand how some of these problems perplex you, and I will endeavor to answer your question. First, in all attacks which might be made upon my person, I would determine whether or not the aggressor was a son of God—my brother in the flesh—and if I thought such a creature did not possess moral judgment and spiritual reason, I would unhesitatingly defend myself to the full capacity of my powers of resistance, regardless of consequences to the attacker. But I would not thus assault a fellow man of sonship status, even in self-defense. That is, I would not punish him in advance and without judgment for his assault upon me. I would by every possible artifice seek to prevent and dissuade him from making such an attack and to mitigate it in case of my failure to abort it. Ganid, I have absolute confidence in my heavenly Father’s overcare; I am consecrated to doing the will of my Father in heaven. I do not believe that real harm can befall me; I do not believe that my lifework can really be jeopardized by anything my enemies might wish to visit upon me, and surely we have no violence to fear from our friends. I am absolutely assured that the entire universe is friendly to me—this all-powerful truth I insist on believing with a wholehearted trust in spite of all appearances to the contrary.”

133:1.5 (1470.1) But Ganid was not fully satisfied. Many times they talked over these matters, and Jesus told him some of his boyhood experiences and also about Jacob the stone mason’s son. On learning how Jacob appointed himself to defend Jesus, Ganid said: “Oh, I begin to see! In the first place very seldom would any normal human being want to attack such a kindly person as you, and even if anyone should be so unthinking as to do such a thing, there is pretty sure to be near at hand some other mortal who will fly to your assistance, even as you always go to the rescue of any person you observe to be in distress. In my heart, Teacher, I agree with you, but in my head I still think that if I had been Jacob, I would have enjoyed punishing those rude fellows who presumed to attack you just because they thought you would not defend yourself. I presume you are fairly safe in your journey through life since you spend much of your time helping others and ministering to your fellows in distress—well, most likely there’ll always be someone on hand to defend you.” And Jesus replied: “That test has not yet come, Ganid, and when it does, we will have to abide by the Father’s will.” And that was about all the lad could get his teacher to say on this difficult subject of self-defense and nonresistance. On another occasion he did draw from Jesus the opinion that organized society had every right to employ force in the execution of its just mandates.


2. Embarking at Tarentum


133:2.1 (1470.2) While tarrying at the ship landing, waiting for the boat to unload cargo, the travelers observed a man mistreating his wife. As was his custom, Jesus intervened in behalf of the person subjected to attack. He stepped up behind the irate husband and, tapping him gently on the shoulder, said: “My friend, may I speak with you in private for a moment?” The angry man was nonplused by such an approach and, after a moment of embarrassing hesitation, stammered out—“er—why—yes, what do you want with me?” When Jesus had led him to one side, he said: “My friend, I perceive that something terrible must have happened to you; I very much desire that you tell me what could happen to such a strong man to lead him to attack his wife, the mother of his children, and that right out here before all eyes. I am sure you must feel that you have some good reason for this assault. What did the woman do to deserve such treatment from her husband? As I look upon you, I think I discern in your face the love of justice if not the desire to show mercy. I venture to say that, if you found me out by the wayside, attacked by robbers, you would unhesitatingly rush to my rescue. I dare say you have done many such brave things in the course of your life. Now, my friend, tell me what is the matter? Did the woman do something wrong, or did you foolishly lose your head and thoughtlessly assault her?” It was not so much what he said that touched this man’s heart as the kindly look and the sympathetic smile which Jesus bestowed upon him at the conclusion of his remarks. Said the man: “I perceive you are a priest of the Cynics, and I am thankful you restrained me. My wife has done no great wrong; she is a good woman, but she irritates me by the manner in which she picks on me in public, and I lose my temper. I am sorry for my lack of self-control, and I promise to try to live up to my former pledge to one of your brothers who taught me the better way many years ago. I promise you.”

133:2.2 (1471.1) And then, in bidding him farewell, Jesus said: “My brother, always remember that man has no rightful authority over woman unless the woman has willingly and voluntarily given him such authority. Your wife has engaged to go through life with you, to help you fight its battles, and to assume the far greater share of the burden of bearing and rearing your children; and in return for this special service it is only fair that she receive from you that special protection which man can give to woman as the partner who must carry, bear, and nurture the children. The loving care and consideration which a man is willing to bestow upon his wife and their children are the measure of that man’s attainment of the higher levels of creative and spiritual self-consciousness. Do you not know that men and women are partners with God in that they co-operate to create beings who grow up to possess themselves of the potential of immortal souls? The Father in heaven treats the Spirit Mother of the children of the universe as one equal to himself. It is Godlike to share your life and all that relates thereto on equal terms with the mother partner who so fully shares with you that divine experience of reproducing yourselves in the lives of your children. If you can only love your children as God loves you, you will love and cherish your wife as the Father in heaven honors and exalts the Infinite Spirit, the mother of all the spirit children of a vast universe.”

133:2.3 (1471.2) As they went on board the boat, they looked back upon the scene of the teary-eyed couple standing in silent embrace. Having heard the latter half of Jesus’ message to the man, Gonod was all day occupied with meditations thereon, and he resolved to reorganize his home when he returned to India.

133:2.4 (1471.3) The journey to Nicopolis was pleasant but slow as the wind was not favorable. The three spent many hours recounting their experiences in Rome and reminiscing about all that had happened to them since they first met in Jerusalem. Ganid was becoming imbued with the spirit of personal ministry. He began work on the steward of the ship, but on the second day, when he got into deep religious water, he called on Joshua to help him out.

133:2.5 (1471.4) They spent several days at Nicopolis, the city which Augustus had founded some fifty years before as the “city of victory” in commemoration of the battle of Actium, this site being the land whereon he camped with his army before the battle. They lodged in the home of one Jeramy, a Greek proselyte of the Jewish faith, whom they had met on shipboard. The Apostle Paul spent all winter with the son of Jeramy in the same house in the course of his third missionary journey. From Nicopolis they sailed on the same boat for Corinth, the capital of the Roman province of Achaia.


3. At Corinth


133:3.1 (1471.5) By the time they reached Corinth, Ganid was becoming very much interested in the Jewish religion, and so it was not strange that, one day as they passed the synagogue and saw the people going in, he requested Jesus to take him to the service. That day they heard a learned rabbi discourse on the “Destiny of Israel,” and after the service they met one Crispus, the chief ruler of this synagogue. Many times they went back to the synagogue services, but chiefly to meet Crispus. Ganid grew to be very fond of Crispus, his wife, and their family of five children. He much enjoyed observing how a Jew conducted his family life.

133:3.2 (1472.1) While Ganid studied family life, Jesus was teaching Crispus the better ways of religious living. Jesus held more than twenty sessions with this forward-looking Jew; and it is not surprising, years afterward, when Paul was preaching in this very synagogue, and when the Jews had rejected his message and had voted to forbid his further preaching in the synagogue, and when he then went to the gentiles, that Crispus with his entire family embraced the new religion, and that he became one of the chief supports of the Christian church which Paul subsequently organized at Corinth.

133:3.3 (1472.2) During the eighteen months Paul preached in Corinth, being later joined by Silas and Timothy, he met many others who had been taught by the “Jewish tutor of the son of an Indian merchant.”

133:3.4 (1472.3) At Corinth they met people of every race hailing from three continents. Next to Alexandria and Rome, it was the most cosmopolitan city of the Mediterranean empire. There was much to attract one’s attention in this city, and Ganid never grew weary of visiting the citadel which stood almost two thousand feet above the sea. He also spent a great deal of his spare time about the synagogue and in the home of Crispus. He was at first shocked, and later on charmed, by the status of woman in the Jewish home; it was a revelation to this young Indian.

133:3.5 (1472.4) Jesus and Ganid were often guests in another Jewish home, that of Justus, a devout merchant, who lived alongside the synagogue. And many times, subsequently, when the Apostle Paul sojourned in this home, did he listen to the recounting of these visits with the Indian lad and his Jewish tutor, while both Paul and Justus wondered whatever became of such a wise and brilliant Hebrew teacher.

133:3.6 (1472.5) When in Rome, Ganid observed that Jesus refused to accompany them to the public baths. Several times afterward the young man sought to induce Jesus further to express himself in regard to the relations of the sexes. Though he would answer the lad’s questions, he never seemed disposed to discuss these subjects at great length. One evening as they strolled about Corinth out near where the wall of the citadel ran down to the sea, they were accosted by two public women. Ganid had imbibed the idea, and rightly, that Jesus was a man of high ideals, and that he abhorred everything which partook of uncleanness or savored of evil; accordingly he spoke sharply to these women and rudely motioned them away. When Jesus saw this, he said to Ganid: “You mean well, but you should not presume thus to speak to the children of God, even though they chance to be his erring children. Who are we that we should sit in judgment on these women? Do you happen to know all of the circumstances which led them to resort to such methods of obtaining a livelihood? Stop here with me while we talk about these matters.” The courtesans were astonished at what he said even more than was Ganid.

133:3.7 (1472.6) As they stood there in the moonlight, Jesus went on to say: “There lives within every human mind a divine spirit, the gift of the Father in heaven. This good spirit ever strives to lead us to God, to help us to find God and to know God; but also within mortals there are many natural physical tendencies which the Creator put there to serve the well-being of the individual and the race. Now, oftentimes, men and women become confused in their efforts to understand themselves and to grapple with the manifold difficulties of making a living in a world so largely dominated by selfishness and sin. I perceive, Ganid, that neither of these women is willfully wicked. I can tell by their faces that they have experienced much sorrow; they have suffered much at the hands of an apparently cruel fate; they have not intentionally chosen this sort of life; they have, in discouragement bordering on despair, surrendered to the pressure of the hour and accepted this distasteful means of obtaining a livelihood as the best way out of a situation that to them appeared hopeless. Ganid, some people are really wicked at heart; they deliberately choose to do mean things, but, tell me, as you look into these now tear-stained faces, do you see anything bad or wicked?” And as Jesus paused for his reply, Ganid’s voice choked up as he stammered out his answer: “No, Teacher, I do not. And I apologize for my rudeness to them—I crave their forgiveness.” Then said Jesus: “And I bespeak for them that they have forgiven you as I speak for my Father in heaven that he has forgiven them. Now all of you come with me to a friend’s house where we will seek refreshment and plan for the new and better life ahead.” Up to this time the amazed women had not uttered a word; they looked at each other and silently followed as the men led the way.

133:3.8 (1473.1) Imagine the surprise of Justus’ wife when, at this late hour, Jesus appeared with Ganid and these two strangers, saying: “You will forgive us for coming at this hour, but Ganid and I desire a bite to eat, and we would share it with these our new-found friends, who are also in need of nourishment; and besides all this, we come to you with the thought that you will be interested in counseling with us as to the best way to help these women get a new start in life. They can tell you their story, but I surmise they have had much trouble, and their very presence here in your house testifies how earnestly they crave to know good people, and how willingly they will embrace the opportunity to show all the world—and even the angels of heaven—what brave and noble women they can become.”

133:3.9 (1473.2) When Martha, Justus’ wife, had spread the food on the table, Jesus, taking unexpected leave of them, said: “As it is getting late, and since the young man’s father will be awaiting us, we pray to be excused while we leave you here together—three women—the beloved children of the Most High. And I will pray for your spiritual guidance while you make plans for a new and better life on earth and eternal life in the great beyond.”

133:3.10 (1473.3) Thus did Jesus and Ganid take leave of the women. So far the two courtesans had said nothing; likewise was Ganid speechless. And for a few moments so was Martha, but presently she rose to the occasion and did everything for these strangers that Jesus had hoped for. The elder of these two women died a short time thereafter, with bright hopes of eternal survival, and the younger woman worked at Justus’ place of business and later became a lifelong member of the first Christian church in Corinth.

133:3.11 (1473.4) Several times in the home of Crispus, Jesus and Ganid met one Gaius, who subsequently became a loyal supporter of Paul. During these two months in Corinth they held intimate conversations with scores of worth-while individuals, and as a result of all these apparently casual contacts more than half of the individuals so affected became members of the subsequent Christian community.

133:3.12 (1473.5) When Paul first went to Corinth, he had not intended to make a prolonged visit. But he did not know how well the Jewish tutor had prepared the way for his labors. And further, he discovered that great interest had already been aroused by Aquila and Priscilla, Aquila being one of the Cynics with whom Jesus had come in contact when in Rome. This couple were Jewish refugees from Rome, and they quickly embraced Paul’s teachings. He lived with them and worked with them, for they were also tentmakers. It was because of these circumstances that Paul prolonged his stay in Corinth.


4. Personal Work in Corinth


133:4.1 (1474.1) Jesus and Ganid had many more interesting experiences in Corinth. They had close converse with a great number of persons who greatly profited by the instruction received from Jesus.

133:4.2 (1474.2) The miller he taught about grinding up the grains of truth in the mill of living experience so as to render the difficult things of divine life readily receivable by even the weak and feeble among one’s fellow mortals. Said Jesus: “Give the milk of truth to those who are babes in spiritual perception. In your living and loving ministry serve spiritual food in attractive form and suited to the capacity of receptivity of each of your inquirers.”

133:4.3 (1474.3) To the Roman centurion he said: “Render unto Caesar the things which are Caesar’s and unto God the things which are God’s. The sincere service of God and the loyal service of Caesar do not conflict unless Caesar should presume to arrogate to himself that homage which alone can be claimed by Deity. Loyalty to God, if you should come to know him, would render you all the more loyal and faithful in your devotion to a worthy emperor.”

133:4.4 (1474.4) To the earnest leader of the Mithraic cult he said: “You do well to seek for a religion of eternal salvation, but you err to go in quest of such a glorious truth among man-made mysteries and human philosophies. Know you not that the mystery of eternal salvation dwells within your own soul? Do you not know that the God of heaven has sent his spirit to live within you, and that this spirit will lead all truth-loving and God-serving mortals out of this life and through the portals of death up to the eternal heights of light where God waits to receive his children? And never forget: You who know God are the sons of God if you truly yearn to be like him.”

133:4.5 (1474.5) To the Epicurean teacher he said: “You do well to choose the best and esteem the good, but are you wise when you fail to discern the greater things of mortal life which are embodied in the spirit realms derived from the realization of the presence of God in the human heart? The great thing in all human experience is the realization of knowing the God whose spirit lives within you and seeks to lead you forth on that long and almost endless journey of attaining the personal presence of our common Father, the God of all creation, the Lord of universes.”

133:4.6 (1474.6) To the Greek contractor and builder he said: “My friend, as you build the material structures of men, grow a spiritual character in the similitude of the divine spirit within your soul. Do not let your achievement as a temporal builder outrun your attainment as a spiritual son of the kingdom of heaven. While you build the mansions of time for another, neglect not to secure your title to the mansions of eternity for yourself. Ever remember, there is a city whose foundations are righteousness and truth, and whose builder and maker is God.”

133:4.7 (1474.7) To the Roman judge he said: “As you judge men, remember that you yourself will also some day come to judgment before the bar of the Rulers of a universe. Judge justly, even mercifully, even as you shall some day thus crave merciful consideration at the hands of the Supreme Arbiter. Judge as you would be judged under similar circumstances, thus being guided by the spirit of the law as well as by its letter. And even as you accord justice dominated by fairness in the light of the need of those who are brought before you, so shall you have the right to expect justice tempered by mercy when you sometime stand before the Judge of all the earth.”

133:4.8 (1475.1) To the mistress of the Greek inn he said: “Minister your hospitality as one who entertains the children of the Most High. Elevate the drudgery of your daily toil to the high levels of a fine art through the increasing realization that you minister to God in the persons whom he indwells by his spirit which has descended to live within the hearts of men, thereby seeking to transform their minds and lead their souls to the knowledge of the Paradise Father of all these bestowed gifts of the divine spirit.”

133:4.9 (1475.2) Jesus had many visits with a Chinese merchant. In saying good-bye, he admonished him: “Worship only God, who is your true spirit ancestor. Remember that the Father’s spirit ever lives within you and always points your soul-direction heavenward. If you follow the unconscious leadings of this immortal spirit, you are certain to continue on in the uplifted way of finding God. And when you do attain the Father in heaven, it will be because by seeking him you have become more and more like him. And so farewell, Chang, but only for a season, for we shall meet again in the worlds of light where the Father of spirit souls has provided many delightful stopping-places for those who are Paradise-bound.”

133:4.10 (1475.3) To the traveler from Britain he said: “My brother, I perceive you are seeking for truth, and I suggest that the spirit of the Father of all truth may chance to dwell within you. Did you ever sincerely endeavor to talk with the spirit of your own soul? Such a thing is indeed difficult and seldom yields consciousness of success; but every honest attempt of the material mind to communicate with its indwelling spirit meets with certain success, notwithstanding that the majority of all such magnificent human experiences must long remain as superconscious registrations in the souls of such God-knowing mortals.”

133:4.11 (1475.4) To the runaway lad Jesus said: “Remember, there are two things you cannot run away from—God and yourself. Wherever you may go, you take with you yourself and the spirit of the heavenly Father which lives within your heart. My son, stop trying to deceive yourself; settle down to the courageous practice of facing the facts of life; lay firm hold on the assurances of sonship with God and the certainty of eternal life, as I have instructed you. From this day on purpose to be a real man, a man determined to face life bravely and intelligently.”

133:4.12 (1475.5) To the condemned criminal he said at the last hour: “My brother, you have fallen on evil times. You lost your way; you became entangled in the meshes of crime. From talking to you, I well know you did not plan to do the thing which is about to cost you your temporal life. But you did do this evil, and your fellows have adjudged you guilty; they have determined that you shall die. You or I may not deny the state this right of self-defense in the manner of its own choosing. There seems to be no way of humanly escaping the penalty of your wrongdoing. Your fellows must judge you by what you did, but there is a Judge to whom you may appeal for forgiveness, and who will judge you by your real motives and better intentions. You need not fear to meet the judgment of God if your repentance is genuine and your faith sincere. The fact that your error carries with it the death penalty imposed by man does not prejudice the chance of your soul to obtain justice and enjoy mercy before the heavenly courts.”

133:4.13 (1476.1) Jesus enjoyed many intimate talks with a large number of hungry souls, too many to find a place in this record. The three travelers enjoyed their sojourn in Corinth. Excepting Athens, which was more renowned as an educational center, Corinth was the most important city in Greece during these Roman times, and their two months’ stay in this thriving commercial center afforded opportunity for all three of them to gain much valuable experience. Their sojourn in this city was one of the most interesting of all their stops on the way back from Rome.

133:4.14 (1476.2) Gonod had many interests in Corinth, but finally his business was finished, and they prepared to sail for Athens. They traveled on a small boat which could be carried overland on a land track from one of Corinth’s harbors to the other, a distance of ten miles.


5. At Athens—Discourse on Science


133:5.1 (1476.3) They shortly arrived at the olden center of Greek science and learning, and Ganid was thrilled with the thought of being in Athens, of being in Greece, the cultural center of the onetime Alexandrian empire, which had extended its borders even to his own land of India. There was little business to transact; so Gonod spent most of his time with Jesus and Ganid, visiting the many points of interest and listening to the interesting discussions of the lad and his versatile teacher.

133:5.2 (1476.4) A great university still thrived in Athens, and the trio made frequent visits to its halls of learning. Jesus and Ganid had thoroughly discussed the teachings of Plato when they attended the lectures in the museum at Alexandria. They all enjoyed the art of Greece, examples of which were still to be found here and there about the city.

133:5.3 (1476.5) Both the father and the son greatly enjoyed the discussion on science which Jesus had at their inn one evening with a Greek philosopher. After this pedant had talked for almost three hours, and when he had finished his discourse, Jesus, in terms of modern thought, said:

133:5.4 (1476.6) Scientists may some day measure the energy, or force manifestations, of gravitation, light, and electricity, but these same scientists can never (scientifically) tell you what these universe phenomena are. Science deals with physical-energy activities; religion deals with eternal values. True philosophy grows out of the wisdom which does its best to correlate these quantitative and qualitative observations. There always exists the danger that the purely physical scientist may become afflicted with mathematical pride and statistical egotism, not to mention spiritual blindness.

133:5.5 (1476.7) Logic is valid in the material world, and mathematics is reliable when limited in its application to physical things; but neither is to be regarded as wholly dependable or infallible when applied to life problems. Life embraces phenomena which are not wholly material. Arithmetic says that, if one man could shear a sheep in ten minutes, ten men could shear it in one minute. That is sound mathematics, but it is not true, for the ten men could not so do it; they would get in one another’s way so badly that the work would be greatly delayed.

133:5.6 (1477.1) Mathematics asserts that, if one person stands for a certain unit of intellectual and moral value, ten persons would stand for ten times this value. But in dealing with human personality it would be nearer the truth to say that such a personality association is a sum equal to the square of the number of personalities concerned in the equation rather than the simple arithmetical sum. A social group of human beings in co-ordinated working harmony stands for a force far greater than the simple sum of its parts.

133:5.7 (1477.2) Quantity may be identified as a fact, thus becoming a scientific uniformity. Quality, being a matter of mind interpretation, represents an estimate of values, and must, therefore, remain an experience of the individual. When both science and religion become less dogmatic and more tolerant of criticism, philosophy will then begin to achieve unity in the intelligent comprehension of the universe.

133:5.8 (1477.3) There is unity in the cosmic universe if you could only discern its workings in actuality. The real universe is friendly to every child of the eternal God. The real problem is: How can the finite mind of man achieve a logical, true, and corresponding unity of thought? This universe-knowing state of mind can be had only by conceiving that the quantitative fact and the qualitative value have a common causation in the Paradise Father. Such a conception of reality yields a broader insight into the purposeful unity of universe phenomena; it even reveals a spiritual goal of progressive personality achievement. And this is a concept of unity which can sense the unchanging background of a living universe of continually changing impersonal relations and evolving personal relationships.

133:5.9 (1477.4) Matter and spirit and the state intervening between them are three interrelated and interassociated levels of the true unity of the real universe. Regardless of how divergent the universe phenomena of fact and value may appear to be, they are, after all, unified in the Supreme.

133:5.10 (1477.5) Reality of material existence attaches to unrecognized energy as well as to visible matter. When the energies of the universe are so slowed down that they acquire the requisite degree of motion, then, under favorable conditions, these same energies become mass. And forget not, the mind which can alone perceive the presence of apparent realities is itself also real. And the fundamental cause of this universe of energy-mass, mind, and spirit, is eternal—it exists and consists in the nature and reactions of the Universal Father and his absolute co-ordinates.

133:5.11 (1477.6) They were all more than astounded at the words of Jesus, and when the Greek took leave of them, he said: “At last my eyes have beheld a Jew who thinks something besides racial superiority and talks something besides religion.” And they retired for the night.

133:5.12 (1477.7) The sojourn in Athens was pleasant and profitable, but it was not particularly fruitful in its human contacts. Too many of the Athenians of that day were either intellectually proud of their reputation of another day or mentally stupid and ignorant, being the offspring of the inferior slaves of those earlier periods when there was glory in Greece and wisdom in the minds of its people. Even then, there were still many keen minds to be found among the citizens of Athens.


6. At Ephesus—Discourse on the Soul


133:6.1 (1477.8) On leaving Athens, the travelers went by way of Troas to Ephesus, the capital of the Roman province of Asia. They made many trips out to the famous temple of Artemis of the Ephesians, about two miles from the city. Artemis was the most famous goddess of all Asia Minor and a perpetuation of the still earlier mother goddess of ancient Anatolian times. The crude idol exhibited in the enormous temple dedicated to her worship was reputed to have fallen from heaven. Not all of Ganid’s early training to respect images as symbols of divinity had been eradicated, and he thought it best to purchase a little silver shrine in honor of this fertility goddess of Asia Minor. That night they talked at great length about the worship of things made with human hands.

133:6.2 (1478.1) On the third day of their stay they walked down by the river to observe the dredging of the harbor’s mouth. At noon they talked with a young Phoenician who was homesick and much discouraged; but most of all he was envious of a certain young man who had received promotion over his head. Jesus spoke comforting words to him and quoted the olden Hebrew proverb: “A man’s gift makes room for him and brings him before great men.”

133:6.3 (1478.2) Of all the large cities they visited on this tour of the Mediterranean, they here accomplished the least of value to the subsequent work of the Christian missionaries. Christianity secured its start in Ephesus largely through the efforts of Paul, who resided here more than two years, making tents for a living and conducting lectures on religion and philosophy each night in the main audience chamber of the school of Tyrannus.

133:6.4 (1478.3) There was a progressive thinker connected with this local school of philosophy, and Jesus had several profitable sessions with him. In the course of these talks Jesus had repeatedly used the word “soul.” This learned Greek finally asked him what he meant by “soul,” and he replied:

133:6.5 (1478.4) “The soul is the self-reflective, truth-discerning, and spirit-perceiving part of man which forever elevates the human being above the level of the animal world. Self-consciousness, in and of itself, is not the soul. Moral self-consciousness is true human self-realization and constitutes the foundation of the human soul, and the soul is that part of man which represents the potential survival value of human experience. Moral choice and spiritual attainment, the ability to know God and the urge to be like him, are the characteristics of the soul. The soul of man cannot exist apart from moral thinking and spiritual activity. A stagnant soul is a dying soul. But the soul of man is distinct from the divine spirit which dwells within the mind. The divine spirit arrives simultaneously with the first moral activity of the human mind, and that is the occasion of the birth of the soul.

133:6.6 (1478.5) “The saving or losing of a soul has to do with whether or not the moral consciousness attains survival status through eternal alliance with its associated immortal spirit endowment. Salvation is the spiritualization of the self-realization of the moral consciousness, which thereby becomes possessed of survival value. All forms of soul conflict consist in the lack of harmony between the moral, or spiritual, self-consciousness and the purely intellectual self-consciousness.

133:6.7 (1478.6) “The human soul, when matured, ennobled, and spiritualized, approaches the heavenly status in that it comes near to being an entity intervening between the material and the spiritual, the material self and the divine spirit. The evolving soul of a human being is difficult of description and more difficult of demonstration because it is not discoverable by the methods of either material investigation or spiritual proving. Material science cannot demonstrate the existence of a soul, neither can pure spirit-testing. Notwithstanding the failure of both material science and spiritual standards to discover the existence of the human soul, every morally conscious mortal knows of the existence of his soul as a real and actual personal experience.”


7. The Sojourn at Cyprus—Discourse on Mind


133:7.1 (1479.1) Shortly the travelers set sail for Cyprus, stopping at Rhodes. They enjoyed the long water voyage and arrived at their island destination much rested in body and refreshed in spirit.

133:7.2 (1479.2) It was their plan to enjoy a period of real rest and play on this visit to Cyprus as their tour of the Mediterranean was drawing to a close. They landed at Paphos and at once began the assembly of supplies for their sojourn of several weeks in the near-by mountains. On the third day after their arrival they started for the hills with their well-loaded pack animals.

133:7.3 (1479.3) For two weeks the trio greatly enjoyed themselves, and then, without warning, young Ganid was suddenly taken grievously ill. For two weeks he suffered from a raging fever, oftentimes becoming delirious; both Jesus and Gonod were kept busy attending the sick boy. Jesus skillfully and tenderly cared for the lad, and the father was amazed by both the gentleness and adeptness manifested in all his ministry to the afflicted youth. They were far from human habitations, and the boy was too ill to be moved; so they prepared as best they could to nurse him back to health right there in the mountains.

133:7.4 (1479.4) During Ganid’s convalescence of three weeks Jesus told him many interesting things about nature and her various moods. And what fun they had as they wandered over the mountains, the boy asking questions, Jesus answering them, and the father marveling at the whole performance.

133:7.5 (1479.5) The last week of their sojourn in the mountains Jesus and Ganid had a long talk on the functions of the human mind. After several hours of discussion the lad asked this question: “But, Teacher, what do you mean when you say that man experiences a higher form of self-consciousness than do the higher animals?” And as restated in modern phraseology, Jesus answered:

133:7.6 (1479.6) My son, I have already told you much about the mind of man and the divine spirit that lives therein, but now let me emphasize that self-consciousness is a reality. When any animal becomes self-conscious, it becomes a primitive man. Such an attainment results from a co-ordination of function between impersonal energy and spirit-conceiving mind, and it is this phenomenon which warrants the bestowal of an absolute focal point for the human personality, the spirit of the Father in heaven.

133:7.7 (1479.7) Ideas are not simply a record of sensations; ideas are sensations plus the reflective interpretations of the personal self; and the self is more than the sum of one’s sensations. There begins to be something of an approach to unity in an evolving selfhood, and that unity is derived from the indwelling presence of a part of absolute unity which spiritually activates such a self-conscious animal-origin mind.

133:7.8 (1479.8) No mere animal could possess a time self-consciousness. Animals possess a physiological co-ordination of associated sensation-recognition and memory thereof, but none experience a meaningful recognition of sensation or exhibit a purposeful association of these combined physical experiences such as is manifested in the conclusions of intelligent and reflective human interpretations. And this fact of self-conscious existence, associated with the reality of his subsequent spiritual experience, constitutes man a potential son of the universe and foreshadows his eventual attainment of the Supreme Unity of the universe.

133:7.9 (1480.1) Neither is the human self merely the sum of the successive states of consciousness. Without the effective functioning of a consciousness sorter and associater there would not exist sufficient unity to warrant the designation of a selfhood. Such an ununified mind could hardly attain conscious levels of human status. If the associations of consciousness were just an accident, the minds of all men would then exhibit the uncontrolled and random associations of certain phases of mental madness.

133:7.10 (1480.2) A human mind, built up solely out of the consciousness of physical sensations, could never attain spiritual levels; this kind of material mind would be utterly lacking in a sense of moral values and would be without a guiding sense of spiritual dominance which is so essential to achieving harmonious personality unity in time, and which is inseparable from personality survival in eternity.

133:7.11 (1480.3) The human mind early begins to manifest qualities which are supermaterial; the truly reflective human intellect is not altogether bound by the limits of time. That individuals so differ in their life performances indicates, not only the varying endowments of heredity and the different influences of the environment, but also the degree of unification with the indwelling spirit of the Father which has been achieved by the self, the measure of the identification of the one with the other.

133:7.12 (1480.4) The human mind does not well stand the conflict of double allegiance. It is a severe strain on the soul to undergo the experience of an effort to serve both good and evil. The supremely happy and efficiently unified mind is the one wholly dedicated to the doing of the will of the Father in heaven. Unresolved conflicts destroy unity and may terminate in mind disruption. But the survival character of a soul is not fostered by attempting to secure peace of mind at any price, by the surrender of noble aspirations, and by the compromise of spiritual ideals; rather is such peace attained by the stalwart assertion of the triumph of that which is true, and this victory is achieved in the overcoming of evil with the potent force of good.

133:7.13 (1480.5) The next day they departed for Salamis, where they embarked for Antioch on the Syrian coast.


8. At Antioch


133:8.1 (1480.6) Antioch was the capital of the Roman province of Syria, and here the imperial governor had his residence. Antioch had half a million inhabitants; it was the third city of the empire in size and the first in wickedness and flagrant immorality. Gonod had considerable business to transact; so Jesus and Ganid were much by themselves. They visited everything about this polyglot city except the grove of Daphne. Gonod and Ganid visited this notorious shrine of shame, but Jesus declined to accompany them. Such scenes were not so shocking to Indians, but they were repellent to an idealistic Hebrew.

133:8.2 (1480.7) Jesus became sober and reflective as he drew nearer Palestine and the end of their journey. He visited with few people in Antioch; he seldom went about in the city. After much questioning as to why his teacher manifested so little interest in Antioch, Ganid finally induced Jesus to say: “This city is not far from Palestine; maybe I shall come back here sometime.”

133:8.3 (1481.1) Ganid had a very interesting experience in Antioch. This young man had proved himself an apt pupil and already had begun to make practical use of some of Jesus’ teachings. There was a certain Indian connected with his father’s business in Antioch who had become so unpleasant and disgruntled that his dismissal had been considered. When Ganid heard this, he betook himself to his father’s place of business and held a long conference with his fellow countryman. This man felt he had been put at the wrong job. Ganid told him about the Father in heaven and in many ways expanded his views of religion. But of all that Ganid said, the quotation of a Hebrew proverb did the most good, and that word of wisdom was: “Whatsoever your hand finds to do, do that with all your might.”

133:8.4 (1481.2) After preparing their luggage for the camel caravan, they passed on down to Sidon and thence over to Damascus, and after three days they made ready for the long trek across the desert sands.


9. In Mesopotamia


133:9.1 (1481.3) The caravan trip across the desert was not a new experience for these much-traveled men. After Ganid had watched his teacher help with the loading of their twenty camels and observed him volunteer to drive their own animal, he exclaimed, “Teacher, is there anything that you cannot do?” Jesus only smiled, saying, “The teacher surely is not without honor in the eyes of a diligent pupil.” And so they set forth for the ancient city of Ur.

133:9.2 (1481.4) Jesus was much interested in the early history of Ur, the birthplace of Abraham, and he was equally fascinated with the ruins and traditions of Susa, so much so that Gonod and Ganid extended their stay in these parts three weeks in order to afford Jesus more time to conduct his investigations and also to provide the better opportunity to persuade him to go back to India with them.

133:9.3 (1481.5) It was at Ur that Ganid had a long talk with Jesus regarding the difference between knowledge, wisdom, and truth. And he was greatly charmed with the saying of the Hebrew wise man: “Wisdom is the principal thing; therefore get wisdom. With all your quest for knowledge, get understanding. Exalt wisdom and she will promote you. She will bring you to honor if you will but embrace her.”

133:9.4 (1481.6) At last the day came for the separation. They were all brave, especially the lad, but it was a trying ordeal. They were tearful of eye but courageous of heart. In bidding his teacher farewell, Ganid said: “Farewell, Teacher, but not forever. When I come again to Damascus, I will look for you. I love you, for I think the Father in heaven must be something like you; at least I know you are much like what you have told me about him. I will remember your teaching, but most of all, I will never forget you.” Said the father, “Farewell to a great teacher, one who has made us better and helped us to know God.” And Jesus replied, “Peace be upon you, and may the blessing of the Father in heaven ever abide with you.” And Jesus stood on the shore and watched as the small boat carried them out to their anchored ship. Thus the Master left his friends from India at Charax, never to see them again in this world; nor were they, in this world, ever to know that the man who later appeared as Jesus of Nazareth was this same friend they had just taken leave of—Joshua their teacher.

133:9.5 (1481.7) In India, Ganid grew up to become an influential man, a worthy successor of his eminent father, and he spread abroad many of the noble truths which he had learned from Jesus, his beloved teacher. Later on in life, when Ganid heard of the strange teacher in Palestine who terminated his career on a cross, though he recognized the similarity between the gospel of this Son of Man and the teachings of his Jewish tutor, it never occurred to him that these two were actually the same person.

133:9.6 (1482.1) Thus ended that chapter in the life of the Son of Man which might be termed: The mission of Joshua the teacher.

Documento 133

O Retorno de Roma

133:0.1 (1468.1) AO PREPARAR-SE para deixar Roma, Jesus não disse adeus a nenhum dos seus amigos. O Escriba de Damasco apareceu em Roma sem anúncio e desapareceu do mesmo modo. Passou-se um ano inteiro até que aqueles que o conheciam e que o amavam desistiram da esperança de vê-lo novamente. Antes do fim do segundo ano, pequenos grupos daqueles que o haviam conhecido viram-se atraídos uns pelos outros e reuniram-se por causa do seu interesse comum nos ensinamentos dele, e nas memórias comuns dos seus bons tempos com ele. E esses pequenos grupos de estóicos, cínicos e cultuadores dos mistérios continuaram a manter encontros informais e esporádicos, até o momento em que apareceram em Roma os primeiros pregadores da religião cristã.

133:0.2 (1468.2) Gonod e Ganid haviam comprado tantas coisas em Alexandria e em Roma, que acabaram enviando, antecipadamente, todos os seus pertences embalados, por meio de burros de carga, para Tarento, enquanto os três viajantes empreenderam uma viagem a pé, com tranqüilidade, através da Itália, pela grande Via Ápia. Nessa viagem eles encontraram toda a sorte de seres humanos. Muitos cidadãos romanos nobres e colonos gregos viviam ao longo dessa estrada, mas a progênie de um bom número de escravos inferiores começava a aparecer.

133:0.3 (1468.3) Um dia, enquanto descansavam à hora do almoço, a meio caminho de Tarento, Ganid fez uma pergunta direta a Jesus, sobre o que ele pensava do sistema de castas da Índia. Jesus respondeu: “Embora os seres humanos difiram uns dos outros, sob muitos aspectos, perante Deus e o mundo espiritual, todos mortais estão em pé de igualdade. Dois grupos apenas de mortais há aos olhos de Deus: aqueles que desejam cumprir a Sua vontade e aqueles que não almejam tal coisa. E, quando o universo se volta para um mundo habitado discerne, deste mesmo modo, duas grandes classes: os que sabem de Deus e os que não sabem. Aqueles que não podem chegar a conhecer a Deus são reconhecidos entre os animais de qualquer reino. A humanidade pode ser dividida, apropriadamente, em muitas classes, de acordo com diferentes qualificações, segundo o modo de vê-la, física, mental, social, vocacional ou moralmente; mas esses grupos diferentes de humanos mortais, ao aparecerem diante do tribunal para o julgamento de Deus, ficam em pé de igualdade; Deus, verdadeiramente, não faz acepção de pessoas. Embora vós não possais escapar do reconhecimento segundo as diferentes habilidades e dons humanos, nas questões intelectuais, sociais e morais, não deveis fazer nenhuma dessas diferenciações na irmandade espiritual dos homens quando reunidos para a adoração na presença de Deus”.

 

1. A Misericórdia e a Justiça

 

133:1.1 (1468.4) Um incidente muito interessante ocorreu, em uma tarde, no acostamento da estrada, quando eles se aproximavam de Tarento. Viram um jovem rude intimidando brutalmente um outro menor do que ele. Apressando-se a ajudar o menino atacado, quando o havia resgatado, Jesus permaneceu apenas segurando apertadadamene o ofensor até que o menor tivesse escapado. No momento em que Jesus liberou o pequeno brigão, Ganid agarrou o menino e começou a bater nele estrepitosamente, então, Jesus prontamente interferiu, para espanto de Ganid. Depois de haver contido Ganid e permitido ao menino amedrontado escapar, tão logo recuperou o fôlego, Ganid exclamou sobressaltado: “Eu não consigo entender-te, Mestre. Se a misericórdia exige que tu resgates o menino menor, a justiça não exige a punição do menino maior e que era o ofensor?” Respondendo, Jesus disse:

133:1.2 (1469.1) “Ganid, é verdade que tu não entendeste. A ministração da misericórdia é sempre trabalho do indivíduo, mas a justiça da punição é função do social, do governo ou dos grupos que administram o universo. Enquanto indivíduo sou obrigado a mostrar misericórdia; eu devia livrar o garoto atacado e, com toda firmeza, empregar a força necessária para conter o agressor. E isso foi exatamente o que fiz. Realizei a libertação do menino atacado; e esse foi o fim da ministração da misericórdia. E então, à força eu detive o agressor por um período de tempo suficiente para permitir que a parte mais fraca, na disputa, escapasse; após o que eu me retirei do caso. E não continuei, não fiz o julgamento do agressor, nem repassei o seu motivo — nem julguei tudo o que motivou o seu ataque ao seu companheiro — e não assumi executar a punição que a minha mente podia ditar como compensação justa pelo erro dele. Ganid, a misericórdia pode ser pródiga, mas a justiça deve ser precisa. Não podes discernir que não há duas pessoas que porventura concordem quanto à punição que deveria satisfazer as exigências da justiça? Um imporia quarenta chicotadas, o outro vinte, enquanto outro iria aconselhar ainda o confinamento em solitária como uma justa punição. Não vês que, neste mundo, essas responsabilidades ou deveriam ficar com o grupo ou deveriam ser administradas pelos representantes escolhidos do grupo? No universo, o julgamento é entregue àqueles que conhecem plenamente os antecedentes de todos os erros, bem como as suas motivações. Na sociedade civilizada e em um universo organizado, a administração da justiça pressupõe aplicar uma sentença justa em conseqüência de um julgamento equânime; e essas prerrogativas são dadas aos grupos jurídicos dos mundos e aos administradores todo-cientes dos universos mais elevados de toda a criação”.

133:1.3 (1469.2) Durante vários dias eles conversaram sobre a questão da manifestação da misericórdia e da administração da justiça. E Ganid, ao menos em uma certa medida, compreendeu por que Jesus não queria entrar em combate pessoalmente. Ganid, no entanto, fez uma última pergunta, para a qual ele nunca recebeu uma resposta totalmente satisfatória; e essa pergunta foi: “Mas, Mestre, se uma criatura mais forte e de temperamento maldoso te atacasse e ameaçasse destruir-te, o que farias? Não farias nenhum esforço para defender-te?” Embora Jesus não pudesse plena e satisfatoriamente responder à pergunta do jovem, porquanto ele não estava querendo revelar-lhe que ele (Jesus) estava vivendo na Terra como a exemplificação do amor do Pai do Paraíso, para um universo que a tudo assistia; ainda assim, ele disse o seguinte:

133:1.4 (1469.3) “Ganid, posso entender bem o quanto te deixam perplexo algumas dessas questões e vou esforçar-me para responder à tua pergunta. Primeiro, em todos os ataques que poderiam ser feitos à minha pessoa, eu determinaria se o agressor seria ou não um filho de Deus — meu irmão na carne — e, se eu achasse que uma tal criatura fosse desprovida de juízo moral e de razão espiritual, eu defenderia sem hesitar a mim próprio com toda a capacidade dos meus poderes de resistência, a despeito das conseqüências para o atacante. Mas, eu não agrediria assim a um irmão que tenha o status de filiação, nem mesmo em autodefesa. Isto é, eu não o puniria precipitadamente e sem julgamento por uma agressão contra mim. Por todos os meios possíveis eu procuraria impedir e dissuadi- lo de fazer aquele ataque; e faria tudo para mitigá-lo caso eu fracassasse em evitá-lo. Ganid, eu tenho confiança absoluta nos cuidados do meu Pai celeste; e estou consagrado a fazer a vontade do meu Pai no céu. Não acredito que nenhum mal real possa sobrevir a mim, não acredito que o trabalho da minha vida possa ser ameaçado por qualquer coisa que os meus inimigos possam desejar que aconteça a mim, e certamente não há nenhuma violência dos nossos amigos a ser temida. Estou absolutamente seguro de que todo o universo é amigável comigo — essa é a verdade todo-poderosa na qual eu insisto em acreditar, com uma confiança de todo o coração, a despeito de todas as aparências em contrário”.

133:1.5 (1470.1) Ganid, todavia, não ficou plenamente satisfeito. Muitas vezes eles falaram sobre essas questões; e Jesus contara a ele algo das suas experiências de infância e também sobre Jacó, o filho do pedreiro. Ao saber como Jacó se propusera a defender Jesus, Ganid disse: “Oh, eu começo a perceber! Em primeiro lugar muito raramente qualquer ser humano normal iria atacar uma pessoa tão boa como tu és e, mesmo que alguém seja tão irrefletido a ponto de fazer tal coisa, há de haver muito certamente algum outro mortal à mão que acorrerá em tua proteção, do mesmo modo que tu sempre acorres em defesa de qualquer pessoa que tu percebes estar em aperto. No meu coração, Mestre, eu concordo contigo, mas na minha cabeça eu ainda acho que se eu tivesse sido Jacó, eu teria gostado de punir aqueles irmãos rudes que ousaram atacar-te só porque sabiam que tu não irias defender-te a ti mesmo. Eu presumo que tu estás a salvo o suficiente nessa tua jornada pela vida, já que passas grande parte do teu tempo ajudando aos outros e ministrando aos teus semelhantes em desespero — bem, muito provavelmente haverá sempre alguém à mão para defender-te”. E Jesus retorquiu: “Esse teste ainda está para acontecer, Ganid, e, quando vier, nós teremos que nos conformar com a vontade do Pai”. E isso foi tudo o que o jovem pôde levar o seu Mestre a dizer sobre essa questão difícil, da autodefesa e da não-resistência. Numa outra ocasião ele conseguiu tirar de Jesus a opinião de que a sociedade organizada tinha todo o direito de empregar a força para o cumprimento dos seus mandados de justiça.

 

2. Embarcando para Tarento

 

133:2.1 (1470.2) Enquanto permaneciam no navio atracado, esperando que o barco fosse descarregado, os viajantes puderam observar um homem maltratando a sua mulher. Como era do seu costume, Jesus interveio em defesa da pessoa submetida à violência. Ele foi por trás do marido irado e, tocando gentilmente no seu ombro, disse: “Meu amigo, posso falar contigo em particular, por um momento?” O homem em cólera ficou embaraçado com essa abordagem e, depois de um momento de hesitação e embaraço, balbuciou: “É… — por que — Está bem, o que quer comigo?” E, depois de levá-lo para um lado, Jesus disse: “Meu amigo, percebo algo terrível que deve ter acontecido a ti; e desejo muito que me digas o que teria acontecido a um homem tão forte para levá-lo a agredir a sua mulher, a mãe dos seus filhos, e isso, bem aqui diante dos olhos de todos. Estou seguro de que deves ter uma boa razão para esse ataque. O que fez a mulher para merecer esse tratamento do seu marido? Ao olhar para ti, vejo que posso perceber no teu rosto o amor da justiça e até o desejo de mostrar misericórdia. E aventuro-me a dizer que, caso me visses atacado por ladrões, tu irias, sem hesitação, acorrer para ajudar-me. Ouso dizer que tu já fizeste muitas coisas valentes no correr da tua vida. Agora, meu amigo, dize-me o que está acontecendo? A mulher fez algo errado, ou terias tu perdido tolamente a cabeça e, sem pensar, agrediu-a?” Não foi tanto o que Jesus havia dito que tocara o coração desse homem, mas o olhar de bondade e o sorriso de simpatia que Jesus lhe dirigira, quando concluía as suas observações. Disse o homem: “Eu vejo que tu és um sacerdote dos cínicos e estou agradecido por me teres refreado. Minha mulher nada fez de muito errado; ela é uma boa mulher, mas o modo pelo qual me provoca em público me irrita, e perco a cabeça. Sinto muito pela minha falta de autocontrole; e prometo tentar viver de acordo com a promessa que fiz outrora a um dos teus irmãos que me ensinou as maneiras certas. Eu te prometo”.

133:2.2 (1471.1) E então, despedindo-se dele, Jesus disse: “Meu irmão, sempre te lembra de que o homem não tem autoridade de direito sobre a mulher, a menos que a mulher tenha de propósito e voluntariamente dado a ele essa autoridade. A tua mulher se propôs a viver contigo, ajudar-te a lutar nas batalhas da vida e assumir a parte maior na carga de ter e de criar os vossos filhos; e, em troca desse serviço especial, é mais do que justo que receba de ti a proteção especial que o homem pode dar à mulher, como uma parceira que deve carregar, suportar e nutrir os filhos. O cuidado e a consideração amorosos que um homem deseja dar à sua esposa e filhos são a medida da realização daquele homem, nos níveis mais elevados da autoconsciência criativa e espiritual. Sabes que tais homens e mulheres são parceiros de Deus, pois eles cooperam para criar seres que crescem e possuem por si próprios o potencial de terem almas imortais? O Pai no céu trata o Espírito Materno, que é a mãe dos filhos do universo, como igual a si próprio. Compartilhar a tua vida, e tudo que se relaciona a ela, em termos de igualdade com a mãe que tão plenamente compartilha contigo a experiência divina de reproduzir aos dois, na vida dos vossos filhos, é ser semelhante a Deus. Se apenas puderes amar aos teus filhos como Deus te ama, tu amarás e acariciarás a tua esposa como o Pai no céu honra e exalta o Espírito Infinito, a mãe de todos os filhos espirituais de um universo vastíssimo”.

133:2.3 (1471.2) E quando eles estavam a bordo do barco, olharam para trás e viram a cena do casal, o qual permanecia com lágrimas nos olhos em um abraço silencioso. Tendo ouvido a última metade da mensagem de Jesus ao homem, Gonod esteve todo o dia ocupado em meditar sobre aquilo e resolveu reorganizar a sua casa quando voltasse para a Índia.

133:2.4 (1471.3) A viagem a Nicópolis foi agradável mas lenta, pois o vento não estava favorável. Os três passaram muitas horas recontando as suas experiências em Roma e relembrando tudo o que lhes tinha acontecido desde que se conheceram em Jerusalém. Ganid estava tornando-se imbuído do espírito do ministério pessoal. Ele começou a auxiliar no navio como camareiro, mas, no segundo dia, quando mergulhou mais nas profundas águas da religião, ele chamou Joshua para ajudá-lo.

133:2.5 (1471.4) Eles passaram vários dias em Nicópolis, a cidade que Augusto tinha fundado, há uns cinqüenta anos, como a “cidade da vitória”, em comemoração da batalha de Actium; pois havia sido nesse local que acampara com o seu exército antes da batalha. Eles alojaram-se na casa de um tal de Jeremias, um prosélito grego de fé judia a quem conheceram a bordo do barco. O apóstolo Paulo passou todo o inverno com o filho de Jeremias nessa mesma casa durante a sua terceira viagem missionária. De Nicópolis eles velejaram no mesmo barco para Corinto, a capital da província romana de Acáia.

 

3. Em Corinto

 

133:3.1 (1471.5) Ao chegarem a Corinto, Ganid já estava ficando bastante interessado pela religião judaica e assim não seria estranho que um dia, quando passavam pela sinagoga e viram as pessoas entrando, ele solicitasse a Jesus que o levasse ao serviço. Naquele dia eles ouviram um rabino erudito discursar sobre “o destino de Israel” e, depois do serviço, encontraram um tal de Crespo, o dirigente mais alto dessa sinagoga. Eles voltaram muitas vezes para os serviços naquela sinagoga, mas, sobretudo para encontrar Crespo. Ganid criou uma grande afeição por Crespo, pela sua esposa, e a sua família de cinco filhos. Ele gostava muito de observar como um judeu conduzia a sua vida familiar.

133:3.2 (1472.1) Enquanto Ganid estudava a vida familiar, Jesus ensinava a Crespo o melhor caminho para a vida religiosa. Jesus permaneceu mais de vinte sessões com esse judeu progressista e não é de se surpreender, quando, anos depois, quando Paulo se encontrava em pregação nessa mesma sinagoga e os judeus rejeitaram a sua mensagem, dando o seu voto de proibição a outras pregações na sinagoga que, ao se voltar aos gentios, Paulo haja encontrado nesse mesmo Crespo e em toda a sua família o apoio de haverem eles abraçado já a nova religião, e que se haja transformado em um dos principais sustentáculos da igreja cristã que Paulo organizou em seguida em Corinto.

133:3.3 (1472.2) Durante os dezoito meses que pregou em Corinto, sendo que Silas e Timóteo se juntaram a ele mais tarde, Paulo conheceu muitos outros que haviam sido instruídos pelo “tutor judeu do filho de um mercador indiano”.

133:3.4 (1472.3) Em Corinto eles conheceram pessoas de todas as raças, vindas de três continentes. Junto com Alexandria e Roma, Corinto era a mais cosmopolita das cidades do império no Mediterrâneo. Havia muita coisa que atraía a atenção das pessoas nessa cidade, e Ganid nunca se cansava de visitar a cidadela que ficava a quase seiscentos metros acima do mar. Ele também passou uma boa parte do tempo que lhe sobrava na sinagoga e na casa de Crespo. A princípio ele ficara chocado, mas, mais tarde, ficou encantado com o status da mulher no lar judeu; era uma revelação para esse jovem indiano.

133:3.5 (1472.4) Jesus e Ganid foram muitas vezes hóspedes em um outro lar judeu, o de Justo, um mercador devoto, que morava ao lado da sinagoga. E, muitas vezes, subseqüentemente, quando o apóstolo permaneceu nessa casa, Paulo ouviu as histórias dessas visitas do rapaz indiano e o seu tutor judeu, enquanto ambos, Paulo e Justo, imaginavam o que é que teria acontecido a um instrutor hebreu tão brilhante.

133:3.6 (1472.5) Quando em Roma, Ganid observou que Jesus se recusava a acompanhá-los aos banhos públicos. Várias vezes depois disso, o jovem tentou induzir Jesus a dizer mais sobre o que pensava a respeito das relações dos sexos. Embora quisesse responder às perguntas do rapaz, Jesus nunca parecia disposto a discutir esses assuntos muito longamente. Certa noite, enquanto passeavam em Corinto, perto do local em que a parede da cidadela corria até o mar, eles foram abordados por duas mulheres públicas. Ganid, muito justamente, havia assimilado a idéia de que Jesus era um homem de elevados ideais, e que ele abominava tudo que beirava a impureza ou que tivesse o sabor do mal; e, em vista disso, ele dirigiu- se secamente a essas mulheres e grosseiramente pediu a elas para se afastarem. Quando Jesus ouviu isso, disse a Ganid: “A tua intenção foi boa, mas tu não devias permitir-te falar assim aos filhos de Deus, ainda que sejam os seus filhos desguiados. Quem somos nós para julgar essas mulheres? Tu conheces todas as circunstâncias que as levaram a recorrer a tais métodos de obter a sobrevivência? Fica aqui comigo enquanto falamos sobre essas questões”. As prostitutas ficaram mais estupefatas ainda do que Ganid com as palavras de Jesus.

133:3.7 (1472.6) E, enquanto permaneciam ali sob a luz da lua, Jesus continuou dizendo: “Dentro de todas as mentes humanas vive um espírito divino, a dádiva do Pai do céu. Esse espírito do bem sempre se esforça para nos levar a Deus, para ajudar-nos a encontrar Deus e conhecer a Deus; mas há também dentro dos mortais muitas tendências naturais físicas que o Criador colocou neles para servir ao bem-estar individual e da raça. Assim, muitas vezes, os homens e as mulheres tornam-se confusos nos seus esforços de compreender a si próprios e lutar contra as dificuldades múltiplas do ganhar a vida em um mundo tão amplamente dominado pelo egoísmo e pelo pecado. Eu percebo, Ganid, que nenhuma dessas mulheres é voluntariamente pecaminosa. Posso ver, nos seus rostos, que elas passaram por muitas tristezas e sofreram muito nas mãos de um destino aparentemnte cruel; todavia elas não escolheram intencionalmente essa espécie de vida. Apenas se renderam, desencorajadas e de um modo que beira o desespero, à pressão do momento e aceitaram esses meios repugnantes de ganhar a vida como o que de melhor encontraram para sair de uma situação que lhes parecia desesperadora. Ganid, algumas pessoas são realmente perversas de coração, e escolhem deliberadamente fazer coisas más; no entanto, diga-me, quando olhas para esses rostos inundados de lágrimas, tu vês algo de mal ou de perverso?” E, enquanto Jesus esperava a resposta, a voz de Ganid saiu sufocada quando balbuciou a sua resposta: “Não, Mestre, não vejo. E peço perdão pela minha grosseria para com elas — eu imploro o seu perdão”. E então Jesus disse: “Falando em nome delas, eu digo que já te perdoaram, do mesmo modo que falo pelo meu Pai no céu, pois Ele já as perdoou. Agora, todos vós, vinde comigo até a casa de um amigo, onde encontraremos recolhimento e faremos planos para a vida nova e melhor que temos diante de nós”. As mulheres, estupefatas até esse momento, não haviam dito palavra; entreolharam-se silenciosamente e seguiram o caminho indicado por aqueles homens.

133:3.8 (1473.1) Imaginai a surpresa da esposa de Justo quando, já tarde da noite, Jesus apareceu com Ganid e essas duas estranhas, dizendo: “Perdoai-nos por chegarmos a essa hora, mas Ganid e eu desejamos comer um pouco e gostaríamos de compartilhar esse pouco com estas nossas amigas que acabamos de encontrar, elas também estão necessitando de algo para comer; e, além disso, viemos até vós com o pensamento de que estaríeis interessados em dar a elas um conselho, junto conosco, quanto ao modo de melhor recomeçarem a vida. Elas podem contar-vos a sua história, e eu suponho que já tenham tido imensas dificuldades. A presença delas aqui, no vosso lar, atesta quão sinceramente elas anseiam por conhecer gente de bem, e com quanta boa vontade elas abraçarão a oportunidade de mostrar a todo o mundo — e até mesmo aos anjos dos céus — que elas podem vir a ser mulheres nobres e corajosas”.

133:3.9 (1473.2) Quando Marta, a esposa de Justo, dispôs a comida sobre a mesa, Jesus, deixando- os inesperadamente, disse: “Como está ficando tarde e, já que o pai do jovem nos estará esperando, rogamos ser desculpados por deixar-vos juntas aqui — três mulheres — filhas bem-amadas do Altíssimo. E eu orarei pela vossa orientação espiritual, enquanto fazeis os planos para uma vida nova e melhor na Terra e uma vida eterna para o grande futuro”.

133:3.10 (1473.3) E assim Jesus e Ganid deixaram as mulheres. Até então as cortesãs nada haviam dito; do mesmo modo Ganid nada dissera. E, por alguns momentos, Marta também nada dissera; mas, em breve, ela despertou para a situação e fez tudo o que Jesus tinha a esperança de que ela fizesse por aquelas estranhas. A mais velha dessas duas mulheres morreu pouco tempo depois, com esperanças vivas de sobrevivência eterna; e a mais jovem trabalhou no local de negócios de Justo e mais tarde tornou-se um membro vitalício da primeira igreja cristã em Corinto.

133:3.11 (1473.4) Por várias vezes, na casa de Crespo, Jesus e Ganid estiveram com um certo Gaio, que posteriormente tornou-se um leal sustentáculo de Paulo. Durante esses dois meses em Corinto eles mantiveram conversas pessoais com dezenas de indivíduos que valiam a pena e, em resultado de todos esses contatos, aparentemente casuais, mais do que a metade dos indivíduos envolvidos tornou-se membro da comunidade cristã subseqüente.

133:3.12 (1473.5) Quando foi a Corinto, pela primeira vez, Paulo não tinha a intenção de fazer uma visita prolongada. Mas ele não sabia quão bem o tutor judeu havia preparado o caminho para os seus trabalhos. Além disso, descobriu que um grande interesse tinha já sido despertado em Áquila e Priscila; Áquila era um dos cínicos com quem Jesus tinha entrado em contato quando estivera em Roma. Esse era um casal de refugiados judeus em Roma, que rapidamente abraçou os ensinamentos de Paulo. Ele viveu e trabalhou com eles, pois também eles faziam tendas. Foi por causa dessas circunstâncias que Paulo prolongou a sua estada em Corinto.

 

4. O Trabalho Pessoal em Corinto

 

133:4.1 (1474.1) Jesus e Ganid tiveram muitas outras experiências interessantes em Corinto. Tiveram conversas íntimas com um grande número de pessoas; e estas tiraram um grande proveito da instrução recebida de Jesus.

133:4.2 (1474.2) Ao moleiro ele ensinou como moer os grãos da verdade no moinho da experiência viva, de modo a fazer com que as coisas difíceis da vida divina se tornassem aceitáveis mesmo pelos seus semelhantes mortais fracos e débeis. Disse Jesus: “Dá o leite da verdade àqueles que são ainda bebês na percepção espiritual. Na tua ministração de vida e de amor, serve o alimento espiritual de uma forma atraente e adequada à capacidade de receptividade de cada um entre aqueles que te fizerem perguntas”.

133:4.3 (1474.3) Ao centurião romano ele disse: “Dá a César as coisas que são de César, e a Deus as coisas que são de Deus. O serviço sincero a Deus e o serviço leal a César não entram em conflito, a menos que César tenha a presunção de arrogar a si uma homenagem que só pode ser pretendida pela Deidade. A lealdade a Deus, para aqueles que chegarem a conhecê-Lo, transformá-los-á a todos nos mais leais e fiéis na sua devoção a um imperador condigno”.

133:4.4 (1474.4) Ao fervoroso líder do culto mitraico Jesus disse: “Fazes bem em buscar uma religião de salvação eterna, mas tu te enganas ao buscar uma verdade assim gloriosa entre os mistérios tecidos pelos homens e nas filosofias humanas. Acaso não sabes que o mistério da salvação eterna reside na tua própria alma? Não sabes que Deus no céu enviou o Seu espírito para viver dentro de ti, e que esse espírito guiará a todos os mortais amantes da verdade e que servem a Deus, na saída desta vida e pelos portais da morte, até as alturas eternas da luz, onde Deus espera receber os Seus filhos? E nunca te esqueças: tu que conheces a Deus, serás o filho de Deus se, verdadeiramente, aspirares a ser como Ele”.

133:4.5 (1474.5) Ao instrutor epicurista ele disse: “Fazes bem em escolher o melhor e em apreciares o que é bom. Mas estarás tu sendo sábio ao deixares de discernir as coisas maiores da vida mortal, aquelas coisas que estão incorporadas aos reinos espirituais e que surgem da compreensão da presença de Deus no coração humano? A grande coisa em toda a experiência humana é a tomada de consciência de que tu conheces o Deus cujo espírito vive dentro de ti e que procura conduzir-te avante na jornada longa e quase sem fim, até alcançares a presença pessoal do nosso Pai comum, o Deus de toda a criação, o Senhor dos universos”.

133:4.6 (1474.6) Ao empreiteiro e construtor grego, ele disse: “Meu amigo, enquanto constróis as estruturas materiais para os homens, desenvolve um caráter espiritual à semelhança do espírito divino dentro da tua alma. Não deixes a tua realização como construtor temporal sobrepor-se à tua realização como filho espiritual do Reino do céu. Enquanto constróis as mansões do tempo para os outros, não negligencies de assegurar, para ti próprio, o teu direito às mansões da eternidade. E lembra-te sempre: há uma cidadela cujas fundações são corretas e verdadeiras e cujo construtor e criador é Deus”.

133:4.7 (1474.7) Ao juiz romano ele disse: “Ao julgar os homens, lembra-te de que tu mesmo, algum dia, irás a julgamento perante o tribunal dos Governantes de um universo. Julga com justiça e com misericórdia mesmo, pois tu mesmo algum dia irás aguardar pela consideração misericordiosa das mãos do Árbitro Supremo. Julga como tu serias julgado sob circunstâncias semelhantes, sendo assim guiado pelo espírito da lei, bem como pela sua letra. E, do mesmo modo que concederes uma justiça dominada pela equanimidade, à luz da necessidade daqueles que forem trazidos diante de ti, do mesmo modo terás o direito de esperar uma justiça temperada pela misericórdia quando, um dia, te colocares perante o Juiz de toda a Terra”.

133:4.8 (1475.1) À proprietária da estalagem grega ele disse: “Ministra a tua hospitalidade como alguém que entretém os filhos do Altíssimo. Eleva a monotonia da tua lida diária aos níveis elevados das belas-artes, por intermédio da compreensão cada vez maior de que tu ministras Deus às pessoas em quem Ele reside, por meio do espírito Dele que desceu para viver dentro dos corações dos homens; e busca com isso transformar as mentes e guiar as almas dessas pessoas até o conhecimento do Pai do Paraíso, Pai de todas essas dádivas outorgadas do espírito divino”.

133:4.9 (1475.2) Jesus teve muitas conversas com um mercador chinês. Ao despedir-se, Jesus recomendou a ele: “Adora apenas a Deus, que é o verdadeiro ancestral do teu espírito. Lembra-te que o espírito do Pai vive sempre dentro de ti e sempre orienta a tua alma na direção do céu. Se tu seguires as orientações inconscientes desse espírito imortal, estejas certo de continuar no caminho elevado de encontrar Deus. E quando tu alcançares o Pai no céu, será porque, ao procurá-Lo, tu te tornaste mais e mais como Ele. E então adeus, Chang, mas apenas por uma estação, pois nos encontraremos de novo nos mundos da luz, onde o Pai das almas espirituais providenciou muitos deliciosos pontos de parada para aqueles por quem o Paraíso espera”.

133:4.10 (1475.3) Ao viajante, vindo da Bretanha, ele disse: “Meu irmão, percebo que buscas a verdade e, pois, sugiro-te pensar na possibilidade de que o espírito do Pai de toda a verdade possa residir dentro de ti. Por acaso já tentaste sinceramente conversar com o espírito da tua própria alma? Uma tal coisa é de fato difícil e muito raramente leva a consciência ao êxito; mas toda tentativa sincera da mente material de comunicar-se com o seu espírito residente, sempre alcança algum êxito, não obstante a maioria dessas magníficas experiências humanas deva permanecer como um registro supraconsciente nas almas desses mortais cientes de Deus.”

133:4.11 (1475.4) Ao garoto em fuga, Jesus disse: “Lembra-te de que há duas coisas das quais tu não podes fugir — de Deus e de ti próprio. Para onde quer que possas ir, levar- te-ás contigo a ti próprio e ao espírito do Pai celeste que vive dentro do teu coração. Meu filho, pára de tentar enganar a ti próprio; estabelece-te na prática corajosa de encarar os fatos da vida, apóia-te firmemente na segurança da filiação a Deus e na certeza da vida eterna, como eu te ensinei. Desse dia em diante propôe-te ser de fato um homem, um homem determinado a encarar a vida com bravura e com inteligência”.

133:4.12 (1475.5) Ao criminoso condenado, ele disse no último momento: “Meu irmão, tu caíste no caminho do mal. Tu te perdeste do teu caminho; e te emaranhaste nas malhas do crime. Conversando contigo, bem sei que não planejaste fazer as coisas que acabaram por custar-te a tua vida temporal. Mas fizeste esse mal, e os teus semelhantes julgaram-te culpado e determinaram que morresses. Tu não podes nem eu negar ao Estado esse direito de autodefender-se da maneira que for da sua própria escolha. Parece não haver nenhum meio humano de escapares da penalidade pelos teus erros. Os teus semelhantes devem julgar-te pelo que fizeste, mas há um Juiz a quem podes apelar, pedindo que te perdoe, e que irá julgar-te segundo os teus reais motivos e o melhor da tua intenção. Não tema encontrar o julgamento de Deus se o teu arrependimento é genuíno e sincera a tua fé. O fato de o teu erro trazer em si a pena de morte, imposta pelo homem, não prejudica a possibilidade que tua alma tem de obter a justiça e desfrutar da misericórdia perante as cortes celestes”.

133:4.13 (1476.1) Jesus teve uma satisfação de ter várias conversas íntimas com muitas almas famintas, tantas que o seu número é grande demais para que tenham todas um lugar nestes registros. Os três viajantes em muito apreciaram a permanência em Corinto. E, à exceção de Atenas, que era mais renomada como um centro educacional, Corinto foi a cidade mais importante da Grécia durante esses tempos romanos; e nos dois meses que passaram nesse centro comercial em florescimento eles tiveram oportunidade, todos os três, de ter experiências bem valiosas. A permanência deles nessa cidade foi a mais interessante de todas as paradas no seu caminho de volta de Roma.

133:4.14 (1476.2) Gonod tinha muitos interesses em Corinto, mas, finalmente, os seus afazeres terminaram, e eles prepararam-se para velejar até Atenas. Viajaram em um pequeno barco que foi carregado por via terrestre de um porto até outro em Corinto, a uma distância de dezesseis quilômetros.

 

5. Em Atenas – O Discurso sobre a Ciência

 

133:5.1 (1476.3) Em breve eles chegaram ao velho centro grego de ciência e de educação, e Ganid ficou emocionado com o pensamento de estar em Atenas, de estar na Grécia, o centro cultural do antigo império alexandrino, que havia estendido as suas fronteiras até a sua própria terra, a Índia. Havia pouca coisa a ser tratada lá, e, sendo assim, Gonod passou a maior parte do seu tempo com Jesus e Ganid, visitando os muitos pontos de interesse e ouvindo as conversas interessantes do rapaz com o seu versátil Mestre.

133:5.2 (1476.4) Uma grande universidade prosperava ainda em Atenas e os três fizeram visitas freqüentes às suas salas de ensino. Jesus e Ganid haviam já discutido em profundidade os ensinamentos de Platão, enquanto ouviam as conferências no museu em Alexandria. E todos eles apreciaram muito a arte da Grécia, da qual boas mostras eram ainda encontráveis aqui e ali pela cidade.

133:5.3 (1476.5) Tanto o pai quanto o filho deleitaram-se com a discussão sobre a ciência, que se deu no albergue, certa noite, entre Jesus e um filósofo grego. Depois desse formalista ter falado por quase três horas e de haver terminado o seu discurso; eis, numa forma moderna, o que Jesus disse:

133:5.4 (1476.6) Os cientistas podem medir, algum dia, a energia ou as manifestações da força, da gravitação, da luz e da eletricidade; mas esses mesmos cientistas nunca poderão (cientificamente) dizer-vos o que são esses fenômenos do universo. A ciência lida com as atividades da energia-física; a religião lida com os valores eternos. A verdadeira filosofia surge da sabedoria que faz o seu melhor para correlacionar essas observações quantitativas e qualitativas. Existe sempre o perigo de que o cientista puramente físico possa ser afligido pelo orgulho matemático e o egocentrismo estatístico, sem mencionar a cegueira espiritual.

133:5.5 (1476.7) A lógica é válida no mundo material, e a matemática é confiável quando limitada nas suas aplicações, às coisas físicas; mas nem uma nem a outra devem ser consideradas como totalmente dignas de confiança, nem infalíveis, quando aplicadas aos problemas da vida. A vida abrange fenômenos que não são integralmente materiais. A aritmética diz que, se um homem pode tosquiar uma ovelha em dez minutos, dez homens podem fazê-lo em um minuto. Isso é o que diz a matemática pura, mas não é a verdade, pois os dez homens não o poderiam fazer; eles entrariam um na frente do outro tão confusamente que o trabalho seria retardado em muito.

133:5.6 (1477.1) As matemáticas afirmam que, se uma pessoa representa uma certa unidade de valor moral e intelectual, dez pessoas representariam dez vezes esse valor. Mas, ao lidarmos com a personalidade humana, estaríamos mais próximos da verdade se disséssemos que uma tal associação de personalidades é uma soma que se iguala muito mais ao quadrado do número das personalidades, envolvidas na equação, do que à simples soma aritmética. Um grupo social de seres humanos trabalhando em harmonia coordenada representa uma força muito maior do que a soma simples das suas partes.

133:5.7 (1477.2) A quantidade pode ser identificada como um fato, transformando-se assim em uma uniformidade científica. A qualidade, sendo uma questão de interpretação mental, representa uma estimativa de valores e deve, por isso, permanecer como uma experiência do indivíduo. Quando tanto a ciência quanto a religião se tornarem menos dogmáticas e mais tolerantes quanto à crítica, a filosofia então começará a unificar-se para a compreensão inteligente do universo.

133:5.8 (1477.3) Haverá unidade no universo cósmico quando puderdes discernir apenas os seus efeitos nos fatos. O universo real é amigável para com todos os filhos do Deus eterno. O problema real é: como pode a mente finita do homem alcançar uma unidade de pensamento lógica, verdadeira e correspondente? Esse estado mental de consciência do universo só pode ser alcançado concebendo-se que o fato quantitativo e o valor qualitativo têm uma causação comum, no Pai do Paraíso. Tal concepção da realidade leva a discernimentos mais amplos quanto à unidade intencional dos fenômenos universais; e revela mesmo uma meta espiritual de realização progressiva da personalidade. E esse é um conceito de unidade que pode perceber o pano de fundo invariável para um universo vivo, de relações impessoais continuamente mutáveis e de relações pessoais que evoluem.

133:5.9 (1477.4) A matéria, o espírito e o estado intermediário entre os dois são três níveis inter-relacionados e interassociados da verdadeira unidade do universo real. Independentemente de quão divergentes sejam os fenômenos dos fatos e dos valores no universo, pode acontecer que eles estejam, afinal, unificados no Supremo.

133:5.10 (1477.5) A realidade da existência material está ligada à energia irreconhecida, bem como à matéria visível. Quando as energias do universo são desaceleradas o suficiente, de modo a adquirirem o grau necessário de movimento, então, sob condições favoráveis, essas mesmas energias transformam-se em massa. E não vos esqueçais que a mente que, de per si, pode perceber a presença das realidades aparentes é, ela própria, também real. E a causa fundamental desse universo de energia-massa, de mente e de espírito, é eterna — existe e consiste na natureza e nas reações do Pai Universal e dos seus coordenados absolutos.

133:5.11 (1477.6) Eles ficaram mais do que pasmados com as palavras de Jesus, e o grego, ao despedir-se deles, disse: “Afinal, os meus olhos depararam-se com um judeu que pensa em algo além da superioridade racial e que fala em algo além de religião”. E eles recolheram-se para descansar naquela noite.

133:5.12 (1477.7) A permanência em Atenas foi agradável e proveitosa, mas não particularmente frutífera de contatos humanos. Muitos dos atenienses daquela época ou eram intelectualmente orgulhosos da sua reputação de outrora ou mentalmente estúpidos e ignorantes, sendo a progênie dos escravos inferiores daqueles períodos primitivos, quando existia glória na Grécia e sabedoria nas mentes do seu povo. Ainda assim havia ainda muitas mentes perspicazes entre os cidadãos de Atenas.

 

6. Em Éfeso – Discurso sobre a Alma

 

133:6.1 (1477.8) Ao deixarem Atenas, os viajantes tomaram o caminho de Troas até Éfeso, a capital da província romana da Ásia. Eles fizeram muitas viagens até o famoso templo de Ártemis dos efesianos, a cerca de duas milhas da cidade. Ártemis era a mais famosa deusa de toda a Ásia Menor e uma perpetuação da deusa mãe, a mais antiga dos tempos primordiais anatolianos. O ídolo grosseiro exibido no enorme templo dedicado à sua adoração tinha a fama de ter caído do céu. Nem toda a educação que Ganid teve, no sentido de respeitar as imagens como símbolos da divindade, havia sido erradicada, e ele pensou que seria ótimo comprar um pequeno relicário de prata em honra a essa deusa da fertilidade da Ásia Menor. Naquela noite eles falaram longamente sobre a adoração de coisas feitas pelas mãos humanas.

133:6.2 (1478.1) Ao terceiro dia da sua estada, eles caminharam ao longo do rio para observar a dragagem da boca do porto. Ao meio-dia falaram com um jovem fenício que estava com saudades de casa e um tanto desalentado; mas, mais do que tudo, ele estava com inveja de um outro jovem que tinha sido promovido antes dele. Jesus disse-lhe palavras de conforto e citou o velho provérbio hebreu: “As qualidades de um homem lhe valem o seu lugar e o levam até os grandes homens”.

133:6.3 (1478.2) De todas as cidades grandes que eles visitaram nessa viagem pelo Mediterrâneo, o produto do que eles realizaram ali, foi o de menor proveito para o trabalho posterior dos missionários cristãos. O cristianismo assegurou seu começo, em Éfeso, em grande parte por intermédio dos esforços de Paulo, que residiu lá por mais de dois anos, produzindo tendas para viver e fazendo palestras sobre religião e filosofia todas as noites na sala principal de audiências da escola de Tirano.

133:6.4 (1478.3) Havia ali um pensador progressista ligado a essa escola local de filosofia, e Jesus teve várias reuniões bem proveitosas com ele. Ao longo dessas conversas Jesus havia usado repetidamente a palavra “alma”. Esse grego erudito finalmente perguntou-lhe o que queria ele dizer com “alma”, e Jesus respondeu:

133:6.5 (1478.4) “A alma é a parte do homem que reflete o eu, que discerne a verdade e percebe a parte espiritual do homem e, para sempre, que eleva o ser humano acima do nível do mundo animal. A autoconsciência, em si e por si mesma, não é a alma. A consciência moral é a verdadeira auto-realização humana e constitui o fundamento da alma humana, e a alma é aquela parte do homem que representa o valor de sobrevivência potencial para a experiência humana. A escolha moral e a realização espiritual, a capacidade de conhecer Deus e o impulso de ser igual a ele são características da alma. A alma do homem não pode existir sem o pensamento moral e a atividade espiritual. Uma alma estagnada é uma alma moribunda. Mas a alma do homem é distinta do espírito divino que reside dentro da mente. O espírito divino chega simultaneamente com a primeira atividade moral da mente humana, e esta é a ocasião do nascimento da alma.

133:6.6 (1478.5) “A salvação ou a perda de uma alma tem a ver com o fato de a consciência moral alcançar, ou não, a sobrevivência própria, por intermédio da aliança eterna com a dotação espiritual imortal associada a ela. A salvação é a espiritualização, na auto-realização da consciência moral. Por meio da espiritualização a consciência moral torna-se possuidora do valor de sobrevivência. Todas as formas de conflitos da alma consistem na falta de harmonia entre a autoconsciência moral, ou espiritual, e a autoconsciência puramente intelectual.

133:6.7 (1478.6) “A alma humana, quando amadurecida, enobrecida e espiritualizada, aproxima- se do status celeste, no sentido em que chega bem próximo de ser uma entidade que está entre o material e o espiritual, entre o eu material e o espírito divino. A alma em evolução, de um ser humano, é difícil de descrever, e mais difícil ainda de ser comprovada, porque não se a constata pelos métodos, seja da investigação material, seja por provas espirituais. A ciência material não pode demonstrar a existência de uma alma, nem o pode uma comprovação puramente espiritual. Não obstante o fracasso tanto da ciência material quanto dos padrões espirituais, em constatar a existência da alma humana, todo mortal moralmente consciente conhece a existência da sua alma como uma experiência pessoal real e factual”.

 

7. A Permanência em Chipre – Discurso sobre a Mente

 

133:7.1 (1479.1) Em breve os viajantes velejaram para Chipre, parando em Rodes. Eles sentiram muita satisfação na longa viagem pela água e chegaram na ilha com o corpo bem descansado, e restaurados de espírito.

133:7.2 (1479.2) Estava nos planos deles gozar de um período de repouso e de recreação nessa visita a Chipre, pois a sua viagem pelo Mediterrâneo estava chegando ao fim. Eles aportaram em Pafos e logo começaram a reunir os suprimentos para uma permanência de várias semanas nas montanhas vizinhas. Ao terceiro dia depois da sua chegada partiram para as montanhas com os animais bastante carregados.

133:7.3 (1479.3) Por duas semanas deleitaram-se o suficiente e, então, sem mais nem menos, o jovem Ganid adoeceu súbita e gravemente. Por duas semanas ele sofreu de uma forte febre, muitas vezes delirando; ambos, Jesus e Gonod, mantiveram- se ocupados assistindo o jovem adoentado. Jesus, com habilidade e com afeto, cuidou do rapaz, e o pai ficou impressionado tanto pela bondade quanto pela competência manifestada em toda essa sua ministração ao jovem afligido. Eles estavam longe de habitações humanas e o rapaz encontrava-se doente demais para ser removido; e, desse modo, eles se puseram, da melhor forma que puderam, a cuidar da sua saúde ali mesmo nas montanhas.

133:7.4 (1479.4) Durante as três semanas de convalescença de Ganid, Jesus disse a ele diversas coisas interessantes sobre a natureza e as suas várias manias. E, se divertiram muito enquanto caminhavam pelas montanhas, o rapaz sempre fazendo perguntas, Jesus as respondendo, e o pai maravilhado com tudo aquilo.

133:7.5 (1479.5) Na última semana de permanência deles nas montanhas, Jesus e Ganid tiveram uma longa conversa sobre as funções da mente humana. Depois de várias horas de troca de idéias, o rapaz fez esta pergunta: “Mas, Mestre, o que tu queres dizer quando falas que o homem experimenta uma forma mais elevada de autoconsciência do que os animais mais evoluídos?” E, colocado em uma forma moderna, eis o que Jesus respondeu:

133:7.6 (1479.6) Meu filho, eu já lhe contei muito sobre a mente do homem e o espírito divino que vive nela, mas agora eu enfatizarei que a autoconsciência é como uma realidade. Se qualquer animal pudesse tornar-se autoconsciente, ele transformar- se-ia em um homem primitivo. A realização da autoconsciência resulta de uma coordenação de funções entre a energia impessoal e a mente que recebe o espírito, e é esse fenômeno que garante a dádiva de um ponto focal absoluto para a personalidade humana: o espírito do Pai no céu.

133:7.7 (1479.7) As idéias não são simplesmente um registro das sensações; as idéias são as sensações mais as interpretações reflexivas do eu pessoal; e o eu é mais do que a soma das sensações de um ser. Uma individualidade que evolui começa a manifestar-se como algo que se aproxima da unidade e essa unidade surge da presença residente de uma parte da unidade absoluta que ativa espiritualmente essa mente autoconsciente de origem animal.

133:7.8 (1479.8) Nenhum mero animal poderia possuir por si a consciência do tempo. Os animais possuem uma coordenação fisiológica entre o reconhecimento e as sensações associadas e a memória correspondente, mas nenhum experimenta um reconhecimento significativo da sensação nem demonstra uma associação propositada dessas experiências físicas combinadas tal como se manifestam nas conclusões das interpretações humanas inteligentes e reflexivas. E o fato da sua existência autoconsciente, associado à realidade dessa experiência espiritual subseqüente, faz do homem um filho potencial do universo e prenuncia que ele alcançará finalmente a Unidade Suprema do universo.

133:7.9 (1480.1) O eu humano não é meramente uma soma de estados sucessivos de consciência. Sem o funcionamento efetivo de uma consciência que seleciona e associa, não existiria unidade suficiente a garantir a sua designação como uma individualidade. Não sendo unificada, essa mente dificilmente poderia atingir os níveis de consciência do status humano. Se as associações de consciência fossem meramente um acidente, as mentes de todos os homens, então, exibiriam associações descontroladas e feitas ao acaso, próprias mesmo de certas fases da loucura mental.

133:7.10 (1480.2) Uma mente humana, edificada apenas com a consciência das sensações físicas, não poderia jamais alcançar níveis espirituais; uma espécie assim de mente material seria totalmente desprovida do sentido dos valores morais e estaria sem uma direção espiritual dominante, que é tão essencial para a realização da unidade harmônica da personalidade no tempo e que é inseparável da sobrevivência da personalidade na eternidade.

133:7.11 (1480.3) A mente humana começa muito cedo a manifestar qualidades supramateriais; o intelecto humano verdadeiramente reflexivo não é de todo tolhido pelos limites do tempo. Os indivíduos diferem pelas suas atuações na vida e isso indica não apenas as dotações variáveis de hereditariedade e as influências diferentes do meio ambiente, mas também o grau de unificação, com o espírito residente do Pai, que pode ter sido alcançado pelo eu, na medida da identificação de um com o outro.

133:7.12 (1480.4) A mente humana não suporta bem o conflito da submissão dupla. É uma tensão muito severa para a alma submeter-se à experiência do esforço de servir tanto ao bem quanto ao mal. A mente supremamente feliz, e unificada de um modo eficiente, é aquela dedicada integralmente a fazer a vontade do Pai nos céus. Os conflitos não resolvidos destroem a unidade e podem culminar na ruptura da mente. Todavia, a característica de sobrevivência de uma alma não é fomentada por uma tentativa de assegurar a paz à mente a qualquer custo, rendendo- se às aspirações nobres e fazendo concessões aos ideais espirituais; essa paz é conseguida antes pela firme afirmação do triunfo daquilo que é verdadeiro; e tal vitória é alcançada vencendo o mal, com a poderosa força do bem.

133:7.13 (1480.5) No dia seguinte eles partiram para Salamina, onde embarcaram para a Antioquia, na costa da Síria.

 

8. Em Antioquia

 

133:8.1 (1480.6) Antioquia era a capital da província romana da Síria; ali o governador imperial possuía a sua residência. Antioquia possuía meio milhão de habitantes; em tamanho, era a terceira cidade do império, mas era a primeira pela baixeza e flagrante imoralidade. Gonod tinha muitos negócios a tratar; e assim Jesus e Ganid ficaram grande parte do tempo por conta própria. Eles visitaram tudo nessa cidade poliglota, exceto o bosque de Dafne. Gonod e Ganid visitaram esse notório santuário da vergonha, mas Jesus recusou-se a acompanhá-los. As cenas lá não eram tão chocantes para os indianos, mas eram repelentes para um hebreu idealista.

133:8.2 (1480.7) Jesus tornou-se mais calmo e pensativo ao aproximar-se da Palestina e do final da sua viagem. Ele conversou com poucas pessoas na Antioquia; e, pouquíssimas vezes, ele passeou pela cidade. Depois de muito perguntar por que o seu Mestre manifestava tão pouco interesse pela Antioquia, Ganid finalmente induziu Jesus a dizer: “Esta cidade não está longe da Palestina; talvez eu volte aqui algum dia”.

133:8.3 (1481.1) Ganid teve uma experiência muito interessante na Antioquia. Esse jovem tinha comprovado ser um aluno capaz e já havia começado a fazer uso prático de alguns dos ensinamentos de Jesus. Havia um certo indiano ligado ao negócio do seu pai, na Antioquia, que tinha se tornado tão desagradável e tão descontente, que o seu desligamento estava sendo cogitado. Quando Ganid ouviu isso, colocou-se no lugar do seu pai nos negócios e teve uma longa conferência com esse compatriota seu. Esse homem sentia que tinha sido colocado no negócio errado. Ganid disse a ele sobre o Pai no céu e de muitos modos ampliou a visão que tal homem tinha da religião. Entretanto, de tudo o que Ganid disse, a citação de um provérbio hebreu causou o maior bem, e a palavra de sabedoria foi: “O que quer que a sua mão encontrar para fazer, faça-o com todo o seu poder”.

133:8.4 (1481.2) Depois de preparar as bagagens para a caravana de camelos, eles passaram em Sidom e dali foram para Damasco, e depois de três dias estavam prontos para a longa trilha pelas terras do deserto.

 

9. Na Mesopotâmia

 

133:9.1 (1481.3) A viagem da caravana atravessando o deserto não era uma experiência nova para esses homens viajados. Depois que Ganid tinha observado o seu Mestre ajudar a carregar os vinte camelos e de tê-lo visto fazendo-se voluntário para dirigir os animais, ele exclamou: “Mestre, há alguma coisa que tu não consigas fazer?” Jesus apenas sorriu, dizendo: “O mestre com certeza não deixa de ter as suas honras aos olhos de um aluno aplicado”. E assim eles partiram para a antiga cidade de Ur.

133:9.2 (1481.4) Jesus estava muito interessado na história inicial de Ur, local de nascimento de Abraão, e estava igualmente fascinado com as ruínas e as tradições de Susa, a ponto de Gonod e Ganid estenderem a sua estada nesses locais por três semanas a fim de proporcionar a Jesus mais tempo para conduzir as suas investigações e também para que eles tivessem melhor oportunidade de persuadi-lo a ir até a Índia com eles.

 

 

133:9.3 (1481.5) Foi em Ur que Ganid teve uma longa conversa com Jesus a respeito da diferença entre conhecimento, sabedoria e verdade. E ele ficou bastante encantado com as palavras do sábio hebreu: “A sabedoria é a coisa principal, portanto adquira sabedoria. Com toda a sua busca por conhecimento, trata de adquirir compreensão. Eleva a sabedoria e ela te fará avançar. Ela irá trazer honrarias a ti, desde que tu a ponhas em prática”.

 

133:9.4 (1481.6) Afinal chegou o dia da separação. Todos foram valentes, especialmente o rapaz, mas foi uma dura provação. Eles tinham os olhos cheios de lágrimas, mas o coração pleno de coragem. Ao despedir-se do seu Mestre, Ganid disse: “Adeus, Mestre, mas não para sempre. Quando eu vier de novo a Damasco, eu procurarei por ti. Eu te amo, pois eu creio que o Pai no céu deve ser um pouco como tu; ao menos eu sei que tu és bastante como tudo o que contaste Dele. Eu me lembrarei dos teus ensinamentos, mas mais do que tudo, eu nunca te esquecerei”. E o pai dele disse: “Adeus a um grande Mestre, que nos tornou melhores e que nos ajudou a conhecer a Deus”. E Jesus respondeu: “A paz esteja convosco, e que a benção do Pai no céu possa estar sempre convosco”. E Jesus ficou na praia contemplando o pequeno barco que os levava até a embarcação ancorada. Assim o Mestre deixou os seus amigos da Índia, em Charax, para nunca mais vê-los de novo neste mundo; e, também, eles não chegaram nunca a saber, neste mundo, que o homem que mais tarde apareceu como Jesus de Nazaré não era senão o mesmo amigo a quem eles tinham acabado de deixar — Joshua, o Mestre deles.

 

133:9.5 (1481.7) Na Índia, Ganid cresceu e tornou-se um homem de influência, um sucessor digno do seu eminente pai e disseminou muitas das verdades nobres que tinha aprendido de Jesus, o seu amado Mestre. Mais tarde na vida, quando Ganid ouviu sobre o estranho Mestre na Palestina que terminou a sua carreira em uma cruz, mesmo reconhecendo a semelhança entre o evangelho desse Filho do Homem e os ensinamentos do seu tutor judeu, nunca lhe ocorreu que esses dois fossem de fato a mesma pessoa.

 

133:9.6 (1482.1) Assim terminou aquele capítulo na vida do Filho do Homem que poderia ser chamado: A missão de Joshua, o Mestre.