OS DOCUMENTOS DE URÂNTIA
- A REVELAÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO -
INDICE
Documento 183
A Traição a Jesus e Sua Prisão
183:0.1 (1971.1) Depois de ter finalmente acordado Pedro, Tiago e João, Jesus sugeriu que eles fossem para as suas tendas e procurassem dormir, preparando-se para os deveres do dia seguinte. Mas a esta altura os três apóstolos estavam bem despertos; tinham sido revigorados por seus curtos cochilos e, além disso, foram estimulados e despertados pela chegada ao local de dois mensageiros agitados que perguntaram por Davi Zebedeu e rapidamente partiram a procurá-lo quando Pedro os informou onde ele mantinha vigília.
183:0.2 (1971.2) Embora oito dos apóstolos estivessem dormindo profundamente, os gregos que estavam acampados ao lado deles tinham mais medo de problemas, tanto que haviam colocado uma sentinela para dar o alarme caso surgisse um perigo. Quando estes dois mensageiros entraram apressados no acampamento, a sentinela grega começou a despertar todos os seus compatriotas, os quais se amontoaram para fora das suas tendas, totalmente vestidos e totalmente armados. Todo o acampamento estava agora despertado, exceto os oito apóstolos. Pedro desejava chamar seus companheiros, mas Jesus definitivamente o proibiu. O Mestre advertiu-os brandamente para que voltassem para as suas tendas, mas eles estavam relutantes em aceitar a sugestão dele.
183:0.3 (1971.3) Não conseguindo dispersar os seus seguidores, o Mestre deixou-os e desceu em direção ao lagar de azeite perto da entrada do parque de Getsêmani. Embora os três apóstolos, os gregos e os outros membros do acampamento hesitassem em segui-lo imediatamente, João Marcos correu por entre as oliveiras e escondeu-se num pequeno barracão perto do lagar de azeite. Jesus retirou-se do acampamento e de seus amigos para que seus captores, quando chegassem, pudessem prendê-lo sem perturbar seus apóstolos. O Mestre temia ter seus apóstolos acordados e presentes no momento de sua prisão, para que o espetáculo de Judas o traindo não despertasse a animosidade deles ao ponto de oferecerem resistência aos soldados e serem levados em custódia com ele. Ele temia que, se fossem presos com ele, também pudessem perecer com ele.
183:0.4 (1971.4) Embora Jesus soubesse que o plano para a sua morte tivera origem nos concílios dos governantes dos judeus, ele também estava ciente de que todos esses esquemas nefastos tinham a plena aprovação de Lúcifer, Satanás e Caligástia. E ele sabia muito bem que estes rebeldes dos reinos também ficariam satisfeitos em ver todos os apóstolos destruídos com ele.
183:0.5 (1971.5) Jesus, a sós, sentou-se no lagar de azeite, onde aguardou a vinda do traidor, e neste momento era visto apenas por João Marcos e por uma hoste inumerável de observadores celestiais.
1. A Vontade do Pai
183:1.1 (1971.6) Há um grande perigo de se entender erroneamente o significado de numerosos ditos e de muitos eventos associados ao término da carreira do Mestre na carne. O tratamento cruel dispensado a Jesus pelos servos ignorantes e pelos soldados insensíveis, a conduta injusta dos seus julgamentos e a atitude insensível dos professos líderes religiosos, não podem ser confundidos com o fato de que Jesus, ao se submeter pacientemente a todo este sofrimento e humilhação, estava realmente fazendo a vontade do Pai no Paraíso. Foi, de fato e em verdade, a vontade do Pai que seu Filho bebesse ao máximo o cálice da experiência mortal, desde o nascimento até a morte, mas o Pai no céu nada teve a ver com instigar o comportamento bárbaro daqueles seres humanos supostamente civilizados que torturaram tão brutalmente o Mestre e tão horrivelmente acumularam indignidades sucessivas sobre a sua pessoa que era não-resistente. Estas experiências desumanas e chocantes que Jesus foi chamado a suportar nas horas finais da sua vida mortal não faziam de forma alguma parte da vontade divina do Pai, que a sua natureza humana tão triunfantemente se comprometeu a cumprir no momento da sua morte a entrega final do homem a Deus, conforme significada na tríplice oração que ele pronunciou no jardim enquanto seus cansados apóstolos dormiam o sono da exaustão física.
183:1.2 (1972.1) O Pai no céu desejou que o Filho consagrado terminasse a sua carreira na Terra naturalmente, assim como todos os mortais têm que terminar as suas vidas na Terra e na carne. Homens e mulheres comuns não podem esperar que as suas últimas horas na Terra e o episódio de morte subsequente sejam facilitados por uma dispensação especial. Consequentemente, Jesus decidiu dar sua vida na carne da maneira que estivesse de acordo com o desenrolar dos eventos naturais, e recusou-se firmemente a libertar-se das garras cruéis de uma conspiração perversa de eventos desumanos que se abateu com horrível certeza rumo à sua inacreditável humilhação e morte ignominiosa. E cada detalhe de toda esta espantosa manifestação de ódio e esta demonstração sem precedentes de crueldade foi obra de homens maus e mortais perversos. Deus no céu não o quis, nem os arqui-inimigos de Jesus o ditaram, embora tenham feito muito para garantir que os mortais irrefletidos e malévolos rejeitassem assim o Filho consagrado. Até o pai do pecado desviou o rosto do horror excruciante da cena da crucificação.
2. Judas na Cidade
183:2.1 (1972.2) Depois de ter deixado a mesa tão abruptamente enquanto comia a Última Ceia, Judas foi diretamente para a casa do seu primo, e então os dois foram de imediato até o capitão dos guardas do templo. Judas pediu ao capitão que reunisse os guardas e informou-lhe que estava pronto para conduzi-los até Jesus. Tendo Judas aparecido em cena um pouco antes do esperado, houve algum atraso na partida para a casa de Marcos, onde Judas esperava encontrar Jesus ainda confraternizando com os apóstolos. O Mestre e os onze deixaram a casa de Elias Marcos quinze minutos antes da chegada do traidor e dos guardas. Quando os captores chegaram à casa de Marcos, Jesus e os onze já estavam bem fora das muralhas da cidade e a caminho do acampamento das Oliveiras.
183:2.2 (1972.3) Judas ficou muito perturbado por esse fracasso em não ter conseguido encontrar Jesus na residência de Marcos e na companhia dos onze homens, dos quais apenas dois estavam armados para resistir. Aconteceu que ele sabia que, à tarde, quando saíram do acampamento, apenas Simão Pedro e Simão Zelote estavam cingidos de espadas; Judas esperava levar Jesus quando a cidade estivesse tranquila e quando houvesse poucas chances de resistência. O traidor temia que, se esperasse que eles retornassem ao acampamento, mais de sessenta discípulos devotados seriam encontrados, e ele também sabia que Simão Zelote tinha um amplo estoque de armas em sua posse. Judas estava ficando cada vez mais nervoso enquanto meditava sobre como os onze apóstolos leais o detestariam e temia que todos procurassem destruí-lo. Ele não era apenas desleal, mas no âmago era um verdadeiro covarde.
183:2.3 (1973.1) Quando não conseguiram encontrar Jesus no cenáculo, Judas pediu ao capitão da guarda que voltassem ao templo. A esta altura os governantes já haviam começado a reunir-se na casa do sumo sacerdote em preparativos para receber Jesus, visto que o acordo deles com o traidor exigia a prisão de Jesus até a meia-noite daquele dia. Judas explicou aos seus companheiros que eles haviam perdido Jesus na casa de Marcos e que seria necessário ir ao Getsêmani para prendê-lo. O traidor então prosseguiu afirmando que mais de sessenta seguidores devotados estavam acampados com ele e que estavam todos bem armados. Os governantes dos judeus lembraram a Judas que Jesus sempre pregara a não-resistência, mas Judas respondeu que não podiam confiar que todos os seguidores de Jesus obedecessem a tal ensinamento. Ele realmente temia por si mesmo e por isso ousou pedir uma companhia de quarenta soldados armados. Como as autoridades judaicas não tinham tal força de homens armados sob sua jurisdição, foram imediatamente à fortaleza de Antônia e solicitaram ao comandante romano que lhes desse esta guarda; mas quando ele soube que pretendiam prender Jesus, prontamente recusou-se a atender ao pedido e encaminhou-os ao seu oficial superior. Desse modo, consumiu-se mais de uma hora indo de uma autoridade a outra, até que finalmente foram obrigados a ir até o próprio Pilatos a fim de obter permissão para empregar os guardas romanos armados. Já era tarde quando chegaram à casa de Pilatos, e ele já havia se retirado para seus aposentos particulares com sua esposa. Ele hesitou em se envolver no empreendimento, ainda mais porque sua esposa lhe pedira que não atendesse ao pedido. Mas, visto que o oficial presidindo ao Sinédrio judaico estava presente e fazendo um pedido pessoal para esta ajuda, o governador achou sensato conceder a petição, pensando que mais tarde poderia corrigir qualquer erro que eles estivessem dispostos a cometer.
183:2.4 (1973.2) Assim, quando saiu do templo, por volta das onze e meia, Judas Iscariotes estava acompanhado por mais de sessenta pessoas – guardas do templo, soldados romanos e servos curiosos dos principais sacerdotes e governantes.
3. A Prisão do Mestre
183:3.1 (1973.3) Assim que esta companhia de soldados e guardas armados, carregando tochas e lanternas, se aproximou do jardim, Judas pôs-se bem à frente do bando para que pudesse estar pronto para identificar rapidamente Jesus, de modo que os captores pudessem facilmente pôr as mãos nele antes que seus companheiros pudessem se unir em sua defesa. E havia ainda outra razão pela qual Judas escolheu estar à frente dos inimigos do Mestre: pensou que pareceria que ele havia chegado ao local antes dos soldados para que os apóstolos e outros reunidos em torno de Jesus não pudessem vinculá-lo diretamente aos guardas armados seguindo nos seus calcanhares tão de perto. Judas até pensou em fingir que havia se apressado para avisá-los da vinda dos captores, mas este plano foi frustrado pela saudação seca de Jesus ao traidor. Embora tenha falado gentilmente com Judas, o Mestre o saudou como a um traidor.
183:3.2 (1973.4) Assim que Pedro, Tiago e João, com cerca de trinta dos seus companheiros de acampamento, viram o bando armado com tochas serpenteando em redor do topo da colina, souberam que aqueles soldados estavam vindo para prender Jesus, e todos correram para perto do lagar de azeite onde o Mestre estava sentado sob o luar em solidão. À medida que a companhia de soldados se aproximava de um lado, os três apóstolos e seus companheiros aproximavam-se do outro. Quando Judas avançou para abordar o Mestre, ali estavam os dois grupos, imóveis, com o Mestre entre eles e Judas preparando-se para estampar o beijo traiçoeiro em sua fronte.
183:3.3 (1974.1) A esperança do traidor era que ele pudesse, depois de conduzir os guardas ao Getsêmani, simplesmente apontar Jesus aos soldados, ou no máximo cumprir a promessa de saudá-lo com um beijo, e então rapidamente retirar-se de cena. Judas temia muito que todos os apóstolos estivessem presentes e que concentrassem seu ataque nele em retribuição por sua ousadia em trair seu amado instrutor. Mas quando o Mestre o saudou como a um traidor, ele ficou tão confuso que não fez nenhuma tentativa de fugir.
183:3.4 (1974.2) Jesus fez um último esforço para salvar Judas de traí-lo de fato, pois, antes que o traidor pudesse alcançá-lo, ele avançou para um lado e, dirigindo-se ao primeiro soldado à esquerda, o capitão dos romanos, disse: “Quem você procura?” O capitão respondeu: “Jesus de Nazaré”. Então Jesus se colocou imediatamente na frente do oficial e, ali de pé na calma majestade do Deus de toda esta criação, disse: “Sou eu”. Muitos deste bando armado tinham ouvido Jesus ensinar no templo, outros haviam sabido sobre suas obras poderosas e, quando o ouviram anunciar com ousadia sua identidade, aqueles que estavam nas primeiras fileiras recuaram subitamente. Foram surpreendidos com seu anúncio calmo e majestoso de identidade. Não havia, portanto, qualquer necessidade de Judas prosseguir com o seu plano de traição. O Mestre revelou-se ousadamente aos seus inimigos, e eles poderiam tê-lo levado sem a ajuda de Judas. Mas o traidor tinha que fazer alguma coisa para justificar a sua presença com este bando armado e, além disso, queria dar um espetáculo ao cumprir a sua parte no acordo de traição com os governantes dos judeus a fim de ser elegível para a grande recompensa e honrarias que ele acreditava que lhe seriam atribuídas em compensação por sua promessa de entregar Jesus nas mãos deles.
183:3.5 (1974.3) Enquanto os guardas se recompunham após a primeira vacilação ao verem Jesus e ao som de sua voz inusitada, e à medida que os apóstolos e discípulos se aproximavam, Judas avançou para Jesus e, depositando-lhe um beijo na fronte, disse: “Salve, Mestre e Instrutor”. E enquanto Judas abraçava assim o seu Mestre, Jesus disse: “Amigo, não é suficiente fazer isto! Você ainda quis trair o Filho do Homem com um beijo?”
183:3.6 (1974.4) Os apóstolos e discípulos ficaram literalmente atordoados com o que viram. Por um momento ninguém se mexeu. Então Jesus, libertando-se do abraço traiçoeiro de Judas, avançou para os guardas e soldados e perguntou novamente: “A quem procuram?” E novamente o capitão disse: “Jesus de Nazaré”. E novamente Jesus respondeu: “Já lhe disse que sou eu. Se, portanto, você me procura, deixe estes outros seguirem seu caminho. Estou pronto para ir com você”.
183:3.7 (1974.5) Jesus estava pronto para voltar a Jerusalém com os guardas, e o capitão dos soldados estava integralmente disposto a permitir que os três apóstolos e seus companheiros seguissem o seu caminho em paz. Mas antes que pudessem avançar, enquanto Jesus aguardava imóvel as ordens do capitão, um certo Malco, o guarda-costas sírio do sumo sacerdote, avançou para Jesus e preparou-se para lhe atar as mãos atrás das costas, embora o capitão romano não tivesse ordenado que Jesus fosse assim amarrado. Quando Pedro e seus companheiros viram seu Mestre sendo submetido a esta indignidade, não conseguiram mais se conter. Pedro sacou da espada e com os outros se precipitou adiante para golpear Malco. Mas, antes que os soldados pudessem ir em defesa do servo do sumo sacerdote, Jesus ergueu uma mão proibitiva para Pedro e, falando firmemente, disse: “Pedro, embainhe a sua espada. Aqueles que empunharem a espada perecerão pela espada. Você não entende que é a vontade do Pai que eu beba este cálice? E você não sabe que eu poderia agora mesmo comandar mais de doze legiões de anjos e seus companheiros, os quais me livrariam das mãos destes poucos homens?”
183:3.8 (1975.1) Embora Jesus tenha assim efetivamente posto fim a esta demonstração de resistência física por parte dos seus seguidores, isso foi suficiente para despertar o medo no capitão dos guardas, que agora, com a ajuda dos seus soldados, impôs mãos pesadas sobre Jesus e rapidamente o amarrou. E quando ataram suas mãos com cordas pesadas, Jesus lhes disse: “Por que vocês saem contra mim com espadas e com bastões como se quisessem prender um ladrão? Eu estava diariamente com vocês no templo, ensinando publicamente ao povo, e vocês não fizeram nenhum esforço para me levar”.
183:3.9 (1975.2) Quando Jesus foi amarrado, o capitão, temendo que os seguidores do Mestre pudessem tentar resgatá-lo, deu ordens para que fossem capturados; mas os soldados não foram suficientemente rápidos, pois, tendo ouvido as ordens do capitão para prendê-los, os seguidores de Jesus fugiram às pressas de volta para a ravina. Durante todo este tempo João Marcos permaneceu isolado no barraco próximo. Quando os guardas iniciaram o regresso para Jerusalém com Jesus, João Marcos tentou sair furtivamente do barraco para alcançar os apóstolos e discípulos em fuga; mas, assim que ele saiu, um dos últimos soldados que retornavam e que havia perseguido os discípulos em fuga estava passando perto e, vendo este jovem com um manto de linho, deu início à perseguição, quase o alcançando. Na verdade, o soldado chegou perto o suficiente de João para agarrar seu manto, mas o jovem libertou-se da vestimenta, escapando nu enquanto o soldado segurava o manto vazio. João Marcos dirigiu-se às pressas até Davi Zebedeu, na trilha de cima. Quando contou a Davi o que havia acontecido, ambos correram de volta para as tendas dos apóstolos adormecidos e informaram todos os oito sobre a traição ao Mestre e sua prisão.
183:3.10 (1975.3) Cerca do momento em que os oito apóstolos estavam sendo despertados, aqueles que haviam fugido pela ravina estavam retornando, e todos se reuniram perto do lagar de azeite para debater o que deveria ser feito. Entretanto, Simão Pedro e João Zebedeu, que se tinham escondido entre as oliveiras, já tinham ido atrás da turba de soldados, guardas e servos, que agora levavam Jesus de volta a Jerusalém como teriam conduzido um criminoso desesperado. João seguia a multidão de perto, mas Pedro seguia de longe. Após a fuga de João Marcos das garras do soldado, ele se muniu de uma capa que encontrou na tenda de Simão Pedro e João Zebedeu. Ele suspeitava que os guardas iriam levar Jesus para a casa de Anás, o sumo sacerdote emérito; então ele contornou os olivais e chegou à frente da turba, escondendo-se perto da entrada para o portão do palácio do sumo sacerdote.
4. Discussão no Lagar de Azeite
183:4.1 (1975.4) Tiago Zebedeu viu-se separado de Simão Pedro e de seu irmão João, e então agora se juntava aos outros apóstolos e aos seus companheiros de acampamento no lagar de azeite para deliberar sobre o que deveria ser feito em vista da prisão do Mestre.
183:4.2 (1975.5) André havia sido liberado de toda responsabilidade no gerenciamento do grupo dos seus companheiros apóstolos; consequentemente, nesta que era a maior de todas as crises de suas vidas, ele ficou calado. Depois de uma breve discussão informal, Simão Zelote subiu no muro de pedra do lagar de azeite e, fazendo um apelo apaixonado por lealdade ao Mestre e à causa do reino, exortou os seus companheiros apóstolos e os outros discípulos a se apressarem atrás da turba e efetuar o resgate de Jesus. A maioria do grupo estaria disposta a seguir a sua liderança agressiva se não fosse o conselho de Natanael, o qual se levantou no momento em que Simão terminou de falar e chamou a atenção para os ensinamentos frequentemente repetidos de Jesus sobre a não-resistência. Ele ainda os lembrou de que naquela mesma noite Jesus os havia instruído que deveriam preservar suas vidas para o tempo em que deveriam sair pelo mundo proclamando as boas novas do evangelho do reino celestial. E Natanael foi encorajado nesta posição por Tiago Zebedeu, que agora contava como Pedro e outros sacaram suas espadas para defender o Mestre contra a prisão, e que Jesus ordenou a Simão Pedro e seus companheiros com espadas que embainhassem suas lâminas. Mateus e Filipe também fizeram discursos, mas nada de definitivo resultou desta discussão até que, chamando-lhes a atenção para o fato de Jesus ter aconselhado Lázaro a não se expor à morte, Tomé salientou que nada podiam fazer para salvar o seu Mestre na medida em que ele se recusava a permitir que seus amigos o defendessem, e uma vez que ele persistia em abster-se de usar seus poderes divinos para frustrar seus inimigos humanos. Tomé os convenceu a se espalharem, cada um por sua própria conta, com o combinado de que Davi Zebedeu permaneceria no acampamento para manter um centro de operações e um quartel-general de mensageiros para o grupo. Às duas e meia daquela manhã o acampamento estava deserto; apenas Davi permaneceu disponível com três ou quatro mensageiros, tendo os outros sido despachados para obter informações sobre para onde Jesus havia sido levado e o que seria feito com ele.
183:4.3 (1976.1) Cinco dos apóstolos, Natanael, Mateus, Filipe e os gêmeos, foram esconder-se em Betfagé e Betânia. Tomé, André, Tiago e Simão Zelote estavam escondidos na cidade. Simão Pedro e João Zebedeu seguiram até a casa de Anás.
183:4.4 (1976.2) Pouco depois da alvorada, Simão Pedro perambulou de volta para o acampamento do Getsêmani, um retrato miserável de profundo desespero. Davi o enviou sob encargo de um mensageiro para se juntar a seu irmão André, que estava na casa de Nicodemos em Jerusalém.
183:4.5 (1976.3) Até o final da crucificação, João Zebedeu, como Jesus o havia orientado, permaneceu sempre por perto, e era ele quem fornecia aos mensageiros de Davi informações de hora em hora que eles levavam a Davi no acampamento no jardim, e que eram então retransmitidas aos apóstolos escondidos e à família de Jesus.
183:4.6 (1976.4) Certamente, o pastor está ferido e as ovelhas estão dispersas! Embora todos percebam vagamente que Jesus os advertiu de antemão desta mesma situação, estão severamente chocados demais com o súbito desaparecimento do Mestre para serem capazes de usar suas mentes normalmente.
183:4.7 (1976.5) Foi pouco depois do amanhecer, e logo depois de Pedro ter sido enviado para se juntar ao seu irmão, que Judá, o irmão de Jesus na carne, chegou ao acampamento, quase sem fôlego e antes do resto da família de Jesus, apenas para saber que o Mestre já havia sido aprisionado; e ele voltou correndo pela estrada de Jericó para levar esta informação à sua mãe e aos seus irmãos e irmãs. Davi Zebedeu enviou uma mensagem à família de Jesus, por meio de Judá, para que se reunissem na casa de Marta e Maria em Betânia e ali aguardassem as notícias que seus mensageiros lhes levariam regularmente.
183:4.8 (1976.6) Esta era a situação durante a última metade da noite de quinta-feira e nas primeiras horas da manhã de sexta-feira no que diz respeito aos apóstolos, aos discípulos principais e à família terrena de Jesus. E todos estes grupos e indivíduos foram mantidos em contato uns com os outros pelo serviço de mensagens que Davi Zebedeu continuou a operar a partir de seu quartel-general no acampamento do Getsêmani.
5. A Caminho do Palácio do Sumo Sacerdote
183:5.1 (1977.1) Antes de partirem do jardim com Jesus, levantou-se uma disputa entre o capitão judeu dos guardas do templo e o capitão romano da companhia de soldados sobre para onde deveriam levar Jesus. O capitão dos guardas do templo deu ordens para que ele fosse levado a Caifás, o sumo sacerdote em exercício. O capitão dos soldados romanos ordenou que Jesus fosse levado ao palácio de Anás, o antigo sumo sacerdote e sogro de Caifás. E ele fez isto porque os romanos tinham o hábito de lidar diretamente com Anás em todos os assuntos relacionados com a aplicação das leis eclesiásticas judaicas. E as ordens do capitão romano foram obedecidas; eles levaram Jesus à casa de Anás para seu exame preliminar.
183:5.2 (1977.2) Judas caminhava perto dos capitães, ouvindo tudo o que era dito, mas não tomou parte na disputa, pois nem o capitão judeu nem o oficial romano queriam sequer falar com o traidor – de tanto que o desprezavam.
183:5.3 (1977.3) Cerca deste momento João Zebedeu, lembrando-se das instruções do seu Mestre para permanecer sempre por perto, apressou-se a se aproximar de Jesus enquanto ele caminhava entre os dois capitães. O comandante dos guardas do templo, vendo João aproximar-se, disse ao seu assistente: “Pega este homem e amarra-o. Ele é um dos seguidores deste sujeito”. Mas quando o capitão romano ouviu isto e, olhando em volta, viu João, deu ordens para que o apóstolo passasse para o lado dele e que ninguém o molestasse. Então o capitão romano disse ao capitão judeu: “Este homem não é traidor nem covarde. Eu o vi no jardim e ele não sacou de uma espada para resistir contra nós. Ele tem a coragem de se apresentar para estar com seu Mestre, e ninguém porá as mãos nele. A lei romana permite que qualquer prisioneiro possa ter pelo menos um amigo para acompanhá-lo diante da barra do tribunal, e este homem não será impedido de ficar ao lado de seu Mestre, o prisioneiro”. E quando ouviu isto, Judas ficou tão envergonhado e humilhado que se deixou ficar atrás dos caminhantes, chegando sozinho ao palácio de Anás.
183:5.4 (1977.4) E isto explica por que foi permitido a João Zebedeu permanecer perto de Jesus durante todas as suas experiências difíceis nesta noite e no dia seguinte. Os judeus temiam dizer alguma coisa a João ou molestá-lo de qualquer forma porque ele tinha algo parecido com o estatuto de um conselheiro romano designado para atuar como observador das transações do tribunal eclesiástico judaico. A posição privilegiada de João tornou-se ainda mais segura quando, ao entregar Jesus ao capitão dos guardas do templo, no portão do palácio de Anás, o romano, dirigindo-se ao seu assistente, disse: “Vá com este prisioneiro e cuide para que estes judeus não o matem sem o consentimento de Pilatos. Vigie para que não o assassinem e providencie para que seu amigo, o galileu, tenha permissão de ficar perto e observar tudo o que acontece”. E assim João pôde estar perto de Jesus até o momento de sua morte na cruz, embora os outros dez apóstolos tenham sido obrigados a permanecer escondidos. João estava agindo sob proteção romana, e os judeus não ousaram molestá-lo até depois da morte do Mestre.
183:5.5 (1977.5) E durante todo o caminho até o palácio de Anás, Jesus não abriu a boca. Desde o momento da sua prisão até o momento da sua aparição diante de Anás, o Filho do Homem não proferiu uma palavra.
Paper 183
The Betrayal and Arrest of Jesus
183:0.1 (1971.1) AFTER Jesus had finally awakened Peter, James, and John, he suggested that they go to their tents and seek sleep in preparation for the duties of the morrow. But by this time the three apostles were wide awake; they had been refreshed by their short naps, and besides, they were stimulated and aroused by the arrival on the scene of two excited messengers who inquired for David Zebedee and quickly went in quest of him when Peter informed them where he kept watch.
183:0.2 (1971.2) Although eight of the apostles were sound asleep, the Greeks who were encamped alongside them were more fearful of trouble, so much so that they had posted a sentinel to give the alarm in case danger should arise. When these two messengers hurried into camp, the Greek sentinel proceeded to arouse all of his fellow countrymen, who streamed forth from their tents, fully dressed and fully armed. All the camp was now aroused except the eight apostles. Peter desired to call his associates, but Jesus definitely forbade him. The Master mildly admonished them all to return to their tents, but they were reluctant to comply with his suggestion.
183:0.3 (1971.3) Failing to disperse his followers, the Master left them and walked down toward the olive press near the entrance to Gethsemane Park. Although the three apostles, the Greeks, and the other members of the camp hesitated immediately to follow him, John Mark hastened around through the olive trees and secreted himself in a small shed near the olive press. Jesus withdrew from the camp and from his friends in order that his apprehenders, when they arrived, might arrest him without disturbing his apostles. The Master feared to have his apostles awake and present at the time of his arrest lest the spectacle of Judas’s betraying him should so arouse their animosity that they would offer resistance to the soldiers and would be taken into custody with him. He feared that, if they should be arrested with him, they might also perish with him.
183:0.4 (1971.4) Though Jesus knew that the plan for his death had its origin in the councils of the rulers of the Jews, he was also aware that all such nefarious schemes had the full approval of Lucifer, Satan, and Caligastia. And he well knew that these rebels of the realms would also be pleased to see all of the apostles destroyed with him.
183:0.5 (1971.5) Jesus sat down, alone, on the olive press, where he awaited the coming of the betrayer, and he was seen at this time only by John Mark and an innumerable host of celestial observers.
1. The Father’s Will
183:1.1 (1971.6) There is great danger of misunderstanding the meaning of numerous sayings and many events associated with the termination of the Master’s career in the flesh. The cruel treatment of Jesus by the ignorant servants and the calloused soldiers, the unfair conduct of his trials, and the unfeeling attitude of the professed religious leaders, must not be confused with the fact that Jesus, in patiently submitting to all this suffering and humiliation, was truly doing the will of the Father in Paradise. It was, indeed and in truth, the will of the Father that his Son should drink to the full the cup of mortal experience, from birth to death, but the Father in heaven had nothing whatever to do with instigating the barbarous behavior of those supposedly civilized human beings who so brutally tortured the Master and so horribly heaped successive indignities upon his nonresisting person. These inhuman and shocking experiences which Jesus was called upon to endure in the final hours of his mortal life were not in any sense a part of the divine will of the Father, which his human nature had so triumphantly pledged to carry out at the time of the final surrender of man to God as signified in the threefold prayer which he indited in the garden while his weary apostles slept the sleep of physical exhaustion.
183:1.2 (1972.1) The Father in heaven desired the bestowal Son to finish his earth career naturally, just as all mortals must finish up their lives on earth and in the flesh. Ordinary men and women cannot expect to have their last hours on earth and the supervening episode of death made easy by a special dispensation. Accordingly, Jesus elected to lay down his life in the flesh in the manner which was in keeping with the outworking of natural events, and he steadfastly refused to extricate himself from the cruel clutches of a wicked conspiracy of inhuman events which swept on with horrible certainty toward his unbelievable humiliation and ignominious death. And every bit of all this astounding manifestation of hatred and this unprecedented demonstration of cruelty was the work of evil men and wicked mortals. God in heaven did not will it, neither did the archenemies of Jesus dictate it, though they did much to insure that unthinking and evil mortals would thus reject the bestowal Son. Even the father of sin turned his face away from the excruciating horror of the scene of the crucifixion.
2. Judas in the City
183:2.1 (1972.2) After Judas so abruptly left the table while eating the Last Supper, he went directly to the home of his cousin, and then did the two go straight to the captain of the temple guards. Judas requested the captain to assemble the guards and informed him that he was ready to lead them to Jesus. Judas having appeared on the scene a little before he was expected, there was some delay in getting started for the Mark home, where Judas expected to find Jesus still visiting with the apostles. The Master and the eleven left the home of Elijah Mark fully fifteen minutes before the betrayer and the guards arrived. By the time the apprehenders reached the Mark home, Jesus and the eleven were well outside the walls of the city and on their way to the Olivet camp.
183:2.2 (1972.3) Judas was much perturbed by this failure to find Jesus at the Mark residence and in the company of eleven men, only two of whom were armed for resistance. He happened to know that, in the afternoon when they had left camp, only Simon Peter and Simon Zelotes were girded with swords; Judas had hoped to take Jesus when the city was quiet, and when there was little chance of resistance. The betrayer feared that, if he waited for them to return to their camp, more than threescore of devoted disciples would be encountered, and he also knew that Simon Zelotes had an ample store of arms in his possession. Judas was becoming increasingly nervous as he meditated how the eleven loyal apostles would detest him, and he feared they would all seek to destroy him. He was not only disloyal, but he was a real coward at heart.
183:2.3 (1973.1) When they failed to find Jesus in the upper chamber, Judas asked the captain of the guard to return to the temple. By this time the rulers had begun to assemble at the high priest’s home preparatory to receiving Jesus, seeing that their bargain with the traitor called for Jesus’ arrest by midnight of that day. Judas explained to his associates that they had missed Jesus at the Mark home, and that it would be necessary to go to Gethsemane to arrest him. The betrayer then went on to state that more than threescore devoted followers were encamped with him, and that they were all well armed. The rulers of the Jews reminded Judas that Jesus had always preached nonresistance, but Judas replied that they could not depend upon all Jesus’ followers obeying such teaching. He really feared for himself and therefore made bold to ask for a company of forty armed soldiers. Since the Jewish authorities had no such force of armed men under their jurisdiction, they went at once to the fortress of Antonia and requested the Roman commander to give them this guard; but when he learned that they intended to arrest Jesus, he promptly refused to accede to their request and referred them to his superior officer. In this way more than an hour was consumed in going from one authority to another until they finally were compelled to go to Pilate himself in order to obtain permission to employ the armed Roman guards. It was late when they arrived at Pilate’s house, and he had retired to his private chambers with his wife. He hesitated to have anything to do with the enterprise, all the more so since his wife had asked him not to grant the request. But inasmuch as the presiding officer of the Jewish Sanhedrin was present and making personal request for this assistance, the governor thought it wise to grant the petition, thinking he could later on right any wrong they might be disposed to commit.
183:2.4 (1973.2) Accordingly, when Judas Iscariot started out from the temple, about half after eleven o’clock, he was accompanied by more than sixty persons—temple guards, Roman soldiers, and curious servants of the chief priests and rulers.
3. The Master’s Arrest
183:3.1 (1973.3) As this company of armed soldiers and guards, carrying torches and lanterns, approached the garden, Judas stepped well out in front of the band that he might be ready quickly to identify Jesus so that the apprehenders could easily lay hands on him before his associates could rally to his defense. And there was yet another reason why Judas chose to be ahead of the Master’s enemies: He thought it would appear that he had arrived on the scene ahead of the soldiers so that the apostles and others gathered about Jesus might not directly connect him with the armed guards following so closely upon his heels. Judas had even thought to pose as having hastened out to warn them of the coming of the apprehenders, but this plan was thwarted by Jesus’ blighting greeting of the betrayer. Though the Master spoke to Judas kindly, he greeted him as a traitor.
183:3.2 (1973.4) As soon as Peter, James, and John, with some thirty of their fellow campers, saw the armed band with torches swing around the brow of the hill, they knew that these soldiers were coming to arrest Jesus, and they all rushed down to near the olive press where the Master was sitting in moonlit solitude. As the company of soldiers approached on one side, the three apostles and their associates approached on the other. As Judas strode forward to accost the Master, there the two groups stood, motionless, with the Master between them and Judas making ready to impress the traitorous kiss upon his brow.
183:3.3 (1974.1) It had been the hope of the betrayer that he could, after leading the guards to Gethsemane, simply point Jesus out to the soldiers, or at most carry out the promise to greet him with a kiss, and then quickly retire from the scene. Judas greatly feared that the apostles would all be present, and that they would concentrate their attack upon him in retribution for his daring to betray their beloved teacher. But when the Master greeted him as a betrayer, he was so confused that he made no attempt to flee.
183:3.4 (1974.2) Jesus made one last effort to save Judas from actually betraying him in that, before the traitor could reach him, he stepped to one side and, addressing the foremost soldier on the left, the captain of the Romans, said, “Whom do you seek?” The captain answered, “Jesus of Nazareth.” Then Jesus stepped up immediately in front of the officer and, standing there in the calm majesty of the God of all this creation, said, “I am he.” Many of this armed band had heard Jesus teach in the temple, others had learned about his mighty works, and when they heard him thus boldly announce his identity, those in the front ranks fell suddenly backward. They were overcome with surprise at his calm and majestic announcement of identity. There was, therefore, no need for Judas to go on with his plan of betrayal. The Master had boldly revealed himself to his enemies, and they could have taken him without Judas’s assistance. But the traitor had to do something to account for his presence with this armed band, and besides, he wanted to make a show of carrying out his part of the betrayal bargain with the rulers of the Jews in order to be eligible for the great reward and honors which he believed would be heaped upon him in compensation for his promise to deliver Jesus into their hands.
183:3.5 (1974.3) As the guards rallied from their first faltering at the sight of Jesus and at the sound of his unusual voice, and as the apostles and disciples drew nearer, Judas stepped up to Jesus and, placing a kiss upon his brow, said, “Hail, Master and Teacher.” And as Judas thus embraced his Master, Jesus said, “Friend, is it not enough to do this! Would you even betray the Son of Man with a kiss?”
183:3.6 (1974.4) The apostles and disciples were literally stunned by what they saw. For a moment no one moved. Then Jesus, disengaging himself from the traitorous embrace of Judas, stepped up to the guards and soldiers and again asked, “Whom do you seek?” And again the captain said, “Jesus of Nazareth.” And again answered Jesus: “I have told you that I am he. If, therefore, you seek me, let these others go their way. I am ready to go with you.”
183:3.7 (1974.5) Jesus was ready to go back to Jerusalem with the guards, and the captain of the soldiers was altogether willing to allow the three apostles and their associates to go their way in peace. But before they were able to get started, as Jesus stood there awaiting the captain’s orders, one Malchus, the Syrian bodyguard of the high priest, stepped up to Jesus and made ready to bind his hands behind his back, although the Roman captain had not directed that Jesus should be thus bound. When Peter and his associates saw their Master being subjected to this indignity, they were no longer able to restrain themselves. Peter drew his sword and with the others rushed forward to smite Malchus. But before the soldiers could come to the defense of the high priest’s servant, Jesus raised a forbidding hand to Peter and, speaking sternly, said: “Peter, put up your sword. They who take the sword shall perish by the sword. Do you not understand that it is the Father’s will that I drink this cup? And do you not further know that I could even now command more than twelve legions of angels and their associates, who would deliver me from the hands of these few men?”
183:3.8 (1975.1) While Jesus thus effectively put a stop to this show of physical resistance by his followers, it was enough to arouse the fear of the captain of the guards, who now, with the help of his soldiers, laid heavy hands on Jesus and quickly bound him. And as they tied his hands with heavy cords, Jesus said to them: “Why do you come out against me with swords and with staves as if to seize a robber? I was daily with you in the temple, publicly teaching the people, and you made no effort to take me.”
183:3.9 (1975.2) When Jesus had been bound, the captain, fearing that the followers of the Master might attempt to rescue him, gave orders that they be seized; but the soldiers were not quick enough since, having overheard the captain’s orders to arrest them, Jesus’ followers fled in haste back into the ravine. All this time John Mark had remained secluded in the near-by shed. When the guards started back to Jerusalem with Jesus, John Mark attempted to steal out of the shed in order to catch up with the fleeing apostles and disciples; but just as he emerged, one of the last of the returning soldiers who had pursued the fleeing disciples was passing near and, seeing this young man in his linen coat, gave chase, almost overtaking him. In fact, the soldier got near enough to John to lay hold upon his coat, but the young man freed himself from the garment, escaping naked while the soldier held the empty coat. John Mark made his way in all haste to David Zebedee on the upper trail. When he had told David what had happened, they both hastened back to the tents of the sleeping apostles and informed all eight of the Master’s betrayal and arrest.
183:3.10 (1975.3) At about the time the eight apostles were being awakened, those who had fled up the ravine were returning, and they all gathered together near the olive press to debate what should be done. In the meantime, Simon Peter and John Zebedee, who had hidden among the olive trees, had already gone on after the mob of soldiers, guards, and servants, who were now leading Jesus back to Jerusalem as they would have led a desperate criminal. John followed close behind the mob, but Peter followed afar off. After John Mark’s escape from the clutch of the soldier, he provided himself with a cloak which he found in the tent of Simon Peter and John Zebedee. He suspected the guards were going to take Jesus to the home of Annas, the high priest emeritus; so he skirted around through the olive orchards and was there ahead of the mob, hiding near the entrance to the gate of the high priest’s palace.
4. Discussion at the Olive Press
183:4.1 (1975.4) James Zebedee found himself separated from Simon Peter and his brother John, and so he now joined the other apostles and their fellow campers at the olive press to deliberate on what should be done in view of the Master’s arrest.
183:4.2 (1975.5) Andrew had been released from all responsibility in the group management of his fellow apostles; accordingly, in this greatest of all crises in their lives, he was silent. After a short informal discussion, Simon Zelotes stood up on the stone wall of the olive press and, making an impassioned plea for loyalty to the Master and the cause of the kingdom, exhorted his fellow apostles and the other disciples to hasten on after the mob and effect the rescue of Jesus. The majority of the company would have been disposed to follow his aggressive leadership had it not been for the advice of Nathaniel, who stood up the moment Simon had finished speaking and called their attention to Jesus’ oft-repeated teachings regarding nonresistance. He further reminded them that Jesus had that very night instructed them that they should preserve their lives for the time when they should go forth into the world proclaiming the good news of the gospel of the heavenly kingdom. And Nathaniel was encouraged in this stand by James Zebedee, who now told how Peter and others drew their swords to defend the Master against arrest, and that Jesus bade Simon Peter and his fellow swordsmen sheathe their blades. Matthew and Philip also made speeches, but nothing definite came of this discussion until Thomas, calling their attention to the fact that Jesus had counseled Lazarus against exposing himself to death, pointed out that they could do nothing to save their Master inasmuch as he refused to allow his friends to defend him, and since he persisted in refraining from the use of his divine powers to frustrate his human enemies. Thomas persuaded them to scatter, every man for himself, with the understanding that David Zebedee would remain at the camp to maintain a clearinghouse and messenger headquarters for the group. By half past two o’clock that morning the camp was deserted; only David remained on hand with three or four messengers, the others having been dispatched to secure information as to where Jesus had been taken, and what was going to be done with him.
183:4.3 (1976.1) Five of the apostles, Nathaniel, Matthew, Philip, and the twins, went into hiding at Bethpage and Bethany. Thomas, Andrew, James, and Simon Zelotes were hiding in the city. Simon Peter and John Zebedee followed along to the home of Annas.
183:4.4 (1976.2) Shortly after daybreak, Simon Peter wandered back to the Gethsemane camp, a dejected picture of deep despair. David sent him in charge of a messenger to join his brother, Andrew, who was at the home of Nicodemus in Jerusalem.
183:4.5 (1976.3) Until the very end of the crucifixion, John Zebedee remained, as Jesus had directed him, always near at hand, and it was he who supplied David’s messengers with information from hour to hour which they carried to David at the garden camp, and which was then relayed to the hiding apostles and to Jesus’ family.
183:4.6 (1976.4) Surely, the shepherd is smitten and the sheep are scattered! While they all vaguely realize that Jesus has forewarned them of this very situation, they are too severely shocked by the Master’s sudden disappearance to be able to use their minds normally.
183:4.7 (1976.5) It was shortly after daylight and just after Peter had been sent to join his brother, that Jude, Jesus’ brother in the flesh, arrived in the camp, almost breathless and in advance of the rest of Jesus’ family, only to learn that the Master had already been placed under arrest; and he hastened back down the Jericho road to carry this information to his mother and to his brothers and sisters. David Zebedee sent word to Jesus’ family, by Jude, to forgather at the house of Martha and Mary in Bethany and there await news which his messengers would regularly bring them.
183:4.8 (1976.6) This was the situation during the last half of Thursday night and the early morning hours of Friday as regards the apostles, the chief disciples, and the earthly family of Jesus. And all these groups and individuals were kept in touch with each other by the messenger service which David Zebedee continued to operate from his headquarters at the Gethsemane camp.
5. On the Way to the High Priest’s Palace
183:5.1 (1977.1) Before they started away from the garden with Jesus, a dispute arose between the Jewish captain of the temple guards and the Roman captain of the company of soldiers as to where they were to take Jesus. The captain of the temple guards gave orders that he should be taken to Caiaphas, the acting high priest. The captain of the Roman soldiers directed that Jesus be taken to the palace of Annas, the former high priest and father-in-law of Caiaphas. And this he did because the Romans were in the habit of dealing directly with Annas in all matters having to do with the enforcement of the Jewish ecclesiastical laws. And the orders of the Roman captain were obeyed; they took Jesus to the home of Annas for his preliminary examination.
183:5.2 (1977.2) Judas marched along near the captains, overhearing all that was said, but took no part in the dispute, for neither the Jewish captain nor the Roman officer would so much as speak to the betrayer—they held him in such contempt.
183:5.3 (1977.3) About this time John Zebedee, remembering his Master’s instructions to remain always near at hand, hurried up near Jesus as he marched along between the two captains. The commander of the temple guards, seeing John come up alongside, said to his assistant: “Take this man and bind him. He is one of this fellow’s followers.” But when the Roman captain heard this and, looking around, saw John, he gave orders that the apostle should come over by him, and that no man should molest him. Then the Roman captain said to the Jewish captain: “This man is neither a traitor nor a coward. I saw him in the garden, and he did not draw a sword to resist us. He has the courage to come forward to be with his Master, and no man shall lay hands on him. The Roman law allows that any prisoner may have at least one friend to stand with him before the judgment bar, and this man shall not be prevented from standing by the side of his Master, the prisoner.” And when Judas heard this, he was so ashamed and humiliated that he dropped back behind the marchers, coming up to the palace of Annas alone.
183:5.4 (1977.4) And this explains why John Zebedee was permitted to remain near Jesus all the way through his trying experiences this night and the next day. The Jews feared to say aught to John or to molest him in any way because he had something of the status of a Roman counselor designated to act as observer of the transactions of the Jewish ecclesiastical court. John’s position of privilege was made all the more secure when, in turning Jesus over to the captain of the temple guards at the gate of Annas’s palace, the Roman, addressing his assistant, said: “Go along with this prisoner and see that these Jews do not kill him without Pilate’s consent. Watch that they do not assassinate him, and see that his friend, the Galilean, is permitted to stand by and observe all that goes on.” And thus was John able to be near Jesus right on up to the time of his death on the cross, though the other ten apostles were compelled to remain in hiding. John was acting under Roman protection, and the Jews dared not molest him until after the Master’s death.
183:5.5 (1977.5) And all the way to the palace of Annas, Jesus opened not his mouth. From the time of his arrest to the time of his appearance before Annas, the Son of Man spoke no word.
Documento 183
A Traição a Jesus e a Sua Prisão
183:0.1 (1971.1) DEPOIS de haver acordado Pedro, Tiago e João, definitivamente, Jesus sugeriu que eles fossem para as suas tendas e que tentassem dormir a fim de preparar-se para os deveres do dia seguinte. Contudo, desta vez os três apóstolos estavam bem acordados; ficaram renovados com aqueles cochilos curtos e, além disso, viam-se estimulados e despertados pela entrada em cena de dois mensageiros agitados a perguntarem por Davi Zebedeu e saírem rapidamente à procura dele, tão logo Pedro informou-lhes que ele estava de guarda.
183:0.2 (1971.2) Embora oito dos apóstolos estivessem profundamente adormecidos, os gregos que se encontravam acampados perto deles estavam bastante temerosos de que ocorressem encrencas, tanto assim que colocaram uma sentinela para dar-lhes alarme em caso de perigo. Quando os dois mensageiros apressados chegaram ao acampamento, a sentinela grega começou a acordar todos os seus amigos compatriotas, os quais saíram correndo para fora das suas tendas, já totalmente vestidos e armados. Todo o acampamento estava agora de pé, exceto os oito apóstolos. Pedro desejava chamar os seus companheiros, mas Jesus proibiu-o definitivamente. O Mestre exortou-os com brandura a voltarem para as suas tendas, mas eles mantinham-se relutantes em aquiescer à sua sugestão.
183:0.3 (1971.3) Não tendo conseguido dispersar os seus seguidores, o Mestre deixou-os e caminhou descendo até a prensa de azeite perto da entrada do parque do Getsêmani. Embora os três apóstolos, os gregos e os outros membros do acampamento hesitassem em segui-lo imediatamente, João Marcos apressou-se a contornar as oliveiras e ocultou-se em um pequeno abrigo perto da prensa. Jesus havia-se afastado do acampamento e dos seus amigos para que aqueles que o viessem buscar, ao chegarem, pudessem prendê-lo sem perturbar os seus apóstolos. O Mestre temia que, despertados, os apóstolos estivessem presentes no momento da sua prisão e que, assim, o espetáculo da traição de Judas pudesse provocar a animosidade deles, levando-os a oferecer resistência diante dos soldados e que então fossem levados em custódia junto com ele. Ele temia que, se fossem presos junto com ele, pudessem também perecer.
183:0.4 (1971.4)Embora Jesus soubesse que o plano para a sua morte tenha tido a sua origem nos conselhos dos governantes dos judeus, ele era também sabedor de que todos esses esquemas nefandos tinham a aprovação plena de Lúcifer, Satã e Caligástia. E ele bem sabia que esses rebeldes dos reinos também se comprazeriam de ver os apóstolos destruídos junto com ele.
183:0.5 (1971.5) Jesus sentou-se, solitário, na prensa de olivas, onde esperou a vinda do traidor e, nesse momento, apenas João Marcos e uma hoste inumerável de observadores celestes podiam vê-lo.
1. A Vontade do Pai
183:1.1 (1971.6) Existe um grande perigo de se interpretar mal os significados de numerosas coisas que hajam sido ditas e os acontecimentos relacionados com o término da carreira do Mestre na carne. O tratamento cruel dado a Jesus pelos servos ignorantes e pelos soldados insensíveis, a conduta injusta do seu julgamento e a atitude insensível dos professos líderes religiosos não devem ser confundidos com o fato de que Jesus, submetendo-se pacientemente a todo esse sofrimento e humilhação, estivesse verdadeiramente cumprindo o desejo do Pai, no Paraíso. De fato e de verdade, era a vontade do Pai que o seu Filho bebesse o cálice inteiro da experiência mortal, do nascimento à morte, mas o Pai no céu não teve absolutamente nenhuma contribuição em provocar o comportamento bárbaro dos seres humanos, supostamente civilizados, que tão brutalmente torturaram o Mestre e que tão horrivelmente acumularam indignidades sucessivas sobre a sua pessoa, a qual não opunha a menor resistência. Aquelas experiências desumanas e chocantes, que Jesus foi levado a suportar, nas horas finais da sua vida mortal, não eram, de modo algum, parte da vontade divina do Pai; vontade esta que a natureza humana de Jesus comprometera-se, de uma maneira tão triunfante, a cumprir, na época da rendição final do homem a Deus, como indicado nas três preces que ele formulou no jardim enquanto os seus apóstolos cansados entregavam-se ao sono da exaustão física.
183:1.2 (1972.1) O Pai no céu desejava que o Filho auto-outorgado terminasse a sua carreira na Terra naturalmente, da maneira exata que todos os mortais devem terminar as suas vidas na Terra e na carne. Os homens e mulheres comuns não podem esperar ter as suas últimas horas na Terra, bem como o acontecimento subseqüente da morte, facilitado por uma dispensação especial. Desse modo, Jesus escolheu abandonar a sua vida na carne da maneira que estivesse de acordo com o decorrer natural dos acontecimentos; e ele escolheu recusar terminantemente a livrar-se das garras cruéis de uma perversa conspiração de acontecimentos desumanos que o arrastaram, com uma certeza horrível, até uma humilhação inacreditável e uma morte ignominiosa. E cada detalhe de toda essa assombrosa manifestação de ódio e dessa demonstração sem precedentes de crueldade foi obra de homens maliciosos e de mortais perversos. A vontade de Deus no céu não era essa, nem os arquiinimigos de Jesus ditaram os acontecimentos, embora eles muito tivessem feito para assegurar que os mortais impensados e perversos rejeitassem, desse modo, o Filho na sua doação de auto-outorga. Até mesmo o pai do pecado desviou o rosto do horror do martírio da crucificação.
2. Judas na Cidade
183:2.1 (1972.2)Depois de abandonar tão abruptamente a mesa enquanto partilhava da Última Ceia, Judas dirigiu-se imediatamente à casa do seu primo e, então, os dois foram diretamente até o capitão da guarda do templo. Judas pediu ao capitão que reunisse os guardas e informou-lhe que estava pronto para levá-los a Jesus. Como Judas havia surgido em cena um pouco antes do esperado, houve alguma demora em partir para a casa de Marcos, onde Judas esperava encontrar Jesus ainda em reunião com os apóstolos. O Mestre e os onze deixaram a casa de Elias Marcos ao menos quinze minutos antes da chegada do traidor e dos guardas. No momento em que os captores chegaram à casa de Marcos, Jesus e os onze já estavam fora dos muros da cidade e a caminho do acampamento do monte das Oliveiras.
183:2.2 (1972.3) Judas ficou muito perturbado com o esse malogro, de não encontrar Jesus na residência de Marcos e em companhia dos onze homens, dos quais apenas dois estavam armados para resistir. Ele soube por casualidade que, na tarde em que eles haviam deixado o acampamento, apenas Simão Pedro e Simão zelote estavam guarnecidos pelas suas espadas; Judas esperava prender Jesus quando a cidade estivesse tranqüila, e quando então houvesse poucas possibilidades de resistência. O traidor temia que, caso esperasse que eles voltassem ao acampamento, mais de sessenta discípulos devotados teriam de ser enfrentados; ele sabia também que Simão zelote estava de posse de um estoque amplo de armas. Judas ficava cada vez mais nervoso ao imaginar como os onze apóstolos leais iriam detestá-lo, e temia que todos eles buscassem destruí-lo. Ele não apenas era desleal, mas possuía realmente um coração covarde.
183:2.3 (1973.1) Quando não logrou encontrar Jesus na sala superior, Judas pediu ao capitão da guarda para que retornassem ao templo. Enquanto isso os dirigentes tinham começado a reunir-se na casa do sumo sacerdote, em preparativos para receber Jesus, posto que a sua barganha com o traidor demandava a prisão de Jesus por volta da meia-noite daquele dia. Judas explicou aos seus cúmplices que, não havendo encontrado Jesus na casa de Marcos, seria necessário que fossem ao Getsêmani para prendê-lo. O traidor então afirmou que mais de sessenta seguidores devotados encontravam-se acampados com ele, e que estavam todos bem armados. Os dirigentes dos judeus lembraram a Judas que Jesus havia sempre pregado a não-resistência, mas Judas respondeu que eles não poderiam contar com todos os seguidores de Jesus para obedecer a esse ensinamento. Ele realmente temia por si próprio e por isso ousou pedir uma companhia de quarenta soldados armados. Posto que as autoridades judaicas não possuíam tal força de homens armados, sob a sua jurisdição, eles foram imediatamente à fortaleza de Antônia e solicitaram ao comandante romano que lhes fornecesse essa guarda; este, porém, quando soube que o objetivo era prender Jesus, recusou-se prontamente a aceder a tal pedido e remeteu-os ao seu oficial superior. Desse modo mais de uma hora foi gasta em ir de uma autoridade à outra, até que, finalmente, foram obrigados a ir ao próprio Pilatos a fim de obter a permissão para utilizar os guardas romanos armados. Era tarde quando chegaram à casa de Pilatos; e ele havia já se recolhido aos seus aposentos particulares com a esposa. Ele hesitava em ter qualquer coisa a ver com essa empreitada, e, mais ainda, por sua esposa haver pedido a ele que não atendesse a um tal pedido. Todavia, como o presidente do sinédrio judeu encontrava-se presente fazendo um pedido pessoal para ter essa ajuda, o governador julgou ser sábio conceder o que estava sendo pedido, pensando que fosse possível mais tarde emendar qualquer injustiça que eles pudessem estar dispostos a cometer.
183:2.4 (1973.2) E assim, quando Judas Iscariotes saiu do templo, por volta de onze e meia da noite, ele achava-se acompanhado por mais de sessenta pessoas — guardas do templo, soldados romanos e servos curiosos dos sacerdotes e dos dirigentes principais.
3. A Prisão do Mestre
183:3.1 (1973.3) Quando essa companhia de soldados e de guardas armados, levando tochas e lanternas, aproximou-se do jardim, Judas adiantou-se e colocou-se à frente de todos a fim de imediatamente identificar Jesus, de modo que os captores pudessem com facilidade colocar as mãos nele antes que os seus companheiros conseguissem acorrer em sua defesa. E havia ainda uma outra razão para que Judas escolhesse estar à frente dos inimigos do Mestre: pensou que poderia deixar transparecer que ele houvesse chegado ao local antes dos soldados, de modo que os apóstolos, e todos os outros que se reuniam em torno de Jesus, não fossem ligá-lo diretamente à presença dos guardas armados que seguiam tão de perto os seus passos. Judas chegara mesmo a pensar em posar como tendo apressado-se para avisá-los da aproximação dos captores; esse plano, contudo, foi frustrado pela saudação sombria de Jesus ao traidor. Embora o Mestre haja usado de amabilidade para falar a Judas, ele saudou-o como a um traidor.
183:3.2 (1973.4) Pedro, Tiago e João e, ainda, uns trinta dos seus companheiros de acampamento tão logo viram a companhia armada e com tochas contornando o topo das colinas, logo souberam que esses soldados vinham para prender Jesus; e todos eles correram para baixo até perto da prensa de olivas onde o Mestre estava sentado em solidão, sob a luz da lua. À medida que a companhia aproximava- se de um lado, os três apóstolos e os seus companheiros vinham do outro lado. E, enquanto Judas adiantava-se a passos largos para abordar o Mestre, os dois grupos lá ficaram, imóveis, com o Mestre entre eles e Judas preparando-se para estampar o beijo traidor na fronte de Jesus.
183:3.3 (1974.1) A esperança do traidor era de que pudesse, após conduzir os guardas ao Getsêmani, simplesmente apontar Jesus para os soldados, ou no máximo cumprir a promessa de saudá-lo com um beijo, e então rapidamente retirar-se da cena. Judas temia sobremodo que todos os apóstolos estivessem presentes e que concentrassem os seus ataques sobre ele, em castigo pelo seu atrevimento de trair ao seu amado instrutor. Mas, quando o Mestre saudou-o como a um traidor, ele ficou tão confuso que não fez nenhuma tentativa de fugir.
183:3.4 (1974.2) Jesus empreendeu um último esforço para poupar Judas de traí-lo de fato; e assim, antes que o traidor pudesse alcançá-lo, ele andou para o lado e, dirigindo- se ao soldado mais próximo à esquerda, o capitão dos romanos, disse: “A quem buscais?” O capitão respondeu: “Jesus de Nazaré”. Então Jesus adiantou- se imediatamente à frente do oficial e permaneceu calmamente ali, na posição majestática de um Deus de toda a sua criação, e disse: “Sou eu”. Muitos dessa companhia armada haviam ouvido Jesus ensinar no templo; outros haviam ouvido falar sobre as suas obras poderosas e, quando o escutaram assim corajosamente anunciar a sua identidade, aqueles que estavam nas fileiras da frente recuaram subitamente. Eles haviam sido tomados de surpresa com o anúncio calmo e majestático da sua própria identidade. E não havia, portanto, nenhuma necessidade de que Judas continuasse com o seu plano de traição. Com ousadia, o Mestre havia revelado-se aos seus inimigos, que o poderiam ter prendido sem a ajuda de Judas. Mas o traidor precisava fazer algo para justificar a sua presença junto a esses homens armados e, além disso, queria demonstrar que cumpria a sua parte na barganha da traição para com os dirigentes dos judeus, e se fazer merecedor da grande recompensa e das honras que se acumulariam, esperava ele, sobre si, em recompensa pela sua promessa de entregar Jesus nas mãos deles.
183:3.5 (1974.3) Enquanto os guardas refaziam-se da sua primeira vacilação ao verem Jesus, e com o som da voz inusitada dele, e enquanto os apóstolos e discípulos aproximavam- se, Judas foi até Jesus e, aplicando um beijo na sua fronte, disse: “Salve, Mestre e Instrutor”. E quando Judas abraçou assim o seu Mestre, Jesus disse: “Amigo, não te bastava fazer isso! Tinhas, ainda, com um beijo, que trair o Filho do Homem?”
183:3.6 (1974.4) Os apóstolos e discípulos ficaram literalmente atônitos com o que viram. Por um momento ninguém se moveu. Então Jesus, desembaraçando-se do abraço traidor de Judas, caminhou até os guardas e soldados e de novo perguntou: “A quem procurais?” E de novo o capitão disse: “Jesus de Nazaré”. E de novo Jesus respondeu: “Eu te disse que sou eu. Se, pois, buscas a mim, deixa os outros irem em paz. Estou pronto para ir contigo”.
183:3.7 (1974.5) Jesus estava pronto para ir de volta a Jerusalém com os guardas, e o capitão dos soldados também estava disposto a permitir que os três apóstolos e os seus companheiros tomassem seu caminho em paz. Mas, antes que fossem capazes de sair do lugar, e como Jesus permanecia lá, aguardando as ordens do capitão, um tal de Malco, o guarda-costas sírio do sumo sacerdote, andou até Jesus e preparou-se para atar suas mãos nas costas, embora o capitão romano não tivesse ordenado que Jesus devesse ser amarrado assim. Quando Pedro e os seus amigos viram o seu Mestre sendo submetido a essa indignidade, não mais foram capazes de controlar-se. Pedro sacou da sua espada e, com os outros, avançou para golpear Malco. No entanto, antes que os soldados pudessem vir em defesa do serviçal do sumo sacerdote, Jesus levantou a mão da proibição para Pedro e, usando de firmeza, disse: “Pedro, guarda a tua espada. Aqueles que usam a espada perecerão pela espada. Não compreendes que é da vontade do Pai que eu beba deste cálice? E não sabes também que eu poderia agora mesmo comandar mais de doze legiões de anjos e colaboradores deles, que me libertariam das mãos desses poucos homens?”
183:3.8 (1975.1) Jesus assim efetivamente dava um fim a essa demonstração de resistência física da parte dos seus seguidores, o que foi suficiente para despertar o medo no capitão dos guardas, que agora, com a ajuda dos seus soldados, colocava pesadas mãos sobre Jesus e o atava rapidamente. E, enquanto eles amarravam as suas mãos com cordas grossas, Jesus disse-lhes: “Por que viestes contra mim com espadas e com bastões como se fossem capturar um ladrão? Eu estive diariamente convosco no templo, ensinando publicamente ao povo, e vós não fizestes nenhum esforço para levar-me”.
183:3.9 (1975.2) Quando Jesus estava sendo atado, o capitão, temendo que os seguidores do Mestre pudessem tentar resgatá-lo, deu ordens para capturá-los; mas os soldados não foram suficientemente rápidos; e havendo ouvido as ordens do capitão para prendê-los, os seguidores de Jesus fugiram às pressas de volta para a ravina. Durante todo esse tempo João Marcos esteve escondido em um abrigo próximo. Quando os guardas partiram de volta para Jerusalém com Jesus, João Marcos tentou sair do abrigo para alcançar os apóstolos e os discípulos em fuga; mas, quando ele saiu, um dos últimos soldados, que esteve perseguindo os discípulos em fuga, passou por perto e, vendo esse jovem com o seu manto de linho, tentou pegá-lo e quase conseguiu isso. De fato, o soldado chegou perto o suficiente de João para agarrá-lo pelo manto, mas o jovem moço livrou-se do manto, escapando nu, enquanto o soldado segurava o manto vazio. João Marcos correu até Davi Zebedeu na trilha de cima. Quando o garoto contou a Davi o que havia acontecido, ambos apressaram-se de volta até as tendas dos apóstolos adormecidos e informaram aos oito sobre a traição ao Mestre e a sua prisão.
183:3.10 (1975.3) Quase no mesmo momento em que os oito apóstolos estavam sendo despertados, aqueles que haviam fugido pela ravina vinham retornando, e eles todos se reuniram perto da prensa de olivas para debater sobre o que deveriam fazer. Nesse meio tempo, Simão Pedro e João Zebedeu, escondidos entre as oliveiras, haviam já partido atrás da multidão de soldados, guardas e servos, que agora levavam Jesus de volta a Jerusalém, como se conduzissem um criminoso disposto a tudo. João acompanhou a multidão bem de perto; Pedro, todavia, seguiu-a de longe. Após escapar da garra do soldado, João Marcos cobriu-se com um manto que encontrou na tenda de Simão Pedro e João Zebedeu. Ele suspeitava que os guardas estivessem levando Jesus para a casa de Anás, o sumo sacerdote benemérito; e, assim, contornou por entre o pomar de oliveiras e chegou lá antes da multidão, escondendo-se perto do portão de entrada do palácio do sumo sacerdote.
4. A Discussão na Prensa de Olivas
183:4.1 (1975.4) Tiago Zebedeu viu-se separado de Simão Pedro e do seu irmão João e, assim, agora se unia aos outros apóstolos e aos seus companheiros de acampamento, na prensa de olivas, para deliberar sobre o que eles deveriam fazer em vista da prisão do Mestre.
183:4.2 (1975.5) André havia sido liberado de toda a responsabilidade na direção do grupo dos seus companheiros apóstolos; e assim, nesta que era a maior de todas as crises nas suas vidas, ele ficara em silêncio. Depois de uma discussão informal curta, Simão zelote subiu na mureta de pedra da prensa de olivas e, fazendo um apelo apaixonado de lealdade ao Mestre e à causa do Reino, exortou os seus companheiros apóstolos e os outros discípulos a se apressarem em seguir a multidão e efetuar o resgate de Jesus. A maioria do grupo estaria disposta a seguir a sua liderança atuante, não fosse o conselho de Natanael que se levantou no momento em que Simão havia acabado de falar e chamou a atenção de todos para os ensinamentos tantas vezes repetidos de Jesus a respeito da não-resistência. Ele ainda lembrou-lhes de que Jesus, naquela mesma noite, havia instruído a todos no sentido de que preservassem as suas vidas para a época em que deveriam sair para o mundo, proclamando as boas-novas do evangelho do Reino celeste. E Natanael foi encorajado nessa posição por Tiago Zebedeu, que agora contava a todos como Pedro e outros sacaram das suas espadas para defender o Mestre contra a prisão; e como Jesus pediu a Simão Pedro e aos seus companheiros, com espadas, que embainhassem as suas lâminas. Mateus e Filipe também fizeram discursos, mas nada de definitivo saiu dessa discussão, até que Tomé, chamando a atenção deles para o fato de que Jesus havia aconselhado a Lázaro que não se expusesse à morte, destacou que nada podiam fazer para salvar o seu Mestre, porquanto ele se recusara a permitir os seus amigos de defendê-lo e persistia em abster-se de lançar mão dos seus poderes divinos para frustrar os seus inimigos humanos. Tomé persuadiu-os a espalharem-se, cada homem por si e separadamente, com o acordo de que Davi Zebedeu permanecesse no acampamento, mantendo um centro de coordenação e uma sede-central de mensageiros para o grupo. Por volta de duas e meia naquela manhã, o campo estava deserto; apenas Davi permanecia à mão com três ou quatro mensageiros, os outros haviam sido despachados para assegurar a informação sobre o local para onde Jesus fora levado, e quanto ao que pretendiam fazer com ele.
183:4.3 (1976.1) Cinco dos apóstolos, Natanael, Mateus, Filipe e os gêmeos foram esconder-se em Betfage e em Betânia. Tomé, André, Tiago e Simão zelote estavam escondidos na cidade. Simão Pedro e João Zebedeu seguiram juntos para a casa de Anás.
183:4.4 (1976.2) Pouco depois do amanhecer, Simão Pedro perambulou de volta ao acampamento do Getsêmani: era o retrato desanimado de um profundo desespero. Davi enviou-o, acompanhado por um mensageiro, para juntar-se ao seu irmão, André, que estava na casa de Nicodemos, em Jerusalém.
183:4.5 (1976.3) Até o final da crucificação, João Zebedeu, como Jesus havia instruído que fizesse, permaneceu sempre por perto e à mão; e foi ele que supriu os mensageiros de Davi com as informações de hora em hora, que eles levavam a Davi no acampamento do jardim, e que então eram repassadas aos apóstolos escondidos e à família de Jesus.
183:4.6 (1976.4) Por certo, o pastor foi golpeado e as ovelhas ficaram dispersas! Conquanto todos vagamente constatassem que Jesus os tinha advertido, de antemão, exatamente sobre essa situação, estavam todos demasiadamente chocados com o desaparecimento súbito do Mestre, para serem capazes de usar as suas mentes de um modo normal.
183:4.7 (1976.5) Era pouco depois do nascer do dia e justamente depois de Pedro haver sido enviado para juntar-se ao seu irmão, quando Judá, o irmão de Jesus na carne, chegou ao campo, quase sem fôlego e, bem antes do resto da família de Jesus, para ficar sabendo apenas que o Mestre tinha sido já colocado na prisão; e ele apressou-se de volta, estrada de Jericó abaixo, para levar essa informação à sua mãe e aos seus irmãos e irmãs. Davi Zebedeu enviou um recado à família de Jesus, por meio de Judá, para que se reunissem na casa de Marta e Maria, em Betânia e para que lá esperassem pelas notícias que os seus mensageiros levariam regularmente a eles.
183:4.8 (1976.6) Essa era a situação durante a segunda metade da noite de quinta-feira e das primeiras horas da manhã da sexta-feira, no que concerne aos apóstolos, aos principais discípulos e à família terrena de Jesus. E o serviço de mensageiros de Davi Zebedeu, continuou operando; da sua sede no acampamento do Getsêmani, ele mantinha todos esses grupos e indivíduos em contato uns com os outros.
5. A Caminho do Palácio do Sumo Sacerdote
183:5.1 (1977.1)Antes de partirem do jardim, com Jesus, surgiu, entre o capitão judeu dos guardas do templo e o capitão romano da companhia de soldados, uma discussão sobre o local para onde deviam levar Jesus. O capitão dos guardas do templo deu ordens para que os soldados o levassem a Caifás, o sumo sacerdote em exercício. O capitão dos soldados romanos ordenou que Jesus fosse levado ao palácio de Anás, o antigo sumo sacerdote e sogro de Caifás. E assim foi feito porque os romanos estavam acostumados a lidar diretamente com Anás, e resolver com ele sobre todas as questões que tinham a ver com a aplicação, à força, das leis eclesiásticas judaicas. E as ordens do capitão romano foram obedecidas; eles levaram Jesus à casa de Anás para que este examinasse preliminarmente o caso.
183:5.2 (1977.2) Judas marchava perto dos capitães, escutando tudo o que estava sendo dito, mas não tomou parte na discussão, pois nem o capitão judeu nem tampouco o oficial romano queriam falar com o traidor — de tal modo o desprezavam.
183:5.3 (1977.3) Por volta desse momento João Zebedeu, lembrando-se das instruções do seu Mestre para permanecer sempre por perto e à mão, correu até perto de Jesus enquanto ele caminhava entre os dois capitães. O comandante dos guardas do templo, ao ver João vindo junto com eles, disse ao seu assistente: “Prende esse homem e amarra-o. Ele é um dos seguidores deste homem”. Mas quando o capitão romano ouviu isso e, olhou em volta e viu João, ele deu ordens para que o apóstolo viesse até ele, e que não fosse molestado por ninguém. Então o capitão romano disse ao capitão judeu: “Este homem não é nem um traidor, nem um covarde. Vi-o no jardim, e ele não sacou de uma espada para resistir a nós. Ele teve a coragem de vir aqui para estar com o seu Mestre, e nenhum homem colocará as mãos nele. A lei romana permite que qualquer prisioneiro possa ter ao menos um amigo para acompanhá-lo à barra do tribunal, e este homem não será impedido de permanecer ao lado do seu Mestre, o prisioneiro”. E quando Judas ouviu isso, ficou tão envergonhado e humilhado que retardou o passo e se pôs atrás do grupo, chegando ao palácio de Anás sozinho.
183:5.4 (1977.4) E essa situação explica por que se permitiu a João Zebedeu permanecer perto de Jesus, durante todo o seu caminho de experiências penosas, nessa noite e no dia seguinte. Os judeus ficaram com medo de falar qualquer coisa a João ou de molestá-lo, de qualquer maneira, pois ele havia conseguido algo como o status de um conselheiro romano indicado para atuar como observador das transações da corte eclesiástica dos judeus. A posição privilegiada de João tornou-se ainda mais segura quando, ao entregar Jesus ao capitão dos guardas do templo, na porta do palácio de Anás, o romano, dirigindo-se ao seu assistente, disse: “Vai junto com este prisioneiro e cuida para que esses judeus não o matem sem o consentimento de Pilatos. Vigia para que eles não o assassinem, e cuida para que ao seu amigo, este galileu, seja permitido ficar junto e observar tudo o que acontece”. E assim João capacitou-se para estar perto de Jesus até o momento da sua morte na cruz, enquanto os outros dez apóstolos foram obrigados a permanecer escondidos. João estava agindo sob a proteção romana, e os judeus não ousaram molestá-lo até depois da morte do Mestre.
183:5.5 (1977.5) Em todo o trajeto até o palácio de Anás, Jesus não abriu a boca. Desde o momento da sua prisão até o de apresentar-se diante de Anás, o Filho do Homem não disse uma palavra sequer.