Urântia

OS DOCUMENTOS DE URÂNTIA

- A REVELAÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO -

INDICE

Documento 140

A Ordenação dos Doze

140:0.1 (1568.1) Pouco antes do meio-dia de um domingo, 12 de janeiro do ano 27 d.C., Jesus reuniu os apóstolos para a ordenação deles como pregadores públicos do evangelho do reino. Os doze estavam esperando ser chamados a qualquer dia; então nesta manhã eles não se afastaram para muito longe da costa para pescar. Vários deles permaneciam perto da costa consertando suas redes e manuseando sua parafernália de pesca.

140:0.2 (1568.2) Quando Jesus começou a descer à praia chamando os apóstolos, ele primeiro saudou André e Pedro, que estavam pescando perto da costa; em seguida, ele fez sinal para Tiago e João, que estavam num barco próximo, visitando seu pai, Zebedeu, e consertando suas redes. Dois a dois, ele congregou os outros apóstolos e, depois de reunir todos os doze, viajou com eles para as terras altas ao norte de Cafarnaum, onde passou a instruí-los em preparação para sua ordenação formal.

140:0.3 (1568.3) Pela primeira vez todos os doze apóstolos ficaram em silêncio; até Pedro estava pensativo. Finalmente a hora tão esperada havia chegado! Eles estavam se isolando com o Mestre para participar de algum tipo de cerimônia solene de consagração pessoal e dedicação coletiva ao trabalho sagrado de representar o seu Mestre na proclamação da vinda do reino de seu Pai.

 

1. Instrução Preliminar

 

140:1.1 (1568.4) Antes do serviço de ordenação formal Jesus falou aos doze enquanto estavam sentados ao seu redor: “Meus irmãos, esta hora do reino chegou. Eu os isolei aqui comigo para apresentá-los ao Pai como embaixadores do reino. Alguns de vocês me ouviram falar deste reino na sinagoga quando foram chamados pela primeira vez. Cada um de vocês aprendeu mais sobre o reino do Pai desde que vem trabalhando comigo nas cidades ao redor do Mar da Galileia. Mas agora mesmo tenho algo mais para lhes contar sobre este reino.

140:1.2 (1568.5) “O novo reino que meu Pai está prestes a estabelecer nos corações dos seus filhos terrestres será um domínio eterno. Não haverá fim deste governo de meu Pai nos corações daqueles que desejam fazer Sua vontade divina. Eu lhes declaro que meu Pai não é o Deus dos judeus ou dos gentios. Muitos virão do Oriente e do Ocidente para se sentarem conosco no reino do Pai, enquanto muitos dos filhos de Abraão se recusarão a entrar nesta nova irmandade do governo do espírito do Pai nos corações dos filhos dos homens.

140:1.3 (1568.6) “O poder deste reino consistirá, não na força dos exércitos nem no poder das riquezas, mas antes na glória do espírito divino que virá para ensinar as mentes e governar os corações dos cidadãos renascidos deste reino celestial, os filhos de Deus. Esta é a irmandade do amor onde reina a retidão e cujo grito de batalha será: paz na Terra e boa vontade para todos os homens. Este reino, que em breve vocês sairão proclamando, é o desejo dos homens bons de todas as épocas, a esperança de toda a Terra e o cumprimento das sábias promessas de todos os profetas.

140:1.4 (1569.1) “Mas para vocês, meus filhos, e para todos os outros que quiserem segui-los neste reino, está posto um teste severo. Basta a fé para fazê-los passar através de seus portais, mas vocês têm que produzir os frutos do espírito de meu Pai se quiserem continuar a ascender na vida progressiva da comunhão divina. Em verdade, em verdade vos digo que nem todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino do céu; mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no céu.

140:1.5 (1569.2) “A sua mensagem para o mundo será: busquem primeiro o reino de Deus e a sua retidão e, ao encontrá-los, todas as outras coisas essenciais à sobrevivência eterna serão asseguradas com isso. E agora gostaria de deixar claro para vocês que este reino de meu Pai não virá com uma demonstração externa de poder ou com uma demonstração imprópria. Vocês não devem sair daqui na proclamação do reino, dizendo: ‘ele está aqui’ ou ‘ele está acolá’, pois este reino sobre o qual vocês pregam é Deus dentro de vocês.

140:1.6 (1569.3) “Todo aquele que quiser tornar-se grande no reino de meu Pai, tornar-se-á um ministrador para todos; e quem quiser ser o primeiro entre vocês, torne-se servidor de seus irmãos. Mas quando forem verdadeiramente recebidos como cidadãos no reino celestial, vocês não são mais servos, mas filhos, filhos do Deus vivo. E assim este reino progredirá no mundo até derrubar todas as barreiras e levar todos os homens a conhecer meu Pai e a acreditar na verdade salvadora que vim declarar. Mesmo agora o reino está próximo, e alguns de vocês não morrerão até que vejam o reinado de Deus chegar com grande poder.

140:1.7 (1569.4) “E isto que os seus olhos agora contemplam, este pequeno começo de doze homens comuns, se multiplicará e crescerá até que finalmente a Terra inteira seja preenchida com o louvor ao meu Pai. E não será tanto pelas palavras que vocês falarem, mas pelas vidas que vocês viverem, que os homens saberão que vocês estiveram comigo e aprenderam sobre as realidades do reino. E embora eu não coloque nenhum fardo pesado sobre suas mentes, estou prestes a colocar sobre suas almas a solene responsabilidade de me representarem no mundo quando eu então os deixar, assim como agora represento meu Pai nesta vida que estou vivendo na carne.” E quando terminou de falar, ele se levantou.

 

2. A Ordenação

 

140:2.1 (1569.5) Jesus instruiu então os doze mortais que tinham acabado de ouvir a sua declaração a respeito do reino a se ajoelharem em círculo ao redor dele. Então o Mestre colocou as mãos sobre a cabeça de cada apóstolo, começando por Judas Iscariotes e terminando com André. Depois de abençoá-los, estendeu as mãos e orou:

140:2.2 (1569.6) “Meu Pai, Lhe trago agora estes homens, meus mensageiros. Dentre nossos filhos na Terra, escolhi estes doze para me representarem assim como eu vim para Lhe representar. Ame-os e esteja com eles como Você me amou e esteve comigo. E agora, meu Pai, dê sabedoria a estes homens enquanto eu coloco todos os assuntos do reino vindouro nas mãos deles. E eu gostaria, se for da Sua vontade, de permanecer na Terra por um tempo para ajudá-los em seus trabalhos pelo reino. E mais uma vez, meu Pai, Lhe agradeço por estes homens e entrego-os à Sua guarda enquanto prossigo para terminar o trabalho que Você me deu para fazer.”

140:2.3 (1570.1) Quando Jesus terminou de orar, os apóstolos permaneceram com cada um inclinado em seu lugar. E passaram-se muitos minutos até que Pedro ousasse erguer os olhos para olhar para o Mestre. Um por um, eles abraçaram Jesus, mas ninguém disse nada. Um grande silêncio permeou o local enquanto uma multidão de seres celestiais contemplava esta cena solene e sagrada – o Criador de um universo colocando os assuntos da irmandade divina do homem sob a direção das mentes humanas.

 

3. O Sermão da Ordenação

 

140:3.1 (1570.2) Então Jesus falou, dizendo: “Agora que vocês são embaixadores do reino de meu Pai, se tornaram assim uma classe de homens separada e distinta de todos os outros homens na Terra. Vocês não são agora homens entre homens, mas cidadãos iluminados de outro país celestial entre as criaturas ignorantes deste mundo sombrio. Não é suficiente que vocês vivam como viviam antes desta hora, mas doravante vocês têm que viver como aqueles que degustaram as glórias de uma vida melhor e foram enviados de volta à Terra como embaixadores do Soberano desse mundo novo e melhor. Espera-se mais do professor do que do aluno; é exigido mais do senhor do que do servo. Dos cidadãos do reino celestial é exigido mais do que dos cidadãos do governo terreno. Algumas das coisas que estou prestes a dizer-lhes podem parecer difíceis, mas vocês escolheram me representar no mundo, assim como eu agora represento o Pai; e como meus agentes na Terra, vocês serão obrigados a obedecer àqueles ensinamentos e práticas que refletem meus ideais de vida mortal nos mundos do espaço, e que exemplifico em minha vida terrena de revelar o Pai que está no céu.

140:3.2 (1570.3) “Eu os envio para proclamar liberdade aos cativos espirituais, alegria para aqueles que estão escravizados pelo medo, e para curar os enfermos, de acordo com a vontade de meu Pai no céu. Quando vocês encontrarem meus filhos em perigo, falem com eles de forma encorajadora, dizendo:

140:3.3 (1570.4) “Felizes os pobres em espírito, os humildes, porque deles são os tesouros do reino do céu.

140:3.4 (1570.5) “Felizes aqueles que têm fome e sede de retidão, porque serão saciados.

140:3.5 (1570.6) “Felizes os mansos, porque eles herdarão a Terra.

140:3.6 (1570.7) “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.

140:3.7 (1570.8) “E mesmo assim, falem aos meus filhos estas palavras adicionais de conforto e promessa espiritual:

140:3.8 (1570.9) “Felizes os que lamentam, porque serão consolados. Felizes os que choram, porque receberão o espírito de alegria.

140:3.9 (1570.10) “Felizes os misericordiosos, porque eles obterão misericórdia.

140:3.10 (1570.11) “Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.

140:3.11 (1570.12) “Felizes aqueles que são perseguidos por causa da retidão, porque deles é o reino do céu. Felizes serão vocês quando os homens lhes injuriarem e perseguirem e disserem falsamente todo tipo de mal contra vocês. Alegrem-se e exultem muito, pois grande é a sua recompensa no céu.

140:3.12 (1570.13) “Meus irmãos, ao enviá-los, vocês são o sal da Terra, sal com sabor salvador. Mas se este sal perder o sabor, com que se salgará? Doravante, não serve para nada, a não ser para ser lançado fora e pisado pelos homens.

140:3.13 (1570.14) “Vocês são a luz do mundo. Uma cidade situada sobre uma colina não pode ser escondida. Nem os homens acendem uma vela e a colocam debaixo de um cesto, mas num castiçal; e dá luz a todos os que estão na casa. Deixem sua luz brilhar tanto diante dos homens que eles possam ver suas boas obras e serem levados a glorificar seu Pai que está no céu.

140:3.14 (1571.1) “Estou enviando vocês ao mundo para me representarem e para agirem como embaixadores do reino de meu Pai e, ao saírem para proclamar as boas novas, depositem a sua confiança no Pai, de Quem vocês são mensageiros. Não resistam à injustiça pela força; não coloquem sua confiança no braço da carne. Se o seu próximo lhes bater na face direita, ofereçam-lhe também a outra. Estejam dispostos a sofrer injustiças em vez de recorrerem à justiça entre si. Com bondade e misericórdia, ministrem a todos os que estão em agonia e necessitados.

140:3.15 (1571.2) “Eu lhes digo: amem os seus inimigos, façam o bem àqueles que os odeiam, abençoem aqueles que os amaldiçoam e orem por aqueles que os usam maldosamente. E tudo o que vocês acreditam que eu faria aos homens, façam vocês também a eles.

140:3.16 (1571.3) “Seu Pai que está no céu faz com que o sol brilhe tanto sobre os maus como sobre os bons; da mesma forma, ele envia chuva sobre justos e injustos. Vocês são filhos de Deus; ainda mais, vocês são agora os embaixadores do reino de meu Pai. Sejam misericordiosos, assim como Deus é misericordioso, e no futuro eterno do reino vocês serão perfeitos, assim como seu Pai celestial é perfeito.

140:3.17 (1571.4) “Vocês estão incumbidos de salvar homens, não de julgá-los. No final da sua vida terrena, todos vocês esperarão misericórdia; portanto, exijo de vocês, durante sua vida mortal, que demonstrem misericórdia para com todos os seus irmãos na carne. Não cometam o erro de tentar arrancar um cisco do olho do seu irmão quando há uma trave no seu próprio olho. Tendo primeiro tirado a trave do seu próprio olho, vocês poderão ver melhor para tirar o cisco do olho do seu irmão.

140:3.18 (1571.5) “Discirnam claramente a verdade; vivam uma vida reta destemidamente; e assim vocês serão meus apóstolos e embaixadores de meu Pai. Vocês ouviram o que foi dito: ‘Se um cego guia outro cego, ambos cairão na cova’. Se quiserem guiar outros para o reino, vocês mesmos têm que andar na clara luz da verdade viva. Em todos os assuntos do reino os exorto a mostrar julgamento justo e sabedoria aguçada. Não apresentem aos cães o que é sagrado, nem lancem as suas pérolas aos porcos, para que não pisem as suas joias e se voltem para os despedaçar.

140:3.19 (1571.6) “Eu os advirto contra os falsos profetas que virão até vocês em pele de ovelhas, embora por dentro sejam como lobos devoradores. Pelos seus frutos vocês os conhecerão. Os homens colhem uvas dos espinheiros ou figos dos cardos? Mesmo assim, toda árvore boa produz bons frutos, mas a árvore corrupta produz frutos malévolos. Uma árvore boa não pode produzir frutos malévolos, nem uma árvore corrupta pode produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é então cortada e lançada no fogo. Para conseguir entrar no reino dos céus, é o motivo que conta. Meu Pai olha para o coração dos homens e julga pelos seus anseios interiores e pelas suas intenções sinceras.

140:3.20 (1571.7) “No grande dia do julgamento do reino, muitos me dirão: ‘Não profetizamos em teu nome e em teu nome não fizemos muitas obras maravilhosas?’ Mas serei compelido a dizer-lhes: ‘Eu nunca os conheci; apartem-se de mim, vocês que são falsos instrutores’. Mas todo aquele que ouvir esta acusação e sinceramente executar sua comissão de me representar diante dos homens, assim como eu representei meu Pai para vocês, encontrará uma entrada abundante em meu serviço e no reino do Pai celestial.”

140:3.21 (1571.8) Nunca antes os apóstolos tinham ouvido Jesus falar desta maneira, pois ele havia falado com eles como alguém que possui autoridade suprema. Eles desceram da montanha por volta do pôr do sol, mas ninguém fez nenhuma pergunta a Jesus.

 

4. Vocês São o Sal da Terra

 

140:4.1 (1572.1) O chamado “Sermão da Montanha” não é o evangelho de Jesus. Ele de fato contém muitas instruções úteis, mas foi a incumbência de ordenação de Jesus aos doze apóstolos. Foi a comissão pessoal do Mestre para aqueles que deveriam continuar pregando o evangelho e aspirando a representá-lo no mundo dos homens, exatamente como ele foi tão eloquente e perfeitamente representante de seu Pai.

140:4.2 (1572.2) “Vocês são o sal da Terra, sal com sabor salvador. Mas se este sal perder o sabor, com que se salgará? Doravante, não serve para nada, a não ser para ser lançado fora e pisado pelos homens.”

140:4.3 (1572.3) Na época de Jesus o sal era precioso. Era até usado como dinheiro. A palavra moderna “salário” é derivada de sal. O sal não apenas dá sabor aos alimentos, mas também é um conservante. Torna outras coisas mais saborosas e, portanto, serve para ser gasto.

140:4.4 (1572.4) “Vocês são a luz do mundo. Uma cidade situada sobre uma colina não pode ser escondida. Nem os homens acendem uma vela e a colocam debaixo de um cesto, mas num castiçal; e dá luz a todos os que estão na casa. Deixem sua luz brilhar tanto diante dos homens que eles possam ver suas boas obras e serem levados a glorificar seu Pai que está no céu.”

140:4.5 (1572.5) Embora a luz dissipe as trevas, ela também pode ser tão “cegante” que pode confundir e frustrar. Somos admoestados a deixar nossa luz brilhar tanto que nossos companheiros serão guiados por caminhos novos e piedosos de vida aprimorada. Nossa luz deve brilhar de tal maneira que não atraia atenção para nós mesmos. Até a própria vocação pode ser utilizada como um “refletor” eficaz para a difusão desta luz de vida.

140:4.6 (1572.6) Caracteres fortes não derivam de não fazer o que é errado, mas sim de realmente fazer o que é certo. O altruísmo é a marca da grandeza humana. Os níveis mais elevados de autorrealização são alcançados por adoração e serviço. A pessoa feliz e eficaz é motivada, não pelo medo de fazer o que é errado, mas pelo amor de fazer o que é certo.

140:4.7 (1572.7) “Pelos seus frutos os conhecereis.” A personalidade é basicamente imutável; aquilo que muda – cresce – é o caráter moral. O maior erro das religiões modernas é o negativismo. A árvore que não dá fruto é “cortada e lançada no fogo”. O valor moral não pode ser derivado da mera repressão – obedecendo à ordem “Não farás”. O medo e a vergonha são motivações indignas para a vida religiosa. A religião só é válida quando revela a paternidade de Deus e aprimora a fraternidade dos homens.

140:4.8 (1572.8) Uma filosofia de vida eficaz é formada por uma combinação do discernimento cósmico e da totalidade das reações emocionais da pessoa ao ambiente social e econômico. Lembrem-se: embora os impulsos herdados não possam ser fundamentalmente modificados, as respostas emocionais a tais impulsos podem ser alteradas; portanto, a natureza moral pode ser modificada, o caráter pode ser melhorado. No caráter forte as respostas emocionais são integradas e coordenadas e, assim, produz-se uma personalidade unificada. A unificação deficiente enfraquece a natureza moral e gera infelicidade.

140:4.9 (1572.9) Sem uma meta digna, a vida torna-se sem propósito e inútil, e o resultado é de muita infelicidade. O discurso de Jesus na ordenação dos doze constitui uma filosofia de vida magistral. Jesus exortou seus seguidores a exercerem fé experiencial. Ele os advertiu a não dependerem de mero consentimento intelectual, credulidade e autoridade estabelecida.

140:4.10 (1573.1) A educação deveria ser uma técnica de aprendizagem (descoberta) dos melhores métodos de gratificação dos nossos impulsos naturais e herdados, e a felicidade é o resultado total destas técnicas aprimoradas de satisfações emocionais. A felicidade depende pouco do ambiente, embora ambientes agradáveis possam contribuir grandemente para isso.

140:4.11 (1573.2) Todo mortal realmente anseia por ser uma pessoa completa, por ser perfeito assim como o Pai no céu é perfeito, e tal realização é possível porque, em última análise, o “universo é verdadeiramente paternal”.

 

5. Amor Paternal e Fraternal

 

140:5.1 (1573.3) Desde o Sermão da Montanha até o discurso da Última Ceia, Jesus ensinou os seus seguidores a manifestarem o amor paternal em vez do amor fraternal. O amor fraternal amaria o próximo como vocês amam a si mesmos, e isso seria o cumprimento adequado da “regra de ouro”. Mas a afeição paternal exigiria que vocês amassem seus semelhantes como Jesus ama vocês.

140:5.2 (1573.4) Jesus ama a humanidade com uma afeição dupla. Ele viveu na Terra como uma personalidade dual – humana e divina. Como Filho de Deus, ele ama o homem com um amor paternal – ele é o Criador do homem, o seu Pai no universo. Como Filho do Homem, Jesus ama os mortais como um irmão – ele era verdadeiramente um homem entre os homens.

140:5.3 (1573.5) Jesus não esperava que os seus seguidores conseguissem uma manifestação impossível de amor fraternal, mas esperava que eles se esforçassem tanto para serem como Deus – para serem perfeitos assim como o Pai no céu é perfeito – que pudessem começar a olhar para o homem como Deus olha para as suas criaturas e, portanto, pudessem começar a amar os homens como Deus os ama – demonstrar o início de uma afeição paternal. No decorrer destas exortações aos doze apóstolos, Jesus procurou revelar este novo conceito de amor paternal visto que está relacionado com certas atitudes emocionais envolvidas em fazer numerosos ajustes sociais ambientais.

140:5.4 (1573.6) O Mestre introduziu este memorável discurso chamando a atenção para quatro atitudes de  como o prelúdio para o retrato subsequente das suas quatro reações transcendentes e supremas de amor paternal em contraste com as limitações do mero amor fraternal.

140:5.5 (1573.7) Ele primeiro falou sobre aqueles que eram pobres em espírito, tinham fome de retidão, persistiam na mansidão e eram puros de coração. Seria de se esperar que tais mortais com discernimento do espírito atingissem níveis de altruísmo divino tais que fossem capazes de tentar o incrível exercício da afeição paternal; que mesmo enquanto queixosos eles seriam capacitados para mostrar misericórdia, promover a paz e suportar perseguições e, durante todas estas situações de prova, amar até mesmo a desagradável humanidade com um amor paternal. A afeição de um pai pode atingir níveis de devoção que transcendem incomensuravelmente a afeição de um irmão.

140:5.6 (1573.8) A fé e o amor destas bem-aventuranças fortalecem o caráter moral e criam a felicidade. O medo e a raiva enfraquecem o caráter e destroem a felicidade. Este sermão memorável começou com a nota da felicidade.

140:5.7 (1573.9) 1. “Felizes são os pobres em espírito – os humildes.” Para uma criança, a felicidade é a satisfação do desejo de prazer imediato. O adulto está disposto a semear sementes de abnegação para colher colheitas posteriores de felicidade incrementada. Nos tempos de Jesus e desde então, a felicidade tem sido frequentemente associada à ideia de posse de riqueza. Na história do fariseu e do publicano orando no templo, aquele se sentia rico em espírito – egotista; o outro sentia-se “pobre em espírito” – humilde. Um era autossuficiente; o outro era ensinável e buscava a verdade. Os pobres em espírito buscam metas de riqueza espiritual – para Deus. E tais buscadores da verdade não precisam esperar por recompensas num futuro distante; eles são recompensados agora. Eles encontram o reino do céu dentro de seus próprios corações e experimentam tal felicidade agora.

140:5.8 (1574.1) 2. “Felizes aqueles que têm fome e sede de retidão, porque serão saciados.” Somente aqueles que se sentem pobres em espírito terão fome de retidão. Somente os humildes buscam a força divina e anseiam pelo poder espiritual. Mas é extremamente perigoso envolver-se conscientemente no jejum espiritual a fim de melhorar o apetite por dons espirituais. O jejum físico torna-se perigoso depois de quatro ou cinco dias; a pessoa pode perder todo o desejo por comida. O jejum prolongado, seja físico ou espiritual, tende a destruir a fome.

140:5.9 (1574.2) A retidão experiencial é um prazer, não um dever. A retidão de Jesus é um amor dinâmico – afeição paternal e fraternal. Não é o tipo de retidão negativa ou do tipo “não faça”. Como alguém poderia ter fome de algo negativo – algo “para não fazer”?

140:5.10 (1574.3) Não é tão fácil ensinar à mente de uma criança estas duas primeiras bem-aventuranças, mas a mente madura deveria compreender o seu significado.

140:5.11 (1574.4) 3. “Felizes os mansos, porque eles herdarão a Terra.” A mansidão genuína não tem relação com o medo. É antes uma atitude do homem cooperando com Deus – “seja feita a Sua vontade”. Ela abrange paciência e tolerância e é motivada por uma fé inabalável num universo legal e amigável. Ela domina todas as tentações de se rebelar contra o guiamento divino. Jesus foi o homem manso ideal de Urântia e herdou um vasto universo.

140:5.12 (1574.5) 4. “Felizes os puros de coração, porque eles verão a Deus.” A pureza espiritual não é uma qualidade negativa, exceto que de fato carece de desconfiança e vingança. Ao discutir a pureza, Jesus não pretendia tratar exclusivamente das atitudes sexuais humanas. Ele se referia mais à fé que o homem deveria ter em seu próximo; aquela fé que um pai tem em seu filho e que lhe permite amar seus semelhantes assim como um pai os amaria. O amor de um pai não precisa mimar e não tolera o mal, mas é sempre anticínico. O amor paternal tem unicidade de propósito e sempre busca o melhor no homem; essa é a atitude de um verdadeiro progenitor.

140:5.13 (1574.6) Ver Deus – pela fé – significa adquirir o verdadeiro discernimento espiritual. E o discernimento espiritual aprimora o guiamento do Ajustador e no final incrementa a consciência de Deus. E quando vocês conhecem o Pai, são confirmados na certeza da filiação divina, e podem amar cada vez mais cada um dos seus irmãos na carne, não só como irmão – com amor fraternal – mas também como pai – com afeto paternal.

140:5.14 (1574.7) É fácil ensinar esta advertência até mesmo a uma criança. As crianças são naturalmente confiantes e os pais devem cuidar para que não percam essa fé simples. Ao lidar com crianças, evite todo engano e evite sugerir desconfiança. Ajude-os sabiamente a escolher seus heróis e selecionar o trabalho de sua vida.

140:5.15 (1574.8) E então Jesus passou a instruir os seus seguidores na realização do propósito principal de toda luta humana – a perfeição – até mesmo a realização divina. Ele sempre os admoestava: “Sejam perfeitos, assim como é perfeito o seu Pai que está no céu”. Ele não exortou os doze a amarem seus próximos como amavam a si mesmos. Essa teria sido uma conquista digna; teria indicado a conquista do amor fraternal. Em vez disso, ele admoestou seus apóstolos a amarem os homens como ele os amou – a amarem com afeição paternal e também fraternal. E ilustrou isso apontando quatro reações supremas do amor paternal:

140:5.16 (1575.1) 1. “Felizes os que lamentam, porque serão consolados.” O chamado bom senso ou o melhor da lógica nunca sugeririam que a felicidade pudesse ser derivada da lamentação. Mas Jesus não se referiu à lamentação exterior ou ostensiva. Ele aludiu a uma atitude emocional de ternura do coração. É um grande erro ensinar aos meninos e rapazes que não é masculino demonstrar ternura ou dar evidência de sentimentos emocionais ou sofrimento físico. A compaixão é um atributo digno tanto do homem quanto da mulher. Não é necessário ser duro para ser viril. Esta é a maneira errada de criar homens corajosos. Os grandes homens do mundo não tiveram medo de lamentar. Moisés, o lamentador, era um homem maior que Sansão ou Golias. Moisés foi um líder magnífico, mas também um homem de mansidão. Ser sensível e receptivo à necessidade humana cria uma felicidade genuína e duradoura, enquanto tais atitudes bondosas protegem a alma das influências destrutivas da raiva, do ódio e da desconfiança.

140:5.17 (1575.2) 2. “Felizes os misericordiosos, porque eles obterão misericórdia.” Misericórdia aqui denota a altura, a profundidade e a amplitude da amizade mais verdadeira – a bondade amorosa. A misericórdia às vezes pode ser passiva, mas aqui é ativa e dinâmica – a paternidade suprema. Um pai amoroso tem pouca dificuldade em perdoar seu filho, mesmo muitas vezes. E numa criança não mimada, o desejo de aliviar o sofrimento é natural. As crianças são normalmente gentis e compassivas quando têm idade suficiente para apreciar as condições reais.

140:5.18 (1575.3) 3. “Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” Os ouvintes de Jesus ansiavam por uma libertação militar, não por pacificadores. Mas a paz de Jesus não é do tipo pacífico e negativo. Diante das provações e perseguições, ele disse: “Deixo-lhes a minha paz”. “Não se turbe seu coração, nem tenham medo.” Esta é a paz que evita conflitos ruinosos. A paz pessoal integra a personalidade. A paz social evita o medo, a cobiça e a raiva. A paz política evita antagonismos raciais, desconfianças nacionais e guerra. A pacificação é a cura da desconfiança e da suspeita.

140:5.19 (1575.4) As crianças podem facilmente ser ensinadas a funcionar como pacificadoras. Gostam de atividades em equipe; gostam de brincar juntas. Disse o Mestre em outra ocasião: “Quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida, a encontrará”.

140:5.20 (1575.5) 4. “Felizes aqueles que são perseguidos por causa da retidão, porque deles é o reino do céu. Felizes serão vocês quando os homens lhes injuriarem e perseguirem e disserem falsamente todo tipo de mal contra vocês. Alegrem-se e exultem muito, pois grande é a sua recompensa no céu.”

140:5.21 (1575.6) Tantas vezes a perseguição de fato segue a paz. Mas os jovens e os adultos valentes nunca evitam as dificuldades ou o perigo. “Ninguém tem maior amor do que dar a vida pelos seus amigos”. E um amor paternal pode fazer livremente todas estas coisas – coisas que o amor fraternal dificilmente consegue abranger. E o progresso sempre foi a colheita final da perseguição.

140:5.22 (1575.7) As crianças sempre respondem ao desafio da coragem. Os jovens estão sempre dispostos a “ousar”. E toda criança deveria aprender desde cedo a se sacrificar.

140:5.23 (1575.8) E assim é revelado que as bem-aventuranças do Sermão da Montanha baseiam-se na fé e no amor, e não na lei – ética e dever.

140:5.24 (1575.9) O amor paternal deleita-se em retribuir o mal com o bem – fazer o bem em retaliação pela injustiça.

 

6. A Noite da Ordenação

 

140:6.1 (1576.1) Domingo à noite, ao chegarem à casa de Zebedeu vindos das terras altas ao norte de Cafarnaum, Jesus e os doze compartilharam uma refeição simples. Depois, enquanto Jesus passeava pela praia, os doze conversaram entre si. Depois de uma breve conferência, enquanto os gêmeos acendiam uma pequena fogueira para aquecê-los e dar mais luz, André saiu em busca de Jesus e, quando o alcançou, disse: “Mestre, meus irmãos não conseguem compreender o que você disse sobre o reino. Não nos sentimos capazes de começar este trabalho antes que você nos dê mais instruções. Vim pedir-lhe que se junte a nós no jardim e nos ajude a compreender o significado das suas palavras”. E Jesus foi com André ao encontro dos apóstolos.

140:6.2 (1576.2) Quando entrou no jardim, reuniu os apóstolos ao seu redor e ensinou-os ainda mais, dizendo: “Vocês acham difícil receber a minha mensagem porque vocês construiriam o novo ensinamento diretamente em cima do antigo, mas eu declaro que vocês têm que renascer. Vocês têm que começar de novo como criancinhas e estar dispostos a confiar no meu ensinamento e acreditar em Deus. O novo evangelho do reino não pode ser conformado ao que existe. Vocês têm ideias erradas sobre o Filho do Homem e sua missão na Terra. Mas não cometam o erro de pensar que vim deixar de lado a lei e os profetas; não vim para destruir, mas para cumprir, para ampliar e iluminar. Não venho para transgredir a lei, mas sim para escrever estes novos mandamentos nas tábuas dos seus corações.

140:6.3 (1576.3) “Exijo de vocês uma retidão que exceda a retidão daqueles que procuram obter o favorecimento do Pai por meio da esmola, da prece e do jejum. Se quiserem entrar no reino, vocês têm que ter uma retidão que consiste em amor, misericórdia e verdade – o desejo sincero de fazer a vontade de meu Pai que está nos céus”.

140:6.4 (1576.4) Então disse Simão Pedro: “Mestre, se você tiver um novo mandamento, nós o ouviremos. Revele o novo caminho para nós”. Jesus respondeu a Pedro: “Vocês ouviram o que foi dito pelos que ensinam a lei: ‘Não matarás; pois todo aquele que matar estará sujeito a julgamento’. Mas eu olho além do ato para descobrir o motivo. Declaro-lhes que todo aquele que está zangado com o seu irmão corre o risco de ser condenado. Aquele que nutre o ódio no coração e planeja a vingança na mente corre o risco de ser julgado. Vocês têm que julgar seus companheiros pelas ações deles; o Pai no céu julga pela intenção.

140:6.5 (1576.5) “Vocês ouviram os professores da lei dizerem: ‘Não cometerás adultério’. Mas eu lhes digo que todo homem que olhar para uma mulher com a intenção de cobiçá-la já cometeu adultério com ela em seu coração. Vocês só podem julgar os homens pelos seus atos, mas meu Pai olha para o coração de seus filhos e em misericórdia os julga de acordo com suas intenções e desejos reais”.

140:6.6 (1576.6) Jesus estava pensando em continuar discutindo os outros mandamentos quando Tiago Zebedeu o interrompeu, perguntando: “Mestre, o que devemos ensinar ao povo a respeito do divórcio? Permitiremos que um homem se divorcie de sua esposa como Moisés ordenou?” E quando Jesus ouviu esta pergunta disse: “Não vim para legislar, mas para esclarecer. Não vim para reformar os reinos deste mundo, mas sim para estabelecer o reino do céu. Não é da vontade do Pai que eu ceda à tentação de ensinar-lhes regras de governo, comércio ou comportamento social, que, embora possam ser boas para hoje, estariam longe de ser adequadas para a sociedade de outra época. Estou na Terra apenas para confortar as mentes, libertar os espíritos e salvar as almas dos homens. Mas direi, com relação a esta questão do divórcio, que, embora Moisés considerasse tais coisas com favor, não era assim nos dias de Adão e no Jardim”.

140:6.7 (1577.1) Depois de os apóstolos terem conversado entre si por um curto período de tempo, Jesus prosseguiu dizendo: “Têm sempre que reconhecer os dois pontos de vista de toda conduta mortal – o humano e o divino; os caminhos da carne e os caminhos do espírito; a estimativa do tempo e o ponto de vista da eternidade”. E embora os doze não pudessem compreender tudo o que ele lhes ensinou, foram verdadeiramente ajudados por esta instrução.

140:6.8 (1577.2) E então Jesus disse: “Mas vocês tropeçarão no meu ensinamento porque estão acostumados a interpretar a minha mensagem literalmente; vocês são lentos para discernir o espírito do meu ensinamento. Mais uma vez vocês têm que se lembrar de que são meus mensageiros; vocês estão obrigados a viver suas vidas como eu vivi a minha em espírito. Vocês são meus representantes pessoais; mas não errem ao esperar que todos os homens vivam como vocês em todos os aspectos. Vocês também têm que se lembrar de que tenho ovelhas que não são deste rebanho e que também estou em dívida com elas, a fim de ter que fornecer-lhes o padrão de fazer a vontade de Deus enquanto vivo a vida da natureza mortal”.

140:6.9 (1577.3) Então Natanael perguntou: “Mestre, não daremos lugar à justiça? A lei de Moisés diz: ‘Olho por olho e dente por dente’. O que diremos?” E Jesus respondeu: “Vocês retribuirão o mal com o bem. Meus mensageiros não podem lutar com os homens, mas devem ser gentis com todos. Medida por medida não será sua regra. Os governantes dos homens podem ter tais leis, mas não é assim no reino; a misericórdia sempre determinará seus julgamentos e o amor a sua conduta. E se estes ditados forem difíceis, vocês podem recuar ainda agora. Se vocês acham os requisitos do apostolado árduos demais, poderão retornar ao caminho menos rigoroso do discipulado”.

140:6.10 (1577.4) Ao ouvirem estas palavras surpreendentes, os apóstolos se separaram por um tempo, mas logo retornaram, e Pedro disse: “Mestre, gostaríamos de prosseguir com você; nenhum de nós recuaria. Estamos plenamente preparados para pagar o preço adicional; beberemos o cálice. Gostaríamos de ser apóstolos, não apenas discípulos”.

140:6.11 (1577.5) Quando Jesus ouviu isto disse: “Estejam dispostos, então, a assumirem as suas responsabilidades e a seguir-me. Façam suas boas ações em segredo; quando derem esmola, não deixem a mão esquerda saber o que faz a direita. E quando orarem, recolham-se e não usem repetições vãs e frases sem sentido. Lembrem-se sempre de que o Pai sabe do que vocês precisam antes mesmo de pedirem. E não sejam dados a jejuar com um semblante triste para ser visto pelos homens. Como meus apóstolos escolhidos, agora destacados para o serviço do reino, não acumulem para si mesmos tesouros na Terra, mas por meio de seu serviço altruísta ajuntem para si mesmos tesouros no céu, pois onde estiverem seus tesouros, aí estarão também seus corações.

140:6.12 (1577.6) “A lâmpada do corpo é o olho; se, portanto, o seu olho for generoso, o seu corpo inteiro estará cheio de luz. Mas se o seu olho for egoísta, o corpo inteiro ficará cheio de trevas. Se a própria luz que está em você se transformar em trevas, quão grandes serão essas trevas!”

140:6.13 (1577.7) E então Tomé perguntou a Jesus se eles deveriam “continuar a ter tudo em comum”. Disse o Mestre: “Sim, meus irmãos, gostaria que vivêssemos juntos como uma família compreensiva. Vocês foram incumbidos de um grandioso trabalho e anseio por seu serviço integral. Vocês sabem que foi dito acertadamente: ‘Nenhum homem pode servir a dois senhores’. Vocês não podem adorar a Deus com sinceridade e, ao mesmo tempo, servir a Mamom de todo o coração. Tendo agora se alistado sem reservas na obra do reino, não fiquem ansiosos por suas vidas; muito menos se preocupem com o que comerão ou com o que beberão; nem ainda quanto aos seus corpos, que roupa usarão. Vocês já aprenderam que mãos dispostas e corações sinceros não passarão fome. E agora, quando vocês se preparam para dedicar todas as suas energias ao trabalho do reino, tenham certeza de que o Pai não se esquecerá de suas necessidades. Busquem primeiro o reino de Deus, e quando encontrarem entrada nele, todas as coisas necessárias lhes serão acrescentadas. Não fiquem, portanto, indevidamente ansiosos pelo amanhã. A cada dia basta o seu trabalho”.

140:6.14 (1578.1) Quando Jesus viu que eles estavam dispostos a ficar acordados a noite toda para fazer perguntas, ele lhes disse: “Meus irmãos, vocês são vasos de barro; é melhor descansarem para estarem prontos para o trabalho de amanhã”. Mas o sono havia desaparecido de seus olhos. Pedro aventurou-se a pedir ao seu Mestre: “Posso ter apenas uma pequena conversa particular com você? Não que eu queira guardar segredos de meus irmãos, mas estou com o espírito angustiado e, se por acaso merecesse uma repreensão de meu Mestre, seria melhor suportá-la sozinho com você”. E Jesus disse: “Venha comigo, Pedro” – indo adiante para dentro de casa. Quando Pedro voltou da presença de seu Mestre muito animado e grandemente encorajado, Tiago decidiu entrar para conversar com Jesus. E assim por diante, durante as primeiras horas da madrugada, os outros apóstolos entraram um por um para conversar com o Mestre. Depois de todos terem conversado pessoalmente com ele, exceto os gêmeos, que haviam adormecido, André foi até Jesus e disse: “Mestre, os gêmeos adormeceram no jardim perto da fogueira; devo despertá-los para perguntar se eles também gostariam de conversar com você?” E Jesus disse sorrindo a André: “Eles estão bem – não os incomode”. E agora a noite estava passando; a luz de outro dia estava nascendo.

 

7. A Semana Seguinte à Ordenação

 

140:7.1 (1578.2) Depois de algumas horas de sono, quando os doze estavam reunidos para um desjejum tardio com Jesus, ele disse: “Agora vocês têm que começar o seu trabalho de pregar as boas novas e instruir os crentes. Preparem-se para ir a Jerusalém”. Depois de Jesus ter falado, Tomé reuniu coragem para dizer: “Sei, Mestre, que agora deveríamos estar prontos para iniciar a obra, mas temo que ainda não sejamos capazes de realizar este grande empreendimento. Você consentiria que ficássemos por aqui apenas mais alguns dias antes de começarmos o trabalho do reino?” E quando Jesus viu que todos os seus apóstolos estavam possuídos por esse mesmo medo, disse: “Será como você pediu; permaneceremos aqui até o dia do Sabá.”

140:7.2 (1578.3) Durante semanas e semanas pequenos grupos de sinceros buscadores da verdade, juntamente com espectadores curiosos, vinham a Betsaida para ver Jesus. A notícia sobre ele já havia se espalhado pelo território; grupos indagadores tinham vindo de cidades tão distantes como Tiro, Sidon, Damasco, Cesareia e Jerusalém. Até então, Jesus havia saudado estas pessoas e lhes ensinado a respeito do reino, mas o Mestre passou agora esta tarefa aos doze. André selecionava um dos apóstolos e o designava para um grupo de visitantes, e às vezes todos os doze ficavam assim engajados.

140:7.3 (1578.4) Durante dois dias eles trabalharam, ensinando durante o dia e realizando conferências privadas até altas horas da noite. No terceiro dia Jesus visitou Zebedeu e Salomé enquanto enviava seus apóstolos para “pescarem, procurarem uma mudança e distração ou talvez visitarem suas famílias”. Na quinta-feira eles voltaram para mais três dias de ensinamento.

140:7.4 (1578.5) Durante esta semana de ensaios, Jesus repetiu muitas vezes aos seus apóstolos os dois grandes motivos da sua missão pós-batismal na Terra:

140:7.5 (1578.6) 1. Revelar o Pai ao homem.

140:7.6 (1578.7) 2. Levar os homens a se tornarem conscientes como filhos – a compreenderem pela fé que eles são filhos do Altíssimo.

140:7.7 (1579.1) Uma semana desta experiência variada fez muito pelos doze; alguns até ficaram excessivamente autoconfiantes. Na última conferência, na noite seguinte ao Sabá, Pedro e Tiago foram até Jesus, dizendo: “Estamos prontos – vamos agora sair para tomar o reino”. Ao que Jesus respondeu: “Que a sua sabedoria iguale o seu zelo e a sua coragem compense a sua ignorância”.

140:7.8 (1579.2) Embora os apóstolos tenham falhado em compreender grande parte do ensinamento dele, não deixaram de captar o significado da vida encantadoramente bela que ele vivia com eles.

 

8. Quinta-feira à Tarde no Lago

 

140:8.1 (1579.3) Jesus sabia muito bem que os seus apóstolos não estavam assimilando plenamente os seus ensinamentos. Ele decidiu dar alguma instrução especial a Pedro, Tiago e João, esperando que conseguissem clarificar as ideias de seus companheiros. Ele viu que, conquanto alguns aspectos da ideia de um reino espiritual estivessem sendo compreendidos pelos doze, eles persistiam firmemente em vincular estes novos ensinamentos espirituais diretamente aos seus antigos e arraigados conceitos literais do reino do céu como uma restauração do trono de Davi e o restabelecimento de Israel como uma potência temporal na Terra. Assim, na tarde de quinta-feira Jesus saiu da praia num barco com Pedro, Tiago e João para conversar sobre os assuntos do reino. Esta foi uma conferência de ensino de quatro horas, abrangendo dezenas de perguntas e respostas, e pode ser colocada neste registro de maneira mais proveitosa reorganizando o resumo desta tarde memorável conforme foi dado por Simão Pedro a seu irmão André, na manhã seguinte:

140:8.2 (1579.4) 1. Fazer a vontade do Pai. O ensinamento de Jesus de confiar no cuidado do Pai celestial não era um fatalismo cego e passivo. Ele citou com aprovação, nesta tarde, um antigo ditado hebraico que dizia: “Quem não trabalha não come”. Ele apontou sua própria experiência como comentário suficiente sobre seus ensinamentos. Os seus preceitos sobre confiar no Pai não podem ser julgados pelas condições sociais ou econômicas dos tempos modernos ou de qualquer outra época. A instrução dele abrange os princípios ideais de viver próximo a Deus em todas as épocas e em todos os mundos.

140:8.3 (1579.5) Jesus deixou clara para os três a diferença entre os requisitos do apostolado e do discipulado. E mesmo então ele não proibiu o exercício da prudência e da previsão por parte dos doze. O que ele pregou não foi contra a premeditação, mas contra a ansiedade, a preocupação. Ele ensinou a submissão ativa e alerta à vontade de Deus. Em resposta a muitas de suas perguntas sobre frugalidade e parcimônia, ele simplesmente chamou a atenção para a sua vida como carpinteiro, construtor de barcos e pescador, e para a sua cuidadosa organização dos doze. Ele procurou deixar claro que o mundo não deve ser considerado um inimigo; que as circunstâncias da vida constituem uma dispensação divina trabalhando junto com os filhos de Deus.

140:8.4 (1579.6) Jesus teve grande dificuldade em fazê-los compreender a sua prática pessoal de não-resistência. Ele recusou-se terminantemente a defender-se, e pareceu aos apóstolos que ele ficaria satisfeito se eles seguissem a mesma política. Ele os ensinou a não resistir ao mal, a não combater a injustiça ou a injúria, mas não ensinou a tolerância passiva em relação às transgressões. E deixou claro nesta tarde que aprovava o castigo social de malfeitores e criminosos, e que o governo civil tem por vezes que empregar a força para a manutenção da ordem social e na execução da justiça.

140:8.5 (1579.7) Ele nunca cessou de alertar os seus discípulos contra a prática maligna da retaliação; ele não condescendia na vingança, a ideia de desforra. Deplorava o guardar de rancores. Baniu a ideia de olho por olho e dente por dente. Desconsiderou todo o conceito de vingança privada e pessoal, atribuindo estas questões ao governo civil, por um lado, e ao julgamento de Deus, por outro. Deixou claro aos três que seus ensinamentos se aplicavam ao indivíduo, não ao Estado. Resumiu suas instruções até então em relação a estes assuntos, como:

140:8.6 (1580.1) Amem os seus inimigos – lembrem-se das prerrogativas morais da irmandade humana.

140:8.7 (1580.2) A futilidade do mal: um erro não é corrigido pela vingança. Não cometam o erro de combater o mal com as próprias armas dele.

140:8.8 (1580.3) Tenham fé – confiança no triunfo final da justiça divina e da bondade eterna.

140:8.9 (1580.4) 2. Atitude política. Ele advertiu seus apóstolos para serem discretos em suas observações a respeito das tensas relações então existentes entre o povo judeu e o governo romano; ele os proibiu de se envolverem de alguma forma nestas dificuldades. Sempre teve o cuidado de evitar as armadilhas políticas de seus inimigos, sempre retorquindo: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Ele recusou que sua atenção fosse desviada de sua missão de estabelecer um novo caminho de salvação; não se permitiria preocupar-se com mais nada. Na sua vida pessoal foi sempre devidamente observador de todas as leis e regulamentos civis; em todos os seus ensinamentos públicos ele ignorou os domínios cívico, social e econômico. Disse aos três apóstolos que estava vinculado apenas aos princípios da vida espiritual interior e pessoal do homem.

140:8.10 (1580.5) Jesus não foi, portanto, um reformador político. Não veio para reorganizar o mundo; mesmo que ele tivesse feito isso, teria sido aplicável apenas àqueles dias e àquela geração. No entanto, ele mostrou ao homem a melhor forma de viver, e nenhuma geração está isenta do trabalho de descobrir a melhor forma de adaptar a vida de Jesus aos seus próprios problemas. Mas nunca cometam o erro de identificar os ensinamentos de Jesus com qualquer teoria política ou econômica, com qualquer sistema social ou industrial.

140:8.11 (1580.6) 3. Atitude social. Os rabinos judeus há muito debatiam a questão: quem é o meu próximo? Jesus veio apresentando a ideia de bondade ativa e espontânea, um amor pelos semelhantes tão genuíno que expandiu a vizinhança para incluir o mundo inteiro, tornando assim todos os homens seus próximos. Mas, com tudo isto, Jesus estava interessado apenas no indivíduo, não na massa. Jesus não era um sociólogo, mas de fato trabalhou para acabar com todas as formas de isolamento egoísta. Ele ensinou pura empatia, compaixão. Micael de Nébadon é um Filho dominado pela misericórdia; compaixão é sua própria natureza.

140:8.12 (1580.7) O Mestre não disse que os homens nunca deveriam receber os seus amigos nas refeições, mas disse que os seus seguidores deveriam fazer banquetes para os pobres e os desafortunados. Jesus tinha um firme senso de justiça, mas sempre temperado com misericórdia. Ele não ensinou aos seus apóstolos que eles deveriam ser dominados por parasitas sociais ou por pedintes de esmolas profissionais. O mais próximo que ele chegou de fazer pronunciamentos sociológicos foi dizer: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados”.

140:8.13 (1580.8) Ele deixou claro que a bondade indiscriminada pode ser responsabilizada por muitos males sociais. No dia seguinte Jesus instruiu definitivamente Judas que nenhum fundo apostólico deveria ser dado como esmola, exceto a seu pedido ou a pedido conjunto de dois dos apóstolos. Em todas estas questões era prática de Jesus sempre dizer: “Sejam sábios como as serpentes, mas inofensivos como as pombas”. Parecia ser seu propósito em todas as situações sociais ensinar paciência, tolerância e perdão.

140:8.14 (1581.1) A família ocupava o próprio centro da filosofia de vida de Jesus – aqui e no além. Ele baseou seus ensinamentos sobre Deus na família, enquanto procurava corrigir a tendência judaica de honrar excessivamente os antepassados. Ele exaltou a vida familiar como o mais elevado dever humano, mas deixou claro que as relações familiares não podem interferir nas obrigações religiosas. Chamou a atenção para o fato de a família ser uma instituição temporal; que não sobrevive à morte. Jesus não hesitou em desistir da sua família quando a família contrariou a vontade do Pai. Ele ensinou a nova e maior irmandade dos homens – os filhos de Deus. No tempo de Jesus as práticas de divórcio eram negligentes na Palestina e em todo o Império Romano. Ele recusou-se reiteradamente a estabelecer leis relativas ao casamento e ao divórcio, mas muitos dos primeiros seguidores de Jesus tinham opiniões fortes sobre o divórcio e não hesitaram em atribuí-las a ele. Todos os escritores do Novo Testamento mantiveram estas ideias mais rigorosas e avançadas sobre o divórcio, exceto João Marcos.

140:8.15 (1581.2) 4. Atitude econômica. Jesus trabalhou, viveu e negociou no mundo tal como o encontrou. Ele não foi um reformador econômico, embora tenha chamado frequentemente a atenção para a injustiça da distribuição desigual da riqueza. Mas não ofereceu nenhuma sugestão de solução. Deixou claro aos três que, embora os seus apóstolos não devessem possuir propriedades, ele não estava pregando contra a riqueza e a propriedade, apenas a sua distribuição desigual e injusta. Reconheceu a necessidade de justiça social e de equanimidade industrial, mas não ofereceu regras para a sua consecução.

140:8.16 (1581.3) Ele nunca ensinou os seus seguidores a evitarem as posses terrenas, apenas os seus doze apóstolos. Lucas, o médico, era um firme crente na igualdade social e fez muito para interpretar as palavras de Jesus em harmonia com as suas crenças pessoais. Jesus nunca orientou pessoalmente os seus seguidores a adotarem um modo de vida comunitário; ele não fez nenhum pronunciamento de qualquer tipo sobre tais assuntos.

140:8.17 (1581.4) Jesus frequentemente advertia os seus ouvintes contra a cobiça, declarando que “a felicidade de um homem não consiste na abundância das suas posses materiais”. Ele reiterava constantemente: “Que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” Ele não fez nenhum ataque direto à posse de propriedade, mas de fato insistiu que é eternamente essencial que os valores espirituais venham em primeiro lugar. Em seus ensinamentos posteriores ele procurou corrigir muitas visões errôneas da vida de Urântia narrando numerosas parábolas que apresentou no decorrer de sua ministração pública. Jesus nunca pretendeu formular teorias econômicas; ele sabia muito bem que cada época tinha que desenvolver seus próprios remédios para os problemas existentes. E se Jesus estivesse na Terra hoje, vivendo a sua vida na carne, ele seria uma grande decepção para a maioria dos bons homens e mulheres pela simples razão de que ele não tomaria partido nas atuais disputas políticas, sociais ou econômicas. Ele permaneceria grandiosamente distante enquanto lhes ensinava como aperfeiçoar sua vida espiritual interior, de modo a torná-los muito mais competentes para atacar a solução de seus problemas puramente humanos.

140:8.18 (1581.5) Jesus gostaria de tornar todos os homens semelhantes a Deus e depois ficaria de lado compassivamente enquanto estes filhos de Deus resolveriam os seus próprios problemas políticos, sociais e econômicos. Não foi a riqueza que ele denunciou, mas o que a riqueza faz à maioria dos seus devotos. Na tarde desta quinta-feira Jesus disse pela primeira vez aos seus companheiros que “é mais abençoado dar do que receber”.

140:8.19 (1581.6) 5. Religião pessoal. Vocês, assim como os apóstolos dele, deveriam entender melhor os ensinamentos de Jesus por meio da vida dele. Ele viveu uma vida aperfeiçoada em Urântia, e os seus ensinamentos únicos somente podem ser compreendidos quando essa vida é visualizada no seu contexto imediato. É a vida dele, e não as suas lições aos doze ou os seus sermões às multidões, que mais ajudará a revelar o carácter divino e a personalidade amorosa do Pai.

140:8.20 (1582.1) Jesus não atacou os ensinamentos dos profetas hebreus ou dos moralistas gregos. O Mestre reconheceu as muitas coisas boas que estes grandes instrutores representavam, mas desceu à Terra para ensinar algo adicional, “a conformidade voluntária da vontade do homem com a vontade de Deus”. Jesus não queria simplesmente produzir um homem religioso, um mortal integralmente ocupado com sentimentos religiosos e movido apenas por impulsos espirituais. Se vocês pudessem ter olhado para ele apenas uma vez, saberiam que Jesus era um homem autêntico de grande experiência nas coisas deste mundo. Os ensinamentos de Jesus a este respeito foram grosseiramente adulterados e muito deturpados ao longo dos séculos da era cristã; vocês também têm mantido ideias adulteradas sobre a mansidão e a humildade do Mestre. O que ele almejou em sua vida parece ter sido um excelso autorrespeito. Ele apenas aconselhou o homem a humilhar-se para que possa tornar-se verdadeiramente exaltado; o que ele realmente almejava era a verdadeira humildade para com Deus. Ele dava grande valor à sinceridade – um coração puro. A fidelidade era uma virtude fundamental em sua avaliação de caráter, enquanto a coragem era o cerne de seus ensinamentos. “Não temam” era a sua palavra de ordem e a perseverança paciente o seu ideal de força de carácter. Os ensinamentos de Jesus constituem uma religião de valor, coragem e heroísmo. E foi justamente por isto que ele escolheu como seus representantes pessoais doze homens comuns, a maioria dos quais eram pescadores rudes, viris e varonis.

140:8.21 (1582.2) Jesus tinha pouco a dizer sobre os vícios sociais da sua época; raramente ele fez referência à delinquência moral. Era um instrutor positivo da verdadeira virtude. Evitava deliberadamente o método negativo de transmitir instrução; recusava-se a alardear o mal. Nem sequer foi um reformador moral. Ele sabia muito bem, e assim ensinou aos seus apóstolos, que as pulsões sensuais da humanidade não são suprimidas nem pela repreensão religiosa nem pelas proibições legais. Suas poucas denúncias foram em grande parte dirigidas contra o orgulho, a crueldade, a opressão e a hipocrisia.

140:8.22 (1582.3) Jesus não denunciou veementemente nem mesmo os fariseus, como fez João. Sabia que muitos dos escribas e fariseus eram honestos de coração; entendia a servidão escravizadora deles às tradições religiosas. Jesus deu grande ênfase a “primeiro tornar boa a árvore”. Ele impressionou os três por valorizar a vida inteira, não apenas algumas virtudes especiais.

140:8.23 (1582.4) A única coisa que João aprendeu com os ensinamentos deste dia foi que o cerne da religião de Jesus consistia na aquisição de um caráter compassivo, aliado a uma personalidade motivada a fazer a vontade do Pai no céu.

140:8.24 (1582.5) Pedro compreendeu a ideia de que o evangelho que eles estavam prestes a proclamar era realmente um novo começo para a raça humana inteira. Ele transmitiu esta impressão posteriormente a Paulo, o qual formulou a partir daí sua doutrina de Cristo como “o segundo Adão”.

140:8.25 (1582.6) Tiago compreendeu a emocionante verdade de que Jesus queria que os seus filhos na Terra vivessem como se já fossem cidadãos do reino celestial completo.

140:8.26 (1582.7) Jesus sabia que os homens eram diferentes, e foi isso que ensinou aos seus apóstolos. Ele constantemente os exortava a se absterem de tentar moldar os discípulos e os crentes de acordo com algum padrão estabelecido. Procurou permitir que cada alma se desenvolvesse à sua maneira, um indivíduo aperfeiçoado e separado diante de Deus. Em resposta a uma das muitas perguntas de Pedro, o Mestre disse: “Quero libertar os homens para que possam começar de novo, como criancinhas numa vida nova e melhor”. Jesus sempre insistia que a verdadeira bondade tem que ser inconsciente, ao conceder caridade não permitindo que a mão esquerda saiba o que a direita faz.

140:8.27 (1583.1) Os três apóstolos ficaram chocados esta tarde quando perceberam que a religião do seu Mestre não provia o autoexame espiritual. Todas as religiões antes e depois dos tempos de Jesus, até mesmo o cristianismo, providenciam cuidadosamente um autoexame consciente. Mas não é assim com a religião de Jesus de Nazaré. A filosofia de vida de Jesus é desprovida de introspecção religiosa. O filho do carpinteiro nunca ensinou a formação do caráter; ele ensinou o crescimento do caráter, declarando que o reino do céu é como um grão de mostarda. Mas Jesus nada disse que proibisse a autoanálise como uma prevenção do egoísmo presunçoso.

140:8.28 (1583.2) O direito de entrar no reino é condicionado pela fé, pela crença pessoal. O custo de permanecer na ascensão progressiva do reino é a pérola de grande valor, para possuí-la o homem vende tudo o que possui.

140:8.29 (1583.3) O ensinamento de Jesus é uma religião para todos, e não apenas para os fracos e os escravos. Sua religião nunca se tornou cristalizada (durante a sua época) em credos e leis teológicas; ele não deixou uma linha escrita atrás dele. Sua vida e seus ensinamentos foram legados ao universo como uma herança inspiradora e idealista adequada para o guiamento espiritual e instrução moral de todas as épocas em todos os mundos. E ainda hoje, o ensinamento de Jesus está à parte de todas as religiões, como tal, embora seja a esperança viva de cada uma delas.

140:8.30 (1583.4) Jesus não ensinou aos seus apóstolos que a religião é a única atividade terrena do homem; essa era a ideia judaica de servir a Deus. Mas ele de fato insistiu que a religião era assunto exclusivo dos doze. Jesus nada ensinou que dissuadisse os seus crentes de buscarem uma cultura genuína; ele apenas se distanciou das escolas religiosas de Jerusalém ligadas à tradição. Ele era liberal, de grande coração, culto e tolerante. A piedade autoconsciente não tinha lugar em sua filosofia de vida reta.

140:8.31 (1583.5) O Mestre não ofereceu soluções para os problemas não-religiosos da sua própria época nem para qualquer era subsequente. Jesus desejava desenvolver o discernimento espiritual para realidades eternas e estimular a iniciativa na originalidade da vida; ele se preocupou exclusivamente com as necessidades espirituais subjacentes e permanentes da raça humana. Ele revelou uma bondade igual a Deus. Exaltou o amor – a verdade, a beleza e a bondade – como o ideal divino e a realidade eterna.

140:8.32 (1583.6) O Mestre veio para criar no homem um novo espírito, uma nova vontade – para transmitir uma nova capacidade de conhecer a verdade, de experimentar a compaixão e de escolher a bondade – a vontade de estar em harmonia com a vontade de Deus, juntamente com a pulsão eterna de se tornar perfeito, assim como o Pai no céu é perfeito.

 

9. O Dia da Consagração

 

140:9.1 (1583.7) No Sabá seguinte Jesus dedicou-se aos seus apóstolos, viajando de volta à montanha onde os havia ordenado; e ali, depois de uma longa e belamente tocante mensagem pessoal de encorajamento, ele se envolveu no ato solene da consagração dos doze. Nesta tarde de Sabá Jesus reuniu os apóstolos ao seu redor na encosta da colina e os entregou nas mãos de seu Pai celestial em preparação para o dia em que seria compelido a deixá-los sozinhos no mundo. Não houve nenhum ensinamento novo nesta ocasião, apenas visitação e comunhão.

140:9.2 (1584.1) Jesus revisou muitos aspectos do sermão de ordenação, proferido neste mesmo local, e então, chamando-os diante dele, um por um, comissionou-os a irem pelo mundo como seus representantes. A incumbência de consagração do Mestre foi: “Vão por todo o mundo e preguem as boas novas do reino. Libertem os cativos espirituais, consolem os oprimidos e ministrem aos aflitos. De graça vocês receberam, de graça deem”.

140:9.3 (1584.2) Jesus aconselhou-os a não aceitarem dinheiro nem roupas adicionais, dizendo: “O trabalhador é digno do seu salário”. E finalmente ele disse: “Eis que lhes envio como ovelhas em meio aos lobos; sejam vocês, portanto, sábios como as serpentes e inofensivos como as pombas. Mas tomem cuidado, pois os seus inimigos os levarão aos seus conselhos, enquanto nas suas sinagogas eles os castigarão. Vocês serão levados perante governadores e soberanos porque creem neste evangelho, e seu próprio testemunho será um testemunho de mim para eles. E quando eles os levarem a julgamento, não fiquem ansiosos com o que dirão, pois o espírito de meu Pai reside em vocês e nesse momento falará através de vocês. Alguns de vocês serão mortos e, antes de estabelecerem o reino na Terra, serão odiados por muita gente por causa deste evangelho; mas não temam; Estarei com vocês e meu espírito irá adiante de vocês por todo o mundo. E a presença de meu Pai permanecerá com vocês enquanto forem primeiro aos judeus, depois aos gentios”.

140:9.4 (1584.3) E quando desceram da montanha, viajaram de volta para o seu lar, na casa de Zebedeu.

 

10. A Noite Após a Consagração

 

140:10.1 (1584.4) Naquela noite, enquanto ensinava na casa, pois havia começado a chover, Jesus falou longamente, tentando mostrar aos doze o que eles tinham que ser, e não o que tinham que fazer. Eles conheciam apenas uma religião que impunha a prática de certas coisas como meio de alcançar a retidão – a salvação. Mas Jesus reiteraria: “No reino vocês têm que ser retos para fazer o trabalho”. Muitas vezes ele repetiu: “Sejam pois perfeitos, mesmo como é perfeito o seu Pai que está no céu”. O tempo todo o Mestre explicava aos seus perplexos apóstolos que a salvação que ele viera trazer ao mundo só seria obtida pelo crer, pela fé simples e sincera. Jesus disse: “João pregou um batismo de arrependimento, de pesar pelo antigo modo de vida. Vocês devem proclamar o batismo da comunhão com Deus. Preguem o arrependimento àqueles que necessitam de tal ensinamento, mas aos que já buscam a entrada sincera no reino, escancarem as portas e convidem-nos a entrar na alegre comunhão dos filhos de Deus”. Mas foi uma tarefa difícil persuadir estes pescadores galileus de que, no reino, ser reto, pela fé, tem que preceder a prática da retidão na vida diária dos mortais da Terra.

140:10.2 (1584.5) Outro grande obstáculo neste trabalho de ensinar os doze foi a tendência deles de adotar princípios altamente idealistas e espirituais da verdade religiosa e transformá-los em regras concretas de conduta pessoal. Jesus lhes apresentaria o belo espírito da atitude da alma, mas eles insistiam em traduzir tais ensinamentos em regras de comportamento pessoal. Muitas vezes, quando faziam questão de lembrar o que o Mestre dissera, era quase certo que esqueceriam o que ele não disse. Mas eles assimilaram lentamente o seu ensinamento porque Jesus era tudo o que ele ensinava. O que não puderam obter com sua instrução verbal, adquiriram gradualmente vivendo com ele.

 

 

 

 

 

140:10.3 (1585.1) Não era aparente para os apóstolos que o seu Mestre estivesse empenhado em viver uma vida de inspiração espiritual para cada pessoa, de todas as idades, em todos os mundos de um vastíssimo universo. Não obstante o que Jesus lhes dizia de vez em quando, os apóstolos não compreendiam a ideia de que ele estava realizando uma obra neste mundo, mas para todos os outros mundos da sua vasta criação. Jesus viveu a sua vida terrena em Urântia, não para estabelecer um exemplo pessoal de vida mortal para os homens e mulheres deste mundo, mas sim para criar um elevado ideal espiritual e inspirador para todos os seres mortais em todos os mundos.

 

 

 

 

140:10.4 (1585.2) Nesta mesma noite, Tomé perguntou a Jesus: “Mestre, você diz que temos que nos tornar como criancinhas antes de podermos entrar no reino do Pai, e ainda assim você nos advertiu para não sermos enganados por falsos profetas, nem para nos tornarmos culpados de lançar nossas pérolas aos porcos. Ora, estou sinceramente perplexo. Não consigo entender seu ensinamento”. Jesus retorquiu a Tomé: “Até quando serei tolerante com vocês! Vocês sempre insistem em tornar literal tudo o que ensino. Quando pedi que vocês se tornassem criancinhas como o preço para entrar no reino, não me referi à facilidade de ser enganado, à mera disposição em acreditar, nem à rapidez em confiar em estranhos agradáveis. O que eu desejava de fato que vocês deduzissem da ilustração era a relação pai-filho. Vocês são o filho e é no reino de seu Pai que vocês procuram entrar. Está presente aquela afeição natural entre cada criança normal e seu pai que assegura um relacionamento compreensivo e amoroso, e que exclui para sempre qualquer disposição para barganhar pelo amor e a misericórdia do Pai. E o evangelho que vocês estão indo pregar tem a ver com uma salvação que cresce a partir da realização-fé deste mesmo relacionamento eterno filho-pai”.

 

 

 

140:10.5 (1585.3) A única característica do ensinamento de Jesus era que a moralidade da sua filosofia se originava na relação pessoal do indivíduo com Deus – esta mesma relação filho-pai. Jesus colocou ênfase no indivíduo, não na raça ou nação. Enquanto ceava, Jesus teve a conversa com Mateus na qual explicou que a moralidade de qualquer ato é determinada pela motivação do indivíduo. A moralidade de Jesus sempre foi positiva. A regra de ouro como reafirmada por Jesus exige contato social ativo; a antiga regra negativa poderia ser obedecida em isolamento. Jesus despojou a moralidade de todas as regras e cerimônias e elevou-a a níveis majestosos de pensamento espiritual e de vida verdadeiramente reta.

 

 

 

140:10.6 (1585.4) Esta nova religião de Jesus não estava isenta de implicações práticas, mas qualquer valor prático, político, social ou econômico que possa ser encontrado nos ensinamentos dele é o resultado natural desta experiência interior da alma à medida que ela manifesta os frutos do espírito na ministração diária espontânea de uma experiência religiosa pessoal genuína.

 

140:10.7 (1585.5) Depois que Jesus e Mateus terminaram de conversar, Simão Zelote perguntou: “Mas, Mestre, todos os homens são filhos de Deus?” E Jesus respondeu: “Sim, Simão, todos os homens são filhos de Deus, e essas são as boas novas que vocês vão proclamar”. Mas os apóstolos não conseguiram compreender tal doutrina; foi um anúncio novo, estranho e surpreendente. E foi por causa de seu desejo de incutir-lhes esta verdade que Jesus ensinou seus seguidores a tratar todos os homens como seus irmãos.

 

140:10.8 (1585.6) Em resposta a uma pergunta feita por André, o Mestre deixou claro que a moralidade do seu ensinamento era inseparável da religião da sua vida. Ele ensinou moralidade, não a partir da natureza do homem, mas a partir da relação do homem com Deus.

 

140:10.9 (1585.7) João perguntou a Jesus: “Mestre, o que é o reino do céu?” E Jesus respondeu: “O reino do céu consiste nestes três elementos essenciais: primeiro, o reconhecimento do fato da soberania de Deus; segundo, a crença na verdade da filiação a Deus; e terceiro, a fé na eficácia do desejo humano supremo de fazer a vontade de Deus – de ser como Deus. E esta é a boa notícia do evangelho: que pela fé todo mortal possa ter todos estes elementos essenciais da salvação”.

 

140:10.10 (1586.1) E agora a semana de espera tinha terminado, e eles se prepararam para partir no dia seguinte para Jerusalém.

 

Paper 140

The Ordination of the Twelve

140:0.1 (1568.1) JUST before noon on Sunday, January 12, a.d. 27, Jesus called the apostles together for their ordination as public preachers of the gospel of the kingdom. The twelve were expecting to be called almost any day; so this morning they did not go out far from the shore to fish. Several of them were lingering near the shore repairing their nets and tinkering with their fishing paraphernalia.

140:0.2 (1568.2) As Jesus started down the seashore calling the apostles, he first hailed Andrew and Peter, who were fishing near the shore; next he signaled to James and John, who were in a boat near by, visiting with their father, Zebedee, and mending their nets. Two by two he gathered up the other apostles, and when he had assembled all twelve, he journeyed with them to the highlands north of Capernaum, where he proceeded to instruct them in preparation for their formal ordination.

140:0.3 (1568.3) For once all twelve of the apostles were silent; even Peter was in a reflective mood. At last the long-waited-for hour had come! They were going apart with the Master to participate in some sort of solemn ceremony of personal consecration and collective dedication to the sacred work of representing their Master in the proclamation of the coming of his Father’s kingdom.


1. Preliminary Instruction


140:1.1 (1568.4) Before the formal ordination service Jesus spoke to the twelve as they were seated about him: “My brethren, this hour of the kingdom has come. I have brought you apart here with me to present you to the Father as ambassadors of the kingdom. Some of you heard me speak of this kingdom in the synagogue when you first were called. Each of you has learned more about the Father’s kingdom since you have been with me working in the cities around about the Sea of Galilee. But just now I have something more to tell you concerning this kingdom.

140:1.2 (1568.5) “The new kingdom which my Father is about to set up in the hearts of his earth children is to be an everlasting dominion. There shall be no end of this rule of my Father in the hearts of those who desire to do his divine will. I declare to you that my Father is not the God of Jew or gentile. Many shall come from the east and from the west to sit down with us in the Father’s kingdom, while many of the children of Abraham will refuse to enter this new brotherhood of the rule of the Father’s spirit in the hearts of the children of men.

140:1.3 (1568.6) “The power of this kingdom shall consist, not in the strength of armies nor in the might of riches, but rather in the glory of the divine spirit that shall come to teach the minds and rule the hearts of the reborn citizens of this heavenly kingdom, the sons of God. This is the brotherhood of love wherein righteousness reigns, and whose battle cry shall be: Peace on earth and good will to all men. This kingdom, which you are so soon to go forth proclaiming, is the desire of the good men of all ages, the hope of all the earth, and the fulfillment of the wise promises of all the prophets.

140:1.4 (1569.1) “But for you, my children, and for all others who would follow you into this kingdom, there is set a severe test. Faith alone will pass you through its portals, but you must bring forth the fruits of my Father’s spirit if you would continue to ascend in the progressive life of the divine fellowship. Verily, verily, I say to you, not every one who says, ‘Lord, Lord,’ shall enter the kingdom of heaven; but rather he who does the will of my Father who is in heaven.

140:1.5 (1569.2) “Your message to the world shall be: Seek first the kingdom of God and his righteousness, and in finding these, all other things essential to eternal survival shall be secured therewith. And now would I make it plain to you that this kingdom of my Father will not come with an outward show of power or with unseemly demonstration. You are not to go hence in the proclamation of the kingdom, saying, ‘it is here’ or ‘it is there,’ for this kingdom of which you preach is God within you.

140:1.6 (1569.3) “Whosoever would become great in my Father’s kingdom shall become a minister to all; and whosoever would be first among you, let him become the server of his brethren. But when you are once truly received as citizens in the heavenly kingdom, you are no longer servants but sons, sons of the living God. And so shall this kingdom progress in the world until it shall break down every barrier and bring all men to know my Father and believe in the saving truth which I have come to declare. Even now is the kingdom at hand, and some of you will not die until you have seen the reign of God come in great power.

140:1.7 (1569.4) “And this which your eyes now behold, this small beginning of twelve commonplace men, shall multiply and grow until eventually the whole earth shall be filled with the praise of my Father. And it will not be so much by the words you speak as by the lives you live that men will know you have been with me and have learned of the realities of the kingdom. And while I would lay no grievous burdens upon your minds, I am about to put upon your souls the solemn responsibility of representing me in the world when I shall presently leave you as I now represent my Father in this life which I am living in the flesh.” And when he had finished speaking, he stood up.


2. The Ordination


140:2.1 (1569.5) Jesus now instructed the twelve mortals who had just listened to his declaration concerning the kingdom to kneel in a circle about him. Then the Master placed his hands upon the head of each apostle, beginning with Judas Iscariot and ending with Andrew. When he had blessed them, he extended his hands and prayed:

140:2.2 (1569.6) “My Father, I now bring to you these men, my messengers. From among our children on earth I have chosen these twelve to go forth to represent me as I came forth to represent you. Love them and be with them as you have loved and been with me. And now, my Father, give these men wisdom as I place all the affairs of the coming kingdom in their hands. And I would, if it is your will, tarry on earth a time to help them in their labors for the kingdom. And again, my Father, I thank you for these men, and I commit them to your keeping while I go on to finish the work you have given me to do.”

140:2.3 (1570.1) When Jesus had finished praying, the apostles remained each man bowed in his place. And it was many minutes before even Peter dared lift up his eyes to look upon the Master. One by one they embraced Jesus, but no man said aught. A great silence pervaded the place while a host of celestial beings looked down upon this solemn and sacred scene—the Creator of a universe placing the affairs of the divine brotherhood of man under the direction of human minds.


3. The Ordination Sermon


140:3.1 (1570.2) Then Jesus spoke, saying: “Now that you are ambassadors of my Father’s kingdom, you have thereby become a class of men separate and distinct from all other men on earth. You are not now as men among men but as the enlightened citizens of another and heavenly country among the ignorant creatures of this dark world. It is not enough that you live as you were before this hour, but henceforth must you live as those who have tasted the glories of a better life and have been sent back to earth as ambassadors of the Sovereign of that new and better world. Of the teacher more is expected than of the pupil; of the master more is exacted than of the servant. Of the citizens of the heavenly kingdom more is required than of the citizens of the earthly rule. Some of the things which I am about to say to you may seem hard, but you have elected to represent me in the world even as I now represent the Father; and as my agents on earth you will be obligated to abide by those teachings and practices which are reflective of my ideals of mortal living on the worlds of space, and which I exemplify in my earth life of revealing the Father who is in heaven.

140:3.2 (1570.3) “I send you forth to proclaim liberty to the spiritual captives, joy to those in the bondage of fear, and to heal the sick in accordance with the will of my Father in heaven. When you find my children in distress, speak encouragingly to them, saying:

140:3.3 (1570.4) “Happy are the poor in spirit, the humble, for theirs are the treasures of the kingdom of heaven.

140:3.4 (1570.5) “Happy are they who hunger and thirst for righteousness, for they shall be filled.

140:3.5 (1570.6) “Happy are the meek, for they shall inherit the earth.

140:3.6 (1570.7) “Happy are the pure in heart, for they shall see God.

140:3.7 (1570.8) “And even so speak to my children these further words of spiritual comfort and promise:

140:3.8 (1570.9) “Happy are they who mourn, for they shall be comforted. Happy are they who weep, for they shall receive the spirit of rejoicing.

140:3.9 (1570.10) “Happy are the merciful, for they shall obtain mercy.

140:3.10 (1570.11) “Happy are the peacemakers, for they shall be called the sons of God.

140:3.11 (1570.12) “Happy are they who are persecuted for righteousness’ sake, for theirs is the kingdom of heaven. Happy are you when men shall revile you and persecute you and shall say all manner of evil against you falsely. Rejoice and be exceedingly glad, for great is your reward in heaven.

140:3.12 (1570.13) “My brethren, as I send you forth, you are the salt of the earth, salt with a saving savor. But if this salt has lost its savor, wherewith shall it be salted? It is henceforth good for nothing but to be cast out and trodden under foot of men.

140:3.13 (1570.14) “You are the light of the world. A city set upon a hill cannot be hid. Neither do men light a candle and put it under a bushel, but on a candlestick; and it gives light to all who are in the house. Let your light so shine before men that they may see your good works and be led to glorify your Father who is in heaven.

140:3.14 (1571.1) “I am sending you out into the world to represent me and to act as ambassadors of my Father’s kingdom, and as you go forth to proclaim the glad tidings, put your trust in the Father whose messengers you are. Do not forcibly resist injustice; put not your trust in the arm of the flesh. If your neighbor smites you on the right cheek, turn to him the other also. Be willing to suffer injustice rather than to go to law among yourselves. In kindness and with mercy minister to all who are in distress and in need.

140:3.15 (1571.2) “I say to you: Love your enemies, do good to those who hate you, bless those who curse you, and pray for those who despitefully use you. And whatsoever you believe that I would do to men, do you also to them.

140:3.16 (1571.3) “Your Father in heaven makes the sun to shine on the evil as well as upon the good; likewise he sends rain on the just and the unjust. You are the sons of God; even more, you are now the ambassadors of my Father’s kingdom. Be merciful, even as God is merciful, and in the eternal future of the kingdom you shall be perfect, even as your heavenly Father is perfect.

140:3.17 (1571.4) “You are commissioned to save men, not to judge them. At the end of your earth life you will all expect mercy; therefore do I require of you during your mortal life that you show mercy to all of your brethren in the flesh. Make not the mistake of trying to pluck a mote out of your brother’s eye when there is a beam in your own eye. Having first cast the beam out of your own eye, you can the better see to cast the mote out of your brother’s eye.

140:3.18 (1571.5) “Discern the truth clearly; live the righteous life fearlessly; and so shall you be my apostles and my Father’s ambassadors. You have heard it said: ‘If the blind lead the blind, they both shall fall into the pit.’ If you would guide others into the kingdom, you must yourselves walk in the clear light of living truth. In all the business of the kingdom I exhort you to show just judgment and keen wisdom. Present not that which is holy to dogs, neither cast your pearls before swine, lest they trample your gems under foot and turn to rend you.

140:3.19 (1571.6) “I warn you against false prophets who will come to you in sheep’s clothing, while on the inside they are as ravening wolves. By their fruits you shall know them. Do men gather grapes from thorns or figs from thistles? Even so, every good tree brings forth good fruit, but the corrupt tree bears evil fruit. A good tree cannot yield evil fruit, neither can a corrupt tree produce good fruit. Every tree that does not bring forth good fruit is presently hewn down and cast into the fire. In gaining an entrance into the kingdom of heaven, it is the motive that counts. My Father looks into the hearts of men and judges by their inner longings and their sincere intentions.

140:3.20 (1571.7) “In the great day of the kingdom judgment, many will say to me, ‘Did we not prophesy in your name and by your name do many wonderful works?’ But I will be compelled to say to them, ‘I never knew you; depart from me you who are false teachers.’ But every one who hears this charge and sincerely executes his commission to represent me before men even as I have represented my Father to you, shall find an abundant entrance into my service and into the kingdom of the heavenly Father.”

140:3.21 (1571.8) Never before had the apostles heard Jesus speak in this way, for he had talked to them as one having supreme authority. They came down from the mountain about sundown, but no man asked Jesus a question.


4. You Are the Salt of the Earth


140:4.1 (1572.1) The so-called “Sermon on the Mount” is not the gospel of Jesus. It does contain much helpful instruction, but it was Jesus’ ordination charge to the twelve apostles. It was the Master’s personal commission to those who were to go on preaching the gospel and aspiring to represent him in the world of men even as he was so eloquently and perfectly representative of his Father.

140:4.2 (1572.2) “You are the salt of the earth, salt with a saving savor. But if this salt has lost its savor, wherewith shall it be salted? It is henceforth good for nothing but to be cast out and trodden under foot of men.”

140:4.3 (1572.3) In Jesus’ time salt was precious. It was even used for money. The modern word “salary” is derived from salt. Salt not only flavors food, but it is also a preservative. It makes other things more tasty, and thus it serves by being spent.

140:4.4 (1572.4) “You are the light of the world. A city set on a hill cannot be hid. Neither do men light a candle and put it under a bushel, but on a candlestick; and it gives light to all who are in the house. Let your light so shine before men that they may see your good works and be led to glorify your Father who is in heaven.”

140:4.5 (1572.5) While light dispels darkness, it can also be so “blinding” as to confuse and frustrate. We are admonished to let our light so shine that our fellows will be guided into new and godly paths of enhanced living. Our light should so shine as not to attract attention to self. Even one’s vocation can be utilized as an effective “reflector” for the dissemination of this light of life.

140:4.6 (1572.6) Strong characters are not derived from not doing wrong but rather from actually doing right. Unselfishness is the badge of human greatness. The highest levels of self-realization are attained by worship and service. The happy and effective person is motivated, not by fear of wrongdoing, but by love of right doing.

140:4.7 (1572.7) “By their fruits you shall know them.” Personality is basically changeless; that which changes—grows—is the moral character. The major error of modern religions is negativism. The tree which bears no fruit is “hewn down and cast into the fire.” Moral worth cannot be derived from mere repression—obeying the injunction “Thou shalt not.” Fear and shame are unworthy motivations for religious living. Religion is valid only when it reveals the fatherhood of God and enhances the brotherhood of men.

140:4.8 (1572.8) An effective philosophy of living is formed by a combination of cosmic insight and the total of one’s emotional reactions to the social and economic environment. Remember: While inherited urges cannot be fundamentally modified, emotional responses to such urges can be changed; therefore the moral nature can be modified, character can be improved. In the strong character emotional responses are integrated and co-ordinated, and thus is produced a unified personality. Deficient unification weakens the moral nature and engenders unhappiness.

140:4.9 (1572.9) Without a worthy goal, life becomes aimless and unprofitable, and much unhappiness results. Jesus’ discourse at the ordination of the twelve constitutes a master philosophy of life. Jesus exhorted his followers to exercise experiential faith. He admonished them not to depend on mere intellectual assent, credulity, and established authority.

140:4.10 (1573.1) Education should be a technique of learning (discovering) the better methods of gratifying our natural and inherited urges, and happiness is the resulting total of these enhanced techniques of emotional satisfactions. Happiness is little dependent on environment, though pleasing surroundings may greatly contribute thereto.

140:4.11 (1573.2) Every mortal really craves to be a complete person, to be perfect even as the Father in heaven is perfect, and such attainment is possible because in the last analysis the “universe is truly fatherly.”


5. Fatherly and Brotherly Love


140:5.1 (1573.3) From the Sermon on the Mount to the discourse of the Last Supper, Jesus taught his followers to manifest fatherly love rather than brotherly love. Brotherly love would love your neighbor as you love yourself, and that would be adequate fulfillment of the “golden rule.” But fatherly affection would require that you should love your fellow mortals as Jesus loves you.

140:5.2 (1573.4) Jesus loves mankind with a dual affection. He lived on earth as a twofold personality—human and divine. As the Son of God he loves man with a fatherly love—he is man’s Creator, his universe Father. As the Son of Man, Jesus loves mortals as a brother—he was truly a man among men.

140:5.3 (1573.5) Jesus did not expect his followers to achieve an impossible manifestation of brotherly love, but he did expect them to so strive to be like God—to be perfect even as the Father in heaven is perfect—that they could begin to look upon man as God looks upon his creatures and therefore could begin to love men as God loves them—to show forth the beginnings of a fatherly affection. In the course of these exhortations to the twelve apostles, Jesus sought to reveal this new concept of fatherly love as it is related to certain emotional attitudes concerned in making numerous environmental social adjustments.

140:5.4 (1573.6) The Master introduced this momentous discourse by calling attention to four faith attitudes as the prelude to the subsequent portrayal of his four transcendent and supreme reactions of fatherly love in contrast to the limitations of mere brotherly love.

140:5.5 (1573.7) He first talked about those who were poor in spirit, hungered after righteousness, endured meekness, and who were pure in heart. Such spirit-discerning mortals could be expected to attain such levels of divine selflessness as to be able to attempt the amazing exercise of fatherly affection; that even as mourners they would be empowered to show mercy, promote peace, and endure persecutions, and throughout all of these trying situations to love even unlovely mankind with a fatherly love. A father’s affection can attain levels of devotion that immeasurably transcend a brother’s affection.

140:5.6 (1573.8) The faith and the love of these beatitudes strengthen moral character and create happiness. Fear and anger weaken character and destroy happiness. This momentous sermon started out upon the note of happiness.

140:5.7 (1573.9) 1. “Happy are the poor in spirit—the humble.” To a child, happiness is the satisfaction of immediate pleasure craving. The adult is willing to sow seeds of self-denial in order to reap subsequent harvests of augmented happiness. In Jesus’ times and since, happiness has all too often been associated with the idea of the possession of wealth. In the story of the Pharisee and the publican praying in the temple, the one felt rich in spirit—egotistical; the other felt “poor in spirit”—humble. One was self-sufficient; the other was teachable and truth-seeking. The poor in spirit seek for goals of spiritual wealth—for God. And such seekers after truth do not have to wait for rewards in a distant future; they are rewarded now. They find the kingdom of heaven within their own hearts, and they experience such happiness now.

140:5.8 (1574.1) 2. “Happy are they who hunger and thirst for righteousness, for they shall be filled.” Only those who feel poor in spirit will ever hunger for righteousness. Only the humble seek for divine strength and crave spiritual power. But it is most dangerous to knowingly engage in spiritual fasting in order to improve one’s appetite for spiritual endowments. Physical fasting becomes dangerous after four or five days; one is apt to lose all desire for food. Prolonged fasting, either physical or spiritual, tends to destroy hunger.

140:5.9 (1574.2) Experiential righteousness is a pleasure, not a duty. Jesus’ righteousness is a dynamic love—fatherly-brotherly affection. It is not the negative or thou-shalt-not type of righteousness. How could one ever hunger for something negative—something “not to do”?

140:5.10 (1574.3) It is not so easy to teach a child mind these first two of the beatitudes, but the mature mind should grasp their significance.

140:5.11 (1574.4) 3. “Happy are the meek, for they shall inherit the earth.” Genuine meekness has no relation to fear. It is rather an attitude of man co-operating with God—“Your will be done.” It embraces patience and forbearance and is motivated by an unshakable faith in a lawful and friendly universe. It masters all temptations to rebel against the divine leading. Jesus was the ideal meek man of Urantia, and he inherited a vast universe.

140:5.12 (1574.5) 4. “Happy are the pure in heart, for they shall see God.” Spiritual purity is not a negative quality, except that it does lack suspicion and revenge. In discussing purity, Jesus did not intend to deal exclusively with human sex attitudes. He referred more to that faith which man should have in his fellow man; that faith which a parent has in his child, and which enables him to love his fellows even as a father would love them. A father’s love need not pamper, and it does not condone evil, but it is always anticynical. Fatherly love has singleness of purpose, and it always looks for the best in man; that is the attitude of a true parent.

140:5.13 (1574.6) To see God—by faith—means to acquire true spiritual insight. And spiritual insight enhances Adjuster guidance, and these in the end augment God-consciousness. And when you know the Father, you are confirmed in the assurance of divine sonship, and you can increasingly love each of your brothers in the flesh, not only as a brother—with brotherly love—but also as a father—with fatherly affection.

140:5.14 (1574.7) It is easy to teach this admonition even to a child. Children are naturally trustful, and parents should see to it that they do not lose that simple faith. In dealing with children, avoid all deception and refrain from suggesting suspicion. Wisely help them to choose their heroes and select their lifework.

140:5.15 (1574.8) And then Jesus went on to instruct his followers in the realization of the chief purpose of all human struggling—perfection—even divine attainment. Always he admonished them: “Be you perfect, even as your Father in heaven is perfect.” He did not exhort the twelve to love their neighbors as they loved themselves. That would have been a worthy achievement; it would have indicated the achievement of brotherly love. He rather admonished his apostles to love men as he had loved them—to love with a fatherly as well as a brotherly affection. And he illustrated this by pointing out four supreme reactions of fatherly love:

140:5.16 (1575.1) 1. “Happy are they who mourn, for they shall be comforted.” So-called common sense or the best of logic would never suggest that happiness could be derived from mourning. But Jesus did not refer to outward or ostentatious mourning. He alluded to an emotional attitude of tenderheartedness. It is a great error to teach boys and young men that it is unmanly to show tenderness or otherwise to give evidence of emotional feeling or physical suffering. Sympathy is a worthy attribute of the male as well as the female. It is not necessary to be calloused in order to be manly. This is the wrong way to create courageous men. The world’s great men have not been afraid to mourn. Moses, the mourner, was a greater man than either Samson or Goliath. Moses was a superb leader, but he was also a man of meekness. Being sensitive and responsive to human need creates genuine and lasting happiness, while such kindly attitudes safeguard the soul from the destructive influences of anger, hate, and suspicion.

140:5.17 (1575.2) 2. “Happy are the merciful, for they shall obtain mercy.” Mercy here denotes the height and depth and breadth of the truest friendship—loving-kindness. Mercy sometimes may be passive, but here it is active and dynamic—supreme fatherliness. A loving parent experiences little difficulty in forgiving his child, even many times. And in an unspoiled child the urge to relieve suffering is natural. Children are normally kind and sympathetic when old enough to appreciate actual conditions.

140:5.18 (1575.3) 3. “Happy are the peacemakers, for they shall be called the sons of God.” Jesus’ hearers were longing for military deliverance, not for peacemakers. But Jesus’ peace is not of the pacific and negative kind. In the face of trials and persecutions he said, “My peace I leave with you.” “Let not your heart be troubled, neither let it be afraid.” This is the peace that prevents ruinous conflicts. Personal peace integrates personality. Social peace prevents fear, greed, and anger. Political peace prevents race antagonisms, national suspicions, and war. Peacemaking is the cure of distrust and suspicion.

140:5.19 (1575.4) Children can easily be taught to function as peacemakers. They enjoy team activities; they like to play together. Said the Master at another time: “Whosoever will save his life shall lose it, but whosoever will lose his life shall find it.”

140:5.20 (1575.5) 4. “Happy are they who are persecuted for righteousness’ sake, for theirs is the kingdom of heaven. Happy are you when men shall revile you and persecute you and shall say all manner of evil against you falsely. Rejoice and be exceedingly glad, for great is your reward in heaven.”

140:5.21 (1575.6) So often persecution does follow peace. But young people and brave adults never shun difficulty or danger. “Greater love has no man than to lay down his life for his friends.” And a fatherly love can freely do all these things—things which brotherly love can hardly encompass. And progress has always been the final harvest of persecution.

140:5.22 (1575.7) Children always respond to the challenge of courage. Youth is ever willing to “take a dare.” And every child should early learn to sacrifice.

140:5.23 (1575.8) And so it is revealed that the beatitudes of the Sermon on the Mount are based on faith and love and not on law—ethics and duty.

140:5.24 (1575.9) Fatherly love delights in returning good for evil—doing good in retaliation for injustice.


6. The Evening of the Ordination


140:6.1 (1576.1) Sunday evening, on reaching the home of Zebedee from the highlands north of Capernaum, Jesus and the twelve partook of a simple meal. Afterward, while Jesus went for a walk along the beach, the twelve talked among themselves. After a brief conference, while the twins built a small fire to give them warmth and more light, Andrew went out to find Jesus, and when he had overtaken him, he said: “Master, my brethren are unable to comprehend what you have said about the kingdom. We do not feel able to begin this work until you have given us further instruction. I have come to ask you to join us in the garden and help us to understand the meaning of your words.” And Jesus went with Andrew to meet with the apostles.

140:6.2 (1576.2) When he had entered the garden, he gathered the apostles around him and taught them further, saying: “You find it difficult to receive my message because you would build the new teaching directly upon the old, but I declare that you must be reborn. You must start out afresh as little children and be willing to trust my teaching and believe in God. The new gospel of the kingdom cannot be made to conform to that which is. You have wrong ideas of the Son of Man and his mission on earth. But do not make the mistake of thinking that I have come to set aside the law and the prophets; I have not come to destroy but to fulfill, to enlarge and illuminate. I come not to transgress the law but rather to write these new commandments on the tablets of your hearts.

140:6.3 (1576.3) “I demand of you a righteousness that shall exceed the righteousness of those who seek to obtain the Father’s favor by almsgiving, prayer, and fasting. If you would enter the kingdom, you must have a righteousness that consists in love, mercy, and truth—the sincere desire to do the will of my Father in heaven.”

140:6.4 (1576.4) Then said Simon Peter: “Master, if you have a new commandment, we would hear it. Reveal the new way to us.” Jesus answered Peter: “You have heard it said by those who teach the law: ‘You shall not kill; that whosoever kills shall be subject to judgment.’ But I look beyond the act to uncover the motive. I declare to you that every one who is angry with his brother is in danger of condemnation. He who nurses hatred in his heart and plans vengeance in his mind stands in danger of judgment. You must judge your fellows by their deeds; the Father in heaven judges by the intent.

140:6.5 (1576.5) “You have heard the teachers of the law say, ‘You shall not commit adultery.’ But I say to you that every man who looks upon a woman with intent to lust after her has already committed adultery with her in his heart. You can only judge men by their acts, but my Father looks into the hearts of his children and in mercy adjudges them in accordance with their intents and real desires.”

140:6.6 (1576.6) Jesus was minded to go on discussing the other commandments when James Zebedee interrupted him, asking: “Master, what shall we teach the people regarding divorcement? Shall we allow a man to divorce his wife as Moses has directed?” And when Jesus heard this question, he said: “I have not come to legislate but to enlighten. I have come not to reform the kingdoms of this world but rather to establish the kingdom of heaven. It is not the will of the Father that I should yield to the temptation to teach you rules of government, trade, or social behavior, which, while they might be good for today, would be far from suitable for the society of another age. I am on earth solely to comfort the minds, liberate the spirits, and save the souls of men. But I will say, concerning this question of divorcement, that, while Moses looked with favor upon such things, it was not so in the days of Adam and in the Garden.”

140:6.7 (1577.1) After the apostles had talked among themselves for a short time, Jesus went on to say: “Always must you recognize the two viewpoints of all mortal conduct—the human and the divine; the ways of the flesh and the way of the spirit; the estimate of time and the viewpoint of eternity.” And though the twelve could not comprehend all that he taught them, they were truly helped by this instruction.

140:6.8 (1577.2) And then said Jesus: “But you will stumble over my teaching because you are wont to interpret my message literally; you are slow to discern the spirit of my teaching. Again must you remember that you are my messengers; you are beholden to live your lives as I have in spirit lived mine. You are my personal representatives; but do not err in expecting all men to live as you do in every particular. Also must you remember that I have sheep not of this flock, and that I am beholden to them also, to the end that I must provide for them the pattern of doing the will of God while living the life of the mortal nature.”

140:6.9 (1577.3) Then asked Nathaniel: “Master, shall we give no place to justice? The law of Moses says, ‘An eye for an eye, and a tooth for a tooth.’ What shall we say?” And Jesus answered: “You shall return good for evil. My messengers must not strive with men, but be gentle toward all. Measure for measure shall not be your rule. The rulers of men may have such laws, but not so in the kingdom; mercy always shall determine your judgments and love your conduct. And if these are hard sayings, you can even now turn back. If you find the requirements of apostleship too hard, you may return to the less rigorous pathway of discipleship.”

140:6.10 (1577.4) On hearing these startling words, the apostles drew apart by themselves for a while, but they soon returned, and Peter said: “Master, we would go on with you; not one of us would turn back. We are fully prepared to pay the extra price; we will drink the cup. We would be apostles, not merely disciples.”

140:6.11 (1577.5) When Jesus heard this, he said: “Be willing, then, to take up your responsibilities and follow me. Do your good deeds in secret; when you give alms, let not the left hand know what the right hand does. And when you pray, go apart by yourselves and use not vain repetitions and meaningless phrases. Always remember that the Father knows what you need even before you ask him. And be not given to fasting with a sad countenance to be seen by men. As my chosen apostles, now set apart for the service of the kingdom, lay not up for yourselves treasures on earth, but by your unselfish service lay up for yourselves treasures in heaven, for where your treasures are, there will your hearts be also.

140:6.12 (1577.6) “The lamp of the body is the eye; if, therefore, your eye is generous, your whole body will be full of light. But if your eye is selfish, the whole body will be filled with darkness. If the very light which is in you is turned to darkness, how great is that darkness!”

140:6.13 (1577.7) And then Thomas asked Jesus if they should “continue having everything in common.” Said the Master: “Yes, my brethren, I would that we should live together as one understanding family. You are intrusted with a great work, and I crave your undivided service. You know that it has been well said: ‘No man can serve two masters.’ You cannot sincerely worship God and at the same time wholeheartedly serve mammon. Having now enlisted unreservedly in the work of the kingdom, be not anxious for your lives; much less be concerned with what you shall eat or what you shall drink; nor yet for your bodies, what clothing you shall wear. Already have you learned that willing hands and earnest hearts shall not go hungry. And now, when you prepare to devote all of your energies to the work of the kingdom, be assured that the Father will not be unmindful of your needs. Seek first the kingdom of God, and when you have found entrance thereto, all things needful shall be added to you. Be not, therefore, unduly anxious for the morrow. Sufficient for the day is the trouble thereof.”

140:6.14 (1578.1) When Jesus saw they were disposed to stay up all night to ask questions, he said to them: “My brethren, you are earthen vessels; it is best for you to go to your rest so as to be ready for the morrow’s work.” But sleep had departed from their eyes. Peter ventured to request of his Master that “I have just a little private talk with you. Not that I would have secrets from my brethren, but I have a troubled spirit, and if, perchance, I should deserve a rebuke from my Master, I could the better endure it alone with you.” And Jesus said, “Come with me, Peter”—leading the way into the house. When Peter returned from the presence of his Master much cheered and greatly encouraged, James decided to go in to talk with Jesus. And so on through the early hours of the morning, the other apostles went in one by one to talk with the Master. When they had all held personal conferences with him save the twins, who had fallen asleep, Andrew went in to Jesus and said: “Master, the twins have fallen asleep in the garden by the fire; shall I arouse them to inquire if they would also talk with you?” And Jesus smilingly said to Andrew, “They do well—trouble them not.” And now the night was passing; the light of another day was dawning.


7. The Week Following the Ordination


140:7.1 (1578.2) After a few hours’ sleep, when the twelve were assembled for a late breakfast with Jesus, he said: “Now must you begin your work of preaching the glad tidings and instructing believers. Make ready to go to Jerusalem.” After Jesus had spoken, Thomas mustered up courage to say: “I know, Master, that we should now be ready to enter upon the work, but I fear we are not yet able to accomplish this great undertaking. Would you consent for us to stay hereabouts for just a few days more before we begin the work of the kingdom?” And when Jesus saw that all of his apostles were possessed by this same fear, he said: “It shall be as you have requested; we will remain here over the Sabbath day.”

140:7.2 (1578.3) For weeks and weeks small groups of earnest truth seekers, together with curious spectators, had been coming to Bethsaida to see Jesus. Already word about him had spread over the countryside; inquiring groups had come from cities as far away as Tyre, Sidon, Damascus, Caesarea, and Jerusalem. Heretofore, Jesus had greeted these people and taught them concerning the kingdom, but the Master now turned this work over to the twelve. Andrew would select one of the apostles and assign him to a group of visitors, and sometimes all twelve of them were so engaged.

140:7.3 (1578.4) For two days they worked, teaching by day and holding private conferences late into the night. On the third day Jesus visited with Zebedee and Salome while he sent his apostles off to “go fishing, seek carefree change, or perchance visit your families.” On Thursday they returned for three more days of teaching.

140:7.4 (1578.5) During this week of rehearsing, Jesus many times repeated to his apostles the two great motives of his postbaptismal mission on earth:

140:7.5 (1578.6) 1. To reveal the Father to man.

140:7.6 (1578.7) 2. To lead men to become son-conscious—to faith-realize that they are the children of the Most High.

140:7.7 (1579.1) One week of this varied experience did much for the twelve; some even became over self-confident. At the last conference, the night after the Sabbath, Peter and James came to Jesus, saying, “We are ready—let us now go forth to take the kingdom.” To which Jesus replied, “May your wisdom equal your zeal and your courage atone for your ignorance.”

140:7.8 (1579.2) Though the apostles failed to comprehend much of his teaching, they did not fail to grasp the significance of the charmingly beautiful life he lived with them.


8. Thursday Afternoon on the Lake


140:8.1 (1579.3) Jesus well knew that his apostles were not fully assimilating his teachings. He decided to give some special instruction to Peter, James, and John, hoping they would be able to clarify the ideas of their associates. He saw that, while some features of the idea of a spiritual kingdom were being grasped by the twelve, they steadfastly persisted in attaching these new spiritual teachings directly onto their old and entrenched literal concepts of the kingdom of heaven as a restoration of David’s throne and the re-establishment of Israel as a temporal power on earth. Accordingly, on Thursday afternoon Jesus went out from the shore in a boat with Peter, James, and John to talk over the affairs of the kingdom. This was a four hours’ teaching conference, embracing scores of questions and answers, and may most profitably be put in this record by reorganizing the summary of this momentous afternoon as it was given by Simon Peter to his brother, Andrew, the following morning:

140:8.2 (1579.4) 1. Doing the Father’s will. Jesus’ teaching to trust in the overcare of the heavenly Father was not a blind and passive fatalism. He quoted with approval, on this afternoon, an old Hebrew saying: “He who will not work shall not eat.” He pointed to his own experience as sufficient commentary on his teachings. His precepts about trusting the Father must not be adjudged by the social or economic conditions of modern times or any other age. His instruction embraces the ideal principles of living near God in all ages and on all worlds.

140:8.3 (1579.5) Jesus made clear to the three the difference between the requirements of apostleship and discipleship. And even then he did not forbid the exercise of prudence and foresight by the twelve. What he preached against was not forethought but anxiety, worry. He taught the active and alert submission to God’s will. In answer to many of their questions regarding frugality and thriftiness, he simply called attention to his life as carpenter, boatmaker, and fisherman, and to his careful organization of the twelve. He sought to make it clear that the world is not to be regarded as an enemy; that the circumstances of life constitute a divine dispensation working along with the children of God.

140:8.4 (1579.6) Jesus had great difficulty in getting them to understand his personal practice of nonresistance. He absolutely refused to defend himself, and it appeared to the apostles that he would be pleased if they would pursue the same policy. He taught them not to resist evil, not to combat injustice or injury, but he did not teach passive tolerance of wrongdoing. And he made it plain on this afternoon that he approved of the social punishment of evildoers and criminals, and that the civil government must sometimes employ force for the maintenance of social order and in the execution of justice.

140:8.5 (1579.7) He never ceased to warn his disciples against the evil practice of retaliation; he made no allowance for revenge, the idea of getting even. He deplored the holding of grudges. He disallowed the idea of an eye for an eye and a tooth for a tooth. He discountenanced the whole concept of private and personal revenge, assigning these matters to civil government, on the one hand, and to the judgment of God, on the other. He made it clear to the three that his teachings applied to the individual, not the state. He summarized his instructions up to that time regarding these matters, as:

140:8.6 (1580.1) Love your enemies—remember the moral claims of human brotherhood.

140:8.7 (1580.2) The futility of evil: A wrong is not righted by vengeance. Do not make the mistake of fighting evil with its own weapons.

140:8.8 (1580.3) Have faith—confidence in the eventual triumph of divine justice and eternal goodness.

140:8.9 (1580.4) 2. Political attitude. He cautioned his apostles to be discreet in their remarks concerning the strained relations then existing between the Jewish people and the Roman government; he forbade them to become in any way embroiled in these difficulties. He was always careful to avoid the political snares of his enemies, ever making reply, “Render to Caesar the things which are Caesar’s and to God the things which are God’s.” He refused to have his attention diverted from his mission of establishing a new way of salvation; he would not permit himself to be concerned about anything else. In his personal life he was always duly observant of all civil laws and regulations; in all his public teachings he ignored the civic, social, and economic realms. He told the three apostles that he was concerned only with the principles of man’s inner and personal spiritual life.

140:8.10 (1580.5) Jesus was not, therefore, a political reformer. He did not come to reorganize the world; even if he had done this, it would have been applicable only to that day and generation. Nevertheless, he did show man the best way of living, and no generation is exempt from the labor of discovering how best to adapt Jesus’ life to its own problems. But never make the mistake of identifying Jesus’ teachings with any political or economic theory, with any social or industrial system.

140:8.11 (1580.6) 3. Social attitude. The Jewish rabbis had long debated the question: Who is my neighbor? Jesus came presenting the idea of active and spontaneous kindness, a love of one’s fellow men so genuine that it expanded the neighborhood to include the whole world, thereby making all men one’s neighbors. But with all this, Jesus was interested only in the individual, not the mass. Jesus was not a sociologist, but he did labor to break down all forms of selfish isolation. He taught pure sympathy, compassion. Michael of Nebadon is a mercy-dominated Son; compassion is his very nature.

140:8.12 (1580.7) The Master did not say that men should never entertain their friends at meat, but he did say that his followers should make feasts for the poor and the unfortunate. Jesus had a firm sense of justice, but it was always tempered with mercy. He did not teach his apostles that they were to be imposed upon by social parasites or professional alms-seekers. The nearest he came to making sociological pronouncements was to say, “Judge not, that you be not judged.”

140:8.13 (1580.8) He made it clear that indiscriminate kindness may be blamed for many social evils. The following day Jesus definitely instructed Judas that no apostolic funds were to be given out as alms except upon his request or upon the joint petition of two of the apostles. In all these matters it was the practice of Jesus always to say, “Be as wise as serpents but as harmless as doves.” It seemed to be his purpose in all social situations to teach patience, tolerance, and forgiveness.

140:8.14 (1581.1) The family occupied the very center of Jesus’ philosophy of life—here and hereafter. He based his teachings about God on the family, while he sought to correct the Jewish tendency to overhonor ancestors. He exalted family life as the highest human duty but made it plain that family relationships must not interfere with religious obligations. He called attention to the fact that the family is a temporal institution; that it does not survive death. Jesus did not hesitate to give up his family when the family ran counter to the Father’s will. He taught the new and larger brotherhood of man—the sons of God. In Jesus’ time divorce practices were lax in Palestine and throughout the Roman Empire. He repeatedly refused to lay down laws regarding marriage and divorce, but many of Jesus’ early followers had strong opinions on divorce and did not hesitate to attribute them to him. All of the New Testament writers held to these more stringent and advanced ideas about divorce except John Mark.

140:8.15 (1581.2) 4. Economic attitude. Jesus worked, lived, and traded in the world as he found it. He was not an economic reformer, although he did frequently call attention to the injustice of the unequal distribution of wealth. But he did not offer any suggestions by way of remedy. He made it plain to the three that, while his apostles were not to hold property, he was not preaching against wealth and property, merely its unequal and unfair distribution. He recognized the need for social justice and industrial fairness, but he offered no rules for their attainment.

140:8.16 (1581.3) He never taught his followers to avoid earthly possessions, only his twelve apostles. Luke, the physician, was a strong believer in social equality, and he did much to interpret Jesus’ sayings in harmony with his personal beliefs. Jesus never personally directed his followers to adopt a communal mode of life; he made no pronouncement of any sort regarding such matters.

140:8.17 (1581.4) Jesus frequently warned his listeners against covetousness, declaring that “a man’s happiness consists not in the abundance of his material possessions.” He constantly reiterated, “What shall it profit a man if he gain the whole world and lose his own soul?” He made no direct attack on the possession of property, but he did insist that it is eternally essential that spiritual values come first. In his later teachings he sought to correct many erroneous Urantia views of life by narrating numerous parables which he presented in the course of his public ministry. Jesus never intended to formulate economic theories; he well knew that each age must evolve its own remedies for existing troubles. And if Jesus were on earth today, living his life in the flesh, he would be a great disappointment to the majority of good men and women for the simple reason that he would not take sides in present-day political, social, or economic disputes. He would remain grandly aloof while teaching you how to perfect your inner spiritual life so as to render you manyfold more competent to attack the solution of your purely human problems.

140:8.18 (1581.5) Jesus would make all men Godlike and then stand by sympathetically while these sons of God solve their own political, social, and economic problems. It was not wealth that he denounced, but what wealth does to the majority of its devotees. On this Thursday afternoon Jesus first told his associates that “it is more blessed to give than to receive.”

140:8.19 (1581.6) 5. Personal religion. You, as did his apostles, should the better understand Jesus’ teachings by his life. He lived a perfected life on Urantia, and his unique teachings can only be understood when that life is visualized in its immediate background. It is his life, and not his lessons to the twelve or his sermons to the multitudes, that will assist most in revealing the Father’s divine character and loving personality.

140:8.20 (1582.1) Jesus did not attack the teachings of the Hebrew prophets or the Greek moralists. The Master recognized the many good things which these great teachers stood for, but he had come down to earth to teach something additional, “the voluntary conformity of man’s will to God’s will.” Jesus did not want simply to produce a religious man, a mortal wholly occupied with religious feelings and actuated only by spiritual impulses. Could you have had but one look at him, you would have known that Jesus was a real man of great experience in the things of this world. The teachings of Jesus in this respect have been grossly perverted and much misrepresented all down through the centuries of the Christian era; you have also held perverted ideas about the Master’s meekness and humility. What he aimed at in his life appears to have been a superb self-respect. He only advised man to humble himself that he might become truly exalted; what he really aimed at was true humility toward God. He placed great value upon sincerity—a pure heart. Fidelity was a cardinal virtue in his estimate of character, while courage was the very heart of his teachings. “Fear not” was his watchword, and patient endurance his ideal of strength of character. The teachings of Jesus constitute a religion of valor, courage, and heroism. And this is just why he chose as his personal representatives twelve commonplace men, the majority of whom were rugged, virile, and manly fishermen.

140:8.21 (1582.2) Jesus had little to say about the social vices of his day; seldom did he make reference to moral delinquency. He was a positive teacher of true virtue. He studiously avoided the negative method of imparting instruction; he refused to advertise evil. He was not even a moral reformer. He well knew, and so taught his apostles, that the sensual urges of mankind are not suppressed by either religious rebuke or legal prohibitions. His few denunciations were largely directed against pride, cruelty, oppression, and hypocrisy.

140:8.22 (1582.3) Jesus did not vehemently denounce even the Pharisees, as did John. He knew many of the scribes and Pharisees were honest of heart; he understood their enslaving bondage to religious traditions. Jesus laid great emphasis on “first making the tree good.” He impressed the three that he valued the whole life, not just a certain few special virtues.

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140:8.23 (1582.4) The one thing which John gained from this day’s teaching was that the heart of Jesus’ religion consisted in the acquirement of a compassionate character coupled with a personality motivated to do the will of the Father in heaven.

140:8.24 (1582.5) Peter grasped the idea that the gospel they were about to proclaim was really a fresh beginning for the whole human race. He conveyed this impression subsequently to Paul, who formulated therefrom his doctrine of Christ as “the second Adam.”

140:8.25 (1582.6) James grasped the thrilling truth that Jesus wanted his children on earth to live as though they were already citizens of the completed heavenly kingdom.

140:8.26 (1582.7) Jesus knew men were different, and he so taught his apostles. He constantly exhorted them to refrain from trying to mold the disciples and believers according to some set pattern. He sought to allow each soul to develop in its own way, a perfecting and separate individual before God. In answer to one of Peter’s many questions, the Master said: “I want to set men free so that they can start out afresh as little children upon the new and better life.” Jesus always insisted that true goodness must be unconscious, in bestowing charity not allowing the left hand to know what the right hand does.

140:8.27 (1583.1) The three apostles were shocked this afternoon when they realized that their Master’s religion made no provision for spiritual self-examination. All religions before and after the times of Jesus, even Christianity, carefully provide for conscientious self-examination. But not so with the religion of Jesus of Nazareth. Jesus’ philosophy of life is without religious introspection. The carpenter’s son never taught character building; he taught character growth, declaring that the kingdom of heaven is like a mustard seed. But Jesus said nothing which would proscribe self-analysis as a prevention of conceited egotism.

140:8.28 (1583.2) The right to enter the kingdom is conditioned by faith, personal belief. The cost of remaining in the progressive ascent of the kingdom is the pearl of great price, in order to possess which a man sells all that he has.

140:8.29 (1583.3) The teaching of Jesus is a religion for everybody, not alone for weaklings and slaves. His religion never became crystallized (during his day) into creeds and theological laws; he left not a line of writing behind him. His life and teachings were bequeathed the universe as an inspirational and idealistic inheritance suitable for the spiritual guidance and moral instruction of all ages on all worlds. And even today, Jesus’ teaching stands apart from all religions, as such, albeit it is the living hope of every one of them.

140:8.30 (1583.4) Jesus did not teach his apostles that religion is man’s only earthly pursuit; that was the Jewish idea of serving God. But he did insist that religion was the exclusive business of the twelve. Jesus taught nothing to deter his believers from the pursuit of genuine culture; he only detracted from the tradition-bound religious schools of Jerusalem. He was liberal, big-hearted, learned, and tolerant. Self-conscious piety had no place in his philosophy of righteous living.

140:8.31 (1583.5) The Master offered no solutions for the nonreligious problems of his own age nor for any subsequent age. Jesus wished to develop spiritual insight into eternal realities and to stimulate initiative in the originality of living; he concerned himself exclusively with the underlying and permanent spiritual needs of the human race. He revealed a goodness equal to God. He exalted love—truth, beauty, and goodness—as the divine ideal and the eternal reality.

140:8.32 (1583.6) The Master came to create in man a new spirit, a new will—to impart a new capacity for knowing the truth, experiencing compassion, and choosing goodness—the will to be in harmony with God’s will, coupled with the eternal urge to become perfect, even as the Father in heaven is perfect.


9. The Day of Consecration


140:9.1 (1583.7) The next Sabbath day Jesus devoted to his apostles, journeying back to the highland where he had ordained them; and there, after a long and beautifully touching personal message of encouragement, he engaged in the solemn act of the consecration of the twelve. This Sabbath afternoon Jesus assembled the apostles around him on the hillside and gave them into the hands of his heavenly Father in preparation for the day when he would be compelled to leave them alone in the world. There was no new teaching on this occasion, just visiting and communion.

140:9.2 (1584.1) Jesus reviewed many features of the ordination sermon, delivered on this same spot, and then, calling them before him one by one, he commissioned them to go forth in the world as his representatives. The Master’s consecration charge was: “Go into all the world and preach the glad tidings of the kingdom. Liberate spiritual captives, comfort the oppressed, and minister to the afflicted. Freely you have received, freely give.”

140:9.3 (1584.2) Jesus advised them to take neither money nor extra clothing, saying, “The laborer is worthy of his hire.” And finally he said: “Behold I send you forth as sheep in the midst of wolves; be you therefore as wise as serpents and as harmless as doves. But take heed, for your enemies will bring you up before their councils, while in their synagogues they will castigate you. Before governors and rulers you will be brought because you believe this gospel, and your very testimony shall be a witness for me to them. And when they lead you to judgment, be not anxious about what you shall say, for the spirit of my Father indwells you and will at such a time speak through you. Some of you will be put to death, and before you establish the kingdom on earth, you will be hated by many peoples because of this gospel; but fear not; I will be with you, and my spirit shall go before you into all the world. And my Father’s presence will abide with you while you go first to the Jews, then to the gentiles.”

140:9.4 (1584.3) And when they came down from the mountain, they journeyed back to their home in Zebedee’s house.


10. The Evening After the Consecration


140:10.1 (1584.4) That evening while teaching in the house, for it had begun to rain, Jesus talked at great length, trying to show the twelve what they must be, not what they must do. They knew only a religion that imposed the doing of certain things as the means of attaining righteousness—salvation. But Jesus would reiterate, “In the kingdom you must be righteous in order to do the work.” Many times did he repeat, “Be you therefore perfect, even as your Father in heaven is perfect.” All the while was the Master explaining to his bewildered apostles that the salvation which he had come to bring to the world was to be had only by believing, by simple and sincere faith. Said Jesus: “John preached a baptism of repentance, sorrow for the old way of living. You are to proclaim the baptism of fellowship with God. Preach repentance to those who stand in need of such teaching, but to those already seeking sincere entrance to the kingdom, open the doors wide and bid them enter into the joyous fellowship of the sons of God.” But it was a difficult task to persuade these Galilean fishermen that, in the kingdom, being righteous, by faith, must precede doing righteousness in the daily life of the mortals of earth.

140:10.2 (1584.5) Another great handicap in this work of teaching the twelve was their tendency to take highly idealistic and spiritual principles of religious truth and remake them into concrete rules of personal conduct. Jesus would present to them the beautiful spirit of the soul’s attitude, but they insisted on translating such teachings into rules of personal behavior. Many times, when they did make sure to remember what the Master said, they were almost certain to forget what he did not say. But they slowly assimilated his teaching because Jesus was all that he taught. What they could not gain from his verbal instruction, they gradually acquired by living with him.

140:10.3 (1585.1) It was not apparent to the apostles that their Master was engaged in living a life of spiritual inspiration for every person of every age on every world of a far-flung universe. Notwithstanding what Jesus told them from time to time, the apostles did not grasp the idea that he was doing a work on this world but for all other worlds in his vast creation. Jesus lived his earth life on Urantia, not to set a personal example of mortal living for the men and women of this world, but rather to create a high spiritual and inspirational ideal for all mortal beings on all worlds.

140:10.4 (1585.2) This same evening Thomas asked Jesus: “Master, you say that we must become as little children before we can gain entrance to the Father’s kingdom, and yet you have warned us not to be deceived by false prophets nor to become guilty of casting our pearls before swine. Now, I am honestly puzzled. I cannot understand your teaching.” Jesus replied to Thomas: “How long shall I bear with you! Ever you insist on making literal all that I teach. When I asked you to become as little children as the price of entering the kingdom, I referred not to ease of deception, mere willingness to believe, nor to quickness to trust pleasing strangers. What I did desire that you should gather from the illustration was the child-father relationship. You are the child, and it is your Father’s kingdom you seek to enter. There is present that natural affection between every normal child and its father which insures an understanding and loving relationship, and which forever precludes all disposition to bargain for the Father’s love and mercy. And the gospel you are going forth to preach has to do with a salvation growing out of the faith-realization of this very and eternal child-father relationship.”

140:10.5 (1585.3) The one characteristic of Jesus’ teaching was that the morality of his philosophy originated in the personal relation of the individual to God—this very child-father relationship. Jesus placed emphasis on the individual, not on the race or nation. While eating supper, Jesus had the talk with Matthew in which he explained that the morality of any act is determined by the individual’s motive. Jesus’ morality was always positive. The golden rule as restated by Jesus demands active social contact; the older negative rule could be obeyed in isolation. Jesus stripped morality of all rules and ceremonies and elevated it to majestic levels of spiritual thinking and truly righteous living.

140:10.6 (1585.4) This new religion of Jesus was not without its practical implications, but whatever of practical political, social, or economic value there is to be found in his teaching is the natural outworking of this inner experience of the soul as it manifests the fruits of the spirit in the spontaneous daily ministry of genuine personal religious experience.

140:10.7 (1585.5) After Jesus and Matthew had finished talking, Simon Zelotes asked, “But, Master, are all men the sons of God?” And Jesus answered: “Yes, Simon, all men are the sons of God, and that is the good news you are going to proclaim.” But the apostles could not grasp such a doctrine; it was a new, strange, and startling announcement. And it was because of his desire to impress this truth upon them that Jesus taught his followers to treat all men as their brothers.

140:10.8 (1585.6) In response to a question asked by Andrew, the Master made it clear that the morality of his teaching was inseparable from the religion of his living. He taught morality, not from the nature of man, but from the relation of man to God.

140:10.9 (1585.7) John asked Jesus, “Master, what is the kingdom of heaven?” And Jesus answered: “The kingdom of heaven consists in these three essentials: first, recognition of the fact of the sovereignty of God; second, belief in the truth of sonship with God; and third, faith in the effectiveness of the supreme human desire to do the will of God—to be like God. And this is the good news of the gospel: that by faith every mortal may have all these essentials of salvation.”

140:10.10 (1586.1) And now the week of waiting was over, and they prepared to depart on the morrow for Jerusalem.

 

Documento 140

A Ordenação dos Doze

140:0.1 (1568.1) POUCO antes do meio-dia, no domingo, 12 de janeiro do ano 27 d.C., Jesus reuniu os apóstolos para a ordenação deles, como pregadores públicos do evangelho do Reino. Aqueles doze homens estavam esperando ser chamados a qualquer dia; e, assim, nessa manhã eles não foram muito longe da margem para pescar. Vários deles permaneceram perto da margem, fazendo reparos nas suas redes ou consertando a sua parafernália de pesca.

140:0.2 (1568.2) Quando desceu até a praia, Jesus chamou os apóstolos e saudou primeiro a André e Pedro, que estavam pescando perto da margem; em seguida sinalizou para Tiago e João, que estavam em um barco por perto, conversando com Zebedeu, o pai deles, e remendando as suas redes. Dois a dois, ele convocou os apóstolos e, quando havia reunido todos os doze, seguiu com eles para as terras altas ao norte de Cafarnaum, onde continuou a dar-lhes instruções para a ordenação formal deles.

140:0.3 (1568.3) Daquela vez, todos os doze apóstolos encontravam-se em silêncio; até mesmo Pedro estava disposto a refletir. Afinal, a hora tão esperada havia chegado! Eles seguiam a sós com o Mestre, para participar de alguma espécie de cerimônia solene de consagração pessoal, e de dedicação coletiva ao trabalho sagrado de representar o seu Mestre, na proclamação da vinda do Reino do seu Pai.

 

1. A Instrução Preliminar

 

140:1.1 (1568.4) Antes do serviço da ordenação formal, Jesus falou a todos os doze, assentados em volta dele: “Meus irmãos, chegou a hora do Reino. Estais aqui comigo, isolados, porque eu vos vou apresentar ao Pai como embaixadores do Reino. Alguns de vós me ouvistes falando deste Reino na sinagoga, logo quando fostes chamados. Cada um de vós aprendeu mais sobre o Reino do Pai depois que estivestes trabalhando comigo nas cidades, em volta do mar da Galiléia. E agora eu tenho algo mais a dizer-vos a respeito deste Reino.

140:1.2 (1568.5) “O novo Reino que meu Pai está para estabelecer nos corações dos seus filhos terrenos é um domínio perene. Esse governo do meu Pai nos corações dos que desejarem fazer a sua divina vontade não terá fim. Eu declaro que meu Pai não é um Deus só de judeus e gentios. Muitos virão, do leste e do oeste, para se sentarem conosco no Reino do Pai, enquanto muitos dos filhos de Abraão recusar- se-ão a aderir à nova fraternidade de prevalecimento do espírito do Pai nos corações dos filhos dos homens.

140:1.3 (1568.6) “O poder deste Reino não consistirá da força de exércitos, nem do poder de riquezas, mas, sim da glória do espírito divino que virá para ensinar às mentes e governar os corações dos cidadãos renascidos do Reino celeste, os filhos de Deus. Essa, a fraternidade do amor, na qual reina a retidão, e cujo grito de batalha será: Paz na Terra e boa vontade a todos os homens. Esse Reino que estais a ponto de proclamar é o desejo dos homens bons de todas as idades, a esperança de toda a Terra e o cumprimento de todas as promessas sábias de todos os profetas.

140:1.4 (1569.1) “Para vós, filhos meus, e para todos os outros que vos seguirão neste Reino, há um teste severo. Apenas a fé vos fará passar pelos seus portais; mas deveis produzir os frutos do espírito do meu Pai se quiserdes continuar a ascender na vida progressiva da irmandade divina. Em verdade, em verdade, vos digo, nem todos aqueles que dizem: ‘Senhor, Senhor’, entrarão no Reino do céu; mas antes aqueles que cumprem a vontade do meu Pai que está no céu.

140:1.5 (1569.2) “A vossa mensagem para o mundo será: buscai primeiro o Reino de Deus e Sua retidão, e, ao chegardes a tanto, todas as outras coisas essenciais para a sobrevivência eterna vos serão asseguradas, por acréscimo. E agora eu deixo claro para vós que o Reino do meu Pai não virá com uma aparência exterior de poder, nem com uma demonstração pouco inusitada. E, pois, não deveis sair para proclamar o Reino dizendo: ‘ele é aqui’ ou ‘é lá’. Pois tal Reino que pregais é Deus dentro de vós.

140:1.6 (1569.3) “Aquele que quiser ser grande no Reino do meu Pai deve tornar-se um ministro para todos; e aquele que quiser ser o primeiro no vosso meio, que se torne o servidor dos irmãos. E quando fordes recebidos realmente como cidadãos, no Reino celeste, não mais sereis servos, sereis filhos do Deus vivo. E assim progredirá esse Reino, no mundo, até quebrar todas as barreiras e levar os homens todos a conhecerem meu Pai e acreditarem na verdade salvadora que eu vim declarar. E, agora mesmo, o Reino está ao alcance das mãos; e alguns de vós não morrereis sem terdes visto o Reino de Deus surgir em grande poder.

140:1.7 (1569.4) “E o que os vossos olhos agora contemplam, esse pequeno começo de doze homens comuns, multiplicar-se-á e crescerá, até que finalmente toda a Terra seja preenchida de louvor ao meu Pai. E não será assim, tanto pelas palavras que disserdes quanto pelas vidas que viverdes, que os homens saberão que vós tereis estado comigo e que tereis aprendido sobre as realidades do Reino. E, se bem que eu não queira depositar cargas pesadas nas vossas mentes, eu deverei colocar sobre as vossas almas a responsabilidade solene de me representarem para o mundo, quando, em breve, eu vos deixar do mesmo modo como eu agora represento o meu Pai, nesta vida que estou vivendo na carne”. E quando terminou de falar, ele levantou-se.

 

2. A Ordenação

 

140:2.1 (1569.5) Jesus agora instruía os doze mortais que o haviam ouvido, na sua declaração a respeito do Reino, que se ajoelhassem em um círculo em volta dele. E então o Mestre colocou as suas mãos na cabeça de cada um dos apóstolos, começando por Judas Iscariotes e terminando por André. Depois de abençoá-los, Jesus estendeu as suas mãos e orou:

140:2.2 (1569.6) “Meu Pai, agora eu Te trago estes homens, meus mensageiros. Eu escolhi estes doze, dentre os nossos filhos da Terra, para que saiam e me representem como eu vim representar-Te. Ama a eles e esteja com eles, como Tu me amaste e estiveste comigo. E, agora, meu Pai, dá sabedoria a esses homens, pois eu coloco todos os assuntos do Reino que virá nas mãos deles. E eu gostaria, se for da Tua vontade, de permanecer na Terra por um tempo para ajudá-los, nos seus trabalhos para o Reino. E novamente, meu Pai, agradeço a Ti por ter estes homens, e os confio à Tua guarda enquanto eu vou terminar o trabalho que me encarregaste de fazer”.

140:2.3 (1570.1) Quando Jesus terminou de orar, os apóstolos permaneceram quietos, inclinados em reverência, cada um deles no seu lugar. Muitos minutos se passaram, antes até mesmo que Pedro ousasse levantar os olhos no intuito de olhar para o Mestre. Um a um, abraçaram Jesus, mas nenhum daqueles homens disse palavra. Um grande silêncio penetrou o local, enquanto uma hoste de seres celestes contemplava esta cena solene e sagrada — o Criador de um universo, colocando os assuntos da irmandade divina dos homens sob a condução de mentes humanas.

 

3. O Sermão da Ordenação

 

140:3.1 (1570.2) E então Jesus tomou a palavra e disse: “Agora, portanto, que sois embaixadores do Reino do meu Pai, vos convertestes numa classe de homens distinta e separada de todos os outros homens na Terra. Não sois apenas homens entre homens, mas sois como os cidadãos esclarecidos de uma outra Terra celeste, entre as criaturas ignorantes deste mundo escuro. Não basta viverdes como se estivéreis diante deste momento, mas doravante deveis viver como aqueles que provaram das glórias de uma vida melhor e que foram enviados de volta para a Terra, como embaixadores do Soberano daquele mundo novo melhor. Do instrutor é esperado mais do que do aluno; do dono é exigido mais que do servo. Dos cidadãos do Reino celeste é exigido mais do que dos cidadãos do governo terrestre. Algumas coisas que eu vos direi podem parecer difíceis, mas vós escolhestes representar-me no mundo, como eu agora represento o Pai e, como agentes meus na Terra, sereis obrigados a comportar-vos segundo os ensinamentos e práticas que refletem os meus ideais da vida mortal, para os mundos do espaço, e aos quais eu dou o exemplo da minha vida terrestre, revelando o Pai que está nos céus.

140:3.2 (1570.3) “Assim vos envio ao mundo para proclamardes a liberdade a todos que estiverem no cativeiro espiritual, para júbilo dos prisioneiros do medo e para curardes os doentes de acordo com a vontade do meu Pai nos céus. Quando virdes os meus filhos em angústia falai a eles encorajado-os, dizendo:

140:3.3 (1570.4) “Felizes sejam os pobres em espírito, os humildes, pois deles são os tesouros do Reino do céu.

140:3.4 (1570.5) “Felizes sejam aqueles que têm fome e sede de retidão, pois serão saciados.

140:3.5 (1570.6) “Felizes sejam os mansos, pois herdarão a Terra.

140:3.6 (1570.7) “Felizes

sejam os puros de coração, pois verão a Deus.

140:3.7 (1570.8) “E, deste mesmo modo, ireis falar aos meus filhos, com estas mesmas palavras de conforto espiritual e de promessa:

140:3.8 (1570.9) “Felizes sejam aqueles que pranteiam, pois serão confortados. Felizes sejam os que choram, pois receberão o espírito do júbilo.

140:3.9 (1570.10) “Felizes sejam os misericordiosos, pois receberão a misericórdia.

140:3.10 (1570.11) “Felizes sejam os pacificadores, pois serão chamados de filhos de Deus.

140:3.11 (1570.12) “Felizes os que forem perseguidos em nome da retidão, pois deles é o Reino do céu. Sede felizes quando os homens vos insultarem e vos perseguirem e contra vós lançarem falsamente todas as formas de mal. Jubilai em plena alegria, pois grande é a vossa recompensa nos céus.

140:3.12 (1570.13) “Meus irmãos, eu vos envio, pois, ao mundo; e sois o sal da Terra; sal com sabor de salvação. E, entretanto, se esse sal perder o sabor, com o que é que se salgará? E de nada servirá mais, a menos que seja para ser jogado fora e pisoteado pelos homens.

140:3.13 (1570.14) “Vós sois a luz do mundo. Uma cidade plantada em uma colina não pode ficar escondida. E os homens não acendem uma vela para escondê-la, mas em um candeeiro, para que dê uz a todos que estão na casa. Que a vossa luz brilhe, assim, diante dos homens, para que eles possam ver vossas boas obras e para que sejam levados a glorificar o vosso Pai que está nos céus.

140:3.14 (1571.1) “Eu vos envio ao mundo para que me representeis e sejais os embaixadores do Reino do meu Pai; e, quando sairdes para proclamar as boas-novas, confiai no Pai de quem sois mensageiros. Não resistais à injustiça com a força; nem coloqueis a vossa confiança no braço da carne. Se o vosso semelhante bater na vossa face direita, dai-lhe também a outra. Estai dispostos a sofrer de injustiças mais do que fazer cumprir a lei entre vós. Na bondade e na misericórdia, ministrai a todos que estão na infelicidade e na necessidade.

140:3.15 (1571.2) “E eu vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam. Abençoai àqueles que vos amaldiçoam, e orai por aqueles que se servem de vós com desprezo. E tratai aos homens do mesmo modo que acreditais que eu os trataria.

140:3.16 (1571.3) “O vosso Pai nos céus faz o sol brilhar sobre os maus, tanto quanto sobre os bons; do mesmo modo ele envia a chuva ao justo e ao injusto. Vós sois os filhos de Deus, e mesmo ainda mais; sois agora os embaixadores do Reino do meu Pai. Sede misericordiosos, como Deus é misericordioso, e, no futuro eterno do Reino, vós sereis perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito.

140:3.17 (1571.4) “Tendes a missão de salvar os homens, não de julgá-los. Ao final da vossa vida terrena, todos deveis esperar misericórdia; e, pois, peço-vos que, durante a vossa vida mortal, demonstreis misericórdia para com todos os vossos irmãos na carne. Não cometais o erro de tentar tirar um cisco do olho do vosso irmão, quando há uma trave dentro dos vossos próprios olhos. Tendo primeiro retirado a trave do vosso próprio olho, vós podeis ver melhor para tirar o cisco do olho do irmão.

140:3.18 (1571.5) “Discerni a verdade com clareza; vivei a vida de retidão com destemor; e, desse modo, sereis apóstolos e os embaixadores do meu Pai. Ouvistes o que foi dito: ‘Se um cego guia outro cego, ambos cairão no buraco’. Se quiserdes guiar outros ao Reino, deveis vós próprios caminhar na luz clara da verdade viva. Para com todos os assuntos do Reino eu vos exorto a demonstrar um julgamento justo e uma sabedoria aguçada. Não apresenteis aos cães aquilo que é sagrado; nem jogueis as vossas pérolas aos porcos, pois eles pisarão nas vossas gemas e voltar-se-ão contra vós.

140:3.19 (1571.6) “Eu vos previno contra os falsos profetas que virão a vós em peles de ovelhas, enquanto por dentro são como lobos devoradores. Pelos frutos vós os reconhecereis. Os homens colhem uvas dos espinheiros ou figos dos cardos? E ainda assim, toda boa árvore dá bons frutos; mas a árvore corrupta dá um fruto malévolo. Uma boa árvore não pode produzir frutos maus; nem pode uma árvore corrupta produzir bons frutos. Toda árvore que não dá bons frutos é logo derrubada e jogada ao fogo. Para se ganhar a entrada no Reino do céu, é o motivo que conta. Meu Pai olha dentro dos corações dos homens e julga-os pelas suas aspirações interiores e suas intenções sinceras.

140:3.20 (1571.7) “No grande dia de julgamento do Reino, muitos dirão a mim: ‘Nós não professamos em vosso nome, e pelo vosso nome não fizemos obras maravilhosas?’ Contudo, serei obrigado a dizer-lhes: ‘Nunca vos conheci; afastai-vos de mim; vós que sois falsos instrutores’. E todo aquele que ouve essa instrução e sinceramente executa a sua missão de me representar diante dos homens, do mesmo modo como eu representei o meu Pai para vós, terá uma entrada ampla no meu serviço e no Reino do Pai celeste”.

140:3.21 (1571.8) Nunca antes os apóstolos tinham ouvido Jesus falar desse modo, pois ele falou-lhes como quem tem a autoridade suprema. Eles retornaram da montanha por volta do pôr-do-sol, mas nenhum daqueles homens fez pergunta alguma a Jesus.

 

4. Vós Sois o Sal da Terra

 

140:4.1 (1572.1) O chamado “Sermão da Montanha” não é o evangelho de Jesus. Ele contém muitos ensinamentos úteis, mas foi feito como instrução da ordenação de Jesus aos doze apóstolos. Foi a missão pessoal do Mestre, para aqueles que iriam pregar o evangelho e que aspiravam a representá-lo no mundo dos homens, do mesmo modo que ele, tão eloqüente e perfeitamente, representava o seu Pai.

140:4.2 (1572.2) “Vós sois o sal da Terra, sal que tem sabor de salvação. E se esse sal perder o seu sabor, com o que se salgará? Não mais será bom para nada a não ser para se jogar fora e ser pisoteado pelos homens.”

140:4.3 (1572.3) Na época de Jesus o sal era precioso. Era usado até mesmo como dinheiro. A moderna palavra “salário” deriva-se de sal. O sal não apenas dá sabor aos alimentos, mas é também um conservante. Faz com que os alimentos fiquem mais saborosos, e para isso ele serve.

140:4.4 (1572.4) “Vós sois a luz do mundo. Uma cidade plantada numa colina não pode esconder- se. Nem os homens acendem uma vela e a colocam às escondidas, mas em um candeeiro; e ele dá a luz a todos os que estão na casa. Que a vossa luz brilhe assim diante dos homens, para que eles possam ver as vossas boas obras e para que sejam levados a glorificar o vosso Pai, que está no céu.”

140:4.5 (1572.5) Ainda que a luz dissipe as trevas, ela também pode “cegar” a ponto de confundir e frustrar. Somos exortados a fazer a nossa luz brilhar de um modo tal que os nossos semelhantes sejam guiados a novos e bons caminhos de vida elevada. A nossa luz deveria brilhar assim, não para atrair a atenção para nós próprios. Até mesmo a vossa atividade de vocação pode ser utilizada como um “refletor” eficaz para a disseminação dessa luz de vida.

140:4.6 (1572.6) Os caracteres fortes não se formam por não fazerem absolutamente o mal, mas muito mais por fazerem de fato o bem. A ausência de egoísmo é uma insígnia de grandeza humana. Os níveis mais elevados de auto-realização são alcançados pela adoração e o serviço. A pessoa feliz e eficiente é motivada, não pelo medo de fazer o errado, mas pelo amor de fazer o certo.

140:4.7 (1572.7) “Pelos seus frutos vós os conhecereis.” A personalidade é basicamente imutável; o que muda — cresce — é o caráter moral. O erro maior das religiões modernas é o negativismo. A árvore que não dá frutos é “derrubada e jogada ao fogo”. O valor moral não pode originar-se apenas na repressão e na obediência à injunção que prega o “não farás”. O medo e a vergonha são motivações sem valor para a vivência religiosa. A religião é válida apenas quando revela a paternidade de Deus e realça a irmandade dos homens.

140:4.8 (1572.8) Uma filosofia eficaz de vida é formada pela combinação de discernimento cósmico com o todo das reações emocionais ao ambiente social e econômico. Lembrai-vos: Conquanto os impulsos hereditários não possam ser modificados fundamentalmente, as respostas emocionais a tais impulsos podem ser mudadas; a natureza moral pode, portanto, ser modificada, o caráter pode ser melhorado. No caráter forte as respostas emocionais são integradas e coordenadas e, assim, é produzida uma personalidade unificada. Uma unificação deficiente enfraquece a natureza moral e engendra a infelicidade.

140:4.9 (1572.9) Sem uma meta digna, a vida fica desinteressante, torna-se inútil, e resulta em muita infelicidade. O discurso de Jesus para a ordenação dos doze constitui uma filosofia da mestria da vida. Jesus recomendou, aos seus seguidores, exercerem a fé experiencial. Ele exortou-os a não dependerem de meros consentimentos intelectuais; nem de uma credulidade ordinária, nem da autoridade estabelecida.

140:4.10 (1573.1) A educação deveria ser uma técnica de aprendizado (a descoberta) de melhores métodos de gratificar as nossas tendências naturais e as herdadas; e a felicidade é o todo resultante dessas técnicas mais elevadas para obter satisfações emocionais. A felicidade depende pouco do ambiente, embora os locais agradáveis possam contribuir grandemente para ela.

140:4.11 (1573.2) Todo mortal anseia realmente por ser uma pessoa completa, por ser perfeito, como o Pai no céu é perfeito; e realizar isso se torna possível porque, em última análise, o “universo é verdadeiramente paterno”.

 

5. O Amor Paterno e o Amor Fraterno

 

140:5.1 (1573.3) Do Sermão da Montanha ao discurso da Última Ceia, Jesus ensinou os seus seguidores a manifestar o amor paterno mais do que o amor fraterno. O amor fraterno seria amar o teu semelhante como a ti próprio, e isso seria um preenchimento adequado da “regra de ouro”. O afeto paterno, todavia, requer que tu ames os teus semelhantes mortais como Jesus te ama.

140:5.2 (1573.4) Jesus ama a humanidade com um afeto dual. Ele viveu na Terra como uma personalidade de duas naturezas — a humana e a divina. Como Filho de Deus, ele ama o homem com um amor paterno — ele é o Criador do homem, o seu pai neste universo. Enquanto Filho do Homem, Jesus ama os mortais como um irmão — ele foi verdadeiramente um homem entre os homens.

140:5.3 (1573.5) Jesus não esperou que os seus seguidores realizassem uma manifestação impossível de amor fraterno, mas ele esperou que eles se esforçassem para ser como Deus — para serem perfeitos como o Pai no céu é perfeito — , que eles pudessem começar a ver o homem como Deus vê as suas criaturas e que, portanto, pudessem começar a amar os homens como Deus os ama — demonstrando o começo de um afeto paterno. Durante essas exortações aos doze apóstolos, Jesus buscou revelar esse novo conceito do amor paterno, do modo como ele se relaciona a algumas atitudes emocionais preocupadas em fazer numerosos ajustamentos sociais para o meio ambiente.

140:5.4 (1573.6) O Mestre apresentou esse discurso memorável chamando a atenção para quatro atitudes de fé, como um prelúdio para retratar subseqüentemente as suas quatro reações transcendentes e supremas de amor paterno, contrastando-as com as limitações do amor meramente fraterno.

140:5.5 (1573.7) Primeiro ele falou daqueles que eram pobres em espírito e famintos de retidão, daqueles que persistiam na mansidão e eram puros de coração. Podia-se esperar que esses mortais discernidores do espírito alcançassem níveis divinos tais, de ausência de egoísmo, que os tornassem capazes de atingir o exercício surpreendente do afeto paterno; que, mesmo como lamentadores, teriam forças para demonstrar misericórdia, promover a paz e resistir às perseguições e, durante todas essas situações de provação, que amassem até mesmo a uma humanidade não amável, com um amor paterno. Um afeto paterno pode alcançar níveis de devoção que transcendem incomensuravelmente um afeto fraterno.

140:5.6 (1573.8) A fé e o amor, nessas beatitudes, fortalecem o caráter moral e criam a felicidade. O medo e a raiva enfraquecem o caráter e destroem a felicidade. Esse sermão memorável teve o seu começo com uma nota sobre a felicidade.

140:5.7 (1573.9) 1. “Felizes são os pobres em espírito — os humildes.” Para uma criança, a felicidade é a satisfação de um desejo de prazer imediato. O adulto está disposto a semear os grãos da renúncia, com o fito de ter colheitas subseqüentes de maior felicidade. Na época de Jesus e desde então, a felicidade tem sido muito freqüentemente associada à idéia da posse de riquezas. Na história do fariseu e do publicano orando no templo, um sentia-se rico em espírito — egotista — ; o outro se sentia “pobre em espírito” — humilde. Um era auto-suficiente; o outro era capaz de aprender e de buscar a verdade. O pobre em espírito busca as metas da riqueza espiritual — busca Deus. E os que buscam a verdade não têm de esperar por recompensas em um futuro distante; eles são recompensados agora. Eles encontram o Reino do céu dentro dos seus próprios corações, e experimentam uma tal felicidade agora.

140:5.8 (1574.1) 2. “Felizes são aqueles que têm fome e sede de retidão, pois serão saciados”. Apenas aqueles que se sentem pobres em espírito irão ter fome e sede de retidão. Apenas os humildes buscam a força divina e almejam o poder espiritual. No entanto é muito perigoso praticar conscientemente o jejum espiritual com o fito de melhorar o próprio apetite pelos dons espirituais. O jejum físico torna-se perigoso, depois de quatro ou cinco dias; faz com que nos tornemos aptos a perder todo desejo de alimento. O jejum prolongado, seja físico ou espiritual, tende a destruir a fome.

140:5.9 (1574.2) A retidão na experiência é um prazer, não um dever. A retidão de Jesus é um amor dinâmico — o afeto paterno junto com o fraterno. Não é o tipo de retidão negativa, o tipo “não faça” de retidão. Como é que alguém poderia almejar uma coisa negativa — uma coisa a “não fazer”?

140:5.10 (1574.3) Não é tão fácil ensinar, à mente de uma criança, essas duas primeiras beatitudes, mas a mente amadurecida deveria captar o significado delas.

140:5.11 (1574.4) 3. “Felizes são os mansos, pois eles herdarão a Terra.” A mansidão genuína não tem nenhuma relação com o medo. É mais a atitude de um homem cooperando com Deus — “A vossa vontade será feita”. Abrange a paciência e a tolerância, e é motivada pela fé inabalável em um universo amistoso e cumpridor da lei. Ela mantém o controle de todas as tentações de rebeldia contra o guiamento divino. Jesus foi o homem manso ideal de Urântia; e ele herdou um vasto universo.

140:5.12 (1574.5) 4. “Felizes são os puros de coração, pois eles verão Deus.” A pureza espiritual não é uma qualidade negativa, a não ser ao negar a suspeita e a vingança. Ao discutir sobre a pureza, Jesus não teve a intenção de tratar exclusivamente das atitudes sexuais humanas. Ele referia-se mais àquela fé que o homem deveria ter no seu semelhante; aquela fé que um pai tem no seu filho, e que o capacita a amar os seus semelhantes como um pai os amaria. O amor do pai não necessita mimar, e não fecha os olhos para o mal, mas é sempre o oposto do cinismo. O amor paterno tem sempre um único propósito e sempre busca o melhor no homem, que é a atitude de um verdadeiro progenitor.

140:5.13 (1574.6) Ver Deus — por meio da fé — significa adquirir o verdadeiro discernimento espiritual. E o discernimento espiritual intensifica o guiamento do Ajustador, e tudo isso, no fim, aumenta a consciência de Deus. E quando vós conhecerdes o Pai, vós estareis confirmados na certeza da filiação divina; e podereis amar cada vez mais a cada um dos vossos irmãos na carne, não apenas como um irmão — com o amor fraterno — mas também como um pai — com o afeto paterno.

140:5.14 (1574.7) Essa exortação é fácil de transmitir, até mesmo a uma criança. As crianças são naturalmente confiantes, e os pais deveriam procurar fazer com que elas não perdessem essa fé simples. Ao lidardes com as crianças, evitai qualquer modo de enganá-las e abstendes de sugerir suspeitas. Sabiamente ajudai-as a selecionar os seus heróis e a escolher o trabalho da vida delas.

140:5.15 (1574.8) E então Jesus continuou a instruir os seus discípulos na realização do propósito principal de toda a luta humana — a perfeição — , a própria realização divina. E ele sempre lhes lembrava: “Sede perfeitos, como o vosso Pai nos céus é perfeito”. Ele não exortava os doze a amar os seus semelhantes como eles amavam a si próprios. Isso teria sido uma realização condigna; teria indicado a realização do amor fraterno. Jesus aconselhava os seus apóstolos a amar os homens como ele os havia amado — com o amor paterno, tanto quanto com um afeto fraterno. E ilustrava isso apontando as quatro reações supremas do amor paterno:

140:5.16 (1575.1) 1. “Felizes são os que pranteiam, pois serão confortados.” Nem o chamado senso comum, nem a melhor das lógicas nunca sugeririam que a felicidade poderia derivar-se da aflição. Jesus, porém, não se referia ao lamento externo nem ostensivo. Ele aludia a uma atitude emocional de ternura de coração. É um grande erro ensinar aos meninos e aos rapazes que não é masculino demonstrar ternura ou, por qualquer outro meio, evidenciar sentimentos emocionais ou sofrimento físico. A compaixão é um atributo tão condigno para o homem quanto o é para a mulher. Não é necessário aparentar dureza para ser masculino. Essa é a forma errada de criar homens corajosos. Os grandes homens do mundo não tiveram medo de lamentar. Moisés, o lamentador, foi um grande homem, mais do que Sansão e mais do que Golias. Moisés foi um líder magnífico, mas ele era um homem também de mansidão. Ser sensível e susceptível às necessidades humanas gera uma felicidade genuína e duradoura; e, ao mesmo tempo, essas atitudes gentis protegem a alma das influências destrutivas da raiva, do ódio e da suspeita.

140:5.17 (1575.2) 2. “Felizes são os misericordiosos, pois eles alcançarão a misericórdia.” Misericórdia aqui tem a conotação da altura, da profundidade e da largura da mais verdadeira amizade — o amor da bondade. A misericórdia, algumas vezes pode ser passiva, mas aqui ela é ativa e dinâmica — a paternalidade suprema. Um pai cheio de amor pouca dificuldade tem de perdoar o seu filho, e de perdoá- lo até muitas vezes. E, para com um filho não mimado, o impulso de aliviar o sofrimento é natural. Os filhos são normalmente bons e compassivos quando já têm idade suficiente para avaliar as condições reais.

140:5.18 (1575.3) 3. “Felizes são os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.” Os ouvintes de Jesus tinham uma sede ardente de libertação militar, não de pacificadores. A paz de Jesus, contudo, não é da espécie pacífica e negativa. Em face das provações e das perseguições, ele disse: “A minha paz eu a deixo convosco”. “Que o vosso coração não seja perturbado, e que não padeça de temores.” Esta é a paz que evita conflitos danosos. A paz pessoal integra a personalidade. A paz social afasta o medo, a cobiça e a raiva. A paz política impede os antagonismos raciais, as suspeitas nacionais e a guerra. Buscar a paz é a cura para a desconfiança e a suspeita.

140:5.19 (1575.4) As crianças podem aprender facilmente a funcionar como pacificadoras. Elas gostam de atividades grupais; elas gostam de brincar juntas. E o Mestre disse certa vez: “Quem quiser salvar a sua vida irá perdê-la, mas quem perder a sua vida encontrá-la-á”.

140:5.20 (1575.5) 4. “Felizes daqueles que são perseguidos por causa da sua retidão, pois deles é o Reino do céu. Felizes deveis ficar quando os homens vos insultarem, perseguirem e lançarem falsamente todo o tipo de mal contra vós. Rejubilai-vos na alegria mais extrema, pois grande é a vossa recompensa nos céus.”

140:5.21 (1575.6) E, assim, freqüentemente a perseguição vem depois da paz. E os jovens e os adultos corajosos nunca fogem da dificuldade ou do perigo. “Nenhum amor é maior do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos.” E um amor paterno pode livremente fazer todas essas coisas — coisas que o amor fraterno dificilmente consegue abranger. E o progresso tem sido sempre a colheita final da perseguição.

140:5.22 (1575.7) As crianças sempre respondem ao desafio da coragem. A juventude está sempre disposta a “ousar”. E toda criança deveria aprender cedo a sacrificar-se.

140:5.23 (1575.8) E assim é revelado que as beatitudes do Sermão da Montanha são baseadas na fé e no amor, e não na lei — na ética ou dever.

140:5.24 (1575.9) O amor paterno tem prazer em dar o bem em troca do mal — fazer o bem em represália à injustiça.

 

6. A Noite da Ordenação

 

140:6.1 (1576.1) Domingo ao anoitecer, quando chegaram à casa de Zebedeu, vindos das terras altas ao norte de Cafarnaum, Jesus e os doze compartilharam uma refeição simples. Em seguida Jesus saiu para uma caminhada pela praia, enquanto os doze conversavam entre si. Depois de uma breve discussão, enquanto os gêmeos faziam uma pequena fogueira para dar-lhes calor e mais luz, André foi encontrar Jesus e, quando o alcançou, disse: “Mestre, meus irmãos permanecem incapazes de compreender o que disseste sobre o Reino. Não nos sentimos capazes de começar este trabalho, antes que nos dês outras instruções. Eu vim para pedir-te que te juntes a nós no jardim e que nos ajude a compreender o significado das tuas palavras”. E Jesus foi com André encontrar-se com os apóstolos.

140:6.2 (1576.2) Depois de entrar no jardim e reunir os apóstolos em volta de si, Jesus ensinou- lhes outras coisas mais, e disse-lhes: “Achais difícil receber a minha mensagem porque quereis construir o novo ensinamento diretamente em cima do antigo, mas eu declaro que deveis renascer. Deveis começar de novo, como pequenas crianças; e deveis estar dispostos a confiar no meu ensinamento e acreditar em Deus. O novo evangelho do Reino não pode ser tomado como se se quisesse conformá- lo ao que existe. Vós tendes idéias erradas sobre o Filho do Homem e sua missão na Terra. E não cometais o erro de pensar que eu vim para pôr de lado a lei e os profetas; eu não vim para destruir, mas para cumprir, para ampliar e iluminar. Eu não vim para transgredir a lei, mas antes para escrever esses novos mandamentos nas tábuas dos vossos corações.

140:6.3 (1576.3) “Eu peço de vós uma retidão que excederá a retidão daqueles que buscam obter o favorecimento do Pai por meio de caridades, prece e jejum. Se quiserdes entrar no Reino, deveis ter uma retidão que consiste no amor, misericórdia e verdade — o desejo sincero de fazer a vontade do meu Pai nos céus.”

140:6.4 (1576.4) Então disse Simão Pedro: “Mestre, se tu tens um novo mandamento, nós o ouviremos. Revela a nós o novo caminho”. Jesus respondeu a Pedro: “Vós ouvistes, dito por aqueles que ensinam a lei: ‘Não matarás, pois aquele que matar estará sujeito a julgamento’. Entretanto eu olho além do ato, para ver o motivo a descoberto. E declaro a vós que todo aquele que tiver raiva do seu irmão está em perigo de condenação. Aquele que nutre o ódio no seu coração e planeja a vingança na sua mente, está em perigo de ser julgado. Vós apenas podeis julgar os vossos companheiros pelos atos deles; o Pai, que está nos céus, julga pela intenção.

140:6.5 (1576.5) “Ouvistes os instrutores da lei dizendo: ‘Não cometereis adultério’. Mas eu vos digo que todo homem que olha para uma mulher, com a intenção de desejo por ela, já cometeu o adultério com ela, no seu coração. Vós podeis julgar os homens apenas pelos seus atos, mas o meu Pai vê dentro dos corações dos seus filhos e, com misericórdia, julga-os, de acordo com as suas intenções e com os desejos reais”.

140:6.6 (1576.6) Jesus tinha a intenção de continuar examinando os outros mandamentos, quando Tiago Zebedeu interrompeu-o, perguntando: “Mestre, o que devemos ensinar ao povo a respeito do divórcio? Devemos permitir a um homem divorciar- se da sua mulher, como Moisés mandou?” E, quando ouviu essa pergunta, Jesus disse: “Eu não vim para legislar, mas para esclarecer. Eu vim, não para reformar os reinos deste mundo, mas antes para estabelecer o Reino do céu. Não é da vontade do Pai que eu devesse ceder à tentação de ensinar-vos regras para o governo, o comércio, ou o comportamento social, as quais, embora pudessem ser boas para hoje, poderiam estar longe de serem adequadas para a sociedade de outra idade. Estou na Terra somente para confortar as mentes, para liberar os espíritos e para salvar as almas dos homens. Mas, a respeito dessa questão do divórcio, eu vos direi que, embora Moisés fosse favorável a esses procedimentos, não era assim nos dias de Adão no Jardim”.

140:6.7 (1577.1) Depois que os apóstolos haviam conversado entre si, durante um certo tempo, Jesus continuou a falar: “Vós deveis sempre reconhecer dois pontos de vista em toda conduta mortal — o humano e o divino; os caminhos da carne e o caminho do espírito; a perspectiva do tempo e a visão da eternidade”. E, embora os doze não pudessem compreender tudo o que ele lhes ensinava, eles foram realmente ajudados por essa instrução.

140:6.8 (1577.2) E então disse Jesus: “Mas vós tropeçareis nos meus ensinamentos porque vós estais acostumados a interpretar a minha mensagem literalmente; sois vagarosos ao discernir o espírito do meu ensinamento. De novo, deveis lembrar-vos de que sois os meus mensageiros; vós sois obrigados a viver as vossas vidas como eu tenho vivido a minha espiritualmente. Vós sois os meus representantes pessoais; mas não cometais o engano de esperar que todos os homens vivam como vós, sob todos os pontos de vista. Vós vos deveis lembrar também de que eu tenho ovelhas que não são desse rebanho; e que também tenho obrigações para com elas, pois devo prover-lhes o modelo de fazer a vontade do Pai, enquanto eu viver a vida da natureza mortal”.

140:6.9 (1577.3) Natanael perguntou, então: “Mestre, não devemos dar um lugar à justiça? A lei de Moisés diz: ‘Um olho por um olho, e um dente por um dente’. O que devemos dizer?” E Jesus respondeu: “Deveis retribuir o mal com o bem. Os meus mensageiros não devem disputar com os homens, mas devem ser gentis com todos. Medida por medida, não será essa a vossa regra. Os chefes entre os homens podem ter tais leis, mas não é assim no Reino; a misericórdia determinará sempre os vossos julgamentos, e o amor determinará a vossa conduta. E se esses são princípios duros, ainda agora podeis desistir. Se achardes os quesitos do apostolado muito penosos, podeis voltar para o caminho menos rigoroso do discipulado”.

140:6.10 (1577.4) Ao ouvir essas palavras assustadoras, os apóstolos reuniram-se todos, à parte, por um momento, mas logo voltaram, e Pedro disse: “Mestre, gostaríamos de continuar contigo; nenhum de nós retrocederia. Estamos totalmente preparados para arcar com o preço extra; beberemos da taça. Gostaríamos de ser apóstolos, não discípulos meramente”.

140:6.11 (1577.5) Quando ouviu isso, Jesus disse: “Estais dispostos, então, a assumir as vossas responsabilidades e seguir-me. Fazei as vossas boas ações em segredo; e, quando derdes esmolas, que a vossa mão esquerda não saiba o que fez a mão direita. E, quando orardes, devereis permanecer separados e a sós e não usareis de repetições vãs nem de frases sem sentido. Lembrai-vos sempre que o Pai sabe o que necessitais, antes mesmo de pedirdes a Ele. E não vos entregueis a jejuns, mantendo uma figura triste, para serdes vistos pelos homens. Como apóstolos escolhidos meus, agora a serviço do Reino, não deveis armazenar para vós próprios os tesouros desta Terra, mas, pelos vossos serviços altruístas, armazenai tesouros no céu, pois onde estiverem vossos tesouros, lá também estarão os vossos corações.

140:6.12 (1577.6) “A lâmpada do corpo é o olho; portanto, se o vosso olho é generoso, o vosso corpo inteiro estará cheio de luz. Mas se o vosso olho é egoísta, o corpo inteiro será preenchido por trevas. Se a própria luz que está em vós estiver voltada para as trevas, grandes serão essas trevas!”

140:6.13 (1577.7) E então Tomé perguntou a Jesus se eles deveriam “continuar tendo tudo em comum”. Disse o Mestre: “Sim, meus irmãos, eu gostaria que vivêssemos juntos, como uma família que se entende bem. Estais encarregados de um grande trabalho, e almejo que o vosso serviço não se divida. Vós sabeis que foi dito com justeza: ‘Nenhum homem pode servir a dois mestres’. Vós não podeis adorar sinceramente a Deus e, de todo o coração, ao mesmo tempo servir à cobiça. Tendo agora vos alistado, sem reservas, no trabalho do Reino, não tenhais ansiedades pelas vossas vidas; e muito menos deveis preocupar-vos com o que ireis comer ou com o que ireis beber; nem mesmo com os vossos corpos, nem com a roupa que devereis usar. Vós já aprendestes que mãos dispostas e corações honestos nunca terão fome. E agora, quando vos preparardes para devotar todas as vossas energias ao trabalho do Reino, podeis estar seguros de que o Pai não irá esquecer-se das vossas necessidades. Antes buscai o Reino de Deus e, quando houverdes encontrado a vossa entrada nele, todas as coisas que vos forem necessárias, virão por acréscimo. Não sejais, portanto, indevidamente ansiosos com o amanhã. Devemos preocupar-nos com o que é suficiente para o dia”.

140:6.14 (1578.1) Quando viu que estavam dispostos a permanecer acordados toda a noite fazendo perguntas, Jesus lhes disse: “Meus irmãos, os vossos corpos são como vasos de barro; é melhor irdes descansar para que estejais prontos para o trabalho de amanhã”. Mas o sono tinha fugido dos olhos deles. Pedro aventurou-se a pedir ao Mestre: “Posso ter só uma pequena conversa em particular contigo? Não que eu tenha segredos para os meus irmãos, mas tenho o espírito atormentado e, por acaso, se eu tiver de merecer uma reprimenda do meu Mestre, eu a suportaria melhor se estivesse a sós contigo”. E Jesus disse: “Vem comigo, Pedro” — conduzindo-o para dentro da casa. Quando Pedro retornou de junto da presença do seu Mestre muito animado e grandemente encorajado, Tiago decidiu ir falar com Jesus. E assim, até as primeiras horas da madrugada, os outros apóstolos foram, um a um, falar com o Mestre. Quando todos tinham tido já uma conversa pessoal com ele, exceto os gêmeos, que haviam caído no sono, André foi a Jesus e disse: “Mestre, os gêmeos caíram no sono no jardim, ao lado da fogueira; devo despertá-los e perguntar se querem também falar contigo?” E Jesus sorrindo disse a André: “Eles estão bem — não os incomode”. E, agora, a noite chegava ao fim; a luz de um outro dia estava surgindo.

 

7. A Semana Seguinte à da Ordenação

 

140:7.1 (1578.2) Depois de umas poucas horas de sono, quando os doze estavam reunidos para um desjejum tardio com Jesus, ele disse: “Agora, deveis começar o vosso trabalho de pregar as boas-novas e de instruir os crentes. Preparai-vos para ir a Jerusalém”. Depois de Jesus ter falado, Tomé ganhou coragem para dizer: “Sei, Mestre, que deveríamos estar prontos agora para iniciar o trabalho, mas temo que não estejamos ainda aptos para realizar essa grande tarefa. Consentirias que ficássemos por aqui apenas mais uns poucos dias, antes de começarmos o trabalho do Reino?” E quando Jesus viu que todos os seus apóstolos estavam possuídos por esse mesmo temor, ele disse: “Será como vós pedistes; permaneceremos aqui até o sábado”.

140:7.2 (1578.3) Durante semanas e mais semanas pequenos grupos de buscadores sinceros da verdade, junto com espectadores curiosos, haviam vindo a Betsaida para ver Jesus. Já se falava sobre ele, em todo o país; os grupos de indagadores vinham de cidades distantes como Tiro, Sidom, Damasco, Cesaréia e Jerusalém. Até então, Jesus havia saudado essa gente e lhes havia ensinado sobre o Reino, mas agora o Mestre repassava esse trabalho aos doze. André escolheria um dos apóstolos e o designaria para um grupo de visitantes e, algumas vezes, todos os doze ficavam ocupados nessa tarefa.

140:7.3 (1578.4) Por dois dias eles trabalharam, ensinando dia a dia e mantendo conversas particulares até tarde da noite. Ao terceiro dia Jesus conversou com Zebedeu e Salomé, enquanto mandou os seus apóstolos “saírem para pescar, buscando mudanças e distrações, ou mesmo visitar as famílias”. Na quinta-feira eles retornaram para mais três dias de ensinamentos.

140:7.4 (1578.5) Durante essa semana de aperfeiçoamento, muitas vezes Jesus repetiu aos seus apóstolos os dois grandes motivos da sua missão pós-batismal na Terra:

140:7.5 (1578.6) 1. Revelar o Pai ao homem.

140:7.6 (1578.7) 2. Conduzir os homens para que eles se tornem conscientes da filiação — da compreensão, pela fé, de que são filhos do Altíssimo.

140:7.7 (1579.1) Uma semana dessa experiência variada fez muito pelos doze apóstolos; alguns se tornaram até autoconfiantes demais. Na última conversa, na noite depois do sábado, Pedro e Tiago vieram a Jesus, dizendo: “Nós estamos prontos — agora podemos ir em frente, e ensinar sobre o Reino”. Ao que Jesus respondeu: “Que a vossa sabedoria se iguale ao vosso zelo e que a vossa coragem compense a vossa ignorância”.

140:7.8 (1579.2) Embora os apóstolos não compreendessem muita coisa dos seus ensinamentos, eles não deixavam de entender o significado da beleza da vida encantadora que levaram junto ao Mestre.

 

8. Quinta Feira à Tarde no Lago

 

140:8.1 (1579.3) Jesus sabia muito bem que os seus apóstolos não estavam assimilando plenamente os ensinamentos. E decidiu dar alguma instrução especial a Pedro, Tiago e João, esperando que eles fossem capazes de dar esclarecimentos aos seus companheiros. Ele sabia que, conquanto alguns aspectos da idéia de um Reino espiritual estivessem sendo captados pelos doze, eles continuavam rigidamente associando, direta e literalmente, esses novos ensinamentos espirituais do Reino do céu aos seus conceitos antigos, já entranhados e cristalizados; como se o Reino pudesse ser algo como uma restauração do trono de Davi e um restabelecimento de Israel no seu poder temporal na Terra. Desse modo, na quinta-feira à tarde, Jesus foi à praia e saiu em um barco com Pedro, Tiago e João, para conversarem sobre os assuntos do Reino. Essa foi uma conversa de quatro horas, e abrangeu muitas perguntas e respostas, e deve ser de proveito colocar tudo aqui, neste registro, que reorganiza o sumário dessa tarde memorável, como foi passado por Simão Pedro ao seu irmão, André, na manhã seguinte:

140:8.2 (1579.4) 1. Fazer a vontade do Pai. O ensinamento de Jesus, para que se confie nos cuidados superiores do Pai celeste, não é o de um fatalismo cego e passivo. Ele cita, aprovando, nessa tarde, uma antiga afirmação hebraica que declara: “Aquele que não trabalha não comerá”. E aponta a sua própria experiência como sendo um testemunho suficiente dos seus próprios ensinamentos. Os seus preceitos, sobre confiar no Pai, não devem ser analisados segundo as condições sociais e econômicas dos tempos modernos ou de qualquer outra idade. A instrução dele abrange os princípios ideais, da vida perto de Deus, em todas as idades e em todos os mundos.

140:8.3 (1579.5) Jesus deixou claro, para os três, a diferença entre as exigências para as funções do apostolado e as do discipulado. E ainda assim ele não proibiu, aos doze, o exercício da prudência e da previsão. Ele era contrário à ansiedade e à preocupação, não à precaução. Ele ensinava a submissão alerta e ativa à vontade de Deus. Em resposta a muitas das perguntas deles a respeito de frugalidades e de trivialidades, ele simplesmente chamou a atenção para a sua vida de carpinteiro, de construtor de barcos e de pescador, e para a sua cuidadosa organização dos doze. Ele procurou deixar claro que o mundo não é para ser encarado como um inimigo; que as circunstâncias da vida são formadas dentro de uma dispensação divina de dádivas, que trabalha junto com os filhos de Deus.

140:8.4 (1579.6) Jesus teve uma grande dificuldade em fazê-los compreender a sua prática pessoal da não-resistência. Ele recusava-se absolutamente a defender-se, e parecia aos apóstolos que ele ficaria contente se eles seguissem a mesma política. Ele ensinou-lhes a não resistir ao mal, a não combater a injustiça nem a injúria, mas ele não lhes ensinou como tolerar passivamente a conduta errada. E deixou claro, nessa tarde, que aprovava a punição social dos malfeitores e dos criminosos; e que o governo civil deveria, algumas vezes, empregar a força na manutenção da ordem social e na execução da justiça.

140:8.5 (1579.7) Ele nunca cessou de prevenir aos seus discípulos contra as más práticas da represália; ele desaprovava totalmente a vingança, a idéia do acerto de contas. Ele deplorava o fato de haver quem guardasse rancores. E não aprovava a idéia de olho por olho e dente por dente. Ele rejeitava todo o conceito da revanche privada e pessoal, atribuindo essas questões ao governo civil, por um lado, e ao julgamento de Deus, por outro. Ele deixou claro, para os três, que os seus ensinamentos aplicavam-se ao indivíduo, não ao Estado. Ele resumiu as suas instruções, até aquele momento, a respeito de todas essas questões da seguinte forma:

140:8.6 (1580.1) Amai os vossos inimigos — lembrai-vos das asserções morais da irmandade humana.

140:8.7 (1580.2) A inutilidade do mal: um erro não se torna certo pela vingança. Não cometais o erro de responder ao mal com as próprias armas dele.

140:8.8 (1580.3) Tende fé — confiança no triunfo final da justiça divina e da bondade eterna.

140:8.9 (1580.4) 2. A atitude política. Jesus advertiu aos seus apóstolos para que fossem discretos nas suas observações a respeito das relações, então estremecidas, existentes entre o povo judeu e o governo romano; e proibiu-os de envolverem-se, de qualquer modo, nessas dificuldades. Ele sempre manteve o cuidado de evitar as ciladas políticas dos seus inimigos, sempre com a observação: “Dai a César as coisas que são de César, e a Deus as coisas que são de Deus”. Jesus negava- se a deixar a sua atenção dispersar-se da sua missão de estabelecer um novo caminho de salvação; ele não permitiria a si próprio envolver-se em qualquer outra coisa. Na sua vida pessoal, sempre observou devidamente todas as leis e as regras civis; em todos os seus ensinamentos públicos, ignorou os reinos civil, social e econômico. Ele disse aos três apóstolos que ele ocupava-se apenas com os princípios da vida interior pessoal e espiritual do homem.

140:8.10 (1580.5) Jesus não foi, portanto, um reformador político. Ele não veio para reorganizar o mundo; e ainda que tivesse feito reformas, elas teriam sido aplicáveis apenas àqueles dias e àquela geração. Todavia, ele mostrou ao homem o melhor modo de viver, e nenhuma geração está isenta do trabalho de descobrir como melhor adequar a vida de Jesus aos seus próprios problemas. Nunca, todavia, deveis cometer o erro de identificar os ensinamentos de Jesus com qualquer teoria política ou econômica, ou com qualquer sistema social ou industrial.

140:8.11 (1580.6) 3. A atitude social. Os rabinos judeus há muito vinham debatendo sobre a questão: Quem é o meu próximo? Jesus apresentou a idéia da bondade ativa e espontânea, um amor tão legítimo pelo semelhante, que fez expandir a noção do que é o próximo, o vizinho, a ponto de incluir o mundo inteiro, e então fazendo com que os nossos próximos fossem todos os homens. Mas, com tudo isso, Jesus estava interessado apenas no indivíduo, não na massa. Jesus não era um sociólogo, ele apenas trabalhou para romper todas as formas de isolamento egoísta. Ele ensinou a simpatia da pura compaixão. Michael de Nébadon é um Filho dominado pela misericórdia; a compaixão é a sua natureza mesma.

140:8.12 (1580.7) O Mestre não disse que os homens não devessem entreter os seus amigos durante as refeições, mas ele disse que os seus seguidores deveriam fazer festas para os pobres e os desafortunados. Jesus tinha um senso firme de justiça, mas que foi sempre temperado pela misericórdia. Ele não ensinou aos seus apóstolos que deixassem os parasitas sociais e os pedintes profissionais tirar vantagem deles. O mais próximo que ele esteve de fazer pronunciamentos sociológicos foi quando mencionou: “Não julgueis, para que não sejais julgados”.

140:8.13 (1580.8) Jesus deixou claro que a bondade indiscriminada poderia ser considerada a culpada de muitos males sociais. No dia seguinte Jesus deu a Judas a instrução definitiva de que nenhum fundo apostólico fosse dado como esmola, a não ser a pedido dele ou sob o pedido conjunto de dois dos apóstolos. Para todas essas questões, a prática era que Jesus dissesse: “Sede sábios como as serpentes, mas tão inofensivos como os pombos”. Parecia ser o seu propósito, em todas as situações sociais, ensinar a paciência, a tolerância e o perdão.

140:8.14 (1581.1) A família ocupava o centro mesmo da filosofia de vida de Jesus — aqui e na vida futura. Ele baseava os seus ensinamentos sobre Deus na família e, ao mesmo tempo, tentava corrigir a tendência judaica de honrar os antepassados em exagero. Exaltava a vida familiar como o dever humano mais elevado, mas deixava claro que as relações familiares não deveriam interferir nas obrigações religiosas. Ele chamava a atenção para o fato de que a família é uma instituição temporal; de que ela não sobrevive à morte. Jesus não hesitou em abdicar-se da sua família, quando a família se postou contrariamente à vontade do Pai. Ele ensinou a mais nova e ampla irmandade entre os homens — os filhos de Deus. No tempo de Jesus, os hábitos e a prática do divórcio eram relaxados, na Palestina, e em todo o império romano. Ele recusou-se reiteradamente a estabelecer leis a respeito do casamento e do divórcio, mas muitos dos primeiros seguidores de Jesus tinham opiniões bem marcadas sobre o divórcio e não hesitaram em atribuí-las a ele. Todos os escritores do Novo Testamento, exceto João Marcos, ativeram-se às idéias mais rigorosas e avançadas sobre o divórcio.

140:8.15 (1581.2) 4. A atitude econômica. Jesus trabalhou, viveu e transacionou no mundo do modo como o encontrou. Ele não foi um reformador econômico, embora freqüentemente chamasse a atenção para a injustiça da distribuição desigual das riquezas. E não propôs, para remediar isso, quaisquer sugestões. Deixou claro, para os três, que, conquanto não fosse para os seus apóstolos manterem propriedades, ele não estava pregando contra a riqueza e a propriedade, mas meramente sobre a sua distribuição injusta e desigual. Reconhecia a necessidade de justiça social e de eqüidade industrial, mas não propôs regras para que isso fosse estabelecido.

140:8.16 (1581.3) Jesus nunca ensinou aos seus seguidores que evitassem posses terrenas; apenas aos seus doze apóstolos ele ensinou isso. Lucas, o médico, era um forte crente da igualdade social, e muito fez para interpretar as palavras de Jesus, em harmonia com as suas crenças pessoais. Jesus nunca ordenou pessoalmente, aos seus seguidores, que adotassem um modo comunitário de vida; ele não se pronunciou, de nenhum modo, sobre essas questões.

140:8.17 (1581.4) Ele prevenia, freqüentemente, aos seus ouvintes sobre a cobiça, declarando que “a felicidade de um homem não reside na abundância das suas posses materiais”. Ele reiterava constantemente: “De que serve a um homem ganhar todo o mundo e perder a sua própria alma?” Ele não fez nenhum ataque direto à posse de propriedades, mas insistiu em que é eternamente essencial que os valores espirituais venham em primeiro lugar. Nos seus ensinamentos posteriores ele procurava corrigir muitos erros, cometidos na visão da vida predominante em Urântia, narrando numerosas parábolas, as quais ele apresentava durante as suas ministrações públicas. Jesus nunca teve a intenção de formular teorias econômicas; ele bem sabia que cada idade deve desenvolver os próprios remédios para os males existentes. E, se Jesus estivesse na Terra, hoje, vivendo a sua vida na carne, ele traria um grande desapontamento à maioria dos bons homens e mulheres, pela simples razão de que não tomaria posições na política atual, nem nas disputas sociais e econômicas. Ele permaneceria bastante reservado ao ensinar-vos como perfeccionar a vossa vida espiritual interior, de modo a vos tornar muito mais competentes para enfrentar a solução dos vossos problemas puramente humanos.

140:8.18 (1581.5) Jesus gostaria de tornar todos os homens semelhantes a Deus; e, então, acompanhá- los à distância, com compaixão, até que esses filhos de Deus resolvessem os seus próprios problemas políticos, sociais e econômicos. Não foi à riqueza que ele denunciou, mas ao que essa riqueza faz à maioria dos devotos dela. Nessa quinta-feira, à tarde, Jesus primeiro disse aos seus discípulos que “mais abençoado é dar do que receber”.

140:8.19 (1581.6) 5. A religião pessoal. Como fizeram os apóstolos, deveríeis entender melhor os ensinamentos de Jesus, por intermédio da sua vida. Ele viveu uma vida perfeita em Urântia, e os seus ensinamentos sem par só podem ser entendidos quando a sua vida é vista como o suporte direto desses ensinamentos. É a sua vida, e não as suas lições aos doze, ou os seus sermões para as multidões, que mais ajudarão a revelar o caráter divino e a personalidade amorosa do Pai.

140:8.20 (1582.1) Jesus não atacou os ensinamentos dos profetas hebreus, nem os dos moralistas gregos. O Mestre reconheceu as muitas coisas boas que esses grandes instrutores representavam, mas ele havia vindo à Terra para ensinar algo mais: “A conformidade voluntária da vontade do homem à vontade de Deus”. Jesus não queria simplesmente produzir um homem religioso, um mortal ocupado integralmente com os sentimentos religiosos e movido apenas por impulsos espirituais. Caso pudésseis apenas ter dado uma olhada nele, teríeis sabido que Jesus era realmente um homem de grande experiência nas coisas deste mundo. Os ensinamentos de Jesus, a esse respeito, têm sido deturpados grosseiramente e bastante adulterados, durante todos esses séculos da era cristã; vós também tendes mantido idéias deturpadas sobre a mansidão e a humildade do Mestre. O que ele almejou, na sua vida, parece ter sido um auto-respeito magnífico. Ele só aconselhou o homem a humilhar-se, para que ele pudesse ser verdadeiramente exaltado; o que ele realmente almejava era a verdadeira humildade para com Deus. Ele dava grande valor à sinceridade — a um coração puro. A fidelidade era uma virtude cardinal segundo a sua avaliação do caráter, enquanto a coragem era a essência mesma dos seus ensinamentos. “Não temais” era o seu lema; e a persistência paciente, o seu ideal de força de caráter. Os ensinamentos de Jesus constituem uma religião de valor, de coragem e de heroísmo. E é exatamente por isso que ele escolheu, para serem os seus representantes pessoais, doze homens comuns, a maioria dos quais era de pescadores rudes, viris e varonis.

140:8.21 (1582.2) Pouco tendo a dizer sobre os vícios sociais dos seus dias, Jesus raramente fazia referência à degenerescência moral. Ele era um instrutor positivo da virtude verdadeira. Ele evitava atentamente o método negativo de administrar a instrução; ele recusava-se a apregoar qualquer coisa do mal. Ele nem mesmo foi um reformador moral. Ele bem sabia, e assim ele ensinou aos seus apóstolos, que as urgências sensuais da humanidade não são suprimidas nem pela repressão religiosa, nem pelas proibições legais. As suas poucas denúncias foram dirigidas mais contra o orgulho, a crueldade, a opressão e a hipocrisia.

140:8.22 (1582.3) Jesus não denunciou com veemência nem mesmo os fariseus, como o fez João. Sabia serem, muitos dos escribas e fariseus, honestos nos seus corações; ele compreendeu a submissão escravizada deles às tradições religiosas. Jesus punha uma grande ênfase em “primeiro tornar boa a árvore”. E fez com que aqueles três compreendessem bem que dava valor à vida como um todo, não apenas a algumas poucas virtudes em especial.

140:8.23 (1582.4) A coisa que João aprendeu com os ensinamentos desse dia foi que a essência da religião de Jesus consistia na aquisição de um caráter compassivo, junto com uma personalidade motivada a fazer a vontade do Pai do céu.

140:8.24 (1582.5) Pedro captou a idéia de que o evangelho, que estavam à beira de proclamar, era realmente um novo começo para toda a raça humana. E, posteriormente, passou essa impressão a Paulo; o qual, a partir disso, formulou a sua doutrina de Cristo como “o segundo Adão”.

140:8.25 (1582.6) Tiago captou a verdade emocionante de que Jesus queria que os seus filhos na Terra vivessem como se fossem já cidadãos completos do Reino celeste.

140:8.26 (1582.7) Jesus sabia que os homens são diferentes uns dos outros, e ensinou isso aos seus apóstolos. Ele exortava-os constantemente a absterem-se de tentar moldar os discípulos e crentes de acordo com algum modelo preestabelecido. Ele procurava permitir a cada alma desenvolver-se do seu próprio modo, como almas individuais e isoladas perfeccionando-se perante Deus. Em resposta a uma das muitas perguntas de Pedro, o Mestre disse: “Eu quero deixar os homens livres, de um modo tal que possam começar novamente como pequenas crianças, na vida nova e melhor”. Jesus sempre insistiu em que a verdadeira bondade deve ser inconsciente, que ao fazer a caridade não se devia deixar que a mão esquerda percebesse o que faz a mão direita.

140:8.27 (1583.1) Os três apóstolos ficaram chocados, nessa tarde, quando compreenderam que a religião do seu Mestre não dava meios para que se fizesse um auto-exame espiritual. Todas as religiões, antes e depois da época de Jesus, e mesmo o cristianismo, cuidadosamente davam condições de um auto-exame consciente. Contudo, não era assim com a religião de Jesus de Nazaré. A filosofia de vida de Jesus é desprovida dessa introspecção religiosa. O filho do carpinteiro nunca ensinou a elaboração do caráter; ele ensinou o crescimento do caráter, esclarecendo que o Reino do céu é como uma semente de mostarda. Todavia, Jesus nada disse que condenasse a auto-análise como um meio de precaver-se para impedir o egoísmo pretensioso.

140:8.28 (1583.2) O direito de entrar no Reino é condicionado pela fé, pela crença pessoal. O custo, a ser pago para permanecer na ascensão progressiva do Reino, é uma pérola de alto preço e, para possuí-la, um homem vende tudo o que tem.

140:8.29 (1583.3) O ensinamento de Jesus é uma religião para todos, não apenas para os fracos e os escravos. A sua religião nunca se tornou cristalizada (durante a sua época) em credos e leis teológicas; ele não deixou uma linha escrita sequer atrás de si. A sua vida e os seus ensinamentos foram legados ao universo, como uma herança inspiradora e idealista adequada para guiar espiritualmente e para a instrução moral de todas as idades; e em todos os mundos. E, mesmo hoje, os ensinamentos de Jesus permanecem fora de todas as religiões, como tais; constituindo-se, porém, nas esperanças vivas de todas elas.

140:8.30 (1583.4) Jesus não ensinou aos seus apóstolos que a religião é a única busca terrena do homem; essa era a idéia judaica de servir a Deus. Contudo, ele insistiu que a religião fosse a ocupação exclusiva dos doze. Jesus nada ensinou que dissuadisse os seus crentes da busca da cultura genuína; ele apenas não dava mérito às escolas religiosas de Jerusalém, presas à tradição. Ele era liberal, generoso, instruído e tolerante. A piedade autoconsciente não tinha lugar na sua filosofia do viver na retidão.

140:8.31 (1583.5) O Mestre não propôs soluções para os problemas não religiosos da sua própria idade, nem de qualquer idade subseqüente. Jesus almejava desenvolver um discernimento espiritual das realidades eternas e estimular a iniciativa na originalidade de viver; e preocupou-se exclusivamente com as necessidades espirituais fundamentais e permanentes da raça humana. Ele revelou uma bondade igual à de Deus. Exaltou o amor — a verdade, a beleza e a bondade — como o ideal divino e a realidade eterna.

140:8.32 (1583.6) O Mestre veio para criar, no homem, um novo espírito, uma nova vontade — para imprimir uma nova capacidade de conhecer a verdade, experimentando a compaixão e escolhendo a bondade — , a vontade para estar em harmonia com a vontade de Deus, conjugada com o impulso eterno de tornar-se perfeito, como o próprio Pai no céu é perfeito.

 

9. O Dia da Consagração

 

140:9.1 (1583.7) O sábado seguinte Jesus devotou-o aos seus apóstolos, fazendo, de novo, a jornada às terras altas onde ele os tinha ordenado; e lá, depois de uma longa e maravilhosamente tocante mensagem pessoal de encorajamento, ele iniciou o ato solene da consagração dos doze. Nesse sábado, à tarde, Jesus reuniu os apóstolos em torno de si, na montanha, e os colocou nas mãos do seu Pai do céu, em preparação para o dia em que fosse obrigado a abandoná-los no mundo. Nenhum novo ensinamento houve nessa ocasião, apenas o encontro e a comunhão.

140:9.2 (1584.1) Jesus relembrou muitos aspectos do sermão da ordenação, dado naquele mesmo local, e então, chamando-os diante de si, um a um, ele encarregou-os com a missão de saírem para o mundo, como representantes dele. A responsabilidade da consagração dada pelo Mestre foi: “Ide, ao mundo inteiro, pregar as boas-novas do Reino. Liberai os prisioneiros espirituais, confortai os oprimidos e ministrai aos aflitos. De graça recebestes, e de graça deveis dar”.

140:9.3 (1584.2) Jesus lhes aconselhou a não aceitarem dinheiro nem roupas suplementares, dizendo: “O trabalhador vale o próprio salário”. E finalmente acrescentou: “Observai que eu os envio, como ovelhas, em meio a lobos; sede, portanto, sábios como serpentes, e inofensivos como pombos. Mas tende cuidado, pois os vossos inimigos vos levarão perante os conselhos deles e, nas sinagogas, eles vos criticarão e castigarão. Sereis levados perante os chefes e governantes, porque vós acreditais neste evangelho; e o vosso depoimento mesmo será uma testemunha de mim para eles. E quando eles vos conduzirem ao julgamento, não vos inquieteis sobre o que ireis dizer, pois o espírito do meu Pai reside em vós e, em uma hora dessas, ele irá falar por vosso intermédio. Alguns de vós sereis levados à morte e, antes de estabelecerdes o Reino na Terra, vós sereis odiados por muita gente, por causa desse evangelho; mas não temais; eu estarei convosco e o meu espírito irá, antes de vós, a todo o mundo. E a presença do meu Pai residirá em vós, quando estiverdes indo aos judeus, inicialmente, e depois aos gentios”.

140:9.4 (1584.3) E, quando desceram a montanha, eles foram de volta para o seu lar na casa de Zebedeu.

 

10. A Noite após a Consagração

 

140:10.1 (1584.4) Naquela noite, enquanto ensinava na casa, pois havia começado a chover, Jesus falou demoradamente a eles, tentando mostrar aos doze o que eles deviam ser, não o que deviam fazer. Eles conheciam uma religião que lhes impunha que só fizessem determinadas coisas como meio de alcançar a retidão — a salvação. E Jesus reiterava: “No Reino, vós deveis ser retos e justos para fazerdes o trabalho”. Muitas vezes ele repetiu: “Sede, portanto, perfeitos, como o vosso próprio Pai no céu é perfeito”. A todo o tempo estava o Mestre explicando aos seus apóstolos desnorteados que a salvação que ele viera trazer ao mundo seria obtida apenas pela crença, pela fé simples e sincera. Disse Jesus: “João pregou um batismo de arrependimento, de pesar pelo modo antigo de viver. Vós ireis proclamar o batismo do companheirismo com Deus. Pregai o arrependimento àqueles que estão em necessidade desse ensinamento, mas, àqueles que buscam já a admissão sincera ao Reino, abri as portas bem abertas e convidai-os a entrar na jubilosa comunhão dos filhos de Deus”. Mas era uma tarefa difícil a de persuadir esses pescadores galileus de que, no Reino, ser reto, por meio da fé, deve vir antes do fazer com retidão, na vida diária dos mortais da Terra.

 

140:10.2 (1584.5) Outro grande obstáculo para esse trabalho de instrução dos doze foi a tendência deles de tomar os princípios altamente idealistas e espirituais, da verdade religiosa, e colocá-los na forma de regras concretas de conduta pessoal. Jesus queria apresentar a eles o espírito magnificamente belo da atitude da alma, mas eles insistiam em traduzir esses ensinamentos em regras para o comportamento pessoal. Muitas vezes, quando se asseguravam de lembrar-se daquilo que o Mestre dissera, era quase que certo que eles se esquecessem do que ele não tinha dito. Mas, vagarosamente, eles assimilavam os seus ensinamentos, mesmo porque Jesus era, de fato, tudo o que ele ensinava. O que eles não ganhavam da sua instrução verbal, eles adquiriam, gradualmente, vivendo com ele.

 

140:10.3 (1585.1) Não estava visivelmente claro para os apóstolos que o seu Mestre achava-se empenhado em viver uma vida de inspiração espiritual para todas as pessoas, de todas as idades, em todos os mundos de um vasto universo. Não obstante o que Jesus dizia a eles, de tempos em tempos, os apóstolos não captaram a idéia de que ele estava fazendo um trabalho, neste mundo, mas que serviria para todos os outros mundos da sua vasta criação. Jesus viveu a sua vida terrena em Urântia, não para estabelecer um exemplo pessoal de vida mortal, para os homens e mulheres deste mundo, mas, antes, para criar um ideal espiritual elevado e inspirador, para todos os seres mortais em todos os mundos.

 

140:10.4 (1585.2) Nessa mesma tarde, Tomé perguntou a Jesus: “Mestre, tu dizes que devemos transformar-nos como que em pequenas crianças, antes que possamos ganhar a entrada no Reino do Pai, e tu ainda nos preveniste para não sermos enganados por falsos profetas e para não sermos culpados de jogarmos as nossas pérolas diante de porcos. Agora, fiquei honestamente perplexo. Eu não consigo entender os teus ensinamentos”. Jesus respondeu a Tomé: “Por quanto tempo vou tolerar-vos! Vós sempre insistis em tomar literalmente tudo o que eu ensino. Quando eu vos pedi que vos tornásseis crianças pequenas, como preço para a entrada no Reino, eu me referia não à facilidade de serdes enganados, não à mera tendência para acreditar, nem à rapidez para confiar em estranhos agradáveis. O que desejei que vós captásseis, com a ilustração, foi a relação pai-filho. Vós sois as crianças, e é no Reino do vosso Pai que buscais entrar. E, se presente está aquele afeto natural entre toda a criança normal e o seu pai, que assegura um entendimento e uma relação de amor, ela para sempre exclui qualquer necessidade de barganhar pelo amor e pela misericórdia do Pai. E o evangelho que vós ireis pregar tem a ver com uma salvação que vem da realização pela fé dessa mesma relação eterna entre pai e filho”.

 

140:10.5 (1585.3) A grande característica do ensinamento de Jesus era que a moralidade da sua filosofia originava-se na relação pessoal do indivíduo com Deus — esse mesmo relacionamento entre a criança e o pai. Jesus colocou ênfase no indivíduo, e não na raça nem na nação. Enquanto jantavam, Jesus teve a conversa com Mateus, na qual ele explicou que a moralidade de qualquer ato é determinada pelo motivo do indivíduo. A moralidade de Jesus era sempre positiva. A regra de ouro restabelecida por Jesus demanda contato social ativo; a regra negativa mais antiga poderia ser obedecida em isolamento. Jesus retirou a moralidade de todas as regras e cerimônias e elevou-a aos níveis grandiosos do pensamento espiritual e do viver realmente da retidão.

 

140:10.6 (1585.4) Essa nova religião de Jesus não estava isenta de implicações práticas, mas tudo o que puder ser encontrado no seu ensinamento, que tiver algum valor prático, seja político, seja social ou econômico, será uma decorrência natural dessa experiência interior da alma, que manifesta os frutos do espírito na ministração diária espontânea da experiência religiosa pessoal genuína.

 

140:10.7 (1585.5) Depois que Jesus e Mateus haviam acabado de conversar, Simão zelote perguntou: “Mas, Mestre, todos os homens são filhos de Deus?” E Jesus respondeu: “Sim, Simão, todos os homens são filhos de Deus, e essa é a boa-nova que vós ireis proclamar”. Os apóstolos, todavia, não podiam captar tal doutrina; era uma anunciação nova, estranha e surpreendente. E era por causa desse desejo de imprimir neles essa verdade que Jesus ensinou seus seguidores a tratar todos os homens como seus irmãos.

 

140:10.8 (1585.6) Em resposta a uma pergunta feita por André, o Mestre deixou claro que a moralidade do seu ensinamento era inseparável da religião do seu viver. Ele ensinou a moralidade, não a moralidade saída da natureza do homem, mas da relação do homem com Deus.

 

140:10.9 (1585.7) João perguntou a Jesus: “Mestre, o que é o Reino do céu?” E Jesus respondeu: “O Reino do céu consiste destes três elementos essenciais: primeiro, o reconhecimento do fato da soberania de Deus; segundo, a crença na verdade da filiação a Deus; e terceiro, a fé na eficácia do supremo desejo humano de fazer a vontade de Deus — de ser como Deus. E esta é a boa-nova do evangelho: a de que, pela fé, todo mortal pode ter esses elementos essenciais à salvação”.

 

 

140:10.10 (1586.1) E agora a semana de espera estava acabada, e eles prepararam-se para partir, no dia seguinte, rumo a Jerusalém.