Urântia

OS DOCUMENTOS DE URÂNTIA

- A REVELAÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO -

INDICE

Documento 172

A Entrada em Jerusalém

172:0.1 (1878.1) Jesus e os apóstolos chegaram a Betânia pouco depois das quatro horas da tarde de sexta-feira, 31 de março do ano 30 d.C. Lázaro, suas irmãs e seus amigos os esperavam; e como tantas pessoas vinham todos os dias falar com Lázaro sobre a sua ressurreição, Jesus foi informado de que tinham sido feitos preparativos para que ele ficasse com um crente vizinho, um certo Simão, o principal cidadão da pequena aldeia desde a morte do pai de Lázaro.

172:0.2 (1878.2) Naquela noite, Jesus recebeu muitos visitantes, e as pessoas comuns de Betânia e Betfagé fizeram o possível para que ele se sentisse bem-vindo. Embora muitos pensassem que Jesus estava indo agora para Jerusalém, em total desafio ao decreto de morte do Sinédrio, para se proclamar rei dos judeus, a família de Betânia – Lázaro, Marta e Maria – percebeu mais plenamente que o Mestre não era esse tipo de rei; eles sentiram vagamente que esta poderia ser a última visita dele a Jerusalém e Betânia.

172:0.3 (1878.3) Os principais sacerdotes foram informados de que Jesus estava hospedado em Betânia, mas acharam melhor não tentar prendê-lo entre os seus amigos; decidiram aguardar a chegada dele a Jerusalém. Jesus sabia de tudo isto, mas estava majestosamente calmo; seus amigos nunca o viram mais sereno e agradável; até os apóstolos ficaram surpreendidos por ele ter ficado tão despreocupado quando o Sinédrio convocou todos os judeus para entregá-lo em suas mãos. Enquanto o Mestre dormia naquela noite, os apóstolos vigiavam-no aos pares, e muitos deles estavam cingidos com espadas. Cedo na manhã seguinte foram acordados por centenas de peregrinos que saíram de Jerusalém, mesmo no dia do Sabá, para verem Jesus e Lázaro, a quem ele havia ressuscitado dentre os mortos.

 

1. Sabá em Betânia

 

172:1.1 (1878.4) Os peregrinos vindos de fora da Judeia, bem como todas as autoridades judias perguntavam: “O que vocês acham? Jesus subirá para a festa?” Portanto, quando o povo ouviu que Jesus estava em Betânia, ficou contente, mas os principais sacerdotes e fariseus ficaram um tanto perplexos. Estavam satisfeitos por tê-lo sob sua jurisdição, mas ficaram um pouco desconcertados com a ousadia dele; lembraram-se de que na sua visita anterior a Betânia Lázaro havia ressuscitado dos mortos, e Lázaro estava se tornando um grande problema para os inimigos de Jesus.

172:1.2 (1878.5) Seis dias antes da Páscoa, na noite seguinte ao Sabá, toda a Betânia e Betfagé juntaram-se na celebração da chegada de Jesus mediante um banquete público na casa de Simão. Esta ceia foi em homenagem tanto a Jesus quanto a Lázaro; foi oferecida em desafio ao Sinédrio. Marta dirigia o serviço da comida; sua irmã Maria estava entre as mulheres que assistiam, pois era contra o costume dos judeus uma mulher sentar-se num banquete público. Os agentes do Sinédrio estavam presentes, mas temiam prender Jesus no meio dos amigos dele.

172:1.3 (1879.1) Jesus conversou com Simão sobre o antigo Josué, de quem ele era homônimo, e recitou como Josué e os israelitas haviam chegado a Jerusalém através de Jericó. Ao comentar sobre a lenda da queda das muralhas de Jericó, Jesus disse: “Não estou preocupado com tais muralhas de tijolo e pedra; mas eu gostaria de fazer com que as muralhas do preconceito, da santimônia e do ódio desmoronassem diante desta pregação do amor do Pai por todos os homens”.

172:1.4 (1879.2) O banquete transcorreu de uma maneira muito alegre e normal, exceto pelo fato de todos os apóstolos estarem inusitadamente sombrios. Jesus estava excepcionalmente alegre e ficara brincando com as crianças até o momento de ir para a mesa.

172:1.5 (1879.3) Nada fora do comum aconteceu até perto do final da festa, quando Maria, a irmã de Lázaro, saiu do grupo de mulheres espectadoras e, indo até onde Jesus estava reclinado como convidado de honra, tratou de abrir um grande frasco de alabastro de unguento muito raro e caro; e depois de ungir a cabeça do Mestre, ela começou a derramá-lo sobre os pés dele enquanto soltava os cabelos e os enxugava com eles. Toda a casa ficou repleta do odor do unguento, e todos os presentes ficaram espantados com o que Maria tinha feito. Lázaro nada disse, mas quando algumas das pessoas murmuraram, mostrando indignação pelo fato de um unguento tão caro ter sido assim usado, Judas Iscariotes foi até onde André estava reclinado e disse: “Por que este unguento não foi vendido e o dinheiro dado para alimentar os pobres? Você deveria falar com o Mestre para que ele repreenda tal desperdício”.

172:1.6 (1879.4) Jesus, sabendo o que eles pensavam e ouvindo o que diziam, colocou a mão sobre a cabeça de Maria enquanto estava ajoelhada ao seu lado e, com uma expressão gentil no rosto, disse: “Deixem-na em paz, cada um de vocês. Por que a incomodam com isto, visto que ela fez uma coisa boa em seu coração? A vocês que murmuram e dizem que este unguento deveria ter sido vendido e o dinheiro dado aos pobres, deixem-me dizer que têm os pobres sempre com vocês para que possam ministrar a eles a qualquer hora que lhes pareça conveniente; mas eu nem sempre estarei com vocês; em breve vou para o meu Pai. Esta mulher há muito guardou este unguento para o meu corpo no enterro, e agora que lhe pareceu bom fazer esta unção em antecipação à minha morte, tal satisfação não lhe será negada. Ao fazer isto, Maria reprovou a todos vocês, pois com este ato ela demonstra fé no que eu disse sobre minha morte e ascensão ao meu Pai no céu. Esta mulher não será repreendida pelo que fez esta noite; antes, digo-lhes que, nas eras vindouras, onde quer que este evangelho seja pregado em todo o mundo, o que ela fez será contado em memória dela”.

172:1.7 (1879.5) Foi por causa desta repreensão, que ele tomou como uma reprovação pessoal, que Judas Iscariotes finalmente decidiu buscar vingança pelos seus sentimentos feridos. Muitas vezes ele havia alimentado tais ideias subconscientemente, mas agora ousava ter pensamentos tão perversos em sua mente aberta e consciente. E muitos outros encorajaram-no nesta atitude pois que o custo deste unguento era uma soma igual ao salário de um homem durante um ano – o suficiente para fornecer pão a cinco mil pessoas. Mas Maria amava Jesus; ela havia providenciado este unguento precioso para embalsamar o corpo dele na morte, pois acreditava em suas palavras quando ele os avisava de que teria que morrer, e isso não deveria ser negado a ela se mudasse de ideia e decidisse conceder esta oferenda ao Mestre enquanto ele ainda vivia.

172:1.8 (1879.6) Tanto Lázaro quanto Marta sabiam que Maria há muito havia economizado o dinheiro para comprar aquele frasco de nardo, e aprovaram de todo o coração que ela fizesse o que seu coração desejava em tal assunto, pois eles eram abastados e podiam arcar facilmente com tal oferta.

172:1.9 (1880.1) Quando os principais sacerdotes ouviram falar deste jantar em Betânia para Jesus e Lázaro, começaram a aconselhar-se entre si sobre o que deveria ser feito com Lázaro. E logo decidiram que Lázaro também tinha que morrer. Eles concluíram corretamente que seria inútil matar Jesus se permitissem que Lázaro, a quem ele havia ressuscitado dentre os mortos, vivesse.

 

2. Domingo de Manhã com os Apóstolos

 

172:2.1 (1880.2) Nesta manhã de domingo, no belo jardim de Simão, o Mestre convocou os seus doze apóstolos em redor e deu-lhes as instruções finais preparatórias para entrarem em Jerusalém. Disse-lhes que provavelmente faria muitos discursos e ensinaria muitas lições antes de retornar ao Pai, mas aconselhou os apóstolos a se absterem de fazer qualquer trabalho público durante a estada da Páscoa em Jerusalém. Instruiu-os a permanecer perto dele e a “vigiar e orar”. Jesus sabia que muitos dos seus apóstolos e seguidores imediatos mesmo então carregavam espadas escondidas no corpo, mas não fez qualquer referência a este fato.

172:2.2 (1880.3) As instruções desta manhã abrangeram uma breve revisão da ministração deles, desde o dia da sua ordenação, perto de Cafarnaum, até o dia em que se preparavam para entrar em Jerusalém. Os apóstolos ouviram em silêncio; não fizeram perguntas.

172:2.3 (1880.4) Cedo naquela manhã David Zebedeu havia entregado a Judas os fundos obtidos com a venda do equipamento do acampamento de Pela, e Judas, por sua vez, tinha colocado a maior parte deste dinheiro nas mãos de Simão, anfitrião deles, para salvaguarda em antecipação às demandas da entrada deles em Jerusalém.

172:2.4 (1880.5) Depois da conferência com os apóstolos Jesus manteve uma conversa com Lázaro e instruiu-o a evitar o sacrifício da sua vida pela vingança do Sinédrio. Foi em obediência a esta advertência que Lázaro, poucos dias depois, fugiu para Filadélfia quando os oficiais do Sinédrio enviaram homens para prendê-lo.

172:2.5 (1880.6) De certa forma, todos os seguidores de Jesus sentiram a crise iminente, mas foram impedidos de compreender plenamente a sua gravidade pela alegria incomum e excepcional bom humor do Mestre.

 

3. A Partida para Jerusalém

 

172:3.1 (1880.7) Betânia ficava a cerca de três quilômetros do templo, e era uma e meia daquela tarde de domingo quando Jesus se preparou para partir para Jerusalém. Ele tinha sentimentos de profundo afeto por Betânia e seu povo simples. Nazaré, Cafarnaum e Jerusalém o haviam rejeitado, mas Betânia o aceitara, tinha acreditado nele. E foi nesta pequena aldeia, onde quase todos os homens, mulheres e crianças eram crentes, que ele escolheu realizar a obra mais poderosa da sua consagração terrena, a ressurreição de Lázaro. Ele não ressuscitou Lázaro para que os aldeões pudessem crer, mas sim porque eles já acreditavam.

172:3.2 (1880.8) A manhã inteira Jesus pensara na sua entrada em Jerusalém. Até então ele sempre havia se esforçado para suprimir toda aclamação pública dele como o Messias, mas agora era diferente; estava chegando ao fim de sua carreira na carne, sua morte havia sido decretada pelo Sinédrio, e nenhum mal poderia advir de permitir que seus discípulos expressassem livremente seus sentimentos, assim como poderia ocorrer se ele decidisse fazer uma declaração formal e entrada pública na cidade.

172:3.3 (1881.1) Jesus não decidiu fazer esta entrada pública em Jerusalém como uma última tentativa de obter o favor popular, nem como uma conquista final do poder. Nem de modo nenhum fez isso para satisfazer os anseios humanos de seus discípulos e apóstolos. Jesus não alimentava nenhuma das ilusões de um sonhador fantasioso; ele sabia muito bem qual seria o resultado desta visita.

172:3.4 (1881.2) Tendo decidido fazer uma entrada pública em Jerusalém, o Mestre foi confrontado com a necessidade de escolher um método adequado para executar tal resolução. Jesus refletiu sobre todas as assim chamadas profecias messiânicas mais ou menos contraditórias, mas parecia haver apenas uma que era apropriada para ele seguir. A maioria destas proclamações proféticas descreviam um rei, filho e sucessor de Davi, um ousado e agressivo libertador temporal de todo o Israel do jugo da dominação estrangeira. Mas havia uma Escritura que por vezes tinha sido associada ao Messias por aqueles que se apegavam mais ao conceito espiritual da missão dele, que Jesus pensava que poderia ser consistentemente tomada como um guia para a sua projetada entrada em Jerusalém. Esta Escritura encontrava-se em Zacarias e dizia: “Alegra-te muito, ó filha de Sião; grita, ó filha de Jerusalém. Eis que o teu rei vem até ti . Ele é justo e traz a salvação. Ele vem como o humilde, montado num jumento, num jumentinho, filho de jumenta”.

172:3.5 (1881.3) Um rei guerreiro sempre entrava numa cidade montado num cavalo; um rei em missão de paz e amizade sempre entrava montado num jumento. Jesus não entraria em Jerusalém como um homem a cavalo, mas estava disposto a entrar pacificamente e com boa vontade como o Filho do Homem montado num jumento.

172:3.6 (1881.4) Jesus há muito tentava mediante ensinamentos diretos inculcar nos seus apóstolos e discípulos que o reino dele não era deste mundo, que era uma questão puramente espiritual; mas ele não tivera êxito neste esforço. Agora, o que não conseguira fazer por meio de ensinamento claro e pessoal, ele tentaria realizar por meio de um apelo simbólico. Em consonância, logo após o almoço do meio-dia, Jesus chamou Pedro e João, e depois de orientá-los a irem a Betfagé, uma aldeia vizinha um pouco fora da estrada principal e a uma curta distância a noroeste de Betânia, ele disse ainda: “Vão a Betfagé, e quando chegarem ao entroncamento das estradas, encontrarão ali amarrado o potro de um jumento. Soltem o potro e tragam-no de volta com vocês. Se alguém lhes perguntar por que fazem isso, apenas digam: ‘O Mestre precisa dele’”. E quando os dois apóstolos foram para Betfagé como o Mestre havia ordenado, encontraram o potro amarrado perto de sua mãe na rua e próximo de uma casa de esquina. Quando Pedro começou a desamarrar o potro, o dono aproximou-se e perguntou por que faziam isso, e quando Pedro lhe respondeu conforme Jesus havia ordenado, o homem disse: “Se o seu Mestre é Jesus da Galileia, que ele fique com o potro”. E então voltaram trazendo o potro com eles.

172:3.7 (1881.5) A esta altura várias centenas de peregrinos já haviam se reunido em torno de Jesus e seus apóstolos. Desde o meio da manhã os visitantes que passavam a caminho da Páscoa estavam ali. Enquanto isso, Davi Zebedeu e alguns de seus companheiros ex-mensageiros decidiram apressar-se a descer até Jerusalém, onde efetivamente espalharam entre as multidões de peregrinos visitantes a notícia de que Jesus de Nazaré estava fazendo uma entrada triunfal na cidade. Consequentemente, vários milhares destes visitantes afluíram para saudar este tão falado profeta e fazedor de milagres, que alguns acreditavam ser o Messias. Esta multidão, saindo de Jerusalém, encontrou Jesus e a multidão que entrava na cidade logo depois de terem passado pelo cume do Monte das Oliveiras e iniciado a descida para a cidade.

172:3.8 (1882.1) Quando a procissão partiu de Betânia, houve um grande entusiasmo entre a multidão festiva de discípulos, crentes e peregrinos visitantes, muitos vindos da Galileia e Pereia. Pouco antes de partirem, as doze mulheres do corpo de mulheres original, acompanhadas por algumas das suas companheiras, chegaram ao local e juntaram-se a esta procissão única que se dirigia alegremente para a cidade.

172:3.9 (1882.2) Antes de partirem, os gêmeos Alfeu colocaram seus mantos no jumento e o seguraram enquanto o Mestre montava. À medida que a procissão avançava em direção ao cume do Monte das Oliveiras, a multidão festiva jogava as suas vestes no chão e trazia ramos das árvores próximas, a fim de fazer um tapete de honra para o jumento que carregava o Filho real, o Messias prometido. À medida que a alegre multidão avançava em direção a Jerusalém, começaram a cantar, ou melhor, a gritar em uníssono, o Salmo: “Hosana ao filho de Davi; bem-aventurado aquele que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas. Bendito seja o reino que desce do céu”.

172:3.10 (1882.3) Jesus estava animado e alegre enquanto avançavam até chegar ao cume do Monte das Oliveiras, onde a cidade e as torres do templo ficavam totalmente à vista; ali o Mestre interrompeu a procissão e um grande silêncio caiu sobre todos ao contemplá-lo chorar. Baixando o olhar sobre a vasta multidão que saía da cidade para saudá-lo, o Mestre, com muita emoção e com voz chorosa, disse: “Ó Jerusalém, se ao menos tivesses sabido, mesmo tu, pelo menos neste teu dia, as coisas que pertencem à tua paz e que poderias ter tido tão livremente! Mas agora estas glórias estão prestes a ser escondidas dos teus olhos. Estás prestes a rejeitar o Filho da Paz e virar as costas ao evangelho da salvação. Em breve chegarão os dias em que teus inimigos escavarão trincheiras ao teu redor e te sitiarão por todos os lados; eles te destruirão totalmente, de modo que não ficará pedra sobre pedra. E tudo isto acontecerá porque não reconheceste o momento da tua visitação divina. Estás prestes a rejeitar a dádiva de Deus, e todos os homens te irão rejeitar”.

172:3.11 (1882.4) Quando ele terminou de falar, começaram a descida do Monte das Oliveiras e logo se juntaram à multidão de visitantes que tinham vindo de Jerusalém agitando ramos de palmeira, gritando hosanas e de outros modos expressando alegria e bom companheirismo. O Mestre não havia planejado que estas multidões saíssem de Jerusalém para virem ao encontro deles; essa foi obra de outros. Ele nunca premeditou nada que fosse teatral.

172:3.12 (1882.5) Junto com a multidão que afluiu para dar as boas-vindas ao Mestre, vieram também muitos dos fariseus e dos seus outros inimigos. Eles ficaram tão perturbados com esta explosão repentina e inesperada de aclamação popular que temeram prendê-lo, não fosse tal ação precipitar uma revolta aberta da populaça. Eles temiam muito a atitude do grande número de visitantes, que tinham ouvido falar muito de Jesus e que, muitos deles, acreditavam nele.

172:3.13 (1882.6) Ao se aproximarem de Jerusalém, a multidão tornou-se mais expressiva, tanto que alguns dos fariseus se abeiraram de Jesus e disseram: “Professor, você devia repreender os seus discípulos e exortá-los a se comportarem de maneira mais decente”. Jesus respondeu: “É adequado que estas crianças queiram acolher o Filho da Paz, a quem os principais sacerdotes rejeitaram. Seria inútil detê-los, senão em seu lugar estas pedras à beira da estrada iriam clamar”.

172:3.14 (1882.7) Os fariseus apressaram-se à frente da procissão para reunir-se novamente ao Sinédrio, que estava então reunido no templo, e relataram aos seus companheiros: “Eis que tudo o que fazemos é em vão; estamos confusos com este galileu. O povo enlouqueceu por causa dele; se não detivermos estes ignorantes, o mundo inteiro irá segui-lo”.

172:3.15 (1883.1) Na realidade não havia qualquer significado profundo a ser atribuído a esta irrupção superficial e espontânea de entusiasmo popular. Esta acolhida, embora alegre e sincera, não suscitou nenhuma convicção real ou profunda nos corações desta multidão festiva. Estas mesmas multidões ficaram igualmente dispostas a rejeitar Jesus rapidamente no final desta semana, assim que o Sinédrio tomou uma posição firme e decidida contra ele, e quando ficaram desiludidos – quando perceberam que Jesus não iria estabelecer o reino de acordo com suas expectativas há muito acalentadas.

172:3.16 (1883.2) Mas a cidade inteira ficou tão agitada que todos perguntavam: “Quem é este homem?” E a multidão respondia: “Este é o profeta da Galileia, Jesus de Nazaré”.

 

4. Em Visita ao Templo

 

172:4.1 (1883.3) Enquanto os gêmeos Alfeu devolviam o jumento ao seu dono, Jesus e os dez apóstolos separaram-se dos seus companheiros imediatos e passearam pelo templo, observando os preparativos para a Páscoa. Nenhuma tentativa foi feita para importunar Jesus pois o Sinédrio temia muito o povo, e essa foi, afinal, uma das razões que Jesus teve para permitir que a multidão o aclamasse assim. Os apóstolos mal compreenderam que este era o único procedimento humano que poderia ter sido eficaz para evitar a prisão imediata de Jesus ao entrar na cidade. O Mestre desejava dar aos habitantes de Jerusalém, destacados e humildes, bem como às dezenas de milhares de visitantes da Páscoa, mais esta última oportunidade de ouvir o evangelho e receber, se quisessem, o Filho da Paz.

172:4.2 (1883.4) E agora, à medida que a noite avançava e as multidões saíam em busca de alimento, Jesus e os seus seguidores imediatos foram deixados a sós. Que dia estranho fora aquele! Os apóstolos estavam pensativos, mas sem palavras. Nunca, em seus anos de associação com Jesus, eles tinham visto um dia assim. Por um momento sentaram-se junto ao tesouro, observando o povo depositar as suas contribuições: os ricos colocavam muito na caixa coletora e todos davam algo de acordo com a extensão das suas posses. Por fim, apareceu uma viúva pobre, vestida andrajosamente, e eles observaram enquanto ela jogava dois óbolos (pequenas moedas de cobre) no receptáculo. E então disse Jesus, chamando a atenção dos apóstolos para a viúva: “Atentem bem para o que acabaram de ver. Esta viúva pobre deu mais do que todos os outros, pois todos estes outros, do seu supérfluo, deram uma ninharia como oferta, mas esta mulher pobre, embora esteja necessitada, deu tudo o que tinha, até o seu sustento”.

172:4.3 (1883.5) À medida que a noite avançava, eles caminharam em silêncio pelos pátios do templo e, depois de Jesus ter examinado mais uma vez estas cenas familiares, recordando as suas emoções vinculadas às visitas anteriores, sem exceção das primeiras, ele disse: “Vamos subir a Betânia para o nosso descanso”. Jesus, com Pedro e João, foi para a casa de Simão, enquanto os outros apóstolos se alojaram entre seus amigos em Betânia e Betfagé.

 

5. A Atitude dos Apóstolos

 

172:5.1 (1883.6) Nesta noite de domingo, ao retornarem para Betânia, Jesus caminhou na frente dos apóstolos. Nenhuma palavra foi dita até que eles se separaram depois de chegarem à casa de Simão. Jamais doze seres humanos experimentaram emoções tão diversas e inexplicáveis como as que agora surgiam nas mentes e almas destes embaixadores do reino. Estes robustos galileus estavam confusos e desconcertados; não sabiam o que esperar em seguida; estavam surpreendidos demais para terem muito medo. Eles nada sabiam dos planos do Mestre para o dia seguinte e não fizeram perguntas. Foram para seus alojamentos, embora não tenham dormido muito, exceto os gêmeos. Mas não mantiveram vigilância armada sobre Jesus na casa de Simão.

172:5.2 (1884.1) André estava totalmente desnorteado, quase confuso. Ele foi o único apóstolo que não se comprometeu seriamente a avaliar a explosão popular de aclamação. Ele estava demasiado preocupado com a ideia da sua responsabilidade como chefe do corpo apostólico para dar séria consideração ao sentido ou significação dos altos hosanas da multidão. André estava ocupado observando alguns de seus companheiros que ele temia que fossem levados pelas emoções durante a agitação, especialmente Pedro, Tiago, João e Simão Zelote. Ao longo deste dia e dos que imediatamente se seguiram, André foi perturbado por sérias dúvidas, mas nunca expressou nenhuma destas reservas aos seus companheiros apostólicos. Ele estava preocupado com a atitude de alguns dos doze que ele sabia estarem armados com espadas; mas não sabia que seu próprio irmão, Pedro, carregava tal arma. E assim a procissão até Jerusalém causou uma impressão relativamente superficial em André; ele estava ocupado demais com as responsabilidades de seu cargo para ser afetado de outra forma.

 

172:5.3 (1884.2) Simão Pedro no início quase foi arrebatado por esta manifestação popular de entusiasmo; mas ele estava consideravelmente sóbrio quando retornaram a Betânia naquela noite. Pedro simplesmente não conseguia entender o que o Mestre estava fazendo. Ele ficou terrivelmente desapontado por Jesus não ter acompanhado esta onda de favorecimento popular com algum tipo de pronunciamento. Pedro não conseguia entender por que Jesus não falou à multidão quando eles chegaram ao templo, ou pelo menos por que não permitiu que um dos apóstolos se dirigisse à multidão. Pedro era um grande pregador e não gostava de ver uma audiência tão grande, receptiva e entusiasmada ser desperdiçada. Ele teria gostado tanto de pregar o evangelho do reino àquela multidão ali mesmo no templo; mas o Mestre ordenou-lhes especificamente que não ensinassem ou pregassem enquanto estivessem em Jerusalém nesta semana da Páscoa. A reação à espetacular procissão até a cidade foi desastrosa para Simão Pedro; à noite ele estava sóbrio e inexprimivelmente entristecido.

 

 

 

 

172:5.4 (1884.3) Para Tiago Zebedeu, este domingo foi um dia de perplexidade e de profunda confusão; não conseguia captar o significado do que estava acontecendo; não conseguia compreender o propósito do Mestre ao permitir esta aclamação desenfreada e depois recusar-se a dizer uma palavra ao povo quando chegaram ao templo. À medida que a procissão descia pelo Monte das Oliveiras em direção a Jerusalém, mais especialmente quando foram recebidos pelos milhares de peregrinos que afluíam para dar as boas-vindas ao Mestre, Tiago ficou cruelmente dilacerado pelas suas emoções conflitantes de euforia e gratificação pelo que viu e pelo seu profundo sentimento de medo quanto ao que aconteceria quando chegassem ao templo. E então ficou abatido e tomado pela decepção quando Jesus desceu do jumento e começou a caminhar prazerosamente pelos pátios do templo. Tiago não conseguia entender a razão de desperdiçar uma oportunidade tão magnífica de proclamar o reino. À noite, sua mente estava firmemente dominada por uma incerteza angustiante e pavorosa.

 

172:5.5 (1884.4) João Zebedeu chegou perto de entender por que Jesus fez isto; pelo menos ele captou em parte a significação espiritual desta chamada entrada triunfal em Jerusalém. À medida que a multidão avançava em direção ao templo, e enquanto João contemplava seu Mestre montado no jumentinho, ele se lembrou de ter ouvido Jesus citar uma vez a passagem das Escrituras, a proclamação de Zacarias, que descrevia a vinda do Messias como um homem de paz e entrando em Jerusalém montado num jumento. À medida que João revia esta Escritura em sua mente, começou a compreender a significação simbólica deste espetáculo de domingo à tarde. Pelo menos, captou o suficiente do significado desta Escritura para capacitá-lo a desfrutar um pouco do episódio e para evitar que ficasse excessivamente deprimido pelo final aparentemente despropositado da procissão triunfal. João tinha um tipo de mente que tendia naturalmente a pensar e sentir em símbolos.

 

 

172:5.6 (1885.1) Filipe ficou inteiramente perturbado pela rapidez e espontaneidade da irrupção. Ele não conseguiu organizar seus pensamentos o suficiente durante a descida do Monte das Oliveiras para chegar a qualquer noção definitiva sobre o motivo de toda aquela demonstração. De certa forma, ele gostou da apresentação porque seu Mestre estava sendo homenageado. Quando chegaram ao templo, ficou perturbado com a ideia de que Jesus poderia pedir-lhe que alimentasse a multidão, de modo que a conduta de Jesus ao afastar-se vagarosamente das multidões, que desapontou tão profundamente a maioria dos apóstolos, foi um grande alívio para Filipe. Multidões às vezes eram uma grande provação para o mordomo dos doze. Depois de ter sido aliviado destes temores pessoais em relação às necessidades materiais das multidões, Filipe juntou-se a Pedro na expressão de desapontamento por nada ter sido feito para ensinar a multidão. Naquela noite, Filipe começou a refletir sobre estas experiências e ficou tentado a duvidar de toda a ideia do reino; ele honestamente se perguntou o que todas estas coisas poderiam significar, mas não expressou suas dúvidas a ninguém; ele amava demais Jesus. Ele tinha grande fé pessoal no Mestre.

 

 

 

 

 

 

 

172:5.7 (1885.2) Natanael, além dos aspectos simbólicos e proféticos, foi o que mais se aproximou da compreensão da razão do Mestre para conseguir o apoio popular dos peregrinos da Páscoa. Ele raciocinou, antes de chegarem ao templo, que sem tal entrada expressiva em Jerusalém Jesus teria sido preso pelos oficiais do Sinédrio e lançado na prisão no momento em que se atrevesse a entrar na cidade. Ele não ficou, portanto, nem um pouco surpreendido que o Mestre não tenha feito mais uso das multidões aclamadoras depois de ter entrado nas muralhas da cidade e impressionado tão fortemente os líderes judeus que eles se abstiveram de colocá-lo sob prisão imediata. Entendendo o verdadeiro motivo da entrada do Mestre na cidade desta maneira, Natanael naturalmente seguiu em frente com mais equilíbrio e ficou menos perturbado e desapontado com a conduta subsequente de Jesus do que os outros apóstolos. Natanael tinha grande confiança na compreensão que Jesus tinha dos homens, bem como na sua sagacidade e inteligência para lidar com situações difíceis.

 

 

172:5.8 (1885.3) A princípio, Mateus ficou perplexo com a apresentação deste espetáculo. Ele não captou o significado do que seus olhos viam até que também se lembrou da Escritura em Zacarias onde o profeta havia aludido à alegria de Jerusalém porque seu rei viera trazendo a salvação e montado num jumentinho. À medida que a procissão rumava em direção à cidade e depois se deslocou para o templo, Mateus ficou em êxtase; ele tinha certeza de que algo extraordinário aconteceria quando o Mestre chegasse ao templo à cabeça daquela multidão aclamadora. Quando um dos fariseus zombou de Jesus, dizendo: “Olhem todos, vejam quem vem aqui, o rei dos judeus montado num jumento!” Mateus manteve as mãos longe dele apenas exercendo grande controle. Nenhum dos doze ficou mais deprimido no caminho de volta para Betânia naquela noite. Ao lado de Simão Pedro e Simão Zelote, ele experimentou a maior tensão nervosa e estava exausto à noite. Mas pela manhã Mateus estava muito animado; afinal, ele era um perdedor alegre.

 

 

172:5.9 (1886.1) Tomé era o homem mais confuso e desnorteado de todos os doze. Na maior parte do tempo ele apenas acompanhava, contemplando o espetáculo e imaginando honestamente qual poderia ser o motivo do Mestre para participar de uma demonstração tão peculiar. No fundo do seu coração ele considerava toda a apresentação um pouco infantil, se não totalmente tola. Ele nunca tinha visto Jesus fazer algo assim e não sabia explicar a estranha conduta dele naquela tarde de domingo. Quando chegaram ao templo, Tomé havia deduzido que o propósito desta manifestação popular era assustar tanto o Sinédrio que eles não ousariam prender imediatamente o Mestre. No caminho de volta para Betânia Tomé pensou muito, mas não disse nada. Na hora de dormir, a habilidade do Mestre em encenar a tumultuada entrada em Jerusalém começou a ter um apelo um tanto humorístico, e ele ficou muito animado com esta reação.

 

 

 

 

172:5.10 (1886.2) Este domingo começou como um grande dia para Simão Zelote. Ele teve visões de acontecimentos maravilhosos em Jerusalém nos dias seguintes, e nisso ele estava certo, mas Simão sonhava com o estabelecimento do novo governo nacional dos judeus, com Jesus no trono de Davi. Simão via os nacionalistas entrarem em ação assim que o reino foi anunciado, e ele próprio no comando supremo das forças militares reunidas do novo reino. Na descida do Monte das Oliveiras ele até imaginou o Sinédrio e todos os seus simpatizantes mortos antes do pôr do sol daquele dia. Ele realmente acreditava que algo grande iria acontecer. Ele era o homem mais barulhento de toda a multidão. Às cinco horas daquela tarde ele era um apóstolo silencioso, arrasado e desiludido. Nunca se recuperou plenamente da depressão que se apoderou dele como resultado do choque deste dia; pelo menos não até muito depois da ressurreição do Mestre.

 

172:5.11 (1886.3) Para os gêmeos Alfeu este foi um dia perfeito. Eles realmente desfrutaram do tempo todo e, não estando presentes durante o período de visitação silenciosa ao templo, escaparam de grande parte do anticlímax do levantamento popular. Eles não conseguiam entender o comportamento abatido dos apóstolos quando voltaram para Betânia naquela noite. Na memória dos gêmeos este sempre foi o dia em que estiveram mais próximos do céu na Terra. Este dia foi o clímax satisfatório de toda a sua carreira como apóstolos. E a memória da euforia desta tarde de domingo os levou ao longo de toda a tragédia desta semana memorável, até a hora da crucificação. Foi a entrada do rei mais adequada que os gêmeos podiam conceber; eles desfrutaram de cada momento de toda a procissão. Eles aprovaram plenamente tudo o que viram e por muito tempo guardaram a memória.

 

 

 

172:5.12 (1886.4) De todos os apóstolos, Judas Iscariotes foi o mais afetado adversamente por esta entrada processional em Jerusalém. Sua mente estava numa agitação desagradável por causa da repreensão do Mestre no dia anterior em relação à unção de Maria na festa na casa de Simão. Judas ficou enojado com todo o espetáculo. Para ele pareceu infantil, se não ridículo. Ao observar os acontecimentos daquela tarde de domingo, a este apóstolo vingativo Jesus lhe pareceu mais um palhaço do que um rei. Ele ressentiu-se profundamente de toda a apresentação. Ele compartilhava dos pontos de vista dos gregos e romanos, que desprezavam qualquer um que consentisse em montar um jumento ou um potro de jumento. Quando a procissão triunfal entrou na cidade, Judas já havia decidido abandonar toda a ideia de um tal reino; ele estava quase decidido a abandonar todas essas tentativas ridículas de estabelecer o reino do céu. E então ele pensou na ressurreição de Lázaro, e em muitas outras coisas, e decidiu ficar com os doze, pelo menos por mais um dia. Além disso, ele carregava a bolsa e não desertaria com os fundos apostólicos em sua posse. No caminho de volta para Betânia naquela noite, sua conduta não pareceu estranha pois todos os apóstolos estavam igualmente abatidos e silenciosos.

 

 

 

172:5.13 (1887.1) Judas foi tremendamente influenciado pela ridicularização dos seus amigos saduceus. Nenhum outro fator exerceu uma influência tão poderosa sobre ele, em sua determinação final de abandonar Jesus e seus companheiros apóstolos, como um certo episódio que ocorreu exatamente quando Jesus chegou ao portão da cidade: Um proeminente saduceu (um amigo da família de Judas) correu até ele com um espírito de ridicularização jocosa e, dando-lhe um tapinha nas costas, disse: “Por que está com o semblante tão perturbado, meu bom amigo; anime-se e junte-se a todos nós enquanto aclamamos este Jesus de Nazaré, o rei dos judeus, enquanto ele atravessa os portões de Jerusalém montado num jumento”. Judas nunca havia se esquivado da perseguição, mas não suportava este tipo de ridicularização. Com a emoção de vingança há muito nutrida, misturava-se agora este medo fatal do ridículo, aquele sentimento terrível e temeroso de ter vergonha do seu Mestre e seus companheiros apóstolos. No coração, este embaixador ordenado do reino já era um desertor; restava-lhe apenas encontrar alguma desculpa plausível para romper abertamente com o Mestre.

 

Paper 172

Going Into Jerusalem

172:0.1 (1878.1) JESUS and the apostles arrived at Bethany shortly after four o’clock on Friday afternoon, March 31, a.d. 30. Lazarus, his sisters, and their friends were expecting them; and since so many people came every day to talk with Lazarus about his resurrection, Jesus was informed that arrangements had been made for him to stay with a neighboring believer, one Simon, the leading citizen of the little village since the death of Lazarus’s father.

172:0.2 (1878.2) That evening, Jesus received many visitors, and the common folks of Bethany and Bethpage did their best to make him feel welcome. Although many thought Jesus was now going into Jerusalem, in utter defiance of the Sanhedrin’s decree of death, to proclaim himself king of the Jews, the Bethany family—Lazarus, Martha, and Mary—more fully realized that the Master was not that kind of a king; they dimly felt that this might be his last visit to Jerusalem and Bethany.

172:0.3 (1878.3) The chief priests were informed that Jesus lodged at Bethany, but they thought best not to attempt to seize him among his friends; they decided to await his coming on into Jerusalem. Jesus knew about all this, but he was majestically calm; his friends had never seen him more composed and congenial; even the apostles were astounded that he should be so unconcerned when the Sanhedrin had called upon all Jewry to deliver him into their hands. While the Master slept that night, the apostles watched over him by twos, and many of them were girded with swords. Early the next morning they were awakened by hundreds of pilgrims who came out from Jerusalem, even on the Sabbath day, to see Jesus and Lazarus, whom he had raised from the dead.


1. Sabbath at Bethany


172:1.1 (1878.4) Pilgrims from outside of Judea, as well as the Jewish authorities, had all been asking: “What do you think? will Jesus come up to the feast?” Therefore, when the people heard that Jesus was at Bethany, they were glad, but the chief priests and Pharisees were somewhat perplexed. They were pleased to have him under their jurisdiction, but they were a trifle disconcerted by his boldness; they remembered that on his previous visit to Bethany, Lazarus had been raised from the dead, and Lazarus was becoming a big problem to the enemies of Jesus.

172:1.2 (1878.5) Six days before the Passover, on the evening after the Sabbath, all Bethany and Bethpage joined in celebrating the arrival of Jesus by a public banquet at the home of Simon. This supper was in honor of both Jesus and Lazarus; it was tendered in defiance of the Sanhedrin. Martha directed the serving of the food; her sister Mary was among the women onlookers as it was against the custom of the Jews for a woman to sit at a public banquet. The agents of the Sanhedrin were present, but they feared to apprehend Jesus in the midst of his friends.

172:1.3 (1879.1) Jesus talked with Simon about Joshua of old, whose namesake he was, and recited how Joshua and the Israelites had come up to Jerusalem through Jericho. In commenting on the legend of the walls of Jericho falling down, Jesus said: “I am not concerned with such walls of brick and stone; but I would cause the walls of prejudice, self-righteousness, and hate to crumble before this preaching of the Father’s love for all men.”

172:1.4 (1879.2) The banquet went along in a very cheerful and normal manner except that all the apostles were unusually sober. Jesus was exceptionally cheerful and had been playing with the children up to the time of coming to the table.

172:1.5 (1879.3) Nothing out of the ordinary happened until near the close of the feasting when Mary the sister of Lazarus stepped forward from among the group of women onlookers and, going up to where Jesus reclined as the guest of honor, proceeded to open a large alabaster cruse of very rare and costly ointment; and after anointing the Master’s head, she began to pour it upon his feet as she took down her hair and wiped them with it. The whole house became filled with the odor of the ointment, and everybody present was amazed at what Mary had done. Lazarus said nothing, but when some of the people murmured, showing indignation that so costly an ointment should be thus used, Judas Iscariot stepped over to where Andrew reclined and said: “Why was this ointment not sold and the money bestowed to feed the poor? You should speak to the Master that he rebuke such waste.”

172:1.6 (1879.4) Jesus, knowing what they thought and hearing what they said, put his hand upon Mary’s head as she knelt by his side and, with a kindly expression upon his face, said: “Let her alone, every one of you. Why do you trouble her about this, seeing that she has done a good thing in her heart? To you who murmur and say that this ointment should have been sold and the money given to the poor, let me say that you have the poor always with you so that you may minister to them at any time it seems good to you; but I shall not always be with you; I go soon to my Father. This woman has long saved this ointment for my body at its burial, and now that it has seemed good to her to make this anointing in anticipation of my death, she shall not be denied such satisfaction. In the doing of this, Mary has reproved all of you in that by this act she evinces faith in what I have said about my death and ascension to my Father in heaven. This woman shall not be reproved for that which she has this night done; rather do I say to you that in the ages to come, wherever this gospel shall be preached throughout the whole world, what she has done will be spoken of in memory of her.”

172:1.7 (1879.5) It was because of this rebuke, which he took as a personal reproof, that Judas Iscariot finally made up his mind to seek revenge for his hurt feelings. Many times had he entertained such ideas subconsciously, but now he dared to think such wicked thoughts in his open and conscious mind. And many others encouraged him in this attitude since the cost of this ointment was a sum equal to the earnings of one man for one year—enough to provide bread for five thousand persons. But Mary loved Jesus; she had provided this precious ointment with which to embalm his body in death, for she believed his words when he forewarned them that he must die, and it was not to be denied her if she changed her mind and chose to bestow this offering upon the Master while he yet lived.

172:1.8 (1879.6) Both Lazarus and Martha knew that Mary had long saved the money wherewith to buy this cruse of spikenard, and they heartily approved of her doing as her heart desired in such a matter, for they were well-to-do and could easily afford to make such an offering.

172:1.9 (1880.1) When the chief priests heard of this dinner in Bethany for Jesus and Lazarus, they began to take counsel among themselves as to what should be done with Lazarus. And presently they decided that Lazarus must also die. They rightly concluded that it would be useless to put Jesus to death if they permitted Lazarus, whom he had raised from the dead, to live.


2. Sunday Morning with the Apostles


172:2.1 (1880.2) On this Sunday morning, in Simon’s beautiful garden, the Master called his twelve apostles around him and gave them their final instructions preparatory to entering Jerusalem. He told them that he would probably deliver many addresses and teach many lessons before returning to the Father but advised the apostles to refrain from doing any public work during this Passover sojourn in Jerusalem. He instructed them to remain near him and to “watch and pray.” Jesus knew that many of his apostles and immediate followers even then carried swords concealed on their persons, but he made no reference to this fact.

172:2.2 (1880.3) This morning’s instructions embraced a brief review of their ministry from the day of their ordination near Capernaum down to this day when they were preparing to enter Jerusalem. The apostles listened in silence; they asked no questions.

172:2.3 (1880.4) Early that morning David Zebedee had turned over to Judas the funds realized from the sale of the equipment of the Pella encampment, and Judas, in turn, had placed the greater part of this money in the hands of Simon, their host, for safekeeping in anticipation of the exigencies of their entry into Jerusalem.

172:2.4 (1880.5) After the conference with the apostles Jesus held converse with Lazarus and instructed him to avoid the sacrifice of his life to the vengefulness of the Sanhedrin. It was in obedience to this admonition that Lazarus, a few days later, fled to Philadelphia when the officers of the Sanhedrin sent men to arrest him.

172:2.5 (1880.6) In a way, all of Jesus’ followers sensed the impending crisis, but they were prevented from fully realizing its seriousness by the unusual cheerfulness and exceptional good humor of the Master.


3. The Start for Jerusalem


172:3.1 (1880.7) Bethany was about two miles from the temple, and it was half past one that Sunday afternoon when Jesus made ready to start for Jerusalem. He had feelings of profound affection for Bethany and its simple people. Nazareth, Capernaum, and Jerusalem had rejected him, but Bethany had accepted him, had believed in him. And it was in this small village, where almost every man, woman, and child were believers, that he chose to perform the mightiest work of his earth bestowal, the resurrection of Lazarus. He did not raise Lazarus that the villagers might believe, but rather because they already believed.

172:3.2 (1880.8) All morning Jesus had thought about his entry into Jerusalem. Heretofore he had always endeavored to suppress all public acclaim of him as the Messiah, but it was different now; he was nearing the end of his career in the flesh, his death had been decreed by the Sanhedrin, and no harm could come from allowing his disciples to give free expression to their feelings, just as might occur if he elected to make a formal and public entry into the city.

172:3.3 (1881.1) Jesus did not decide to make this public entrance into Jerusalem as a last bid for popular favor nor as a final grasp for power. Neither did he do it altogether to satisfy the human longings of his disciples and apostles. Jesus entertained none of the illusions of a fantastic dreamer; he well knew what was to be the outcome of this visit.

172:3.4 (1881.2) Having decided upon making a public entrance into Jerusalem, the Master was confronted with the necessity of choosing a proper method of executing such a resolve. Jesus thought over all of the many more or less contradictory so-called Messianic prophecies, but there seemed to be only one which was at all appropriate for him to follow. Most of these prophetic utterances depicted a king, the son and successor of David, a bold and aggressive temporal deliverer of all Israel from the yoke of foreign domination. But there was one Scripture that had sometimes been associated with the Messiah by those who held more to the spiritual concept of his mission, which Jesus thought might consistently be taken as a guide for his projected entry into Jerusalem. This Scripture was found in Zechariah, and it said: “Rejoice greatly, O daughter of Zion; shout, O daughter of Jerusalem. Behold, your king comes to you. He is just and he brings salvation. He comes as the lowly one, riding upon an ass, upon a colt, the foal of an ass.”

172:3.5 (1881.3) A warrior king always entered a city riding upon a horse; a king on a mission of peace and friendship always entered riding upon an ass. Jesus would not enter Jerusalem as a man on horseback, but he was willing to enter peacefully and with good will as the Son of Man on a donkey.

172:3.6 (1881.4) Jesus had long tried by direct teaching to impress upon his apostles and his disciples that his kingdom was not of this world, that it was a purely spiritual matter; but he had not succeeded in this effort. Now, what he had failed to do by plain and personal teaching, he would attempt to accomplish by a symbolic appeal. Accordingly, right after the noon lunch, Jesus called Peter and John, and after directing them to go over to Bethpage, a neighboring village a little off the main road and a short distance northwest of Bethany, he further said: “Go to Bethpage, and when you come to the junction of the roads, you will find the colt of an ass tied there. Loose the colt and bring it back with you. If anyone asks you why you do this, merely say, ‘The Master has need of him.’” And when the two apostles had gone into Bethpage as the Master had directed, they found the colt tied near his mother in the open street and close to a house on the corner. As Peter began to untie the colt, the owner came over and asked why they did this, and when Peter answered him as Jesus had directed, the man said: “If your Master is Jesus from Galilee, let him have the colt.” And so they returned bringing the colt with them.

172:3.7 (1881.5) By this time several hundred pilgrims had gathered around Jesus and his apostles. Since midforenoon the visitors passing by on their way to the Passover had tarried. Meanwhile, David Zebedee and some of his former messenger associates took it upon themselves to hasten on down to Jerusalem, where they effectively spread the report among the throngs of visiting pilgrims about the temple that Jesus of Nazareth was making a triumphal entry into the city. Accordingly, several thousand of these visitors flocked forth to greet this much-talked-of prophet and wonder-worker, whom some believed to be the Messiah. This multitude, coming out from Jerusalem, met Jesus and the crowd going into the city just after they had passed over the brow of Olivet and had begun the descent into the city.

172:3.8 (1882.1) As the procession started out from Bethany, there was great enthusiasm among the festive crowd of disciples, believers, and visiting pilgrims, many hailing from Galilee and Perea. Just before they started, the twelve women of the original women’s corps, accompanied by some of their associates, arrived on the scene and joined this unique procession as it moved on joyously toward the city.

172:3.9 (1882.2) Before they started, the Alpheus twins put their cloaks on the donkey and held him while the Master got on. As the procession moved toward the summit of Olivet, the festive crowd threw their garments on the ground and brought branches from the near-by trees in order to make a carpet of honor for the donkey bearing the royal Son, the promised Messiah. As the merry crowd moved on toward Jerusalem, they began to sing, or rather to shout in unison, the Psalm, “Hosanna to the son of David; blessed is he who comes in the name of the Lord. Hosanna in the highest. Blessed be the kingdom that comes down from heaven.”

172:3.10 (1882.3) Jesus was lighthearted and cheerful as they moved along until he came to the brow of Olivet, where the city and the temple towers came into full view; there the Master stopped the procession, and a great silence came upon all as they beheld him weeping. Looking down upon the vast multitude coming forth from the city to greet him, the Master, with much emotion and with tearful voice, said: “O Jerusalem, if you had only known, even you, at least in this your day, the things which belong to your peace, and which you could so freely have had! But now are these glories about to be hid from your eyes. You are about to reject the Son of Peace and turn your backs upon the gospel of salvation. The days will soon come upon you wherein your enemies will cast a trench around about you and lay siege to you on every side; they shall utterly destroy you, insomuch that not one stone shall be left upon another. And all this shall befall you because you knew not the time of your divine visitation. You are about to reject the gift of God, and all men will reject you.”

172:3.11 (1882.4) When he had finished speaking, they began the descent of Olivet and presently were joined by the multitude of visitors who had come from Jerusalem waving palm branches, shouting hosannas, and otherwise expressing gleefulness and good fellowship. The Master had not planned that these crowds should come out from Jerusalem to meet them; that was the work of others. He never premeditated anything which was dramatic.

172:3.12 (1882.5) Along with the multitude which poured out to welcome the Master, there came also many of the Pharisees and his other enemies. They were so much perturbed by this sudden and unexpected outburst of popular acclaim that they feared to arrest him lest such action precipitate an open revolt of the populace. They greatly feared the attitude of the large numbers of visitors, who had heard much of Jesus, and who, many of them, believed in him.

172:3.13 (1882.6) As they neared Jerusalem, the crowd became more demonstrative, so much so that some of the Pharisees made their way up alongside Jesus and said: “Teacher, you should rebuke your disciples and exhort them to behave more seemly.” Jesus answered: “It is only fitting that these children should welcome the Son of Peace, whom the chief priests have rejected. It would be useless to stop them lest in their stead these stones by the roadside cry out.”

172:3.14 (1882.7) The Pharisees hastened on ahead of the procession to rejoin the Sanhedrin, which was then in session at the temple, and they reported to their associates: “Behold, all that we do is of no avail; we are confounded by this Galilean. The people have gone mad over him; if we do not stop these ignorant ones, all the world will go after him.”

172:3.15 (1883.1) There really was no deep significance to be attached to this superficial and spontaneous outburst of popular enthusiasm. This welcome, although it was joyous and sincere, did not betoken any real or deep-seated conviction in the hearts of this festive multitude. These same crowds were equally as willing quickly to reject Jesus later on this week when the Sanhedrin once took a firm and decided stand against him, and when they became disillusioned—when they realized that Jesus was not going to establish the kingdom in accordance with their long-cherished expectations.

172:3.16 (1883.2) But the whole city was mightily stirred up, insomuch that everyone asked, “Who is this man?” And the multitude answered, “This is the prophet of Galilee, Jesus of Nazareth.”


4. Visiting About the Temple


172:4.1 (1883.3) While the Alpheus twins returned the donkey to its owner, Jesus and the ten apostles detached themselves from their immediate associates and strolled about the temple, viewing the preparations for the Passover. No attempt was made to molest Jesus as the Sanhedrin greatly feared the people, and that was, after all, one of the reasons Jesus had for allowing the multitude thus to acclaim him. The apostles little understood that this was the only human procedure which could have been effective in preventing Jesus’ immediate arrest upon entering the city. The Master desired to give the inhabitants of Jerusalem, high and low, as well as the tens of thousands of Passover visitors, this one more and last chance to hear the gospel and receive, if they would, the Son of Peace.

172:4.2 (1883.4) And now, as the evening drew on and the crowds went in quest of nourishment, Jesus and his immediate followers were left alone. What a strange day it had been! The apostles were thoughtful, but speechless. Never, in their years of association with Jesus, had they seen such a day. For a moment they sat down by the treasury, watching the people drop in their contributions: the rich putting much in the receiving box and all giving something in accordance with the extent of their possessions. At last there came along a poor widow, scantily attired, and they observed as she cast two mites (small coppers) into the trumpet. And then said Jesus, calling the attention of the apostles to the widow: “Heed well what you have just seen. This poor widow cast in more than all the others, for all these others, from their superfluity, cast in some trifle as a gift, but this poor woman, even though she is in want, gave all that she had, even her living.”

172:4.3 (1883.5) As the evening drew on, they walked about the temple courts in silence, and after Jesus had surveyed these familiar scenes once more, recalling his emotions in connection with previous visits, not excepting the earlier ones, he said, “Let us go up to Bethany for our rest.” Jesus, with Peter and John, went to the home of Simon, while the other apostles lodged among their friends in Bethany and Bethpage.


5. The Apostles’ Attitude


172:5.1 (1883.6) This Sunday evening as they returned to Bethany, Jesus walked in front of the apostles. Not a word was spoken until they separated after arriving at Simon’s house. No twelve human beings ever experienced such diverse and inexplicable emotions as now surged through the minds and souls of these ambassadors of the kingdom. These sturdy Galileans were confused and disconcerted; they did not know what to expect next; they were too surprised to be much afraid. They knew nothing of the Master’s plans for the next day, and they asked no questions. They went to their lodgings, though they did not sleep much, save the twins. But they did not keep armed watch over Jesus at Simon’s house.

172:5.2 (1884.1) Andrew was thoroughly bewildered, well-nigh confused. He was the one apostle who did not seriously undertake to evaluate the popular outburst of acclaim. He was too preoccupied with the thought of his responsibility as chief of the apostolic corps to give serious consideration to the meaning or significance of the loud hosannas of the multitude. Andrew was busy watching some of his associates who he feared might be led away by their emotions during the excitement, particularly Peter, James, John, and Simon Zelotes. Throughout this day and those which immediately followed, Andrew was troubled with serious doubts, but he never expressed any of these misgivings to his apostolic associates. He was concerned about the attitude of some of the twelve who he knew were armed with swords; but he did not know that his own brother, Peter, was carrying such a weapon. And so the procession into Jerusalem made a comparatively superficial impression upon Andrew; he was too busy with the responsibilities of his office to be otherwise affected.

172:5.3 (1884.2) Simon Peter was at first almost swept off his feet by this popular manifestation of enthusiasm; but he was considerably sobered by the time they returned to Bethany that night. Peter simply could not figure out what the Master was about. He was terribly disappointed that Jesus did not follow up this wave of popular favor with some kind of a pronouncement. Peter could not understand why Jesus did not speak to the multitude when they arrived at the temple, or at least permit one of the apostles to address the crowd. Peter was a great preacher, and he disliked to see such a large, receptive, and enthusiastic audience go to waste. He would so much have liked to preach the gospel of the kingdom to that throng right there in the temple; but the Master had specifically charged them that they were to do no teaching or preaching while in Jerusalem this Passover week. The reaction from the spectacular procession into the city was disastrous to Simon Peter; by night he was sobered and inexpressibly saddened.

172:5.4 (1884.3) To James Zebedee, this Sunday was a day of perplexity and profound confusion; he could not grasp the purport of what was going on; he could not comprehend the Master’s purpose in permitting this wild acclaim and then in refusing to say a word to the people when they arrived at the temple. As the procession moved down Olivet toward Jerusalem, more especially when they were met by the thousands of pilgrims who poured forth to welcome the Master, James was cruelly torn by his conflicting emotions of elation and gratification at what he saw and by his profound feeling of fear as to what would happen when they reached the temple. And then was he downcast and overcome by disappointment when Jesus climbed off the donkey and proceeded to walk leisurely about the temple courts. James could not understand the reason for throwing away such a magnificent opportunity to proclaim the kingdom. By night, his mind was held firmly in the grip of a distressing and dreadful uncertainty.

172:5.5 (1884.4) John Zebedee came somewhere near understanding why Jesus did this; at least he grasped in part the spiritual significance of this so-called triumphal entry into Jerusalem. As the multitude moved on toward the temple, and as John beheld his Master sitting there astride the colt, he recalled hearing Jesus onetime quote the passage of Scripture, the utterance of Zechariah, which described the coming of the Messiah as a man of peace and riding into Jerusalem on an ass. As John turned this Scripture over in his mind, he began to comprehend the symbolic significance of this Sunday-afternoon pageant. At least, he grasped enough of the meaning of this Scripture to enable him somewhat to enjoy the episode and to prevent his becoming overmuch depressed by the apparent purposeless ending of the triumphal procession. John had a type of mind which naturally tended to think and feel in symbols.

172:5.6 (1885.1) Philip was entirely unsettled by the suddenness and spontaneity of the outburst. He could not collect his thoughts sufficiently while on the way down Olivet to arrive at any settled notion as to what all the demonstration was about. In a way, he enjoyed the performance because his Master was being honored. By the time they reached the temple, he was perturbed by the thought that Jesus might possibly ask him to feed the multitude, so that the conduct of Jesus in turning leisurely away from the crowds, which so sorely disappointed the majority of the apostles, was a great relief to Philip. Multitudes had sometimes been a great trial to the steward of the twelve. After he was relieved of these personal fears regarding the material needs of the crowds, Philip joined with Peter in the expression of disappointment that nothing was done to teach the multitude. That night Philip got to thinking over these experiences and was tempted to doubt the whole idea of the kingdom; he honestly wondered what all these things could mean, but he expressed his doubts to no one; he loved Jesus too much. He had great personal faith in the Master.

172:5.7 (1885.2) Nathaniel, aside from the symbolic and prophetic aspects, came the nearest to understanding the Master’s reason for enlisting the popular support of the Passover pilgrims. He reasoned it out, before they reached the temple, that without such a demonstrative entry into Jerusalem Jesus would have been arrested by the Sanhedrin officials and cast into prison the moment he presumed to enter the city. He was not, therefore, in the least surprised that the Master made no further use of the cheering crowds when he had once got inside the walls of the city and had thus so forcibly impressed the Jewish leaders that they would refrain from placing him under immediate arrest. Understanding the real reason for the Master’s entering the city in this manner, Nathaniel naturally followed along with more poise and was less perturbed and disappointed by Jesus’ subsequent conduct than were the other apostles. Nathaniel had great confidence in Jesus’ understanding of men as well as in his sagacity and cleverness in handling difficult situations.

172:5.8 (1885.3) Matthew was at first nonplused by this pageant performance. He did not grasp the meaning of what his eyes were seeing until he also recalled the Scripture in Zechariah where the prophet had alluded to the rejoicing of Jerusalem because her king had come bringing salvation and riding upon the colt of an ass. As the procession moved in the direction of the city and then drew on toward the temple, Matthew became ecstatic; he was certain that something extraordinary would happen when the Master arrived at the temple at the head of this shouting multitude. When one of the Pharisees mocked Jesus, saying, “Look, everybody, see who comes here, the king of the Jews riding on an ass!” Matthew kept his hands off of him only by exercising great restraint. None of the twelve was more depressed on the way back to Bethany that evening. Next to Simon Peter and Simon Zelotes, he experienced the highest nervous tension and was in a state of exhaustion by night. But by morning Matthew was much cheered; he was, after all, a cheerful loser.

172:5.9 (1886.1) Thomas was the most bewildered and puzzled man of all the twelve. Most of the time he just followed along, gazing at the spectacle and honestly wondering what could be the Master’s motive for participating in such a peculiar demonstration. Down deep in his heart he regarded the whole performance as a little childish, if not downright foolish. He had never seen Jesus do anything like this and was at a loss to account for his strange conduct on this Sunday afternoon. By the time they reached the temple, Thomas had deduced that the purpose of this popular demonstration was so to frighten the Sanhedrin that they would not dare immediately to arrest the Master. On the way back to Bethany Thomas thought much but said nothing. By bedtime the Master’s cleverness in staging the tumultuous entry into Jerusalem had begun to make a somewhat humorous appeal, and he was much cheered up by this reaction.

172:5.10 (1886.2) This Sunday started off as a great day for Simon Zelotes. He saw visions of wonderful doings in Jerusalem the next few days, and in that he was right, but Simon dreamed of the establishment of the new national rule of the Jews, with Jesus on the throne of David. Simon saw the nationalists springing into action as soon as the kingdom was announced, and himself in supreme command of the assembling military forces of the new kingdom. On the way down Olivet he even envisaged the Sanhedrin and all of their sympathizers dead before sunset of that day. He really believed something great was going to happen. He was the noisiest man in the whole multitude. By five o’clock that afternoon he was a silent, crushed, and disillusioned apostle. He never fully recovered from the depression which settled down on him as a result of this day’s shock; at least not until long after the Master’s resurrection.

172:5.11 (1886.3) To the Alpheus twins this was a perfect day. They really enjoyed it all the way through, and not being present during the time of quiet visitation about the temple, they escaped much of the anticlimax of the popular upheaval. They could not possibly understand the downcast behavior of the apostles when they came back to Bethany that evening. In the memory of the twins this was always their day of being nearest heaven on earth. This day was the satisfying climax of their whole career as apostles. And the memory of the elation of this Sunday afternoon carried them on through all of the tragedy of this eventful week, right up to the hour of the crucifixion. It was the most befitting entry of the king the twins could conceive; they enjoyed every moment of the whole pageant. They fully approved of all they saw and long cherished the memory.

172:5.12 (1886.4) Of all the apostles, Judas Iscariot was the most adversely affected by this processional entry into Jerusalem. His mind was in a disagreeable ferment because of the Master’s rebuke the preceding day in connection with Mary’s anointing at the feast in Simon’s house. Judas was disgusted with the whole spectacle. To him it seemed childish, if not indeed ridiculous. As this vengeful apostle looked upon the proceedings of this Sunday afternoon, Jesus seemed to him more to resemble a clown than a king. He heartily resented the whole performance. He shared the views of the Greeks and Romans, who looked down upon anyone who would consent to ride upon an ass or the colt of an ass. By the time the triumphal procession had entered the city, Judas had about made up his mind to abandon the whole idea of such a kingdom; he was almost resolved to forsake all such farcical attempts to establish the kingdom of heaven. And then he thought of the resurrection of Lazarus, and many other things, and decided to stay on with the twelve, at least for another day. Besides, he carried the bag, and he would not desert with the apostolic funds in his possession. On the way back to Bethany that night his conduct did not seem strange since all of the apostles were equally downcast and silent.

172:5.13 (1887.1) Judas was tremendously influenced by the ridicule of his Sadducean friends. No other single factor exerted such a powerful influence on him, in his final determination to forsake Jesus and his fellow apostles, as a certain episode which occurred just as Jesus reached the gate of the city: A prominent Sadducee (a friend of Judas’s family) rushed up to him in a spirit of gleeful ridicule and, slapping him on the back, said: “Why so troubled of countenance, my good friend; cheer up and join us all while we acclaim this Jesus of Nazareth the king of the Jews as he rides through the gates of Jerusalem seated on an ass.” Judas had never shrunk from persecution, but he could not stand this sort of ridicule. With the long-nourished emotion of revenge there was now blended this fatal fear of ridicule, that terrible and fearful feeling of being ashamed of his Master and his fellow apostles. At heart, this ordained ambassador of the kingdom was already a deserter; it only remained for him to find some plausible excuse for an open break with the Master.

 

Documento 172

A Entrada em Jerusalém

172:0.1 (1878.1) JESUS e os apóstolos chegaram a Betânia pouco depois das quatro horas, na sexta-feira à tarde, 31 de março, do ano 30 d.C. Lázaro, as suas irmãs e os amigos deles aguardavam. E, já que tanta gente vinha durante todo o dia, para falar com Lázaro sobre a sua ressurreição, Jesus foi informado de que haviam sido feitos arranjos para que se alojasse com um crente da vizinhança, um certo Simão, o qual, desde a morte do pai de Lázaro, passou a ser o principal cidadão da pequena aldeia.

172:0.2 (1878.2) Naquela tarde, Jesus recebeu muitos visitantes, e a gente comum de Betânia e Betfagé deu o melhor de si para fazê-lo sentir-se bem-vindo. Embora muitos pensassem que agora Jesus estava indo para Jerusalém, em um total desafio ao decreto de morte do sinédrio, para proclamar-se rei dos judeus, a família de Betânia — Lázaro, Marta e Maria — compreendia mais profundamente que o Mestre não era aquela espécie de rei; e eles sentiram vagamente que esta poderia ser a sua última visita a Jerusalém e a Betânia.

172:0.3 (1878.3) Os sacerdotes principais estavam informados de que Jesus alojara-se em Betânia, mas julgaram que seria melhor não tentar apanhá-lo dentre os seus amigos; decidiram esperar a sua vinda a Jerusalém. Jesus sabia sobre tudo isso, mas se encontrava esplendidamente calmo; os seus amigos nunca o haviam visto mais tranqüilo e amável; mesmo os apóstolos estavam espantados de que ele estivesse tão despreocupado, sendo que o sinédrio havia convocado todo o mundo judeu a entregá-lo nas suas mãos. Enquanto o Mestre dormia, naquela noite, os apóstolos velavam por ele, dois a dois, e muitos deles estavam armados com espadas. Bem cedo, nessa manhã, eles foram acordados por centenas de peregrinos que vieram de Jerusalém, mesmo sendo um dia de sábado, para ver Jesus e Lázaro; o mesmo que Jesus havia ressuscitado dos mortos.

 

1. O Sábado em Betânia

 

172:1.1 (1878.4) Os peregrinos vindos de fora da Judéia, bem como as autoridades judaicas, se haviam perguntado: “O que acha? Jesus virá para a festa?” Portanto, quando o povo ouviu dizer que Jesus estava em Betânia, ficou contente, os sacerdotes principais e os fariseus, todavia, se revelaram um tanto perplexos. Estavam contentes de tê-lo sob a sua jurisdição, mas ficaram um pouco desconcertados com a ousadia dele; lembraram-se de que, na sua visita anterior a Betânia, Lázaro havia ressuscitado dos mortos, e Lázaro estava transformando-se em um grande problema para os inimigos de Jesus.

172:1.2 (1878.5) Depois da festa do sábado, à tarde, seis dias antes da Páscoa, toda Betânia e Betfagé juntaram-se para celebrar a chegada de Jesus, com um banquete público na casa de Simão. Essa ceia deu-se em honra de Jesus e de Lázaro, e foi oferecida em desafio ao sinédrio. Marta orientou o serviço da comida; a sua irmã Maria estava entre as mulheres espectadoras, pois era contra o costume dos judeus que uma mulher tivesse assento em um banquete público. Os agentes do sinédrio encontravam-se presentes, mas eles temiam apreender Jesus no meio dos seus amigos.

172:1.3 (1879.1) Jesus conversou com Simão sobre o Joshua de outrora, cujo nome era homônimo seu; e contou como Joshua e os israelitas haviam vindo a Jerusalém, passando por Jericó. Ao comentar sobre a lenda da queda das paredes de Jericó, Jesus disse: “Eu não me preocupo com paredes de tijolos e de pedra; mas gostaria que as paredes do preconceito, da presunção e do ódio desmoronassem diante desta pregação sobre o amor que o Pai tem por todos os homens”.

172:1.4 (1879.2) O banquete continuou de um modo bastante alegre e normal, afora o fato de que todos os apóstolos estavam mais sérios do que de costume. Jesus encontrava- se excepcionalmente alegre e tinha estado brincando com as crianças até o momento de dirigir-se à mesa.

172:1.5 (1879.3) Nada de extraordinário aconteceu até perto do final do festim, quando Maria, a irmã de Lázaro, saiu do grupo das mulheres espectadoras e, indo até onde Jesus estava reclinado como hóspede de honra, pôs-se a abrir um grande frasco de alabastro de um ungüento muito raro e caro; e, depois de ungir a cabeça do Mestre, começou a ungir os seus pés e logo tomou os próprios cabelos para, com eles, enxugar-lhe os pés. Toda a casa começou a preencher-se com o odor do ungüento, e todos os presentes assombraram-se com o que Maria estava fazendo. Lázaro nada disse; mas quando algumas das pessoas murmuraram, mostrando indignação por um ungüento tão caro ser utilizado assim, Judas Iscariotes deu alguns passos até onde André estava reclinado e disse: “Por que não se teria vendido esse ungüento para dedicar o dinheiro a alimentar os pobres? Devias falar com o Mestre para que ele repreenda tal desperdício”.

172:1.6 (1879.4) Jesus, sabendo o que eles pensavam e ouvindo o que diziam, colocou a sua mão sobre a cabeça de Maria, que estava ajoelhada a seu lado e, com uma expressão bondosa no rosto, ele disse: “Deixai-a em paz, todos vós. Por que a importunais por isso, vendo que ela fez uma coisa boa, segundo o seu coração? A vós, que murmurais e que dizeis que esse ungüento deveria ter sido vendido para que o dinheiro fosse dado aos pobres, deixai que eu diga que tendes os pobres sempre convosco, de modo que podeis ministrar a eles a qualquer momento que parecer conveniente para vós; mas eu não estarei sempre convosco, em breve irei para junto do meu Pai. Essa mulher há muito guarda esse ungüento para o meu corpo, quando for enterrado, e agora que lhe pareceu bom fazer esta unção, em antecipação à minha morte, a ela não lhe será negada essa satisfação. Com isso, Maria lança a sua reprovação a todos vós, pois com esse ato ela evidencia fé no que eu disse sobre a minha morte e ascensão até meu Pai no céu. Essa mulher não será reprovada pelo que faz esta noite; entretanto, antes, eu digo a vós que, nas idades que virão, em todos os lugares por onde esse evangelho for pregado, o que ela fez será comentado em memória dela”.

172:1.7 (1879.5) Por causa dessa repreensão, que foi tomada como uma reprovação pessoal, Judas Iscariotes finalmente decidiu buscar vingança para as suas mágoas. Muitas vezes ele alimentou esse tipo de idéia subconscientemente, mas agora ousava ter esses pensamentos perversos na sua mente, de modo aberto e consciente. E muitos outros convivas encorajaram-no nessa atitude, pois o custo desse ungüento equivalia a uma soma igual aos ganhos de um homem durante um ano — o suficiente para dar pão a cinco mil pessoas. Maria, todavia, amava Jesus; e havia adquirido esse ungüento precioso, com o qual embalsamar o seu corpo na morte, pois acreditara nas palavras dele, quando Jesus avisou- lhes de antemão que iria morrer; e então não se lhe podia recusar nada por haver mudado de idéia e decidido fazer essa oferta ao Mestre enquanto estava vivo.

172:1.8 (1879.6) Tanto Lázaro quanto Marta sabiam que Maria vinha há muito tempo economizando o dinheiro com o qual comprar esse frasco de óleo de nardo, e eles aprovavam sinceramente que ela agisse, como o seu coração desejava, pois tinham posses e podiam facilmente arcar com uma tal oferta.

172:1.9 (1880.1) Quando os sacerdotes principais ouviram sobre esse jantar para Jesus e Lázaro, em Betânia, eles começaram a aconselhar-se entre si quanto ao que deveria ser feito com Lázaro. E decidiram imediatamente que Lázaro também devia morrer, concluindo, não sem acerto, que seria inútil levar Jesus à morte, caso permitissem que Lázaro, que havia sido ressuscitado dos mortos, vivesse.

 

2. No Domingo de Manhã com os Apóstolos

 

172:2.1 (1880.2) Nesse domingo pela manhã, no magnífico jardim de Simão, o Mestre reuniu os doze apóstolos à volta de si para dar-lhes as instruções finais e preparatórias para entrarem em Jerusalém. Disse-lhes que provavelmente daria várias palestras e ensinaria muitas lições antes de voltar para o Pai, mas aconselhou aos apóstolos absterem-se de fazer qualquer trabalho público durante a permanência, em Jerusalém, nessa Páscoa. Ele instruiu-lhes para que ficassem perto dele e para que “vigiassem e orassem”. Jesus sabia que muitos dos seus apóstolos e mesmo seguidores imediatos, então, portavam espadas escondidas consigo, mas ele não fez menção a esse fato.

172:2.2 (1880.3) As instruções dessa manhã abrangiam um breve resumo das suas ministrações, desde o dia da ordenação de todos, perto de Cafarnaum, até esse dia em que todos se preparavam para entrar em Jerusalém. Os apóstolos ouviram em silêncio; e não fizeram perguntas.

172:2.3 (1880.4) Cedo, naquela manhã, Davi Zebedeu havia passado a Judas os fundos obtidos com a venda dos petrechos do acampamento de Pela, e Judas, por sua vez, havia colocado a maior parte desse dinheiro nas mãos de Simão, o anfitrião deles, para que o guardasse, como antecipação às demandas da entrada deles em Jerusalém.

172:2.4 (1880.5) Depois da conferência com os apóstolos, Jesus manteve uma conversa com Lázaro e instruiu-lhe que evitasse sacrificar a sua vida ao espírito de vingança do sinédrio. Em obediência a essa admoestação, poucos dias depois Lázaro fugiu para a Filadélfia, antes que os oficiais do sinédrio enviassem homens para prendê-lo.

172:2.5 (1880.6) De um certo modo, todos os seguidores de Jesus perceberam a crise iminente, mas, em vista da alegria inusitada e do bom humor excepcional do Mestre foram impedidos de compreender a seriedade dessa crise.

 

3. A Partida para Jerusalém

 

172:3.1 (1880.7) Betânia distava cerca de três quilômetros do templo e, meia hora depois da uma, naquela tarde de domingo, Jesus ficou pronto para partir rumo à Jerusalém. Tinha sentimentos de afeto profundo por Betânia e pelo seu povo simples. Nazaré, Cafarnaum e Jerusalém haviam-no rejeitado, mas Betânia o havia aceito e acreditado nele. E foi nessa pequena aldeia, onde quase todos os homens, mulheres e crianças eram crentes, que ele escolheu efetuar a obra mais poderosa da sua auto-outorga na Terra, a ressurreição de Lázaro. Jesus não ressuscitou Lázaro para que os aldeões pudessem crer, e sim porque eles já criam.

172:3.2 (1880.8) Durante toda a manhã, Jesus pensou sobre a sua entrada em Jerusalém. Até esse momento, ele havia sempre tentado impedir toda aclamação pública para si, como Messias, mas agora era diferente; aproximava-se o fim da sua carreira na carne, a sua morte havia sido decretada pelo sinédrio e nenhum mal poderia advir por ele permitir aos seus discípulos dar livre expressão aos próprios sentimentos, exatamente como poderia ocorrer se ele tivesse escolhido fazer uma entrada formal e pública na cidade.

172:3.3 (1881.1) Jesus não se decidiu por fazer essa entrada pública em Jerusalém como um último apelo ao favorecimento popular, nem como uma tentativa final de obter o poder. Nem o fez, de todo, para satisfazer às aspirações humanas dos seus discípulos e apóstolos. Jesus não abrigava nenhuma das ilusões de um sonhador fantasioso; ele sabia muito bem qual seria o desenlace dessa visita.

172:3.4 (1881.2) Tendo decidido fazer uma entrada pública em Jerusalém, o Mestre viu-se frente à necessidade de escolher um método adequado de executar essa resolução. Jesus pensou sobre todas as muitas chamadas profecias messiânicas, as mais e as menos contraditórias, mas parecia haver apenas uma que seria apropriada para ele seguir. A maior parte dessas declarações proféticas retratava o rei como um filho e sucessor de Davi, um audaz e enérgico libertador temporal de todo o Israel, do jugo do domínio estrangeiro. Mas havia uma passagem nas escrituras, algumas vezes associada ao Messias por aqueles que se atinham mais ao conceito espiritual da sua missão; e Jesus considerou que poderia utilizar coerentemente essa passagem como uma orientação para a entrada que projetava fazer em Jerusalém. Essa escritura encontra-se em Zacarias, e afirma: “Regozijai-vos grandemente, ó filha de Sion, dai gritos, ó filha de Jerusalém. Contemplai, o vosso rei vem a vós. Ele é justo e traz a salvação. Ele vem como alguém humilde, montado em um asno, em um jumento, filho de uma asna”.

172:3.5 (1881.3) Um rei guerreiro sempre entraria em uma cidade montado em um cavalo; um rei, em uma missão de paz e de amizade, sempre entraria montado em um asno. Jesus não queria entrar em Jerusalém como um homem montado em um cavalo, mas queria entrar pacificamente e com boa vontade, montado em um jumento, como o Filho do Homem.

172:3.6 (1881.4) Durante muito tempo, Jesus havia tentado, por meio de ensinamentos diretos, inculcar nos seus apóstolos e discípulos a idéia de que o seu Reino não era deste mundo, que era uma questão puramente espiritual; mas não havia conseguido êxito no seu esforço. Agora, queria tentar realizar, mediante um gesto de apelo simbólico, o que não havia alcançado por meio de um ensinamento claro e pessoal. Em vista disso, imediatamente depois do almoço, Jesus chamou Pedro e João, e, depois de ordenar-lhes que fossem a Betfagé, uma aldeia vizinha, um pouco afastada da estrada principal e a uma pequena distância a nordeste de Betânia, disse-lhes: “Ide a Betfagé e, ao chegardes ao cruzamento dos caminhos, encontrareis o jumento de uma asna, amarrado ali. Soltai o jumento e trazei-no convosco. Se alguém vos perguntar por que fazeis isso, dizei meramente: ‘O Mestre tem necessidade dele’”. E, quando os dois apóstolos foram a Betfagé, como o Mestre lhes havia instruído, eles acharam o jumento atado perto da sua mãe, no caminho aberto e perto de uma casa, em uma esquina. Quando Pedro começou a desamarrar o jumento, o seu proprietário veio e perguntou por que faziam aquilo e, quando Pedro respondeu-lhe que Jesus havia mandado que o fizesse, o homem disse: “Se o vosso Mestre é Jesus da Galiléia, que ele tenha o jumento”. E assim voltaram trazendo consigo o asno.

172:3.7 (1881.5) A essa altura, várias centenas de peregrinos haviam-se ajuntado em torno de Jesus e dos seus apóstolos. Desde o meio daquela manhã, os visitantes que passavam, a caminho da Páscoa, tinham ficado ali. Nesse meio tempo, Davi Zebedeu e alguns dos seus antigos companheiros mensageiros tomaram a si a incumbência de ir depressa a Jerusalém, onde eficazmente difundiram, entre as multidões de peregrinos visitantes nos templos, a notícia de que Jesus de Nazaré estava fazendo uma entrada triunfal na cidade. E, desse modo, vários milhares desses visitantes acudiram em massa para saudar esse profeta, autor de prodígios, de quem tanto se falava; e que alguns acreditavam ser o Messias. Essa multidão, saindo de Jerusalém, encontrou Jesus e a outra multidão que entrava na cidade, pouco depois de haver passado sobre o cume do monte das Oliveiras e começado a descida para a cidade.

172:3.8 (1882.1) Quando a procissão saiu de Betânia, havia um grande entusiasmo em meio à multidão festiva de discípulos, crentes e peregrinos visitantes; muitos procedentes da Galiléia e Peréia. Pouco antes de partirem, as doze integrantes do grupo original das mulheres, acompanhadas de alguns dos seus amigos, chegaram e juntaram-se a essa procissão única que se movia alegremente na direção da cidade.

172:3.9 (1882.2) Antes de partirem, os gêmeos Alfeus puseram os seus mantos no jumento e seguraram-no, enquanto o Mestre subia nele. À medida que a procissão movia-se para o topo do monte das Oliveiras, a multidão festiva jogava peças de roupa no chão e segurava os ramos das árvores próximas, para fazer um tapete de honra ao asno que trazia o Filho real, o Messias prometido. Enquanto a multidão feliz movia-se na direção de Jerusalém, todos começaram a cantar, ou a gritar em uníssono o salmo: “Hosana ao filho de Davi; abençoado é ele que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas. Abençoado seja o Reino que vem do céu”.

172:3.10 (1882.3) Jesus mantinha-se alegre e jovial, durante o trajeto, até chegarem ao cume do monte das Oliveiras, de onde se tinha uma visão plena das torres do templo; e o Mestre deteve ali a procissão; e um grande silêncio apoderou-se de todos, quando o viram chorando. Baixando o olhar sobre a vasta multidão que vinha da cidade para saudá-lo, o Mestre, com muita emoção e com uma voz chorosa, disse: “Ó Jerusalém, se tivesses apenas sabido, tu também, ao menos neste teu dia, as coisas que pertencem à tua paz, e que tu poderias tão livremente ter tido! Mas agora essas glórias estão a ponto de serem ocultadas dos teus olhos. Tu estás a ponto de rejeitar o Filho da paz e dar as tuas costas ao evangelho da salvação. Em breve virão os dias em que os teus inimigos abrirão uma trincheira em torno de ti e te assediarão por todos os lados; e irão destruir-te por completo, de modo que não ficará pedra sobre pedra. Tudo isso acontecerá a ti porque tu não reconheceste o momento da tua visitação divina. Estás a ponto de rejeitar a dádiva de Deus; e todos os homens te rejeitarão”.

172:3.11 (1882.4) Quando ele terminou de falar, eles começaram a descer o monte das Oliveiras e em breve a multidão de visitantes, que havia vindo de Jerusalém, juntou-se a eles, agitando no ar os ramos de palmas, gritando hosanas e expressando de outras maneiras o seu regozijo e a boa irmandade. O Mestre não havia planejado que essas multidões viessem de Jerusalém para encontrá-los; aquilo tinha sido obra de outras pessoas. Ele nunca premeditou nada que fosse ostensivo ou dramático.

172:3.12 (1882.5) Junto com a multidão, que afluía para dar as boas-vindas ao Mestre, vieram também vários dos fariseus e outros inimigos de Jesus. Estavam tão perturbados por essa súbita e inesperada explosão de aclamação popular que temeram prendê-lo, pois uma ação assim poderia precipitar uma revolta aberta da população. Eles temiam em muito a atitude do grande número de visitantes, que haviam ouvido falar bastante de Jesus e que, vários deles, acreditavam nele.

172:3.13 (1882.6) Ao aproximar-se de Jerusalém, a multidão tornou-se mais expressiva, tanto que alguns dos fariseus adiantaram-se, indo até Jesus, para dizer: “Instrutor, deverias repreender os teus discípulos e exortá-los a comportarem-se mais convenientemente”. Jesus respondeu: “Conveniente é que esses filhos dêem as suas boas-vindas ao Filho da Paz, que foi rejeitado pelos principais sacerdotes. Inútil seria pará-los, pois, no seu lugar, essas pedras ao longo da estrada começariam a gritar”.

172:3.14 (1882.7) Os fariseus apressaram-se para ir à frente da procissão e voltar ao sinédrio, que então estava reunido no templo; e eles relataram aos seus amigos: “Vede, tudo o que fazemos não serve de nada; estamos sendo confundidos por esse galileu. O povo ficou louco por causa dele; se não pararmos esses ignorantes, todo o mundo o seguirá”.

172:3.15 (1883.1) Realmente não cabia atribuir um significado mais profundo a essa explosão superficial e espontânea de entusiasmo popular. Essas boas-vindas, embora tenham sido alegres e sinceras, não indicavam qualquer convicção verdadeira ou profunda nos corações dessa multidão festiva. Essas mesmas multidões ver-se- iam igualmente dispostas a rejeitar Jesus rapidamente, mais tarde, nessa mesma semana, quando o sinédrio tivesse tomado uma posição firme e decidida contra ele, e quando eles ficassem desiludidos — quando eles entendessem que Jesus não iria estabelecer o Reino de acordo com as expectativas nutridas durante tanto tempo por eles.

172:3.16 (1883.2) Toda a cidade, contudo, via-s fortemente agitada, a um ponto em que todos perguntavam: “Quem é este homem?” E a multidão respondia: “Este é o profeta da Galiléia, Jesus de Nazaré”.

 

4. A Visita ao Templo

 

172:4.1 (1883.3) Enquanto os gêmeos Alfeus devolviam o jumento ao seu proprietário, Jesus e os dez apóstolos destacavam-se dos seus seguidores imediatos e davam uma volta pelo templo, vendo os preparativos para a Páscoa. Nenhuma tentativa foi feita para molestar Jesus, pois o sinédrio temia muito o povo; e essa era, afinal, uma das razões que Jesus tinha tido para permitir que a multidão o aclamasse assim. Os apóstolos pouco compreenderam que era essa a única forma humana de proceder, que poderia ter sido eficaz para impedir a prisão imediata de Jesus, ao entrar na cidade. O Mestre desejava dar aos habitantes de Jerusalém, aos notáveis bem como aos humildes e às dezenas de milhares de visitantes da Páscoa, mais essa última oportunidade de ouvir o evangelho e receber o Filho da paz, se assim o quisessem.

172:4.2 (1883.4) E agora, que a tarde caía e as multidões partiam em busca de alimentos, Jesus e os seus seguidores diretos foram deixados a sós. Que dia estranho havia sido aquele! Os apóstolos estavam pensativos, mas nada diziam. Nunca, em todos os anos da sua associação com Jesus, haviam presenciado um dia como aquele. Por um momento sentaram-se perto do tesouro do templo, observando o povo jogar ali as suas contribuições: os ricos pondo muito na caixa coletora e todos dando de acordo com as suas posses. Ao final chegou ali uma viúva pobre, miseravelmente vestida, e eles perceberam que ela jogara duas moedas (pequenas peças de cobre) na corneta. E então Jesus disse, chamando a atenção dos apóstolos para a viúva: “Guardai bem o que acabastes de ver. Esta pobre viúva jogou ali mais do que todos os outros, pois todos os outros puseram lá uma pequena fração do seu supérfluo, como dádiva, mas esta pobre mulher, mesmo estando em necessidade, deu tudo o que tinha, até mesmo aquilo de que necessitava”.

172:4.3 (1883.5) Enquanto a tarde caía, eles caminharam pelas praças do templo em silêncio e, após Jesus haver observado essas cenas familiares, uma vez mais, relembrando as suas emoções de visitas passadas, não se esquecendo das primeiras, ele disse: “Vamos a Betânia para descansar”. Jesus, junto com Pedro e João, foram para a casa de Simão, enquanto os outros apóstolos alojaram-se com os seus amigos em Betânia e Betfagé.

 

5. A Atitude dos Apóstolos

 

172:5.1 (1883.6) Nesse domingo à tarde, ao voltarem a Betânia, Jesus caminhou à frente dos apóstolos. Nenhuma palavra foi pronunciada até que eles separaram-se, depois de chegarem à casa de Simão. Jamais doze seres humanos experimentaram emoções tão diversas e inexplicáveis, como as que surgiam agora nas mentes e nas almas desses embaixadores do Reino. Esses robustos galileus encontravam-se confusos e desconcertados; não sabiam o que esperar, em seguida; estavam surpresos demais para sentir medo. Nada sabiam dos planos do Mestre para o dia seguinte, e não fizeram perguntas. Foram para os seus alojamentos, ainda que não dormissem muito, exceto os gêmeos. Contudo, não montaram uma guarda armada para Jesus na casa de Simão.

172:5.2 (1884.1) André estava profundamente desnorteado, quase confuso. Foi o único apóstolo que não tentou avaliar seriamente a explosão popular de aclamação. Seu pensamento estava por demais ocupado, com a responsabilidade de dirigente do corpo apostólico, para dar uma atenção mais séria ao sentido ou à significação dos altos hosanas da multidão. André estava ocupado dando atenção a alguns dos seus companheiros que, ele temia, se pudessem deixar levar pelas próprias emoções durante a agitação, particularmente Pedro, Tiago, João e Simão zelote. Durante esse dia e nos dias imediatamente seguintes, André foi dominado por sérias dúvidas, mas nunca transmitiu qualquer dessas apreensões aos seus colegas apóstolos. Encontrava-se preocupado com a atitude de alguns dentre os doze os quais ele sabia estarem armados com espadas; mas não sabia que o seu próprio irmão, Pedro, portava tal arma. E assim a procissão a Jerusalém causou uma impressão relativamente superficial sobre André; ele estava preocupado demais com as responsabilidades do seu cargo para ser afetado por outras coisas.

172:5.3 (1884.2) Simão Pedro inicialmente ficou muito impressionado com a manifestação popular de entusiasmo; no entanto ele estava consideravelmente equilibrado, no momento em que retornaram para Betânia, naquela noite. Pedro simplesmente não podia imaginar o que o Mestre pretendia fazer. Estava terrivelmente desapontado com o fato de Jesus não haver reforçado essa onda de favorecimento popular, com alguma espécie de pronunciamento. Pedro não conseguia compreender por que Jesus não falou à multidão quando eles chegaram ao templo, nem ao menos permitiu que um dos apóstolos se dirigisse à multidão. Pedro era um grande pregador, e ficava desgostoso por perder uma audiência tão grande, receptiva e entusiasta. Ele gostaria tanto de ter pregado o evangelho do Reino àquela multidão ali, na praça do templo; o Mestre, todavia, havia proibido especialmente que eles fizessem qualquer pregação ou dessem ensinamentos, enquanto estivessem em Jerusalém, nessa semana de Páscoa. A reação, à procissão espetacular, ao chegar à cidade foi desastrosa segundo Simão Pedro; à noite ele estava comportado, mas tomado por uma tristeza inexprimível.

 

172:5.4 (1884.3) Para Tiago Zebedeu, esse domingo foi um dia de perplexidade e de profundo embaraço; ele não podia captar o significado daquilo que estava acontecendo; não podia compreender o propósito do Mestre ao permitir as aclamações desvairadas e então se recusar a dizer sequer uma palavra ao povo, quando chegaram ao templo. Quando a procissão ia, monte das Oliveiras abaixo, em direção a Jerusalém, mais especificamente quando passou pelos milhares de peregrinos que afluíam para dar as boas-vindas ao Mestre, Tiago encontrava-se cruelmente dilacerado por emoções conflitantes de exaltação e de satisfação, pelo que ele viu e pelo profundo sentimento de medo quanto ao que aconteceria no momento em que chegassem ao templo. E, então, ficou abatido e dominado pelo desapontamento, quando Jesus desceu do jumento e caminhou comodamente pelas praças do templo. Tiago não podia compreender a razão para se jogar fora uma oportunidade tão magnífica de proclamar o Reino. À noite, a sua mente ficou fortemente presa nas garras de uma incerteza angustiante e horrível.

 

172:5.5 (1884.4) João Zebedeu chegou perto de compreender por que Jesus havia feito aquilo; ao menos em parte ele captava o significado espiritual dessa suposta entrada triunfal em Jerusalém. À medida que a multidão movia-se na direção do templo, e à medida que João contemplou o seu Mestre, assentado sobre o jumento, ele lembrou-se de ouvir uma certa vez Jesus citar a passagem da escritura, na declaração de Zacarias, que descrevia a vinda do Messias como um homem de paz que, montado em um asno, entrava em Jerusalém. E João, ao revirar essa escritura na sua mente, começou a compreender a significação simbólica desse cortejo de domingo à tarde. Ao menos ele captou, do significado dessa escritura, o suficiente para capacitá-lo a desfrutar do episódio de algum modo e para impedir que ficasse por demais deprimido ao final, aparentemente sem propósito, da procissão triunfal. João possuía um tipo de mente que de modo natural inclinava- se para sentir e pensar por meio de símbolos.

 

172:5.6 (1885.1) Filipe estava inteiramente transtornado pelo inesperado e pela espontaneidade daquela explosão. Ele não podia ordenar suficientemente os seus pensamentos, enquanto descia o monte das Oliveiras, a ponto de chegar a uma opinião determinada sobre o que aquela manifestação poderia significar. De um certo modo, ele desfrutou do espetáculo já que era em honra ao seu Mestre. No momento em que chegaram ao templo, ele ficou perturbado pelo pensamento de que Jesus pudesse possivelmente pedir-lhe que alimentasse a multidão, e tanto assim que a conduta de Jesus, ao afastar-se comodamente da multidão, e que desapontou tão sofridamente à maioria dos apóstolos, havia sido um grande alívio para Filipe. As multidões, algumas vezes, haviam sido uma grande provação para o administrador dos doze. Depois de aliviar-se desses medos pessoais, quanto às necessidades materiais das multidões, Filipe juntou-se a Pedro na expressão de desapontamento, por nada haver sido feito para dar ensinamentos à multidão. Naquela noite, Filipe pôs-se a refletir sobre essas experiências e foi tentado a duvidar de toda idéia do Reino; ele imaginou honestamente o que podiam significar todas essas coisas, mas não expressou as suas dúvidas a ninguém; ele amava demais a Jesus. E tinha uma grande fé pessoal no Mestre.

 

172:5.7 (1885.2) À parte os aspectos simbólicos e proféticos, Natanael chegou o mais próximo possível de compreender as razões que o Mestre tinha para angariar o apoio popular dos peregrinos da Páscoa. Ele estivera pensando, antes de chegarem ao templo, que, sem o aspecto convincente daquela entrada em Jerusalém, Jesus teria sido preso pelos oficiais do sinédrio e jogado na prisão, no momento em que se atrevesse a entrar na cidade. E, portanto, ele não estava nem um pouco surpreso de que o Mestre não fizera nenhum uso das multidões alegres, depois de penetrar paredes adentro da cidade e de ter assim impressionado tão poderosamente os líderes judeus a ponto de fazê-los absterem-se de colocá-lo imediatamente na prisão. Compreendendo a verdadeira razão pela qual o Mestre teria entrado na cidade dessa maneira, Natanael naturalmente seguiu adiante mais equilibrado e menos perturbado e desapontado, do que os outros apóstolos, pela conduta subseqüente de Jesus. Natanael depositava grande confiança no entendimento de Jesus a respeito dos homens, tanto quanto na sua sagacidade e habilidade para lidar com as situações difíceis.

 

172:5.8 (1885.3) Mateus, a princípio, esteve confuso por causa da manifestação espetacular. Ele não captou o significado daquilo que os seus olhos estavam vendo, até que também ele se lembrasse da escritura de Zacarias, em que o profeta havia aludido ao júbilo de Jerusalém, porque o seu rei viera trazer a salvação, montado em um jumento de asno. Enquanto a procissão rumava em direção à cidade, dirigindo- se logo para o templo, Mateus ficou extasiado; ele estava seguro de que algo extraordinário aconteceria, quando o Mestre chegasse ao templo, à frente dessa multidão aclamadora. Quando um dos fariseus zombou de Jesus, dizendo: “Olhai, todo mundo, vide quem vem lá; o rei dos judeus montado em um asno!”, Mateus só conseguiu não lhe pôr as mãos em cima a custo de um grande esforço. Nenhum dos doze estava mais deprimido, no caminho de volta para Betânia, naquele entardecer. Junto com Simão Pedro e Simão zelote, Mateus experimentava uma tensão nervosa a mais alta e, à noite, estava em um estado de exaustão total. Mas pela manhã Mateus ficou mais animado; afinal, ele sabia ser um bom perdedor.

 

172:5.9 (1886.1) Tomé era o homem mais desnorteado e perplexo de todos os doze. Durante a maior parte do tempo apenas limitou-se a seguir os demais, contemplando o espetáculo e perguntando-se honestamente qual poderia ser o motivo do Mestre ao participar de uma manifestação tão peculiar. No fundo do seu coração ele considerava toda a representação um pouco infantil, se não absolutamente tola. Ele nunca havia visto Jesus fazer nada semelhante e não sabia como explicar a sua estranha conduta nessa tarde de domingo. No momento em que eles chegaram ao templo, Tomé havia deduzido que o propósito dessa manifestação popular era amedrontar o sinédrio de um tal modo que não ousasse prender imediatamente o Mestre. No caminho de volta para Betânia, Tomé pensou muito, mas nada disse. Na hora de deitarem-se, a habilidade do Mestre em organizar a entrada tumultuada em Jerusalém havia começado a exercer um apelo ao seu senso de humor, e ele estava contente e aliviado por tal reação.

 

172:5.10 (1886.2) Esse domingo começou por ser um grande dia para Simão zelote. Ele teve visões de feitos maravilhosos em Jerusalém, nos próximos poucos dias, e nisso ele tinha razão, mas Simão sonhara com o estabelecimento de um novo governo nacional dos judeus, com Jesus no trono de Davi. Simão via os nacionalistas entrando em ação tão logo esse reino fosse anunciado, e ele próprio no comando supremo das forças militares reunidas do novo reino. A caminho do monte das Oliveiras, visualizou mesmo o sinédrio e todos os seus simpatizantes mortos antes do entardecer daquele dia. Acreditara realmente que algo grandioso ia acontecer. Ele havia sido o homem mais barulhento de toda a multidão. Às cinco horas daquela tarde ele era um apóstolo silencioso, abatido e desiludido. E nunca se recuperou totalmente da depressão que se estabeleceu nele, como resultado do choque desse dia; ao menos não até muito depois da ressurreição do Mestre.

 

172:5.11 (1886.3) Para os gêmeos Alfeus esse foi um dia perfeito. Eles realmente desfrutaram desse dia todo o tempo, e, não estando presentes durante o tempo da visita tranqüila ao templo, se livraram bem do anticlímax que foi o alvoroço popular. Certamente não poderiam compreender o comportamento abatido dos apóstolos, quando regressaram a Betânia naquela noite. Na memória dos gêmeos este viria a ser sempre o dia, aqui na Terra, em que eles estiveram o mais perto do céu. Esse dia havia sido o ponto mais alto de toda a sua carreira como apóstolos. E a memória da euforia dessa tarde de domingo sustentou-os durante toda a tragédia dessa semana memorável, até a hora da crucificação. Foi uma entrada a mais digna de um rei, que podia ser imaginada pelos gêmeos; e eles desfrutaram de cada momento do espetáculo. E aprovaram absolutamente tudo o que viram, conservando tudo na memória por muito tempo.

 

172:5.12 (1886.4) De todos os apóstolos, Judas Iscariotes foi o mais adversamente afetado por essa procissão de entrada em Jerusalém. A sua mente estava desagradavelmente agitada por causa da repreensão feita pelo Mestre, no dia anterior, em relação à unção realizada por Maria, na festa na casa de Simão. Judas estava desgostoso com todo o espetáculo. Parecia-lhe infantil, se não de fato ridículo. E, à medida que esse apóstolo vingativo presenciava os acontecimentos dessa tarde de domingo, para ele Jesus parecia assemelhar-se mais a um palhaço do que a um rei. Ele ressentia-se sinceramente com todo o espetáculo. E compartilhava da visão dos gregos e dos romanos, que desprezavam qualquer um que consentisse em montar num asno ou no jumento de uma mula. No momento em que a procissão triunfal entrou na cidade, Judas decidiu abandonar a idéia de um tal reino; e quase resolveu desistir de todas as absurdas tentativas de estabelecer o Reino do céu. No entanto, logo se lembrou da ressurreição de Lázaro e de muitas outras coisas, decidindo-se a ficar com os doze, ao menos por mais um dia. Além disso, levava a bolsa, e não iria desertar com os fundos apostólicos no seu poder. No caminho de volta a Betânia, naquela noite, a sua conduta não parecia estranha, já que todos os apóstolos estavam igualmente abatidos e silenciosos.

 

172:5.13 (1887.1) Judas deixou-se influenciar tremendamente pela zombaria dos seus amigos saduceus. Nenhum outro fator isolado exerceu uma influência tão poderosa sobre ele, na sua determinação final de abandonar Jesus e os companheiros apóstolos, como um certo episódio que ocorreu exatamente no momento em que Jesus chegara ao portão da cidade: um saduceu proeminente (um amigo da família de Judas) apressou-se até ele, com um espírito zombeteiro e, batendo- lhe nas costas, dissera: “Por que um rosto tão preocupado, meu bom amigo? Te anima e te junte a todos nós enquanto aclamamos a esse Jesus de Nazaré, que entra pelos portões de Jerusalém montado em um asno, como o rei dos judeus”. Judas nunca se havia retraído diante da perseguição, mas ele não podia suportar esse tipo de ridicularização. Ao seu sentimento de vingança, nutrido já há tanto tempo, somava-se agora esse medo fatal do ridículo, esse sentimento terrível e temível que é estar envergonhado do seu Mestre e dos seus companheiros apóstolos. No seu coração, esse embaixador ordenado do Reino era já um desertor; restava-lhe apenas encontrar alguma desculpa plausível para romper abertamente com o Mestre.

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