Urântia

OS DOCUMENTOS DE URÂNTIA

- A REVELAÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO -

INDICE

Documento 142

A Páscoa em Jerusalém

142:0.1 (1596.1) No mês de abril Jesus e os apóstolos trabalharam em Jerusalém, saindo da cidade todas as noites para pernoitar em Betânia. O próprio Jesus passava uma ou duas noites por semana em Jerusalém, na casa de Flávio, um judeu grego, onde muitos judeus proeminentes iam em segredo para consultá-lo.

142:0.2 (1596.2) No primeiro dia em Jerusalém Jesus visitou Anás, seu amigo de anos anteriores, o outrora sumo sacerdote e parente de Salomé, esposa de Zebedeu. Anás vinha ouvindo falar de Jesus e seus ensinamentos, e quando Jesus visitou a casa do sumo sacerdote, foi recebido com muita reserva. Quando Jesus percebeu a frieza de Anás, despediu-se imediatamente, dizendo ao partir: “O medo é o principal escravizador do homem e o orgulho a sua grande fraqueza; você se entregará à escravidão de ambos estes destruidores da alegria e da liberdade?” Mas Anás não retorquiu. O Mestre não voltou a ver Anás até o momento em que este se sentou com seu genro para julgar o Filho do Homem.

 

1. Ensinando no Templo

 

142:1.1 (1596.3) Durante todo este mês Jesus ou um dos apóstolos ensinou diariamente no templo. Quando as multidões da Páscoa ficaram grandes demais para ter acesso ao ensinamento no templo, os apóstolos conduziram muitos grupos de ensino fora dos recintos sagrados. A ênfase de sua mensagem era:

142:1.2 (1596.4) 1. O reino do céu está próximo.

142:1.3 (1596.5) 2. Pela fé na paternidade de Deus vocês podem entrar no reino do céu, tornando-se assim filhos de Deus.

142:1.4 (1596.6) 3. O amor é a regra para viver dentro do reino – a devoção suprema a Deus ao mesmo tempo em que ama o próximo como a si mesmo.

142:1.5 (1596.7) 4. A obediência à vontade do Pai, produzindo os frutos do espírito na vida pessoal de alguém, é a lei do reino.

142:1.6 (1596.8) As multidões que vieram celebrar a Páscoa ouviram este ensinamento de Jesus, e centenas delas se regozijaram com as boas novas. Os principais sacerdotes e governantes dos judeus ficaram muito preocupados com Jesus e seus apóstolos e debatiam entre si o que deveria ser feito com eles.

142:1.7 (1596.9) Além de ensinar dentro do templo e próximo a ele, os apóstolos e outros crentes estavam empenhados em realizar muito trabalho pessoal entre as multidões da Páscoa. Estes homens e mulheres interessados levaram as notícias da mensagem de Jesus desta celebração da Páscoa aos confins do Império Romano e também ao Oriente. Este foi o início da propagação do evangelho do reino para o mundo exterior. A obra de Jesus não iria mais ficar confinada à Palestina.

 

2. A Ira de Deus

 

142:2.1 (1597.1) Estava presente em Jerusalém nas festividades da Páscoa um certo Jacó, um rico comerciante judeu de Creta, e ele foi até André pedindo para ver Jesus em particular. André organizou este encontro secreto com Jesus na casa de Flávio na noite do dia seguinte. Este homem não conseguia compreender os ensinamentos do Mestre e veio porque desejava indagar mais detalhadamente sobre o reino de Deus. Jacó disse a Jesus: “Mas, Rabi, Moisés e os profetas antigos nos dizem que Javé é um Deus ciumento, um Deus de grande ira e cólera feroz. Os profetas dizem que ele odeia os transgressores e se vinga daqueles que não obedecem à sua lei. Você e seus discípulos nos ensinam que Deus é um Pai bondoso e compassivo que ama todos os homens a ponto de acolhê-los neste novo reino do céu, que você proclama estar tão próximo”.

142:2.2 (1597.2) Quando Jacó terminou de falar, Jesus respondeu: “Jacó, você expôs bem os ensinamentos dos antigos profetas que ensinaram as crianças da geração deles de acordo com a luz da época deles. Nosso Pai no Paraíso é imutável. Mas o conceito de Sua natureza ampliou-se e cresceu desde os dias de Moisés, passando pelos tempos de Amós e até mesmo à geração do profeta Isaías. E agora vim eu na carne para revelar o Pai em nova glória e para mostrar seu amor e misericórdia a todos os homens em todos os mundos. À medida que o evangelho deste reino se espalhar pelo mundo com a sua mensagem de bom ânimo e boa vontade para todos os homens, crescerão relações cada vez mais aprimoradas e melhores entre as famílias de todas as nações. Com o passar do tempo, os pais e os seus filhos se amarão mais uns aos outros e, assim, se conseguirá um melhor entendimento do amor do Pai no céu pelos seus filhos na Terra. Lembre-se, Jacó, de que um pai bom e verdadeiro não apenas ama sua família como um todo – como uma família – mas também ama verdadeiramente e cuida afetuosamente de cada membro individual.”

142:2.3 (1597.3) Depois de uma discussão considerável sobre o caráter do Pai celestial, Jesus pausou para dizer: “Você, Jacó, sendo pai de muitos, conhece bem a verdade das minhas palavras”. E Jacó disse: “Mas, Mestre, quem lhe disse que eu era pai de seis filhos? Como você sabia isto sobre mim?” E o Mestre retorquiu: “Basta dizer que o Pai e o Filho conhecem todas as coisas, pois na verdade eles veem tudo. Amando seus filhos como um pai na Terra, você tem agora que aceitar como realidade o amor do Pai celestial por você – não apenas por todos os filhos de Abraão, mas por você, sua alma individual”.

142:2.4 (1597.4) Então Jesus prosseguiu, dizendo: “Quando os seus filhos são muito pequenos e imaturos, e quando vocês precisam castigá-los, eles podem refletir que o pai deles está zangado e cheio de ira ressentida. A imaturidade deles não consegue penetrar além da punição para discernirem a visão de futuro e o afeto corretivo do pai. Mas quando estas mesmas crianças se tornarem homens e mulheres adultos, não seria tolice da sua parte apegarem-se a estas noções anteriores e mal concebidas em relação ao seu pai? Como homens e mulheres, deveriam agora discernir o amor do seu pai em todas estas disciplinas iniciais. E não deveria a humanidade, com o passar dos séculos, compreender melhor a verdadeira natureza e o caráter amoroso do Pai no céu? Que proveito vocês têm com sucessivas gerações de iluminação espiritual se persistirem em ver Deus como Moisés e os profetas O viram? Eu lhe digo, Jacó, sob a luz brilhante desta hora você deveria ver o Pai como nenhum daqueles que partiram antes O viu. E ao vê-Lo assim, você deveria se alegrar por entrar no reino onde um Pai tão misericordioso governa, e você deve procurar fazer com que a vontade de amor Dele domine sua vida daqui em diante.”

142:2.5 (1598.1) E Jacó respondeu: “Rabi, eu creio; Desejo que você me conduza ao reino do Pai”.

 

3. O Conceito de Deus

 

142:3.1 (1598.2) Os doze apóstolos, dos quais a maioria tinha ouvido esta discussão sobre o caráter de Deus, naquela noite fizeram muitas perguntas a Jesus sobre o Pai no céu. As respostas do Mestre a estas questões podem ser melhor apresentadas pelo seguinte resumo em fraseologia moderna:

142:3.2 (1598.3) Jesus repreendeu brandamente os doze, dizendo em essência: “Vocês não conhecem as tradições de Israel relativas ao crescimento da ideia de Javé, e ignoram os ensinamentos das Escrituras relativos à doutrina de Deus?” E então o Mestre prosseguiu para instruir os apóstolos sobre a evolução do conceito de Deidade ao longo do desenvolvimento do povo judeu. Ele chamou a atenção para as seguintes fases do crescimento da ideia de Deus:

142:3.3 (1598.4) 1. Javé – o deus dos clãs do Sinai. Este era o conceito primitivo de Deidade que Moisés exaltou ao nível mais elevado do Senhor Deus de Israel. O Pai no céu nunca deixa de aceitar a adoração sincera dos seus filhos na Terra, não importa quão grosseiro seja o seu conceito de Deidade ou por qual nome eles simbolizam a natureza divina Dela.

142:3.4 (1598.5) 2. O Altíssimo. Este conceito do Pai no céu foi proclamado por Melquisedeque a Abraão e levado para longe desde Salém por aqueles que posteriormente acreditaram nesta ideia ampliada e expandida da Deidade. Abraão e seu irmão deixaram Ur por causa do estabelecimento da adoração do sol, e tornaram-se crentes no ensinamento de Melquisedeque sobre El Elyon – o Deus Altíssimo. O conceito deles era um composto de Deus, consistindo numa mistura de suas antigas ideias mesopotâmicas e da doutrina do Altíssimo.

142:3.5 (1598.6) 3. El Shaddai. Durante estes primeiros dias muitos hebreus adoravam El Shaddai, o conceito egípcio do Deus do céu, que aprenderam durante o cativeiro na terra do Nilo. Muito depois dos tempos de Melquisedeque todos estes três conceitos de Deus se uniram para formar a doutrina da Deidade criadora, o Senhor Deus de Israel.

142:3.6 (1598.7) 4. Elohim. Desde os tempos de Adão o ensino da Trindade do Paraíso tem perdurado. Vocês não se lembram de como as Escrituras começam afirmando que “No princípio os deuses criaram os céus e a terra”? Isto indica que quando esse registro foi feito, o conceito da Trindade, de três Deuses em um, havia encontrado abrigo na religião de nossos antepassados.

142:3.7 (1598.8) 5. O Javé Supremo. Na época de Isaías estas crenças sobre Deus haviam se expandido para o conceito de um Criador Universal que era simultaneamente todo-poderoso e todo-misericordioso. E este conceito em desenvolvimento e ampliação de Deus praticamente suplantou todas as ideias anteriores de Deidade na religião dos nossos pais.

142:3.8 (1598.9) 6. O Pai no céu. E agora conhecemos Deus como nosso Pai no céu. Nosso ensinamento providencia uma religião em que o crente é um filho de Deus. Essas são as boas novas do evangelho do reino do céu. Coexistentes com o Pai são o Filho e o Espírito, e a revelação da natureza e da ministração destas Deidades do Paraíso continuará a ampliar-se e a iluminar-se ao longo das eras intermináveis da eterna progressão espiritual dos filhos ascendentes de Deus. Em todos os momentos e durante todas as épocas a verdadeira adoração de qualquer ser humano – no que diz respeito ao progresso espiritual individual – é reconhecida pelo espírito residente como uma homenagem prestada ao Pai no céu.

142:3.9 (1599.1) Nunca antes os apóstolos haviam ficado tão chocados como ao ouvir este relato do crescimento do conceito de Deus nas mentes judias das gerações anteriores; eles estavam estupefatos demais para fazer perguntas. Ao sentarem-se diante de Jesus em silêncio, o Mestre continuou: “E vocês teriam conhecido estas verdades se tivessem lido as Escrituras. Vocês não leram em Samuel onde diz: ‘E a ira do Senhor se acendeu contra Israel, tanto que ele incitou Davi contra eles, dizendo: vai fazer o censo de Israel e Judá’? E isto não era estranho porque nos dias de Samuel os filhos de Abraão realmente acreditavam que Javé criou tanto o bem quanto o mal. Mas quando um escritor posterior narrou estes eventos, subsequentes à ampliação do conceito judaico da natureza de Deus, ele não ousou atribuir o mal a Javé; portanto, ele disse: ‘E Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a fazer o censo de Israel’. Vocês não conseguem discernir que tais registros nas Escrituras mostram claramente como o conceito da natureza de Deus continuou a crescer de uma geração para outra?

142:3.10 (1599.2) “Mais uma vez vocês deveriam ter discernido o crescimento do entendimento da lei divina em perfeita consonância com estes conceitos em ampliação da divindade. Quando os filhos de Israel saíram do Egito nos dias anteriores à revelação ampliada de Javé, eles tinham dez mandamentos que serviram como sua lei até os tempos em que estiveram acampados diante do Sinai. E estes dez mandamentos eram:

 

142:3.11 (1599.3) “1. Não adorarão nenhum outro deus, pois o Senhor é um Deus ciumento.

142:3.12 (1599.4) “2. Não farão deuses em imagens fundidas.

142:3.13 (1599.5) “3. Não deixarão de celebrar a festa do pão ázimo.

142:3.14 (1599.6) “4. De todos os homens ou de gado, os primogênitos são meus, diz o Senhor.

142:3.15 (1599.7) “5. Seis dias poderão trabalhar, mas no sétimo dia descansarão.

142:3.16 (1599.8) “6. Não deixarão de observar a festa das primícias e a festa da colheita no final do ano.

142:3.17 (1599.9) “7. Não oferecerão o sangue de nenhum sacrifício com pão levedado.

142:3.18 (1599.10) “8. O sacrifício da festa da Páscoa não será deixado até a manhã seguinte.

142:3.19 (1599.11) “9. As primícias dos primeiros frutos do solo vocês trarão para a casa do Senhor, seu Deus.

142:3.20 (1599.12) “10. Não ferverão o cabrito no leite da mãe dele.

 

142:3.21 (1599.13) “E então, em meio aos trovões e relâmpagos do Sinai, Moisés deu-lhes os novos dez mandamentos, que todos vocês concordarão que sejam pronunciamentos mais dignos de acompanhar os conceitos ampliados da Deidade de Javé. E vocês nunca notaram estes mandamentos registrados duas vezes nas Escrituras, que no primeiro caso a libertação do Egito é apontada como a razão para a guarda do Sabá, enquanto num registro posterior as crenças religiosas em evolução de nossos antepassados exigiram que isto fosse mudado ao reconhecimento do fato da criação como a razão para a observância do Sabá?

142:3.22 (1599.14) “E então vocês se lembrarão de que, mais uma vez – na maior iluminação espiritual dos dias de Isaías – estes dez mandamentos negativos foram transformados na grande e positiva lei do amor, a injunção para amar a Deus supremamente e ao próximo como a vocês mesmos. E é esta lei suprema de amor a Deus e ao homem que eu também declaro a vocês como constituindo todo o dever do homem.”

142:3.23 (1600.1) E quando ele terminou de falar, nenhum homem lhe fez qualquer pergunta. Eles saíram, um a um, para dormir.

 

4. Flávio e a Cultura Grega

 

142:4.1 (1600.2) Flávio, o judeu grego, era um prosélito, por não ter sido circuncidado nem batizado, sem acesso ao templo; e como ele era um grande amante do belo na arte e na escultura, a casa que ocupava durante sua estada em Jerusalém era um belo edifício. Esta casa estava primorosamente adornada com tesouros inestimáveis que ele havia reunido aqui e ali em suas viagens pelo mundo. Quando pensou pela primeira vez em convidar Jesus para sua casa, temeu que o Mestre se ofendesse ao ver estas consideradas imagens. Mas Flávio ficou agradavelmente surpreendido quando Jesus entrou na casa, pois, em vez de repreendê-lo por ter estes objetos supostamente idólatras espalhados pela casa, manifestou grande interesse pela coleção inteira e fez muitas perguntas apreciativas sobre cada objeto enquanto Flávio o acompanhava de sala em sala, mostrando-lhe todas as suas esculturas favoritas.

142:4.2 (1600.3) O Mestre viu que o seu anfitrião estava perplexo com a sua atitude amistosa em relação à arte; portanto, quando terminaram a observação da coleção inteira, Jesus disse: “Por você apreciar a beleza das coisas criadas por meu Pai e moldadas pelas mãos artísticas do homem, por que você esperaria ser repreendido? Porque Moisés certa vez procurou combater a idolatria e a adoração de falsos deuses, por que deveriam todos os homens desaprovar a reprodução da graça e da beleza? Eu lhe digo, Flávio, que os filhos de Moisés o compreenderam mal e agora fazem falsos deuses até mesmo das suas proibições de imagens e da semelhança das coisas no céu e na terra. Mas mesmo que Moisés tenha ensinado tais restrições às mentes obscurecidas daqueles dias, o que isso tem a ver com o dia de hoje, quando o Pai no céu é revelado como o Espírito Universal Governante sobre todos? E, Flávio, eu declaro que no reino vindouro não mais se ensinará ‘Não adore isto e não adore aquilo’; não mais haverá preocupação com ordens para se absterem disso e tomarem cuidado para não fazer aquilo, mas antes todos estarão preocupados com um dever supremo. E este dever do homem é expresso em dois grandes privilégios: a adoração sincera ao Criador infinito, o Pai do Paraíso, e o serviço amoroso prestado aos semelhantes. Se você ama o seu próximo como a si mesmo, você realmente sabe que é um filho de Deus.

142:4.3 (1600.4) “Numa época em que meu Pai não era bem compreendido, Moisés foi justificado nas suas tentativas de resistir à idolatria, mas na era vindoura o Pai terá sido revelado na vida do Filho; e esta nova revelação de Deus tornará para sempre desnecessário confundir o Pai Criador com ídolos de pedra ou imagens de ouro e prata. Doravante, os homens inteligentes poderão desfrutar dos tesouros da arte sem confundir tal apreciação material da beleza com a adoração e o serviço do Pai no Paraíso, o Deus de todas as coisas e de todos os seres.”

142:4.4 (1600.5) Flávio acreditou em tudo o que Jesus lhe ensinou. No dia seguinte ele foi para Betânia além do Jordão e foi batizado pelos discípulos de João. E ele fez isto porque os apóstolos de Jesus ainda não batizavam os crentes. Quando Flávio voltou a Jerusalém, fez uma grande festa para Jesus e convidou sessenta dos seus amigos. E muitos destes convidados também se tornaram crentes na mensagem do reino vindouro.

 

5. O Discurso sobre Garantia

 

142:5.1 (1601.1) Um dos grandes sermões que Jesus pregou no templo nesta semana da Páscoa foi em resposta a uma pergunta feita por um dos seus ouvintes, um homem de Damasco. Este homem perguntou a Jesus: “Mas, Rabi, como saberemos com certeza que você é enviado por Deus, e que podemos realmente entrar neste reino que você e seus discípulos declaram estar próximo?” E Jesus respondeu:

142:5.2 (1601.2) “Quanto à minha mensagem e ao ensinamento dos meus discípulos, vocês deveriam julgá-los pelos seus frutos. Se proclamarmos a vocês as verdades do espírito, o espírito testemunhará em seus corações que nossa mensagem é genuína. No que diz respeito ao reino e à sua garantia de aceitação pelo Pai celestial, deixe-me perguntar qual pai entre vocês que é um pai digno e de bom coração manteria seu filho em ansiedade ou expectativa em relação ao seu status na família ou ao seu lugar de segurança nas afeições do coração de seu pai? Vocês, pais terrestres, têm prazer em torturar seus filhos com a incerteza sobre o lugar de amor permanente em seus corações humanos? Nem o seu Pai no céu deixa os seus filhos do espírito na fé numa incerteza duvidosa quanto à sua posição no reino. Se vocês recebem Deus como seu Pai, então de fato e em verdade vocês são filhos de Deus. E se vocês são filhos, então estão seguros na posição e condição de tudo o que diz respeito à filiação eterna e divina. Se acreditarem nas minhas palavras, vocês então creem Naquele que me enviou e, ao acreditarem assim no Pai, vocês garantiram seu status na cidadania celestial. Se fizerem a vontade do Pai no céu, vocês jamais falharão na conquista da vida eterna de progresso no reino divino.

142:5.3 (1601.3) “O Espírito Supremo dará testemunho aos seus espíritos de que vocês são verdadeiramente filhos de Deus. E se vocês são filhos de Deus, então nasceram do espírito de Deus; e quem nasceu do espírito tem em si o poder de superar todas as dúvidas, e esta é a vitória que supera toda a incerteza, até mesmo a sua fé.

142:5.4 (1601.4) “Disse o Profeta Isaías, falando destes tempos: ‘Quando o espírito do alto for derramado sobre nós, então a obra da retidão se tornará paz, tranquilidade e segurança para sempre’. E para todos os que verdadeiramente crerem neste evangelho, me tornarei fiador de sua recepção nas misericórdias eternas e na vida infindável do reino de meu Pai. Vocês, então, que ouvem esta mensagem e creem neste evangelho do reino são filhos de Deus e têm vida eterna; e a evidência para todo o mundo de que nasceram do espírito é que vocês amam sinceramente uns aos outros.”

142:5.5 (1601.5) A multidão de ouvintes permaneceu muitas horas com Jesus, fazendo-lhe perguntas e ouvindo atentamente as suas respostas confortadoras. Até os apóstolos foram encorajados pelo ensinamento de Jesus a pregar o evangelho do reino com mais poder e segurança. Esta experiência em Jerusalém foi uma grande inspiração para os doze. Foi o seu primeiro contato com multidões tão enormes, e aprenderam muitas lições valiosas que se revelaram de grande ajuda no seu trabalho posterior.

 

6. A Visita de Nicodemus

 

142:6.1 (1601.6) Uma noite na casa de Flávio, um certo Nicodemos, um membro rico e idoso do Sinédrio judaico, veio ver Jesus. Ele tinha ouvido muito sobre os ensinamentos deste galileu, e por isso foi certa tarde ouvi-lo enquanto ensinava nos pátios do templo. Ele teria ido frequentemente ouvir Jesus ensinar, mas temia ser visto pelas pessoas que assistiam aos seus ensinamentos, pois os governantes dos judeus já estavam tão em desacordo com Jesus que nenhum membro do Sinédrio gostaria de ser identificado abertamente de algum modo com ele. Consequentemente, Nicodemos tinha combinado com André para ver Jesus em particular e depois do anoitecer naquela noite específica. Pedro, Tiago e João estavam no jardim de Flávio quando a entrevista começou, mas mais tarde todos entraram na casa onde o discurso continuou.

142:6.2 (1602.1) Ao receber Nicodemos, Jesus não demonstrou qualquer deferência particular; ao conversar com ele, não houve compromisso ou persuasão indevida. O Mestre não fez nenhuma tentativa de repelir seu interlocutor secreto, nem empregou sarcasmo. Em todos os seus tratos com o ilustre visitante, Jesus foi calmo, sincero e digno. Nicodemos não era um delegado oficial do Sinédrio; ele viera ver Jesus inteiramente por causa de seu interesse pessoal e sincero pelos ensinamentos do Mestre.

142:6.3 (1602.2) Ao ser apresentado por Flávio, Nicodemos disse: “Rabi, sabemos que você é um instrutor enviado por Deus, pois nenhum mero homem poderia ensinar assim, a menos que Deus estivesse com ele. E estou desejoso de saber mais sobre seus ensinamentos a respeito do reino vindouro”.

142:6.4 (1602.3) Jesus respondeu a Nicodemos: “Em verdade, em verdade, eu lhe digo, Nicodemos, a menos que um homem tenha nascido do alto, ele não pode ver o reino de Deus”. Então retorquiu Nicodemos: “Mas como pode um homem nascer de novo, sendo velho? Ele não pode entrar segunda vez no ventre de sua mãe para nascer”.

142:6.5 (1602.4) Jesus disse: “Não obstante, eu lhe declaro que, a menos que um homem tenha nascido do espírito, ele não pode entrar no reino de Deus. Aquele que nasce da carne é carne, e aquele que nasce do espírito é espírito. Mas você não deveria se surpreender por eu ter dito de você ter que nascer do alto. Quando o vento sopra, você ouve o farfalhar das folhas, mas não vê o vento – de onde ele vem ou para onde vai – e assim acontece com todos os nascidos do espírito. Com os olhos da carne você pode ver as manifestações do espírito, mas na verdade não consegue discernir o espírito”.

142:6.6 (1602.5) Nicodemos respondeu: “Mas eu não entendo – como pode ser isso?” Jesus disse: “Será que você é instrutor em Israel e ainda assim ignora tudo isto? Torna-se, então, dever daqueles que conhecem as realidades do espírito revelar estas coisas àqueles que discernem apenas as manifestações do mundo material. Mas você acreditará em nós se lhe contarmos as verdades celestiais? Você tem coragem, Nicodemos, de acreditar naquele que desceu do céu, o próprio Filho do Homem?”

142:6.7 (1602.6) E Nicodemos disse: “Mas como posso começar a me apegar a este espírito que irá me refazer em preparação para entrar no reino?” Jesus respondeu: “O espírito do Pai no céu já reside em você. Se você fosse guiado por esse espírito do alto, muito em breve você começaria a ver com os olhos do espírito, e então, pela escolha de todo o coração pelo guiamento espiritual, você nasceria do espírito, já que seu único propósito na vida seria fazer a vontade do seu Pai que está no céu. E assim, se encontrando nascido do espírito e feliz no reino de Deus, você começaria a produzir em sua vida diária os frutos abundantes do espírito”.

142:6.8 (1602.7) Nicodemos foi totalmente sincero. Ele ficou profundamente impressionado, mas foi embora perplexo. Nicodemos era realizado em autodesenvolvimento, autodomínio e até mesmo em elevadas qualidades morais. Era refinado, egoísta e altruísta; mas não sabia como submeter a sua vontade à vontade do Pai divino como uma criança pequena está disposta a submeter-se ao guiamento e liderança de um pai terreno sábio e amoroso, tornando-se assim na realidade um filho de Deus, um herdeiro progressivo do reino eterno.

142:6.9 (1603.1) Mas Nicodemos reuniu fé suficiente para tomar posse do reino. Ele protestou debilmente quando seus colegas do Sinédrio tentaram condenar Jesus sem uma audiência; e, com José de Arimateia, mais tarde ele demonstrou ousadamente a sua fé e reivindicou o corpo de Jesus, mesmo quando a maioria dos discípulos tinha fugido com medo das cenas do sofrimento e morte finais do seu Mestre.

 

7. A Lição Sobre a Família

 

142:7.1 (1603.2) Após o período intenso de ensinamento e trabalho pessoal da semana da Páscoa em Jerusalém, Jesus passou a quarta-feira seguinte em Betânia com os seus apóstolos, descansando. Naquela tarde, Tomé fez uma pergunta que suscitou uma resposta longa e instrutiva. Disse Tomé: “Mestre, no dia em que fomos designados como embaixadores do reino, você nos contou muitas coisas, nos instruiu a respeito de nosso modo de vida pessoal, mas o que devemos ensinar à multidão? Como estas pessoas viverão depois que o reino chegar mais plenamente? Seus discípulos possuirão escravos? Deverão os seus crentes cortejar a pobreza e evitar a propriedade? Somente a misericórdia prevalecerá, de modo que não teremos mais lei e justiça?” Jesus e os doze passaram toda a tarde e toda aquela noite, depois do jantar, discutindo as perguntas de Tomé. Para efeitos deste registo apresentamos o seguinte resumo da instrução do Mestre:

142:7.2 (1603.3) Jesus procurou primeiro deixar claro aos seus apóstolos que ele próprio estava na Terra vivendo uma vida única na carne, e que eles, os doze, haviam sido chamados para participar nesta experiência de consagração do Filho do Homem; e, como colegas de trabalho, eles também tinham que partilhar muitas das restrições e obrigações especiais de toda a experiência da consagração. Havia uma insinuação velada de que o Filho do Homem era a única pessoa que jamais vivera na Terra que podia simultaneamente ver o próprio coração de Deus e as próprias profundezas da alma do homem.

142:7.3 (1603.4) Jesus explicou muito claramente que o reino do céu era uma experiência evolucionária, começando aqui na Terra e progredindo através de sucessivas estações de vida até o Paraíso. No decorrer da noite ele declarou definitivamente que em algum estágio futuro do desenvolvimento do reino ele revisitaria este mundo em poder espiritual e glória divina.

142:7.4 (1603.5) Em seguida, ele explicou que a “ideia de reino” não era a melhor maneira de ilustrar a relação do homem com Deus; que ele empregou tais figuras de linguagem porque o povo judeu estava esperando o reino e porque João havia pregado em termos do reino vindouro. Jesus disse: “As pessoas de outra era compreenderão melhor o evangelho do reino quando ele for apresentado em termos que expressem o relacionamento da família – quando o homem entender a religião como o ensinamento da paternidade de Deus e da irmandade do homem, da filiação a Deus”. Então o Mestre discursou longamente sobre a família terrena como uma ilustração da família celestial, reafirmando as duas leis fundamentais da vida: o primeiro mandamento do amor ao pai, o chefe da família, e o segundo mandamento do amor mútuo entre os filhos, de amar o seu irmão como a si mesmo. E então explicou que tal qualidade de afeto fraternal se manifestaria invariavelmente no serviço social altruísta e amoroso.

142:7.5 (1603.6) Depois disso, veio a memorável discussão sobre as características fundamentais da vida da família e a sua aplicação ao relacionamento existente entre Deus e o homem. Jesus afirmou que uma autêntica família se baseia nos seguintes sete fatos:

142:7.6 (1604.1) 1. O fato da existência. As relações da natureza e os fenômenos de semelhança mortal estão vinculados na família: os filhos herdam certas características parentais. Os filhos têm origem nos pais; a existência da personalidade depende do ato dos pais. A relação entre pai e filho é inerente a toda a natureza e permeia todas as existências vivas.

142:7.7 (1604.2) 2. Segurança e prazer. Os autênticos pais têm grande prazer em prover às necessidades de seus filhos. Muitos pais não se contentam em suprir as simples necessidades dos filhos, mas também gostam de prover seus prazeres.

142:7.8 (1604.3) 3. Educação e instrução. Os pais sábios planejam cuidadosamente a educação e a instrução adequadas de seus filhos e filhas. Quando jovens são preparados para as maiores responsabilidades da vida futura.

142:7.9 (1604.4) 4. Disciplina e restrição. Os pais previdentes também tomam providências para a necessária disciplina, orientação, correção e, às vezes, restrição para a sua prole jovem e imatura.

142:7.10 (1604.5) 5. Companheirismo e lealdade. O pai afetuoso mantém relações íntimas e amorosas com os seus filhos. Seus ouvidos estão sempre abertos às petições deles; ele está sempre pronto para compartilhar suas dificuldades e ajudá-los em suas dificuldades. O pai está supremamente interessado no bem-estar progressivo de sua progênie.

142:7.11 (1604.6) 6. Amor e misericórdia. Um pai compassivo perdoa livremente; os pais não guardam memórias vingativas contra seus filhos. Os pais não são como juízes, inimigos ou credores. As famílias autênticas são construídas com base na tolerância, na paciência e no perdão.

142:7.12 (1604.7) 7. Provisão para o futuro. Os pais temporais gostam de deixar uma herança para os seus filhos. A família continua de uma geração para outra. A morte apenas encerra uma geração para marcar o início de outra. A morte termina uma vida individual, mas não necessariamente a família.

142:7.13 (1604.8) Durante horas o Mestre discutiu a aplicação destas características da vida da família às relações do homem, o filho da Terra, com Deus, o Pai do Paraíso. E esta foi a sua conclusão: “Toda esta relação de um filho com o Pai, eu conheço em perfeição, pois tudo o que vocês têm que alcançar da filiação no futuro eterno eu já alcancei. O Filho do Homem está preparado para ascender à mão direita do Pai, de modo que em mim está agora ainda mais aberto o caminho para que todos vocês vejam Deus e, antes de terminarem a progressão gloriosa, se tornem perfeitos, assim como seu Pai no céu é perfeito”.

142:7.14 (1604.9) Quando os apóstolos ouviram estas palavras surpreendentes, eles se lembraram dos pronunciamentos que João fez na época do batismo de Jesus, e também se lembraram vividamente desta experiência em conexão com a sua pregação e o ensinamento subsequente à morte e ressurreição do Mestre.

142:7.15 (1604.10) Jesus é um Filho divino, alguém da plena confiança do Pai Universal. Ele tinha estado com o Pai e O compreendia plenamente. Ele então já havia vivido sua vida terrena para a plena satisfação do Pai, e esta encarnação na carne lhe havia permitido compreender plenamente o homem. Jesus era a perfeição do homem; ele havia alcançado tal perfeição que todos os verdadeiros crentes estão destinados a alcançar nele e por intermédio dele. Jesus revelou um Deus de perfeição ao homem e apresentou em si mesmo o filho perfeccionado dos reinos a Deus.

142:7.16 (1605.1) Embora Jesus tenha discursado durante várias horas, Tomé ainda não estava satisfeito, pois disse: “Mas, Mestre, não achamos que o Pai no céu sempre trate conosco de maneira bondosa e misericordiosa. Muitas vezes sofremos gravemente na terra e nem sempre as nossas preces são respondidas. Onde falhamos em captar o significado do seu ensinamento?”

142:7.17 (1605.2) Jesus respondeu: “Tomé, Tomé, quanto tempo levará até que você adquira a capacidade de ouvir com o ouvido do espírito? Quanto tempo levará até você discernir que este reino é um reino espiritual e que meu Pai também é um ser espiritual? Não entendem que estou ensinando vocês como filhos espirituais na família do espírito do céu, da qual o chefe paterno é um espírito infinito e eterno? Vocês não permitirão que eu use a família terrena como uma ilustração dos relacionamentos divinos sem aplicar tão literalmente meu ensinamento aos assuntos materiais? Em suas mentes, vocês não conseguem separar as realidades espirituais do reino dos problemas materiais, sociais, econômicos e políticos da época? Quando falo a linguagem do espírito, por que vocês insistem em traduzir o que quero dizer para a linguagem da carne só porque presumo empregar relações comuns e literais para fins de ilustração? Meus filhos, imploro-lhes que parem de aplicar o ensinamento do reino do espírito aos assuntos sórdidos da escravidão, pobreza, casas e terras, e aos problemas materiais da equidade e justiça humanas. Estas questões temporais são preocupação dos homens deste mundo e, embora de certa forma afetem todos os homens, vocês foram chamados para me representar no mundo, assim como eu represento meu Pai. Vocês são embaixadores espirituais de um reino espiritual, representantes especiais do Pai espírito. A esta altura já me deveria ser possível instruí-los como homens adultos do reino do espírito. Tenho que me dirigir a vocês apenas como crianças? Vocês nunca crescerão na percepção do espírito? No entanto, eu os amo e serei paciente com vocês até o fim de nossa associação na carne. E mesmo então meu espírito irá adiante de vocês por todo o mundo”.

 

8. No Sul da Judeia

 

142:8.1 (1605.3) No final de abril a oposição a Jesus entre os fariseus e os saduceus tornara-se tão pronunciada que o Mestre e os seus apóstolos decidiram deixar Jerusalém por um tempo, indo para o sul para trabalhar em Belém e Hebron. O mês de maio inteiro foi dedicado à realização de trabalho pessoal nestas cidades e entre as pessoas das aldeias vizinhas. Nenhuma pregação pública foi feita nesta viagem, apenas visitas de casa em casa. Parte deste tempo, enquanto os apóstolos ensinavam o evangelho e ministravam aos enfermos, Jesus e Abner passaram em Engedi, visitando a colônia nazireia. João Batista tinha saído deste lugar e Abner fora o chefe deste grupo. Muitos membros da irmandade nazireia tornaram-se crentes em Jesus, mas a maioria destes homens ascetas e excêntricos recusara-se a aceitá-lo como um instrutor enviado do céu porque ele não ensinava o jejum e outras formas de renúncia.

142:8.2 (1605.4) As pessoas que viviam nesta região não sabiam que Jesus havia nascido em Belém. Sempre supuseram que o Mestre tivesse nascido em Nazaré, tal como a grande maioria dos seus discípulos, mas os doze conheciam os fatos.

 

 

 

142:8.3 (1605.5) Esta estada no sul da Judeia foi uma estação de trabalho repousante e frutífera; muitas almas foram acrescentadas ao reino. Nos primeiros dias de junho a agitação contra Jesus havia se acalmado tanto em Jerusalém que o Mestre e os apóstolos voltaram para instruir e confortar os crentes.

 

142:8.4 (1606.1) Embora Jesus e os apóstolos tenham passado o mês de junho inteiro em Jerusalém ou perto dela, eles não deram nenhum ensinamento público durante este período. Viviam a maior parte do tempo em tendas, que armavam num parque ou jardim sombreado, conhecido naquela época como Getsêmani. Este parque estava situado na encosta oeste do Monte das Oliveiras, não muito longe do riacho Cédron. Os fins de semana de Sabá eles geralmente passavam com Lázaro e suas irmãs em Betânia. Jesus entrou dentro das muralhas de Jerusalém apenas algumas vezes, mas um grande número de inquiridores interessados foi ao Getsêmani para visitá-lo. Numa sexta-feira à noite Nicodemos e um certo José de Arimateia aventuraram-se a ver Jesus, mas voltaram com medo, mesmo depois de estarem diante da entrada da tenda do Mestre. E, claro, eles não perceberam que Jesus sabia tudo sobre os feitos deles.

 

 

142:8.5 (1606.2) Quando os governantes dos judeus souberam que Jesus havia retornado a Jerusalém, prepararam-se para prendê-lo; mas quando observaram que ele não fazia nenhuma pregação pública, concluíram que havia ficado assustado com a agitação anterior e decidiram permitir que ele continuasse seu ensinamento desta maneira privada, sem mais importunação. E assim as coisas prosseguiram discretamente até os últimos dias de junho, quando um certo Simão, membro do Sinédrio, abraçou publicamente os ensinamentos de Jesus, depois de se declarar assim perante os governantes dos judeus. Imediatamente surgiu uma nova agitação pela detenção de Jesus e tornou-se tão forte que o Mestre decidiu retirar-se para as cidades de Samaria e da Decápolis.

 

Paper 142

The Passover at Jerusalem

142:0.1 (1596.1) THE month of April Jesus and the apostles worked in Jerusalem, going out of the city each evening to spend the night at Bethany. Jesus himself spent one or two nights each week in Jerusalem at the home of Flavius, a Greek Jew, where many prominent Jews came in secret to interview him.

142:0.2 (1596.2) The first day in Jerusalem Jesus called upon his friend of former years, Annas, the onetime high priest and relative of Salome, Zebedee’s wife. Annas had been hearing about Jesus and his teachings, and when Jesus called at the high priest’s home, he was received with much reserve. When Jesus perceived Annas’s coldness, he took immediate leave, saying as he departed: “Fear is man’s chief enslaver and pride his great weakness; will you betray yourself into bondage to both of these destroyers of joy and liberty?” But Annas made no reply. The Master did not again see Annas until the time when he sat with his son-in-law in judgment on the Son of Man.


1. Teaching in the Temple


142:1.1 (1596.3) Throughout this month Jesus or one of the apostles taught daily in the temple. When the Passover crowds were too great to find entrance to the temple teaching, the apostles conducted many teaching groups outside the sacred precincts. The burden of their message was:


142:1.2 (1596.4) 1. The kingdom of heaven is at hand.

142:1.3 (1596.5) 2. By faith in the fatherhood of God you may enter the kingdom of heaven, thus becoming the sons of God.

142:1.4 (1596.6) 3. Love is the rule of living within the kingdom—supreme devotion to God while loving your neighbor as yourself.

142:1.5 (1596.7) 4. Obedience to the will of the Father, yielding the fruits of the spirit in one’s personal life, is the law of the kingdom.


142:1.6 (1596.8) The multitudes who came to celebrate the Passover heard this teaching of Jesus, and hundreds of them rejoiced in the good news. The chief priests and rulers of the Jews became much concerned about Jesus and his apostles and debated among themselves as to what should be done with them.

142:1.7 (1596.9) Besides teaching in and about the temple, the apostles and other believers were engaged in doing much personal work among the Passover throngs. These interested men and women carried the news of Jesus’ message from this Passover celebration to the uttermost parts of the Roman Empire and also to the East. This was the beginning of the spread of the gospel of the kingdom to the outside world. No longer was the work of Jesus to be confined to Palestine.


2. God’s Wrath


142:2.1 (1597.1) There was in Jerusalem in attendance upon the Passover festivities one Jacob, a wealthy Jewish trader from Crete, and he came to Andrew making request to see Jesus privately. Andrew arranged this secret meeting with Jesus at Flavius’s home the evening of the next day. This man could not comprehend the Master’s teachings, and he came because he desired to inquire more fully about the kingdom of God. Said Jacob to Jesus: “But, Rabbi, Moses and the olden prophets tell us that Yahweh is a jealous God, a God of great wrath and fierce anger. The prophets say he hates evildoers and takes vengeance on those who obey not his law. You and your disciples teach us that God is a kind and compassionate Father who so loves all men that he would welcome them into this new kingdom of heaven, which you proclaim is so near at hand.”

142:2.2 (1597.2) When Jacob finished speaking, Jesus replied: “Jacob, you have well stated the teachings of the olden prophets who taught the children of their generation in accordance with the light of their day. Our Father in Paradise is changeless. But the concept of his nature has enlarged and grown from the days of Moses down through the times of Amos and even to the generation of the prophet Isaiah. And now have I come in the flesh to reveal the Father in new glory and to show forth his love and mercy to all men on all worlds. As the gospel of this kingdom shall spread over the world with its message of good cheer and good will to all men, there will grow up improved and better relations among the families of all nations. As time passes, fathers and their children will love each other more, and thus will be brought about a better understanding of the love of the Father in heaven for his children on earth. Remember, Jacob, that a good and true father not only loves his family as a whole—as a family—but he also truly loves and affectionately cares for each individual member.”

142:2.3 (1597.3) After considerable discussion of the heavenly Father’s character, Jesus paused to say: “You, Jacob, being a father of many, know well the truth of my words.” And Jacob said: “But, Master, who told you I was the father of six children? How did you know this about me?” And the Master replied: “Suffice it to say that the Father and the Son know all things, for indeed they see all. Loving your children as a father on earth, you must now accept as a reality the love of the heavenly Father for you—not just for all the children of Abraham, but for you, your individual soul.”

142:2.4 (1597.4) Then Jesus went on to say: “When your children are very young and immature, and when you must chastise them, they may reflect that their father is angry and filled with resentful wrath. Their immaturity cannot penetrate beyond the punishment to discern the father’s farseeing and corrective affection. But when these same children become grown-up men and women, would it not be folly for them to cling to these earlier and misconceived notions regarding their father? As men and women they should now discern their father’s love in all these early disciplines. And should not mankind, as the centuries pass, come the better to understand the true nature and loving character of the Father in heaven? What profit have you from successive generations of spiritual illumination if you persist in viewing God as Moses and the prophets saw him? I say to you, Jacob, under the bright light of this hour you should see the Father as none of those who have gone before ever beheld him. And thus seeing him, you should rejoice to enter the kingdom wherein such a merciful Father rules, and you should seek to have his will of love dominate your life henceforth.”

142:2.5 (1598.1) And Jacob answered: “Rabbi, I believe; I desire that you lead me into the Father’s kingdom.”


3. The Concept of God


142:3.1 (1598.2) The twelve apostles, most of whom had listened to this discussion of the character of God, that night asked Jesus many questions about the Father in heaven. The Master’s answers to these questions can best be presented by the following summary in modern phraseology:

142:3.2 (1598.3) Jesus mildly upbraided the twelve, in substance saying: Do you not know the traditions of Israel relating to the growth of the idea of Yahweh, and are you ignorant of the teaching of the Scriptures concerning the doctrine of God? And then did the Master proceed to instruct the apostles about the evolution of the concept of Deity throughout the course of the development of the Jewish people. He called attention to the following phases of the growth of the God idea:

142:3.3 (1598.4) 1. Yahweh—the god of the Sinai clans. This was the primitive concept of Deity which Moses exalted to the higher level of the Lord God of Israel. The Father in heaven never fails to accept the sincere worship of his children on earth, no matter how crude their concept of Deity or by what name they symbolize his divine nature.

142:3.4 (1598.5) 2. The Most High. This concept of the Father in heaven was proclaimed by Melchizedek to Abraham and was carried far from Salem by those who subsequently believed in this enlarged and expanded idea of Deity. Abraham and his brother left Ur because of the establishment of sun worship, and they became believers in Melchizedek’s teaching of El Elyon—the Most High God. Theirs was a composite concept of God, consisting in a blending of their older Mesopotamian ideas and the Most High doctrine.

142:3.5 (1598.6) 3. El Shaddai. During these early days many of the Hebrews worshiped El Shaddai, the Egyptian concept of the God of heaven, which they learned about during their captivity in the land of the Nile. Long after the times of Melchizedek all three of these concepts of God became joined together to form the doctrine of the creator Deity, the Lord God of Israel.

142:3.6 (1598.7) 4. Elohim. From the times of Adam the teaching of the Paradise Trinity has persisted. Do you not recall how the Scriptures begin by asserting that “In the beginning the Gods created the heavens and the earth”? This indicates that when that record was made the Trinity concept of three Gods in one had found lodgment in the religion of our forebears.

142:3.7 (1598.8) 5. The Supreme Yahweh. By the times of Isaiah these beliefs about God had expanded into the concept of a Universal Creator who was simultaneously all-powerful and all-merciful. And this evolving and enlarging concept of God virtually supplanted all previous ideas of Deity in our fathers’ religion.

142:3.8 (1598.9) 6. The Father in heaven. And now do we know God as our Father in heaven. Our teaching provides a religion wherein the believer is a son of God. That is the good news of the gospel of the kingdom of heaven. Coexistent with the Father are the Son and the Spirit, and the revelation of the nature and ministry of these Paradise Deities will continue to enlarge and brighten throughout the endless ages of the eternal spiritual progression of the ascending sons of God. At all times and during all ages the true worship of any human being—as concerns individual spiritual progress—is recognized by the indwelling spirit as homage rendered to the Father in heaven.

142:3.9 (1599.1) Never before had the apostles been so shocked as they were upon hearing this recounting of the growth of the concept of God in the Jewish minds of previous generations; they were too bewildered to ask questions. As they sat before Jesus in silence, the Master continued: “And you would have known these truths had you read the Scriptures. Have you not read in Samuel where it says: ‘And the anger of the Lord was kindled against Israel, so much so that he moved David against them, saying, go number Israel and Judah’? And this was not strange because in the days of Samuel the children of Abraham really believed that Yahweh created both good and evil. But when a later writer narrated these events, subsequent to the enlargement of the Jewish concept of the nature of God, he did not dare attribute evil to Yahweh; therefore he said: ‘And Satan stood up against Israel and provoked David to number Israel.’ Cannot you discern that such records in the Scriptures clearly show how the concept of the nature of God continued to grow from one generation to another?

142:3.10 (1599.2) “Again should you have discerned the growth of the understanding of divine law in perfect keeping with these enlarging concepts of divinity. When the children of Israel came out of Egypt in the days before the enlarged revelation of Yahweh, they had ten commandments which served as their law right up to the times when they were encamped before Sinai. And these ten commandments were:


142:3.11 (1599.3) “1. You shall worship no other god, for the Lord is a jealous God.

142:3.12 (1599.4) “2. You shall not make molten gods.

142:3.13 (1599.5) “3. You shall not neglect to keep the feast of unleavened bread.

142:3.14 (1599.6) “4. Of all the males of men or cattle, the first-born are mine, says the Lord.

142:3.15 (1599.7) “5. Six days you may work, but on the seventh day you shall rest.

142:3.16 (1599.8) “6. You shall not fail to observe the feast of the first fruits and the feast of the ingathering at the end of the year.

142:3.17 (1599.9) “7. You shall not offer the blood of any sacrifice with leavened bread.

142:3.18 (1599.10) “8. The sacrifice of the feast of the Passover shall not be left until morning.

142:3.19 (1599.11) “9. The first of the first fruits of the ground you shall bring to the house of the Lord your God.

142:3.20 (1599.12) “10. You shall not seethe a kid in its mother’s milk.


142:3.21 (1599.13) “And then, amidst the thunders and lightnings of Sinai, Moses gave them the new ten commandments, which you will all allow are more worthy utterances to accompany the enlarging Yahweh concepts of Deity. And did you never take notice of these commandments as twice recorded in the Scriptures, that in the first case deliverance from Egypt is assigned as the reason for Sabbath keeping, while in a later record the advancing religious beliefs of our forefathers demanded that this be changed to the recognition of the fact of creation as the reason for Sabbath observance?

142:3.22 (1599.14) “And then will you remember that once again—in the greater spiritual enlightenment of Isaiah’s day—these ten negative commandments were changed into the great and positive law of love, the injunction to love God supremely and your neighbor as yourself. And it is this supreme law of love for God and for man that I also declare to you as constituting the whole duty of man.”

142:3.23 (1600.1) And when he had finished speaking, no man asked him a question. They went, each one to his sleep.


4. Flavius and Greek Culture


142:4.1 (1600.2) Flavius, the Greek Jew, was a proselyte of the gate, having been neither circumcised nor baptized; and since he was a great lover of the beautiful in art and sculpture, the house which he occupied when sojourning in Jerusalem was a beautiful edifice. This home was exquisitely adorned with priceless treasures which he had gathered up here and there on his world travels. When he first thought of inviting Jesus to his home, he feared that the Master might take offense at the sight of these so-called images. But Flavius was agreeably surprised when Jesus entered the home that, instead of rebuking him for having these supposedly idolatrous objects scattered about the house, he manifested great interest in the entire collection and asked many appreciative questions about each object as Flavius escorted him from room to room, showing him all of his favorite statues.

142:4.2 (1600.3) The Master saw that his host was bewildered at his friendly attitude toward art; therefore, when they had finished the survey of the entire collection, Jesus said: “Because you appreciate the beauty of things created by my Father and fashioned by the artistic hands of man, why should you expect to be rebuked? Because Moses onetime sought to combat idolatry and the worship of false gods, why should all men frown upon the reproduction of grace and beauty? I say to you, Flavius, Moses’ children have misunderstood him, and now do they make false gods of even his prohibitions of images and the likeness of things in heaven and on earth. But even if Moses taught such restrictions to the darkened minds of those days, what has that to do with this day when the Father in heaven is revealed as the universal Spirit Ruler over all? And, Flavius, I declare that in the coming kingdom they shall no longer teach, ‘Do not worship this and do not worship that’; no longer shall they concern themselves with commands to refrain from this and take care not to do that, but rather shall all be concerned with one supreme duty. And this duty of man is expressed in two great privileges: sincere worship of the infinite Creator, the Paradise Father, and loving service bestowed upon one’s fellow men. If you love your neighbor as you love yourself, you really know that you are a son of God.

142:4.3 (1600.4) “In an age when my Father was not well understood, Moses was justified in his attempts to withstand idolatry, but in the coming age the Father will have been revealed in the life of the Son; and this new revelation of God will make it forever unnecessary to confuse the Creator Father with idols of stone or images of gold and silver. Henceforth, intelligent men may enjoy the treasures of art without confusing such material appreciation of beauty with the worship and service of the Father in Paradise, the God of all things and all beings.”

142:4.4 (1600.5) Flavius believed all that Jesus taught him. The next day he went to Bethany beyond the Jordan and was baptized by the disciples of John. And this he did because the apostles of Jesus did not yet baptize believers. When Flavius returned to Jerusalem, he made a great feast for Jesus and invited sixty of his friends. And many of these guests also became believers in the message of the coming kingdom.


5. The Discourse on Assurance


142:5.1 (1601.1) One of the great sermons which Jesus preached in the temple this Passover week was in answer to a question asked by one of his hearers, a man from Damascus. This man asked Jesus: “But, Rabbi, how shall we know of a certainty that you are sent by God, and that we may truly enter into this kingdom which you and your disciples declare is near at hand?” And Jesus answered:

142:5.2 (1601.2) “As to my message and the teaching of my disciples, you should judge them by their fruits. If we proclaim to you the truths of the spirit, the spirit will witness in your hearts that our message is genuine. Concerning the kingdom and your assurance of acceptance by the heavenly Father, let me ask what father among you who is a worthy and kindhearted father would keep his son in anxiety or suspense regarding his status in the family or his place of security in the affections of his father’s heart? Do you earth fathers take pleasure in torturing your children with uncertainty about their place of abiding love in your human hearts? Neither does your Father in heaven leave his faith children of the spirit in doubtful uncertainty as to their position in the kingdom. If you receive God as your Father, then indeed and in truth are you the sons of God. And if you are sons, then are you secure in the position and standing of all that concerns eternal and divine sonship. If you believe my words, you thereby believe in Him who sent me, and by thus believing in the Father, you have made your status in heavenly citizenship sure. If you do the will of the Father in heaven, you shall never fail in the attainment of the eternal life of progress in the divine kingdom.

142:5.3 (1601.3) “The Supreme Spirit shall bear witness with your spirits that you are truly the children of God. And if you are the sons of God, then have you been born of the spirit of God; and whosoever has been born of the spirit has in himself the power to overcome all doubt, and this is the victory that overcomes all uncertainty, even your faith.

142:5.4 (1601.4) “Said the Prophet Isaiah, speaking of these times: ‘When the spirit is poured upon us from on high, then shall the work of righteousness become peace, quietness, and assurance forever.’ And for all who truly believe this gospel, I will become surety for their reception into the eternal mercies and the everlasting life of my Father’s kingdom. You, then, who hear this message and believe this gospel of the kingdom are the sons of God, and you have life everlasting; and the evidence to all the world that you have been born of the spirit is that you sincerely love one another.”

142:5.5 (1601.5) The throng of listeners remained many hours with Jesus, asking him questions and listening attentively to his comforting answers. Even the apostles were emboldened by Jesus’ teaching to preach the gospel of the kingdom with more power and assurance. This experience at Jerusalem was a great inspiration to the twelve. It was their first contact with such enormous crowds, and they learned many valuable lessons which proved of great assistance in their later work.


6. The Visit with Nicodemus


142:6.1 (1601.6) One evening at the home of Flavius there came to see Jesus one Nicodemus, a wealthy and elderly member of the Jewish Sanhedrin. He had heard much about the teachings of this Galilean, and so he went one afternoon to hear him as he taught in the temple courts. He would have gone often to hear Jesus teach, but he feared to be seen by the people in attendance upon his teaching, for already were the rulers of the Jews so at variance with Jesus that no member of the Sanhedrin would want to be identified in any open manner with him. Accordingly, Nicodemus had arranged with Andrew to see Jesus privately and after nightfall on this particular evening. Peter, James, and John were in Flavius’s garden when the interview began, but later they all went into the house where the discourse continued.

142:6.2 (1602.1) In receiving Nicodemus, Jesus showed no particular deference; in talking with him, there was no compromise or undue persuasiveness. The Master made no attempt to repulse his secretive caller, nor did he employ sarcasm. In all his dealings with the distinguished visitor, Jesus was calm, earnest, and dignified. Nicodemus was not an official delegate of the Sanhedrin; he came to see Jesus wholly because of his personal and sincere interest in the Master’s teachings.

142:6.3 (1602.2) Upon being presented by Flavius, Nicodemus said: “Rabbi, we know that you are a teacher sent by God, for no mere man could so teach unless God were with him. And I am desirous of knowing more about your teachings regarding the coming kingdom.”

142:6.4 (1602.3) Jesus answered Nicodemus: “Verily, verily, I say to you, Nicodemus, except a man be born from above, he cannot see the kingdom of God.” Then replied Nicodemus: “But how can a man be born again when he is old? He cannot enter a second time into his mother’s womb to be born.”

142:6.5 (1602.4) Jesus said: “Nevertheless, I declare to you, except a man be born of the spirit, he cannot enter into the kingdom of God. That which is born of the flesh is flesh, and that which is born of the spirit is spirit. But you should not marvel that I said you must be born from above. When the wind blows, you hear the rustle of the leaves, but you do not see the wind—whence it comes or whither it goes—and so it is with everyone born of the spirit. With the eyes of the flesh you can behold the manifestations of the spirit, but you cannot actually discern the spirit.”

142:6.6 (1602.5) Nicodemus replied: “But I do not understand—how can that be?” Said Jesus: “Can it be that you are a teacher in Israel and yet ignorant of all this? It becomes, then, the duty of those who know about the realities of the spirit to reveal these things to those who discern only the manifestations of the material world. But will you believe us if we tell you of the heavenly truths? Do you have the courage, Nicodemus, to believe in one who has descended from heaven, even the Son of Man?”

142:6.7 (1602.6) And Nicodemus said: “But how can I begin to lay hold upon this spirit which is to remake me in preparation for entering into the kingdom?” Jesus answered: “Already does the spirit of the Father in heaven indwell you. If you would be led by this spirit from above, very soon would you begin to see with the eyes of the spirit, and then by the wholehearted choice of spirit guidance would you be born of the spirit since your only purpose in living would be to do the will of your Father who is in heaven. And so finding yourself born of the spirit and happily in the kingdom of God, you would begin to bear in your daily life the abundant fruits of the spirit.”

142:6.8 (1602.7) Nicodemus was thoroughly sincere. He was deeply impressed but went away bewildered. Nicodemus was accomplished in self-development, in self-restraint, and even in high moral qualities. He was refined, egoistic, and altruistic; but he did not know how to submit his will to the will of the divine Father as a little child is willing to submit to the guidance and leading of a wise and loving earthly father, thereby becoming in reality a son of God, a progressive heir of the eternal kingdom.

142:6.9 (1603.1) But Nicodemus did summon faith enough to lay hold of the kingdom. He faintly protested when his colleagues of the Sanhedrin sought to condemn Jesus without a hearing; and with Joseph of Arimathea, he later boldly acknowledged his faith and claimed the body of Jesus, even when most of the disciples had fled in fear from the scenes of their Master’s final suffering and death.


7. The Lesson on the Family


142:7.1 (1603.2) After the busy period of teaching and personal work of Passover week in Jerusalem, Jesus spent the next Wednesday at Bethany with his apostles, resting. That afternoon, Thomas asked a question which elicited a long and instructive answer. Said Thomas: “Master, on the day we were set apart as ambassadors of the kingdom, you told us many things, instructed us regarding our personal mode of life, but what shall we teach the multitude? How are these people to live after the kingdom more fully comes? Shall your disciples own slaves? Shall your believers court poverty and shun property? Shall mercy alone prevail so that we shall have no more law and justice?” Jesus and the twelve spent all afternoon and all that evening, after supper, discussing Thomas’s questions. For the purposes of this record we present the following summary of the Master’s instruction:

142:7.2 (1603.3) Jesus sought first to make plain to his apostles that he himself was on earth living a unique life in the flesh, and that they, the twelve, had been called to participate in this bestowal experience of the Son of Man; and as such coworkers, they, too, must share in many of the special restrictions and obligations of the entire bestowal experience. There was a veiled intimation that the Son of Man was the only person who had ever lived on earth who could simultaneously see into the very heart of God and into the very depths of man’s soul.

142:7.3 (1603.4) Very plainly Jesus explained that the kingdom of heaven was an evolutionary experience, beginning here on earth and progressing up through successive life stations to Paradise. In the course of the evening he definitely stated that at some future stage of kingdom development he would revisit this world in spiritual power and divine glory.

142:7.4 (1603.5) He next explained that the “kingdom idea” was not the best way to illustrate man’s relation to God; that he employed such figures of speech because the Jewish people were expecting the kingdom, and because John had preached in terms of the coming kingdom. Jesus said: “The people of another age will better understand the gospel of the kingdom when it is presented in terms expressive of the family relationship—when man understands religion as the teaching of the fatherhood of God and the brotherhood of man, sonship with God.” Then the Master discoursed at some length on the earthly family as an illustration of the heavenly family, restating the two fundamental laws of living: the first commandment of love for the father, the head of the family, and the second commandment of mutual love among the children, to love your brother as yourself. And then he explained that such a quality of brotherly affection would invariably manifest itself in unselfish and loving social service.

142:7.5 (1603.6) Following that, came the memorable discussion of the fundamental characteristics of family life and their application to the relationship existing between God and man. Jesus stated that a true family is founded on the following seven facts:

142:7.6 (1604.1) 1. The fact of existence. The relationships of nature and the phenomena of mortal likenesses are bound up in the family: Children inherit certain parental traits. The children take origin in the parents; personality existence depends on the act of the parent. The relationship of father and child is inherent in all nature and pervades all living existences.

142:7.7 (1604.2) 2. Security and pleasure. True fathers take great pleasure in providing for the needs of their children. Many fathers are not content with supplying the mere wants of their children but enjoy making provision for their pleasures also.

142:7.8 (1604.3) 3. Education and training. Wise fathers carefully plan for the education and adequate training of their sons and daughters. When young they are prepared for the greater responsibilities of later life.

142:7.9 (1604.4) 4. Discipline and restraint. Farseeing fathers also make provision for the necessary discipline, guidance, correction, and sometimes restraint of their young and immature offspring.

142:7.10 (1604.5) 5. Companionship and loyalty. The affectionate father holds intimate and loving intercourse with his children. Always is his ear open to their petitions; he is ever ready to share their hardships and assist them over their difficulties. The father is supremely interested in the progressive welfare of his progeny.

142:7.11 (1604.6) 6. Love and mercy. A compassionate father is freely forgiving; fathers do not hold vengeful memories against their children. Fathers are not like judges, enemies, or creditors. Real families are built upon tolerance, patience, and forgiveness.

142:7.12 (1604.7) 7. Provision for the future. Temporal fathers like to leave an inheritance for their sons. The family continues from one generation to another. Death only ends one generation to mark the beginning of another. Death terminates an individual life but not necessarily the family.

142:7.13 (1604.8) For hours the Master discussed the application of these features of family life to the relations of man, the earth child, to God, the Paradise Father. And this was his conclusion: “This entire relationship of a son to the Father, I know in perfection, for all that you must attain of sonship in the eternal future I have now already attained. The Son of Man is prepared to ascend to the right hand of the Father, so that in me is the way now open still wider for all of you to see God and, ere you have finished the glorious progression, to become perfect, even as your Father in heaven is perfect.”

142:7.14 (1604.9) When the apostles heard these startling words, they recalled the pronouncements which John made at the time of Jesus’ baptism, and they also vividly recalled this experience in connection with their preaching and teaching subsequent to the Master’s death and resurrection.

142:7.15 (1604.10) Jesus is a divine Son, one in the Universal Father’s full confidence. He had been with the Father and comprehended him fully. He had now lived his earth life to the full satisfaction of the Father, and this incarnation in the flesh had enabled him fully to comprehend man. Jesus was the perfection of man; he had attained just such perfection as all true believers are destined to attain in him and through him. Jesus revealed a God of perfection to man and presented in himself the perfected son of the realms to God.

142:7.16 (1605.1) Although Jesus discoursed for several hours, Thomas was not yet satisfied, for he said: “But, Master, we do not find that the Father in heaven always deals kindly and mercifully with us. Many times we grievously suffer on earth, and not always are our prayers answered. Where do we fail to grasp the meaning of your teaching?”

142:7.17 (1605.2) Jesus replied: “Thomas, Thomas, how long before you will acquire the ability to listen with the ear of the spirit? How long will it be before you discern that this kingdom is a spiritual kingdom, and that my Father is also a spiritual being? Do you not understand that I am teaching you as spiritual children in the spirit family of heaven, of which the fatherhead is an infinite and eternal spirit? Will you not allow me to use the earth family as an illustration of divine relationships without so literally applying my teaching to material affairs? In your minds cannot you separate the spiritual realities of the kingdom from the material, social, economic, and political problems of the age? When I speak the language of the spirit, why do you insist on translating my meaning into the language of the flesh just because I presume to employ commonplace and literal relationships for purposes of illustration? My children, I implore that you cease to apply the teaching of the kingdom of the spirit to the sordid affairs of slavery, poverty, houses, and lands, and to the material problems of human equity and justice. These temporal matters are the concern of the men of this world, and while in a way they affect all men, you have been called to represent me in the world, even as I represent my Father. You are spiritual ambassadors of a spiritual kingdom, special representatives of the spirit Father. By this time it should be possible for me to instruct you as full-grown men of the spirit kingdom. Must I ever address you only as children? Will you never grow up in spirit perception? Nevertheless, I love you and will bear with you, even to the very end of our association in the flesh. And even then shall my spirit go before you into all the world.”


8. In Southern Judea


142:8.1 (1605.3) By the end of April the opposition to Jesus among the Pharisees and Sadducees had become so pronounced that the Master and his apostles decided to leave Jerusalem for a while, going south to work in Bethlehem and Hebron. The entire month of May was spent in doing personal work in these cities and among the people of the surrounding villages. No public preaching was done on this trip, only house-to-house visitation. A part of this time, while the apostles taught the gospel and ministered to the sick, Jesus and Abner spent at Engedi, visiting the Nazarite colony. John the Baptist had gone forth from this place, and Abner had been head of this group. Many of the Nazarite brotherhood became believers in Jesus, but the majority of these ascetic and eccentric men refused to accept him as a teacher sent from heaven because he did not teach fasting and other forms of self-denial.

142:8.2 (1605.4) The people living in this region did not know that Jesus had been born in Bethlehem. They always supposed the Master had been born at Nazareth, as did the vast majority of his disciples, but the twelve knew the facts.

142:8.3 (1605.5) This sojourn in the south of Judea was a restful and fruitful season of labor; many souls were added to the kingdom. By the first days of June the agitation against Jesus had so quieted down in Jerusalem that the Master and the apostles returned to instruct and comfort believers.

142:8.4 (1606.1) Although Jesus and the apostles spent the entire month of June in or near Jerusalem, they did no public teaching during this period. They lived for the most part in tents, which they pitched in a shaded park, or garden, known in that day as Gethsemane. This park was situated on the western slope of the Mount of Olives not far from the brook Kidron. The Sabbath weekends they usually spent with Lazarus and his sisters at Bethany. Jesus entered within the walls of Jerusalem only a few times, but a large number of interested inquirers came out to Gethsemane to visit with him. One Friday evening Nicodemus and one Joseph of Arimathea ventured out to see Jesus but turned back through fear even after they were standing before the entrance to the Master’s tent. And, of course, they did not perceive that Jesus knew all about their doings.

142:8.5 (1606.2) When the rulers of the Jews learned that Jesus had returned to Jerusalem, they prepared to arrest him; but when they observed that he did no public preaching, they concluded that he had become frightened by their previous agitation and decided to allow him to carry on his teaching in this private manner without further molestation. And thus affairs moved along quietly until the last days of June, when one Simon, a member of the Sanhedrin, publicly espoused the teachings of Jesus, after so declaring himself before the rulers of the Jews. Immediately a new agitation for Jesus’ apprehension sprang up and grew so strong that the Master decided to retire into the cities of Samaria and the Decapolis.

 

Documento 142

A Páscoa em Jerusalém

142:0.1 (1596.1) DURANTE o mês de abril, Jesus e os apóstolos trabalharam em Jerusalém, indo para fora da cidade todas as noites e pernoitando em Betânia. Jesus passava, ele próprio, uma ou duas noites, por semana, na casa de Flávio, um judeu grego, em Jerusalém, e até ali iam, secretamente, muitos judeus proeminentes para entrevistarem-se com Jesus.

142:0.2 (1596.2) No primeiro dia em Jerusalém, Jesus esteve com Anás, amigo de anos anteriores, e que havia sido o sumo sacerdote e era parente de Salomé, a mulher de Zebedeu. Anás havia ouvido falar de Jesus e dos seus ensinamentos, mas, quando ele surgiu na casa do sumo sacerdote, foi recebido com muita reserva. Quando Jesus percebeu a frieza de Anás, foi embora imediatamente e, ao sair, disse: “O medo é o maior escravizador do homem, e o orgulho, a sua grande fraqueza; tu te trairias a ti próprio, dentro da prisão desses dois destruidores do júbilo e da liberdade?” Anás nada respondeu, todavia. E o Mestre não mais viu Anás, até o momento em que este se assentou junto do próprio genro para o julgamento do Filho do Homem.

 

1. Ensinando no Templo

 

142:1.1 (1596.3) Durante esse mês, diariamente, Jesus ou um dos seus apóstolos ensinava no templo. Quando as multidões da Páscoa estavam grandes demais para terem acesso ao ensinamento dentro do templo, os apóstolos faziam os grupos de aprendizado do lado de fora dos recintos sagrados. A ênfase da mensagem deles era:

 

142:1.2 (1596.4) 1. O Reino do céu está à mão.

142:1.3 (1596.5) 2. Pela fé na paternidade de Deus, vós podeis entrar no Reino do céu, tornando- vos assim os filhos de Deus.

142:1.4 (1596.6) 3. O amor é a regra para viver dentro do Reino — a suprema devoção a Deus que, ao mesmo tempo, significa amar ao próximo como a si mesmo.

142:1.5 (1596.7) 4. A obediência à vontade do Pai, produzindo os frutos do espírito, na vida pessoal de cada um; essa é a lei do Reino.

 

142:1.6 (1596.8) As multidões, que vieram celebrar a Páscoa, ouviram esse ensinamento de Jesus e, às centenas, rejubilaram-se com as boas-novas. Os sacerdotes principais e os dirigentes judeus ficaram muito preocupados com Jesus e os seus apóstolos, e debateram entre si sobre o que deveriam fazer com eles.

142:1.7 (1596.9) Além de ensinarem no templo e nas suas cercanias, os apóstolos e outros crentes estavam empenhados em realizar muito trabalho pessoal junto às multidões da Páscoa. Esses homens e mulheres interessados levavam a boa-nova da mensagem de Jesus, nessa celebração da Páscoa, até as partes mais remotas do império romano e também para o Oriente. Esse foi o começo da propagação do evangelho do Reino, para o mundo exterior. O trabalho de Jesus não mais ficaria confinado à Palestina.

 

2. A Ira de Deus

 

142:2.1 (1597.1) Havia em Jerusalém, assistindo às festividades da Páscoa, um certo Jacó, um rico comerciante judeu de Creta; e ele veio até André e pediu para ver Jesus a sós. André arranjou esse encontro secreto com Jesus, na casa de Flávio, para a noite do dia seguinte. Esse homem não pôde compreender os ensinamentos do Mestre, e tinha vindo porque desejava inquirir mais completamente sobre o Reino de Deus. E Jacó disse a Jesus: “Mas, Rabi, Moisés e os velhos profetas nos dizem que Yavé é um Deus ciumento, um Deus de muita ira e de forte raiva. Os profetas dizem que ele odeia os malfeitores e se vinga daqueles que não obedecem à sua lei. Tu e os teus discípulos nos ensinais que Deus é um rei, um Pai cheio de compaixão, que ama tanto a todos os homens e que os acolheria no seu Reino do céu, o qual tu proclamas estar perto e à mão”.

142:2.2 (1597.2) Quando Jacó acabou de falar, Jesus respondeu: “Jacó, tu acabaste de expor muito bem os ensinamentos dos velhos profetas, que instruíram aos filhos daquela geração de acordo com a luz da época deles. O nosso Pai no Paraíso é imutável. Mas o conceito da sua natureza ampliou-se e cresceu, desde os dias de Moisés até os tempos de Amós e mesmo até a geração do profeta Isaías. E agora eu vim, na carne, revelar o Pai, em nova glória, e mostrar o Seu amor e sua misericórdia a todos os homens, em todos os mundos. Quando se disseminar pelo mundo o evangelho deste Reino, com a mensagem de coragem e boa vontade a todos os homens, melhores relações surgirão entre as famílias de todas as nações. Com o passar do tempo, pais e filhos amar-se-ão mais uns aos outros; e assim será gerada uma melhor compreensão do amor do Pai no céu pelos Seus filhos na Terra. Lembra-te, Jacó, que um pai bom e verdadeiro não apenas ama a sua família como um todo — como uma família — mas ama também e verdadeiramente se importa afetuosamente com cada um dos seus membros individuais”.

142:2.3 (1597.3) Depois de uma discussão considerável sobre o caráter do Pai celeste, Jesus fez uma pausa e disse: “Tu, Jacó, sendo pai de muitos filhos, sabes bem a verdade das minhas palavras”. E Jacó disse: “Mas, Mestre, quem te disse que sou pai de seis filhos? Como soubeste disso a meu respeito?” E o Mestre respondeu: “Bastaria dizer que o Pai e o Filho sabem de todas as coisas, pois de fato eles a tudo vêem. Amando os teus filhos como um pai na Terra, tu deves aceitar como uma realidade o amor do Pai celeste por ti — não só por todos os filhos de Abraão, mas por ti, pela tua alma individual”.

142:2.4 (1597.4) Então Jesus continuou dizendo: “Quando os teus filhos são muito jovens e imaturos e tu tens de castigá-los, eles podem achar que talvez o pai deles esteja com raiva e tomado por uma ira ressentida. A imaturidade deles não os deixa penetrar além da punição, para que possam discernir a afeição previdente e corretiva do pai. Contudo, quando esses mesmos filhos tornam-se homens e mulheres crescidas, não seria uma tolice que eles se ativessem à noção anterior, concebida erradamente, sobre o seu pai? Como homens e mulheres eles deviam agora discernir o amor do seu pai, em todas aquelas ações disciplinares. E não devia a humanidade, com o passar dos séculos, vir a compreender melhor a verdadeira natureza e o caráter amoroso do Pai no céu? Que proveito podes ter das gerações sucessivas de esclarecimento espiritual, se persistires em ver Deus como Moisés e os profetas O viam? Eu te digo, Jacó, sob a luz brilhante desta hora, tu deverias ver o Pai como nenhum daqueles, que vieram antes, jamais O contemplaram. E, vendo-O assim, tu deverias rejubilar- te por entrares no Reino onde esse Pai, tão misericordioso, governa, e tu deverias buscar ter a vontade do amor Dele dominando a tua vida, daqui por diante”.

142:2.5 (1598.1) E Jacó respondeu: “Rabi, eu creio; eu desejo que tu me conduzas ao Reino do Pai”.

 

3. O Conceito de Deus

 

142:3.1 (1598.2) Os doze apóstolos, a maioria dos quais havia ouvido essa conversa sobre o caráter de Deus, naquela noite, fizeram várias perguntas a Jesus, sobre o Pai no céu. As respostas do Mestre a essas perguntas podem ser mais bem apresentadas pelo seguinte resumo, exposto numa linguagem moderna:

142:3.2 (1598.3) Jesus repreendeu aos doze com brandura; em essência eis o que disse: Não sabeis das tradições de Israel em relação ao crescimento da idéia de Yavé, e acaso sois ignorantes sobre os ensinamentos das escrituras a respeito da doutrina de Deus? E então o Mestre continuou a instruir os apóstolos sobre a evolução do conceito da Deidade, no curso do desenvolvimento do povo judeu. Ele chamou a atenção para as seguintes fases do crescimento da idéia de Deus:

142:3.3 (1598.4) 1. Yavé — o Deus dos clãs do Sinai. Esse foi o conceito primitivo da Deidade, que Moisés exaltou ao nível mais alto como o Senhor Deus de Israel. O Pai no céu nunca deixa de aceitar a adoração sincera dos seus filhos na Terra, não importando quão imaturo seja o conceito da Deidade que tenham, nem o nome com o qual simbolizam a Sua natureza divina.

142:3.4 (1598.5) 2. O Altíssimo. Esse conceito do Pai no céu foi proclamado por Melquisedeque a Abraão, tendo sido levado até bem longe de Salém por aqueles que, posteriormente, acreditaram nessa idéia ampliada e expandida da Deidade. Abraão e o seu irmão deixaram Ur, por causa do estabelecimento da adoração do sol, e tornaram-se crentes nos ensinamentos de Melquisedeque sobre El Elyon — o Deus Altíssimo. O conceito deles, sobre Deus, era composto de uma fusão das antigas idéias da Mesopotâmia com a da doutrina do Altíssimo.

142:3.5 (1598.6) 3. El Shadai. Durante esses dias primitivos, muitos dos hebreus adoravam El Shadai, o conceito egípcio do Deus do céu, sobre o qual eles aprenderam durante o seu cativeiro na terra do Nilo. Muito depois dos tempos de Melquisedeque, todos esses três conceitos de Deus tornaram-se fundidos, formando a doutrina da Deidade criadora, o Senhor Deus de Israel.

142:3.6 (1598.7) 4. Eloim. Desde os tempos de Adão, o ensinamento sobre a Trindade do Paraíso tem perdurado. Não vos lembrais como as escrituras iniciam, afirmando que “No começo os Deuses criaram os céus e a Terra”? Isso indica que, quando esse registro foi feito, o conceito de três Deuses em Um, na Trindade, havia encontrado um lugar na religião dos nossos antepassados.

142:3.7 (1598.8) 5. O Supremo Yavé. Na época de Isaías essas crenças sobre Deus tinham- se expandido até o conceito de um Criador Universal, que era simultaneamente Todo-Poderoso e todo-misericordioso. E esse conceito de Deus, em evolução e em ampliação, virtualmente suplantou todas as idéias anteriores da Deidade, na religião dos nossos pais.

142:3.8 (1598.9) 6. O Pai no céu. E, agora, conhecemos Deus como o nosso Pai no céu. O nosso ensinamento oferece uma religião em que o crente é um filho de Deus. Essa é a boa-nova do evangelho do Reino do céu. Coexistentes com o Pai há o Filho e há o Espírito, e a revelação da natureza e o ministério dessas Deidades do Paraíso continuarão a ampliar-se e a iluminar as idades sem fim, da progressão espiritual eterna dos filhos ascendentes de Deus. Em todas as épocas e durante todas as idades, a verdadeira adoração de qualquer ser humano — no que concerne ao seu progresso espiritual individual — é reconhecida, pelo espírito residente, como uma homenagem feita ao Pai no céu.

142:3.9 (1599.1) Nunca antes os apóstolos estiveram tão chocados como estavam ao escutarem sobre essa narrativa do crescimento do conceito de Deus nas mentes judias de gerações anteriores; eles estavam espantados demais, também, para fazerem perguntas. Como permaneciam assentados, diante de Jesus, em silêncio, o Mestre continuou: “E teríeis já conhecido tais verdades caso tivésseis lido as escrituras. Acaso não lestes em Samuel, onde ele diz: ‘E a raiva do Senhor foi incitada contra Israel, tanto assim que ele colocou Davi contra eles, dizendo: ide e fazei o censo de Israel e Judá’? E isso não era estranho porque, nos dias de Samuel, os filhos de Abraão realmente acreditavam que Yavé criara tanto o bem, quanto o mal. No entanto, quando um escritor posterior narrou esses acontecimentos, depois da ampliação do conceito que os judeus faziam da natureza de Deus, ele não atribuiu o mal a Yavé; e, por conseguinte, disse: ‘E Satã levantou-se contra Israel e levou Davi a fazer o censo de Israel’. Acaso não podeis perceber que tais registros das escrituras mostram, claramente, como o conceito da natureza de Deus continuou a crescer de uma geração para outra?

142:3.10 (1599.2) “Novamente deveríeis ter percebido o crescimento da compreensão da lei divina, em perfeita harmonia com os conceitos, em ampliação, da divindade. Quando os filhos de Israel saíram do Egito, nos dias anteriores à ampliação da revelação de Yavé, eles possuíam os dez mandamentos que lhes serviram de lei, até os tempos em que acamparam diante do Sinai. E esses dez mandamentos eram:

 

142:3.11 (1599.3) “1. Não adorarás nenhum outro deus, pois o Senhor é um Deus ciumento.

142:3.12 (1599.4) “2. Não elaborarás deuses fundindo-o em imagens.

142:3.13 (1599.5) “3. Não negligenciarás a observação da festa do pão sem levedura.

142:3.14 (1599.6) “4. De todos os varões dos homens ou do gado, os primogênitos são meus, disse o Senhor.

142:3.15 (1599.7) “5. Durante seis dias poderás trabalhar, mas no sétimo dia descansarás.

142:3.16 (1599.8) “6. Não deixarás de observar a festa dos primeiros frutos e a festa da colheita no final do ano.

142:3.17 (1599.9) “7. Não oferecerás o sangue de nenhum sacrifício com pão feito com levedura.

142:3.18 (1599.10) “8. Do sacrifício da festa da Páscoa, não sairás antes que chegue a manhã seguinte.

142:3.19 (1599.11) “9. O primeiro entre os primeiros frutos da terra, vós os trareis para a casa do Senhor, vosso Deus.

142:3.20 (1599.12) “10. Não ferverás um cabrito no leite da mãe dele.

 

142:3.21 (1599.13) “E então, entre trovões e relâmpagos no Sinai, Moisés deu a eles os dez mandamentos novos, e todos vós estais de acordo que são afirmações mais dignas de acompanhar os conceitos ampliados da Deidade de Yavé. E não haveríeis nunca notado que esses mandamentos estão registrados duas vezes nas escrituras? Que a observação do sabat, no primeiro caso, é atribuída á libertação do Egito; enquanto em um registro posterior as crenças religiosas, dos nossos pais, que avançavam, exigiam que a razão para a observação do sabat fosse mudada, passando a ser um reconhecimento ao fato da criação?

142:3.22 (1599.14) “E então vós vos lembrareis de que uma vez mais — no dia do maior esclarecimento espiritual de Isaías — esses dez mandamentos negativos foram transformados na grande e positiva lei do amor, o comando de amar a Deus acima de tudo; e ao vosso semelhante como a vós próprios. E é essa lei suprema de amor a Deus e ao homem que eu também declaro a vós como constituindo todo o dever do homem”.

142:3.23 (1600.1) E quando ele acabou de falar, ninguém lhe fez nenhuma pergunta. E todos foram, um a um, dormir.

 

4. Flávio e a Cultura Grega

 

142:4.1 (1600.2) Flávio, o judeu grego, era um prosélito que, não tendo sido circuncidado ou batizado, não tinha acesso ao templo; e já que era um grande amante do belo na arte e na escultura, a casa que ocupava, enquanto permanecia em Jerusalém, era um belo edifício. E, afinal, essa casa era adornada com tesouros sem preço que ele havia reunido aqui e ali nas suas viagens pelo mundo. Quando primeiro pensou em convidar Jesus para ficar na sua casa, ele temeu que o Mestre pudesse ofender-se ao ver essas, assim consideradas, imagens. Flávio, contudo, ficou agradavelmente surpreso quando Jesus entrou e, em vez de reprová-lo por ter esses objetos supostamente idólatras espalhados pela casa, manifestou um grande interesse por toda a coleção e fez muitas perguntas de reconhecimento sobre cada objeto, enquanto Flávio acompanhava-o de aposento em aposento, mostrando-lhe todas as suas esculturas favoritas.

142:4.2 (1600.3) O Mestre percebeu que o seu anfitrião estava surpreso com a sua atitude amistosa para com a arte; e, conseqüentemente, quando eles haviam terminado de ver toda a coleção, Jesus disse: “Deverias esperar a minha reprovação pelo fato de apreciares a beleza das coisas criadas pelo meu Pai e confeccionadas pelas mãos artísticas do homem,? Moisés, certa vez procurou combater a idolatria e a adoração de deuses falsos; mas por isso deveriam todos os homens ver com desagrado a reprodução da graça e da beleza? Eu te digo, Flávio, os filhos de Moisés não o compreenderam; e, ainda agora, transformam em falsos deuses até mesmo as suas proibições de imagens e de coisas celestes e terrestres. Todavia, ainda que Moisés houvesse ensinado essas restrições às mentes sem iluminação daqueles dias, o que teria isso a ver com os dias de hoje, nos quais o Pai no céu é revelado como um Soberano Espiritual universal acima de tudo? E, Flávio, eu declaro que, no Reino que se aproxima, não mais se ensinará que: ‘não deveis adorar isso, nem adoreis aquilo’; não mais haverá preocupação com mandamentos proibindo coisas ou indicando cuidados, de que não se faça isso nem aquilo; mas antes todos estarão ocupados com um dever supremo. E esse dever do homem expressa-se em dois grandes privilégios: a adoração sincera ao Criador infinito, o Pai do Paraíso; e o serviço de amor aos nossos semelhantes. Se tu amas o teu semelhante como amas a ti próprio, realmente sabes que és filho de Deus.

142:4.3 (1600.4) “Numa idade em que o meu Pai não era bem compreendido, justificavam-se as tentativas de Moisés, de conter a idolatria, mas na idade vindoura o Pai terá sido revelado na vida do Filho; e essa nova revelação de Deus fará, para sempre, com que não tenha mais sentido em confundir o Pai Criador com ídolos de pedra ou com imagens de ouro e de prata. Doravante, os homens inteligentes podem desfrutar dos tesouros da arte sem confundir essa apreciação material da beleza com a adoração e o serviço do Pai no Paraíso, o Deus de todas as coisas e de todos os seres”.

142:4.4 (1600.5) Flávio acreditou em tudo o que Jesus lhe ensinou. No dia seguinte ele seguiu para Betânia, além do Jordão, e foi batizado pelos discípulos de João. E assim sucedeu, porque os apóstolos de Jesus ainda não batizavam os crentes. Quando Flávio voltou a Jerusalém, fez uma grande festa para Jesus e convidou sessenta dos seus amigos. E muitos desses convidados também se tornaram crentes na mensagem do Reino vindouro.

 

5. O Discurso sobre a Convicção

 

142:5.1 (1601.1) Um dos grandes sermões que Jesus proferiu no templo, nessa semana de Páscoa, foi em resposta a uma pergunta feita por um dos seus ouvintes, um homem de Damasco. Esse homem perguntou a Jesus: “Mas, Rabi, como sabermos com certeza que tu és enviado por Deus, e que nós podemos verdadeiramente entrar neste Reino que tu e os teus discípulos declaram estar perto e à mão?” E Jesus respondeu:

142:5.2 (1601.2) “Quanto à minha mensagem e aos ensinamentos dados aos meus discípulos, deveríeis julgá-los pelos seus frutos. Se proclamarmos as verdades do espírito, o espírito testemunhará dentro dos vossos corações que a nossa mensagem é genuína. A respeito do Reino e sobre a vossa convicção e a aceitação que o Pai celeste tem de vós, eu pergunto-vos, dentre vós, qual o pai que, sendo digno e de bom coração, manteria o seu filho ansioso e na expectativa quanto ao status dele na família ou quanto à segurança do seu lugar no afeto do coração do seu pai? Acaso vós, que sois pais terrenos, tendes prazer em torturar os vossos filhos com a incerteza sobre a constância do amor que os vossos corações humanos mantêm por eles? O vosso Pai no céu também não deixa os Seus filhos do espírito, pela fé, em incertezas e dúvidas quanto à posição deles no Reino. Se receberdes Deus como o vosso Pai, então, de fato e verdade sois os filhos de Deus. E, se sois filhos, então estareis seguros na vossa posição e quanto a tudo o que diz respeito à filiação eterna e divina. Se vós acreditardes nas minhas palavras, conseqüentemente vós acreditais Nele que me enviou e, acreditando assim no Pai, vós vos estais certificando do vosso status como cidadãos celestes. Se fizerdes a vontade do Pai no céu, nunca ireis fracassar na realização da vida eterna de progresso no Reino divino.

142:5.3 (1601.3) “O Espírito Supremo testemunhará, para os vossos espíritos, que sois verdadeiramente filhos de Deus. E se sois filhos de Deus, então nascestes do espírito de Deus; e todo aquele que houver nascido do espírito tem em si próprio o poder de superar qualquer dúvida; e essa vitória, que supera toda a incerteza, é vitória da vossa própria fé.

142:5.4 (1601.4) “Disse o profeta Isaías, falando desses tempos: ‘Quando o espírito do alto é vertido sobre nós, então o trabalho da retidão transforma-se em paz, em silêncio e, para sempre, em convicção’. E, para todos aqueles que verdadeiramente crêem nesse evangelho, eu me transformarei na garantia de que serão recebidos nas misericórdias eternas e na vida, que perdurará para sempre, do Reino do meu Pai. E então, vós, que ouvis esta mensagem e que credes neste evangelho do Reino, sois os filhos de Deus, e vós tendes a vida eterna; e a evidência, para todo o mundo, de que nascestes do espírito é que vós amais uns aos outros com sinceridade”.

142:5.5 (1601.5) A multidão de ouvintes permaneceu por muitas horas com Jesus, fazendo-lhe perguntas e escutando com atenção as suas respostas confortadoras. Mesmo os apóstolos ficaram encorajados, pelo ensinamento de Jesus, a pregar o evangelho do Reino com mais poder e mais convicção. Essa experiência em Jerusalém foi uma grande inspiração para os doze. Foi o primeiro contato deles com multidões tão enormes, e eles aprenderam muitas lições úteis que demonstraram ser de grande ajuda para o seu trabalho posterior.

 

6. A Conversa com Nicodemos

 

142:6.1 (1601.6) Uma noite, na casa de Flávio, um certo Nicodemos, um membro rico e antigo do sinédrio judeu, apareceu para ver Jesus. Muito havia ouvido falar a respeito dos ensinamentos deste galileu e, sendo assim, Nicodemos veio para ouvi-lo, em uma tarde, enquanto Jesus ensinava nas praças do templo. Ele poderia ter ido ali, com freqüência, para ouvir Jesus ensinando, mas temia ser visto pelo povo, assistindo àqueles ensinamentos, pois os chefes judeus já divergiam tanto de Jesus, que nenhum membro do sinédrio iria querer ser identificado abertamente de algum modo com ele. E, dessa maneira, Nicodemos havia arranjado, com André, para ver Jesus, em privacidade, ainda naquele dia depois do cair da noite. Pedro, Tiago e João estavam no jardim de Flávio quando a entrevista começou; e, mais tarde, todos eles foram para dentro da casa, onde a conversa continuou.

142:6.2 (1602.1) Ao receber Nicodemos, Jesus não demonstrou nenhuma deferência especial; ao falar com ele, não fez nenhuma concessão, nenhuma persuasão indevida. O Mestre não fez nenhuma tentativa de repelir o seu interlocutor secreto, nem empregou sarcasmo. Em todas as suas relações para com o visitante ilustre, Jesus esteve calmo, sincero e digno. Nicodemos não era um representante oficial do sinédrio; ele veio ver Jesus, essencialmente, por causa do seu interesse pessoal e sincero nos ensinamentos do Mestre.

142:6.3 (1602.2) Sendo apresentado por Flávio, Nicodemos disse: “Rabi, sabemos que vós sois um instrutor enviado por Deus, pois ninguém meramente humano poderia ensinar desse modo, a menos que Deus estivesse com ele. E eu estou desejoso de saber mais a respeito dos vossos ensinamentos sobre o Reino vindouro”.

142:6.4 (1602.3) Jesus respondeu a Nicodemos: “Em verdade, em verdade, eu te digo, Nicodemos, a menos que um homem tenha nascido do alto, ele não pode ver o Reino de Deus”. Então Nicodemos replicou: “Mas como pode um homem nascer de novo quando ele é velho? Ele não pode entrar por uma segunda vez no ventre da sua mãe para nascer”.

142:6.5 (1602.4) Jesus disse: “Contudo, eu declaro-te que a menos que um homem nasça do espírito, ele não pode entrar no Reino de Deus. Aquele que nasce da carne é carne, e aquele que nasce do espírito é espírito. Mas tu não deves espantar-te porque eu disse que tu deves nascer do alto. Quando sopra o vento, tu escutas o farfalhar das folhas, mas não podes ver o vento — nem de onde vem, nem para onde vai — e assim é com todos os nascidos do espírito. Com os olhos da carne podes aperceber- te das manifestações do espírito, mas não podes discernir de fato o espírito”.

142:6.6 (1602.5) Nicodemos retrucou: “Mas eu não entendo — como pode ser isso?” E Jesus disse: “Como pode ser que tu sejas um instrutor em Israel e continues ainda ignorante sobre tudo isso? Por isso é que se torna um dever, para aqueles que sabem sobre as realidades do espírito, revelar essas coisas àqueles que discernem apenas as manifestações do mundo material. Mas tu acreditarás em nós se te contarmos sobre as verdades celestes? Tu tens a coragem, Nicodemos, de acreditar naquele que desceu do céu, o próprio Filho do Homem?”

142:6.7 (1602.6) E Nicodemos disse: “Mas como posso começar a captar esse espírito que deverá recriar-me na preparação para a minha entrada no Reino?” Jesus respondeu: “O espírito do Pai no céu já reside em ti. Se quiseres ser conduzido por esse espírito vindo do alto, tu irás, muito em breve, começar a ver com os olhos do espírito, e, então, por meio da escolha sincera, serás guiado pelo espírito, nascerás no espírito, desde que o teu propósito de viver seja o de fazer a vontade do teu Pai que está no céu. E, assim, tendo nascido no espírito e estando feliz no Reino de Deus, tu começarás a colher na tua vida diária os frutos abundantes do espírito”.

142:6.8 (1602.7) Nicodemos era inteiramente sincero. E estava profundamente impressionado, mas foi embora confuso. Nicodemos era um homem realizado, quanto ao autodesenvolvimento e o autocontrole, e até mesmo quanto às suas altas qualidades morais. Ele era de educação refinada, um egocêntrico altruísta; entretanto, não sabia como submeter a sua vontade à vontade do Pai divino, como uma criança pequena querendo submeter-se ao guiamento e à condução de um pai terreno sábio e amoroso, tornando-se assim em realidade um filho de Deus, um herdeiro progressivo do Reino eterno.

142:6.9 (1603.1) Nicodemos, contudo, reuniu fé suficiente para assegurar-se no Reino. Protestou, apenas timidamente, quando os seus colegas do sinédrio tentaram condenar Jesus sem uma audiência; no entanto, com José de Arimatéia, mais tarde, ele demonstrou ousadamente a sua fé e reivindicou o corpo de Jesus, mesmo quando a maior parte dos discípulos havia fugido com medo das cenas dos sofrimentos finais e da morte do Mestre.

 

7. A Lição sobre a Família

 

142:7.1 (1603.2) Depois do atarefado período de ensinamentos por meio do trabalho pessoal na semana da Páscoa em Jerusalém, Jesus passou a quarta-feira seguinte em Betânia, com os seus apóstolos, descansando. Naquela tarde, Tomé fez uma pergunta que proporcionou uma longa e instrutiva resposta. Disse Tomé: “Mestre, no dia em que nós nos separamos para sermos embaixadores do Reino, tu nos disseste muitas coisas, instruindo-nos a respeito do nosso modo pessoal de vida; mas o que devemos ensinar à multidão? Como deve esse povo viver depois que o Reino vier mais plenamente? Os teus discípulos deveriam possuir escravos? Os teus crentes deveriam buscar a pobreza e evitar a propriedade? A misericórdia deverá prevalecer sozinha de modo a não termos mais leis nem justiça?” Jesus e os doze passaram aquela tarde e toda aquela noite, depois do jantar, discutindo sobre as perguntas de Tomé. Com o propósito de fazer o registro de tudo isso, apresentamos o resumo seguinte das instruções do Mestre:

142:7.2 (1603.3) Jesus primeiro procurou deixar claro para os seus apóstolos que ele estava na Terra, vivendo uma vida única na carne, e que os doze deles, haviam sido convocados a participar dessa experiência de auto-outorga do Filho do Homem; e, como colaboradores, também eles deveriam compartilhar de muitas das restrições especiais e das obrigações de toda a experiência da outorga. Havia uma sugestão velada de que o Filho do Homem, entre todas as pessoas que haviam vivido na Terra, fosse a única pessoa que podia simultaneamente enxergar dentro do coração de Deus e nas profundezas da alma humana.

142:7.3 (1603.4) Jesus explicou, bem claramente, que o Reino do céu era uma experiência evolucionária, começando aqui na Terra e progredindo através de várias etapas sucessivas de vida até o Paraíso. No decorrer da noite ele declarou definitivamente que, em algum estágio futuro do desenvolvimento do Reino, ele iria revisitar este mundo, no seu poder espiritual e glória divina.

142:7.4 (1603.5) Em seguida ele explicou que a “idéia de um reino” não era o melhor modo de ilustrar a relação do homem com Deus; que ele empregava essas figuras de linguagem porque o povo judeu estava esperando um reino e porque João havia pregado em termos do Reino vindouro. Jesus disse: “O povo de uma outra idade entenderá melhor o evangelho do Reino, quando este for apresentado em termos que expressem o relacionamento familiar — quando o homem entender a religião como o ensinamento da paternidade de Deus e da irmandade entre os homens, a filiação a Deus”. Então o Mestre discursou, durante algum tempo, sobre a família terrena como uma ilustração da família celeste, reafirmando as duas leis fundamentais da vida: o primeiro mandamento de amor pelo pai, o chefe da família, e o segundo mandamento, o de amor mútuo entre os filhos; de amar ao irmão como a si próprio. E então explicou que essa qualidade de afeição fraterna iria, invariavelmente, manifestar-se em um serviço social amoroso e sem egoísmo.

142:7.5 (1603.6) E, em seguida, surgiu a discussão memorável sobre as características fundamentais da vida familiar e sobre as suas aplicações ao relacionamento existente entre Deus e o homem. Jesus afirmou que uma verdadeira família baseia-se nos sete fatos seguintes:

142:7.6 (1604.1) 1. O fato da existência. As relações da natureza e os fenômenos da semelhança mortal estão ligados na família: os filhos herdam alguns traços dos pais. Os filhos têm origem nos pais; a existência da personalidade depende de um ato dos pais. A relação entre o pai e o filho é inerente em toda a natureza e pertence a todas as existências vivas.

142:7.7 (1604.2) 2. A segurança e o prazer. Os verdadeiros pais têm um grande prazer em prover as necessidades dos filhos. Muitos pais, não contentes em suprir meramente as necessidades dos seus filhos, gostam também de prover os seus prazeres.

142:7.8 (1604.3) 3. A educação e a instrução. Os pais sábios planejam cuidadosamente a educação e a instrução adequada dos seus filhos e filhas. Quando jovens, eles são preparados para as responsabilidades maiores da vida.

142:7.9 (1604.4) 4. A disciplina e as restrições. Os pais previdentes também cuidam da disciplina necessária, da orientação, da correção e, algumas vezes, das restrições a serem feitas à sua progênie imatura.

142:7.10 (1604.5) 5. O companheirismo e a lealdade. O pai afetuoso mantém um relacionamento íntimo e amoroso com os filhos. O seu ouvido fica sempre aberto aos seus pedidos; ele está sempre pronto a compartilhar das provações deles e a ajudá-los nas dificuldades. O pai está supremamente interessado no bem-estar progressivo da sua progênie.

142:7.11 (1604.6) 6. O amor e a misericórdia. Um pai compassivo perdoa livremente; os pais não conservam memórias vingativas contra os seus filhos. Os pais não são como juízes, nem como inimigos, nem como credores. As verdadeiras famílias são construídas na tolerância, paciência e perdão.

142:7.12 (1604.7) 7. A provisão para o futuro. Os pais temporais gostam de deixar uma herança para os seus filhos. A família continua de uma geração para a outra. A morte apenas põe fim a uma geração para marcar o começo de outra. A morte termina com a vida de um indivíduo, mas não necessariamente com a vida da família.

142:7.13 (1604.8) Durante horas o Mestre discutiu sobre a aplicação desses aspectos da vida familiar às relações do homem, o filho da Terra, com Deus, o Pai do Paraíso. E esta foi a sua conclusão: “Toda a relação de um filho com o Pai, eu a conheço até à perfeição, pois tudo o que tiverdes de alcançar quanto à filiação, no futuro eterno, eu já alcancei agora. O Filho do Homem está preparado para ascender à mão direita do Pai, e assim em mim está aberto agora um caminho ainda mais amplo para que todos vós possais ver Deus e, antes de acabardes a progressão gloriosa, para vos tornardes perfeitos como o vosso próprio Pai no céu é perfeito”.

142:7.14 (1604.9) Quando ouviram essas palavras surpreendentes, os apóstolos lembraram-se dos pronunciamentos que João fizera na época do batismo de Jesus, e se relembraram, vividamente, dessa experiência, quando da sua pregação e ministração subseqüente de ensinamentos, depois da morte e da ressurreição do Mestre.

142:7.15 (1604.10) Jesus é um Filho divino, da mais inteira confiança do Pai Universal. Ele tem estado com o Pai e O compreende plenamente. Ele vivia agora a sua vida terrena para a plena satisfação do Pai, e essa encarnação na carne capacitou-o plenamente para compreender o homem. Jesus foi a perfeição do homem; ele alcançou exatamente essa perfeição tal como todos os verdadeiros crentes estão destinados a alcançá-la, nele e por meio dele. Jesus revelou um Deus de perfeição ao homem e apresentou, em si próprio, o filho perfeccionado dos mundos a Deus.

142:7.16 (1605.1) Embora Jesus tivesse falado por várias horas, Tomé ainda não estava satisfeito, pois disse: “Mas, Mestre, nós não achamos que o Pai no céu sempre nos trate com bondade e com misericórdia. Muitas vezes nós sofremos dolorosamente na Terra, e nem sempre as nossas preces são ouvidas. Onde é que falhamos em compreender o significado do teu ensinamento?”

142:7.17 (1605.2) Jesus respondeu: “Tomé, Tomé! Quanto tempo demorará para adquirires a capacidade de ouvir com o ouvido do espírito? Quanto tempo levará para que aprendas que este Reino é um reino espiritual, e que o meu Pai é também um ser espiritual? Tu não compreendes que estou ensinando a vós como filhos espirituais da família espiritual do céu, da qual o chefe paterno é um espírito eterno e infinito? Tu não me deixarás usar a família terrena como uma ilustração das relações divinas, sem aplicar o meu ensinamento tão literalmente aos assuntos materiais? Na tua mente não podes separar as realidades espirituais do Reino dos problemas materiais, sociais, econômicos e políticos da idade? Quando eu falo a linguagem do espírito, por que insisti em traduzir o significado do que eu digo, na linguagem da carne? Só porque eu tomo a liberdade de empregar lugares-comuns e comparações literais com o propósito de ilustração? Meus filhos, eu vos imploro a todos, cesseis de aplicar os meus ensinamentos sobre o Reino do espírito aos assuntos sórdidos da escravidão, da pobreza, de casas e terras, e aos problemas materiais da eqüidade e da justiça humana. Essas questões temporais são motivo da ocupação dos homens deste mundo, e, conquanto, de um certo modo, elas afetem a todos os homens, vós fostes chamados a representar-me no mundo, do mesmo modo como eu represento o meu Pai. Vós sois os embaixadores espirituais de um Reino espiritual, representantes especiais do Pai espiritual. A esta altura deveria ser possível eu instruir-vos como homens crescidos do Reino do espírito. Deveria eu estar sempre me dirigindo a vós como se fosseis crianças? Não crescereis nunca na vossa percepção do espírito? No entanto, eu vos amo e irei suportar-vos até o fim mesmo da nossa associação na carne. E, mesmo então, o meu espírito vos precederá em todo o mundo”.

 

8. No Sul da Judéia

 

142:8.1 (1605.3) Lá pelo fim de abril, a oposição a Jesus, entre os fariseus e os saduceus, havia- se tornado tão pronunciada que o Mestre e os seus apóstolos decidiram deixar Jerusalém por algum tempo, indo para o sul até Belém e Hebrom. Todo o mês de maio foi passado realizando um trabalho pessoal nessas cidades e entre as pessoas das aldeias vizinhas. Nenhuma pregação pública foi feita nessa viagem, apenas a visitação de casa em casa. Uma parte desse tempo, enquanto os apóstolos ensinavam o evangelho e ministravam aos doentes, Jesus e Abner passaram em Engedi, visitando a colônia nazarita. João Batista viera desse lugar, e Abner havia sido o dirigente daquele grupo. Muitos, na irmandade dos nazaritas, tornaram- se crentes de Jesus, mas a maioria desses homens ascetas e excêntricos recusou-se a aceitá-lo como um instrutor enviado do céu, porque ele não ensinava o jejum e outras formas de renúncia.

142:8.2 (1605.4) O povo que vivia nessa região não sabia que Jesus havia nascido em Belém. Eles sempre supuseram que o Mestre tivesse nascido em Nazaré, exatamente como pensava a maioria dos seus discípulos, mas os doze apóstolos conheciam os fatos.

 

142:8.3 (1605.5) Essa permanência no sul da Judéia foi um período de descanso e de trabalho frutífero; muitas almas foram acrescidas ao Reino. Nos primeiros dias de junho a agitação contra Jesus havia já se acalmado tanto, em Jerusalém, que o Mestre e os apóstolos voltaram a instruir e a confortar os crentes.

 

 

142:8.4 (1606.1) Embora Jesus e os apóstolos tivessem passado todo o mês de junho em Jerusalém ou nas cercanias, eles não se dedicaram a nenhum ensinamento público durante esse período. Na maior parte do tempo ficaram nas tendas, que eram montadas em um parque sombreado, ou jardim, conhecido naquela época como o Getsêmani. Esse parque estava situado na encosta oeste do monte das Oliveiras, não muito longe do riacho Cedrom. Eles passaram as festas dos sábados e os fins de semana com Lázaro e as suas irmãs em Betânia. Por poucas vezes Jesus esteve dentro dos muros de Jerusalém, mas um grande número de buscadores interessados na verdade veio ao Getsêmani para conversar com ele. Numa certa sexta-feira, à noite, Nicodemos e José de Arimatéia aventuraram-se a ir ver Jesus, mas, quando já estavam em frente da entrada da tenda do Mestre, voltaram amedrontados. E, claro está, que eles não perceberam que Jesus sabia de tudo que haviam feito.

 

142:8.5 (1606.2) Quando os chefes dos judeus souberam que Jesus havia voltado a Jerusalém, prepararam-se para prendê-lo; mas, quando observaram que ele não fazia nenhuma pregação pública, concluíram que estava amedrontado, por causa das agitações anteriores; e decidiram permitir que ele continuasse os seus ensinamentos, do modo privado como o fazia, sem que fosse molestado. E assim os assuntos continuaram, silenciosamente, até os últimos dias de junho, quando um certo Simão, membro do sinédrio, aderiu publicamente aos ensinamentos de Jesus, depois de declarar-se diante dos chefes dos judeus. Imediatamente, uma nova agitação, visando à prisão de Jesus, sobreveio, e se fortaleceu tanto, que o Mestre decidiu retirar-se para as cidades de Samaria e para a Decápolis.