OS DOCUMENTOS DE URÂNTIA
- A REVELAÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO -
INDICE
Documento 143
Atravessando Samaria
143:0.1 (1607.1) No final de junho do ano 27 d.C., devido à crescente oposição dos dirigentes religiosos judeus, Jesus e os doze partiram de Jerusalém, depois de enviarem as suas tendas e os parcos objetos pessoais para serem armazenados na casa de Lázaro em Betânia. Indo rumo ao norte para Samaria, eles passaram o Sabá em Betel. Ali eles pregaram durante vários dias às pessoas que vieram de Jifna e Efraim. Um grupo de cidadãos de Arimateia e Timnate veio convidar Jesus para visitar as suas aldeias. O Mestre e seus apóstolos passaram mais de duas semanas ensinando os judeus e samaritanos desta região, muitos dos quais vieram de lugares tão distantes como Antipátrida para ouvir as boas novas do reino.
143:0.2 (1607.2) O povo do sul de Samaria ouviu Jesus jubilosamente, e os apóstolos, com exceção de Judas Iscariotes, conseguiram superar grande parte do seu preconceito contra os samaritanos. Foi muito difícil para Judas amar estes samaritanos. Na última semana de julho Jesus e seus companheiros prepararam-se para partir para as novas cidades gregas de Fáselis e Arquelais, perto do Jordão.
1. Pregando em Arquelais
143:1.1 (1607.3) Na primeira metade do mês de agosto o grupo apostólico estabeleceu a sua sede nas cidades gregas de Arquelais e Fáselis, onde tiveram a sua primeira experiência pregando para congregações quase exclusivas de gentios – gregos, romanos e sírios – pois poucos judeus viviam nestas duas cidades gregas. Ao contatarem com estes cidadãos romanos, os apóstolos encontraram novas dificuldades na proclamação da mensagem do reino vindouro e se depararam com novas objeções aos ensinamentos de Jesus. Numa das muitas conferências noturnas com seus apóstolos, Jesus ouviu atentamente estas objeções ao evangelho do reino enquanto os doze repetiam suas experiências com os sujeitos de seus labores pessoais.
143:1.2 (1607.4) Uma pergunta feita por Filipe foi típica das suas dificuldades. Disse Filipe: “Mestre, estes gregos e romanos menosprezam a nossa mensagem, dizendo que tais ensinamentos são adequados apenas para os fracos e os escravos. Eles afirmam que a religião dos pagãos é superior ao nosso ensinamento porque inspira a aquisição de um caráter forte, robusto e dinâmico. Eles afirmam que converteríamos todos os homens em espécimes debilitados de não-resistentes passivos que logo desapareceriam da face da Terra. Eles gostam de você, Mestre, e admitem abertamente que seu ensinamento é celestial e ideal, mas não nos levarão a sério. Eles afirmam que a sua religião não é para este mundo; que os homens não podem viver como você ensina. E agora, Mestre, o que diremos a estes gentios?”
143:1.3 (1607.5) Depois de Jesus ter ouvido objeções semelhantes ao evangelho do reino apresentadas por Tomé, Natanael, Simão Zelote e Mateus, ele disse aos doze:
143:1.4 (1608.1) “Eu vim a este mundo para fazer a vontade do meu Pai e para revelar o Seu caráter amoroso a toda a humanidade. Essa, meus irmãos, é minha missão. E isto farei, independentemente da incompreensão dos meus ensinamentos por judeus ou gentios desta época ou de outra geração. Mas vocês não devem ignorar o fato de que até mesmo o amor divino tem disciplinas severas. O amor de um pai por seu filho muitas vezes o impele a restringir os atos imprudentes de seus filhos irrefletidos. A criança nem sempre compreende os motivos sábios e amorosos da disciplina restritiva do pai. Mas eu declaro a vocês que meu Pai no Paraíso governa um universo de universos pelo poder irresistível de Seu amor. O amor é a maior de todas as realidades do espírito. A verdade é uma revelação libertadora, mas o amor é o relacionamento supremo. E não importa quais erros seus semelhantes cometam na gestão do mundo de hoje, em uma era por vir, o evangelho que eu lhes declaro governará este mesmo mundo. A meta última do progresso humano é o reconhecimento reverente da paternidade de Deus e a materialização amorosa da irmandade do homem.
143:1.5 (1608.2) “Mas quem lhes disse que o meu evangelho se destinava apenas aos escravos e aos fracos? Vocês, meus apóstolos escolhidos, se parecem com os fracos? João parecia um fraco? Vocês observam que eu seja escravizado pelo medo? É verdade que os pobres e oprimidos desta geração têm o evangelho pregado a eles. As religiões deste mundo têm negligenciado os pobres, mas meu Pai não faz acepção de pessoas. Além disso, os pobres de hoje são os primeiros a atender ao chamado ao arrependimento e à aceitação da filiação. O evangelho do reino deve ser pregado a todos os homens – judeus e gentios, gregos e romanos, ricos e pobres, livres e escravos – e igualmente a jovens e velhos, homens e mulheres.
143:1.6 (1608.3) “Porque meu Pai é um Deus de amor e Se deleita na prática da misericórdia, não se impregnem da ideia de que o serviço do reino deva ser de monótona facilidade. A ascensão ao Paraíso é a aventura suprema de todos os tempos, a dura conquista da eternidade. O serviço do reino na Terra exigirá toda a masculinidade corajosa que vocês e seus colaboradores puderem reunir. Muitos de vocês serão condenados à morte por sua lealdade ao evangelho deste reino. É fácil morrer na linha de batalha física quando sua coragem é fortalecida pela presença de seus camaradas de luta, mas é necessária uma forma mais elevada e profunda de coragem e devoção humanas para calmamente e sozinho dar sua vida pelo amor a uma verdade consagrada em seu coração mortal.
143:1.7 (1608.4) “Hoje, os incrédulos podem zombar de vocês pregando um evangelho de não-resistência e vivendo vidas de não-violência, mas vocês são os primeiros voluntários de uma longa linhagem de crentes sinceros no evangelho deste reino que surpreenderão a humanidade inteira por sua devoção heroica a estes ensinamentos. Nenhum exército do mundo alguma vez demonstrou mais coragem e bravura do que será retratado por vós e pelos seus leais sucessores, que avançarão por todo o mundo proclamando as boas novas – a paternidade de Deus e a irmandade dos homens. A coragem da carne é a forma mais inferior de bravura. A bravura da mente é um tipo mais elevado de coragem humana, mas o mais elevado e supremo é a lealdade intransigente às convicções esclarecidas de realidades espirituais profundas. E tal coragem constitui o heroísmo do homem que conhece a Deus. E todos vocês são homens que conhecem a Deus; vocês são na verdade os associados pessoais do Filho do Homem”.
143:1.8 (1608.5) Isto não foi tudo o que Jesus disse naquela ocasião, mas foi a introdução do seu discurso, e ele prosseguiu longamente na amplificação e na ilustração deste pronunciamento. Este foi um dos discursos mais apaixonados que Jesus jamais proferiu aos doze. Raramente o Mestre falava aos seus apóstolos com veemência evidente, mas esta foi uma daquelas poucas ocasiões em que ele falou com manifesta intensidade, acompanhado de marcante emoção.
143:1.9 (1609.1) O resultado sobre a pregação pública e ministração pessoal dos apóstolos foi imediato; a partir daquele mesmo dia, a sua mensagem assumiu um novo tom de dominação corajosa. Os doze continuaram a adquirir o espírito de dinamismo positivo no novo evangelho do reino. Deste dia em diante eles não se ocuparam tanto com a pregação das virtudes negativas e das injunções passivas do ensinamento multifacetado do seu Mestre.
2. Lição sobre Autodomínio
143:2.1 (1609.2) O Mestre era um exemplar perfeccionado do autocontrole humano. Quando era injuriado, ele não injuriava; quando sofria, não fazia ameaças contra seus algozes; quando foi denunciado pelos seus inimigos, ele simplesmente se entregou ao julgamento reto do Pai no céu.
143:2.2 (1609.3) Numa das conferências noturnas, André perguntou a Jesus: “Mestre, devemos praticar a renúncia, como João nos ensinou, ou devemos lutar pelo autocontrole do seu ensinamento? Em que o seu ensinamento difere do de João?” Jesus respondeu: “João de fato lhes ensinou o caminho da retidão de acordo com a luz e as leis dos pais dele, e essa era a religião do autoexame e da renúncia. Mas eu venho com uma nova mensagem de autoesquecimento e autocontrole. Eu lhes mostro o modo de vida que me foi revelado por meu Pai que está no céu.
143:2.3 (1609.4) “Em verdade, em verdade, eu lhes digo: aquele que governa a si mesmo é maior do que aquele que captura uma cidade. O autodomínio é a medida da natureza moral do homem e o indicador do seu desenvolvimento espiritual. Na velha ordem vocês jejuavam e oravam; como a nova criatura do renascimento do espírito, vocês são ensinados a crer e a se rejubilar. No reino do Pai vocês se tornarão criaturas novas; as coisas velhas passarão; eis que lhes mostro como todas as coisas devem se tornar novas. E pelo amor mútuo vocês convencerão o mundo de que passaram da escravidão para a liberdade, da morte para a vida eterna.
143:2.4 (1609.5) “Da maneira antiga vocês procuram suprimir, obedecer e se conformar às regras de vida; pela nova maneira vocês são primeiro transformados pelo Espírito da Verdade e assim fortalecidos em sua alma interior pela constante renovação espiritual de sua mente, e assim vocês são dotados do poder do desempenho certo e alegre da graciosa, aceitável e perfeita vontade de Deus. Não se esqueçam: é a sua fé pessoal nas grandiosas e preciosas promessas de Deus que garante que vocês se tornem participantes da natureza divina. Assim, pela sua fé e pela transformação do espírito, vocês se tornam na realidade os templos de Deus, e o espírito Dele realmente habita dentro de vocês. Se, então, o espírito habita dentro de vocês, não são mais escravos da carne, mas filhos livres e liberados do espírito. A nova lei do espírito lhes confere a liberdade do autodomínio no lugar da antiga lei do medo da autosservidão e da escravidão da renúncia.
143:2.5 (1609.6) “Muitas vezes, quando praticaram o mal, vocês pensaram em atribuir os seus atos à influência do maligno, quando na realidade vocês foram apenas desencaminhados pelas suas próprias tendências naturais. O profeta Jeremias não lhes disse há muito tempo que o coração humano é mais enganoso do que todas as coisas e, às vezes, até desesperadamente perverso? Como é fácil para vocês se autoenganarem e, assim, cair em medos tolos, diversas concupiscências, prazeres escravizadores, malícia, inveja e até mesmo ódio vingativo!
143:2.6 (1610.1) “A salvação ocorre pela regeneração do espírito e não pelas ações hipócritas da carne. Vocês são justificados pela fé e têm comunhão pela graça, não pelo medo e pela renúncia da carne, embora os filhos do Pai que nasceram do espírito sejam sempre e continuamente mestres de si mesmos e de tudo o que diz respeito aos desejos da carne. Quando sabem que são salvos pela fé, vocês têm autêntica paz com Deus. E todos os que seguem o caminho desta paz celestial estão destinados a ser santificados para o serviço eterno dos filhos sempre em avanço do Deus eterno. Doravante, não é um dever, mas sim seu privilégio excelso, purificar-se de todos os males da mente e do corpo enquanto buscam a perfeição no amor de Deus.
143:2.7 (1610.2) “Sua filiação está fundamentada na fé, e vocês devem permanecer impermeáveis ao medo. A sua alegria nasce da confiança na palavra divina e, portanto, vocês não serão levados a duvidar da realidade do amor e da misericórdia do Pai. É a própria bondade de Deus que leva os homens ao arrependimento verdadeiro e genuíno. O segredo da mestria de si mesmo está ligado à sua fé no espírito residente, que sempre atua pelo amor. Mesmo esta fé salvadora vocês não têm de si mesmos; também é o dom de Deus. E se vocês são os filhos desta fé viva, vocês não são mais escravos do ego, mas sim os senhores triunfantes de si mesmos, os filhos libertos de Deus.
143:2.8 (1610.3) “Se, então, meus filhos, vocês nascem do espírito, estão para sempre libertos da escravidão autoconsciente de uma vida de renúncia e de vigilância sobre os desejos da carne, e vocês são transladados para o jubiloso reino do espírito, de onde vocês manifestam espontaneamente os frutos do espírito em suas vidas diárias; e os frutos do espírito são a essência do tipo mais elevado de autocontrole agradável e enobrecedor, até mesmo as alturas da realização mortal terrestre – o verdadeiro autodomínio”.
3. Diversão e Relaxamento
143:3.1 (1610.4) Por volta desta época desenvolveu-se um estado de grande tensão nervosa e emocional entre os apóstolos e os seus discípulos imediatos associados. Eles mal se haviam acostumado a viver e trabalhar juntos. Eles estavam enfrentando dificuldades crescentes em manter relações harmoniosas com os discípulos de João. O contato com os gentios e os samaritanos foi uma grande provação para estes judeus. E, além de tudo isto, as recentes declarações de Jesus haviam incrementado seu perturbado estado mental. André estava quase fora de si; não sabia o que fazer a seguir e por isso foi ao Mestre com seus problemas e perplexidades. Quando Jesus ouviu o chefe apostólico relatar seus problemas, disse: “André, você não pode dissuadir os homens de suas perplexidades quando eles atingem tal estágio de envolvimento e quando tantas pessoas com sentimentos fortes estão envolvidas. Não posso fazer o que você me pede – não participarei destas dificuldades sociais pessoais – mas me juntarei a vocês no desfrute de um período de três dias de descanso e relaxamento. Vá até seus irmãos e anuncie que todos vocês irão comigo ao Monte Sartaba, onde desejo descansar por um dia ou dois.
143:3.2 (1610.5) “Agora você deve ir até cada um dos seus onze irmãos e conversar com ele em particular, dizendo: ‘O Mestre deseja que nos apartemos com ele por um período para descansar e relaxar. Como todos nós experimentamos recentemente muito aborrecimento de espírito e estresse mental, sugiro que nenhuma menção seja feita às nossas provações e problemas durante este feriado. Posso contar com você para cooperar comigo neste assunto?’ Desta forma, aborde em privado e pessoalmente cada um de seus irmãos”. E André fez como o Mestre lhe havia instruído.
143:3.3 (1611.1) Esta foi uma ocasião maravilhosa na experiência de cada um deles; nunca esqueceram o dia em que subiram a montanha. Durante a viagem inteira quase nenhuma palavra foi dita sobre seus problemas. Ao chegarem ao topo da montanha, Jesus os sentou ao seu redor enquanto dizia: “Meus irmãos, todos vocês têm que aprender o valor do descanso e a eficácia do relaxamento. Vocês têm que compreender que o melhor método para resolver alguns problemas complicados é abandoná-los por um tempo. Então, quando vocês voltarem do descanso ou da adoração, serão capazes de atacar seus problemas com a cabeça mais clara e a mão mais firme, sem mencionar um coração mais resoluto. Novamente, muitas vezes o seu problema diminuiu em tamanho e proporções enquanto vocês descansavam a mente e o corpo.
143:3.4 (1611.2) No dia seguinte Jesus designou a cada um dos doze um tópico para discussão. O dia inteiro foi dedicado a reminiscências e a conversas sobre assuntos não relacionados ao seu trabalho religioso. Eles ficaram momentaneamente chocados quando Jesus até se esqueceu de agradecer – verbalmente – quando partiu o pão para o almoço do meio-dia. Esta foi a primeira vez que o observaram negligenciando tais formalidades.
143:3.5 (1611.3) Quando subiram a montanha, a cabeça de André estava cheia de problemas. João ficou extremamente perplexo em seu coração. Tiago estava terrivelmente perturbado em sua alma. Mateus estava sob forte pressão por fundos, visto que estavam peregrinando entre os gentios. Pedro estava exausto e recentemente estivera mais temperamental do que o costume. Judas sofria ataques periódicos de sensibilidade e egoísmo. Simão ficou estranhamente perturbado em seus esforços para conciliar seu patriotismo com o amor da irmandade humana. Filipe estava cada vez mais perplexo com o andamento das coisas. Nathaniel tinha estado menos bem-humorado desde que entraram em contato com as populações gentias, e Tomé estava no meio de um grave período de depressão. Apenas os gêmeos estavam normais e imperturbáveis. Todos eles estavam extremamente perplexos sobre como conviver pacificamente com os discípulos de João.
143:3.6 (1611.4) No terceiro dia, quando começaram a descer a montanha e retornar ao acampamento, uma grande mudança lhes sobreveio. Eles haviam feito a importante descoberta de que muitas perplexidades humanas são na realidade inexistentes, que muitos problemas urgentes são criações de medo exagerado e fruto de uma apreensão inflada. Eles tinham aprendido que todas essas perplexidades são melhor resolvidas sendo abandonadas; ao partirem, eles tinham deixado tais problemas para se resolverem sozinhos.
143:3.7 (1611.5) O retorno deles desta folga marcou o início de um período de relações grandemente melhoradas com os seguidores de João. Muitos dos doze realmente cederam à alegria quando notaram a mudança no estado de espírito de todos e observaram a libertação da irritabilidade nervosa que lhes sobreviera como resultado dos três dias de férias dos deveres rotineiros da vida. Há sempre o perigo de que a monotonia do contato humano multiplique enormemente as perplexidades e amplifique as dificuldades.
143:3.8 (1611.6) Poucos gentios nas duas cidades gregas de Arquelais e Fáselis creram no evangelho, mas os doze apóstolos ganharam uma experiência valiosa neste seu primeiro trabalho extenso com populações exclusivamente gentias. Numa manhã de segunda-feira, por volta de meados do mês, Jesus disse a André: “Vamos para Samaria.” E partiram imediatamente para a cidade de Sicar, perto do poço de Jacó.
4. Os Judeus e os Samaritanos
143:4.1 (1612.1) Durante mais de seiscentos anos, os judeus da Judeia, e mais tarde também os da Galileia, haviam estado em inimizade com os samaritanos. Este mal-estar entre os judeus e os samaritanos surgiu desta forma: cerca de setecentos anos a.C., Sargão, rei da Assíria, ao subjugar uma revolta na Palestina central, exilou e levou ao cativeiro mais de 25 mil judeus do reino do norte de Israel e instalou em seu lugar um número quase igual de descendentes dos cutitas, sefarvitas e hamatitas. Mais tarde, Assurbanipal enviou ainda outras colônias para residir em Samaria.
143:4.2 (1612.2) A inimizade religiosa entre os judeus e os samaritanos datava do retorno dos primeiros do cativeiro babilônico, quando os samaritanos trabalharam para impedir a reconstrução de Jerusalém. Mais tarde, ofenderam os judeus ao estenderem assistência amigável aos exércitos de Alexandre. Em troca de sua amizade, Alexandre deu aos samaritanos permissão para construírem um templo no Monte Gerizim, onde adoravam Javé e seus deuses tribais e ofereciam sacrifícios muito semelhantes à ordem de serviços do templo em Jerusalém. Pelo menos eles continuaram este culto até a época dos Macabeus, quando João Hircano destruiu o templo deles no Monte Gerizim. O apóstolo Filipe, em seus labores pelos samaritanos após a morte de Jesus, realizou muitas reuniões no local deste antigo templo samaritano.
143:4.3 (1612.3) Os antagonismos entre os judeus e os samaritanos eram antigos e históricos; desde os dias de Alexandre, mantinham cada vez menos relações entre si. Os doze apóstolos não eram avessos a pregar nas cidades gregas e outras cidades gentias da Decápolis e da Síria, mas foi um teste severo à sua lealdade ao Mestre quando ele disse: “Vamos entrar em Samaria”. Mas durante o ano e mais que estiveram com Jesus, desenvolveram uma forma de lealdade pessoal que transcendia até mesmo a sua fé nos seus ensinamentos e os seus preconceitos contra os samaritanos.
5. A Mulher de Sicar
143:5.1 (1612.4) Quando o Mestre e os doze chegaram ao poço de Jacó, Jesus, cansado da viagem, ficou junto ao poço enquanto Filipe levava consigo os apóstolos para ajudar a trazer comida e tendas de Sicar, pois eles estavam dispostos a ficar nesta vizinhança por um tempo. Pedro e os filhos de Zebedeu teriam permanecido com Jesus, mas ele pediu que fossem com seus irmãos, dizendo: “Não receiem por mim; estes samaritanos serão amistosos; apenas nossos irmãos, os judeus, procuram nos prejudicar”. E eram quase seis horas da tarde deste verão quando Jesus se sentou junto ao poço para aguardar o regresso dos apóstolos.
143:5.2 (1612.5) A água do poço de Jacó era menos mineral do que a dos poços de Sicar e, portanto, era muito valorizada para fins potáveis. Jesus estava com sede, mas não havia como tirar água do poço. Quando, pois, uma mulher de Sicar se aproximou com o seu cântaro de água e se dispôs a tirar água do poço, Jesus lhe disse: “Dê-me de beber”. Esta mulher de Samaria sabia que Jesus era judeu pela sua aparência e vestimenta, e ela presumiu que ele era um judeu galileu pelo seu sotaque. O nome dela era Nalda e era uma criatura atraente. Ela ficou muito surpreendida ao ver um homem judeu falando assim com ela no poço e pedindo água, pois não era considerado apropriado naqueles dias que um homem que se prezasse falasse com uma mulher em público, muito menos que um judeu conversasse com uma samaritana. Por isso Nalda perguntou a Jesus: “Como é que você, sendo judeu, me pede de beber a mim, uma mulher samaritana?” Jesus respondeu: “De fato, lhe pedi de beber, mas, se ao menos pudesse compreender, você me pediria um gole da água viva”. Então disse Nalda: “Mas, senhor, você não tem com que retirar água, e o poço é fundo; de onde, então, você tem esta água viva? Você é maior do que nosso pai Jacó que nos deu este poço e que bebeu dele, ele mesmo, seus filhos e seu gado também?”
143:5.3 (1613.1) Jesus respondeu: “Todo aquele que bebe desta água terá sede novamente, mas quem bebe da água do espírito vivo nunca mais terá sede. E esta água viva se tornará nele uma fonte de refrigério a jorrar para a vida eterna”. Nalda então disse: “Dê-me esta água para que eu não tenha sede, nem venha até aqui para tirá-la. Além disso, qualquer coisa que uma mulher samaritana pudesse receber de um judeu tão louvável seria um prazer”.
143:5.4 (1613.2) Nalda não sabia como entender a disposição de Jesus de conversar com ela. Ela contemplou no rosto do Mestre o semblante de um homem íntegro e santo, mas confundiu simpatia com familiaridade comum e interpretou mal sua figura de linguagem como uma forma de se insinuar para ela. E sendo uma mulher de moral negligente, ela estava decidida a se tornar abertamente paqueradora, quando Jesus, olhando diretamente nos olhos dela, com uma voz de comando disse: “Mulher, vá buscar seu marido e traga-o aqui”. Esta ordem trouxe Nalda de volta aos seus sentidos. Ela percebeu que havia avaliado mal a bondade do Mestre; percebeu que havia interpretado mal a maneira de falar dele. Ficou assustada; começou a perceber que estava na presença de uma pessoa incomum e, tateando em sua mente em busca de uma resposta adequada, em grande confusão, ela disse: “Mas, senhor, não posso chamar o meu marido, pois não tenho marido”. Jesus disse então: “Você disse a verdade, pois, embora você já tenha tido um marido, aquele com quem você mora agora não é seu marido. Melhor seria se você parasse de tomar minhas palavras levianamente e buscasse a água viva que hoje lhe ofereci”.
143:5.5 (1613.3) A esta altura, Nalda estava sóbria e o seu melhor eu havia despertado. Ela não era uma mulher imoral inteiramente por escolha. Ela havia sido implacável e injustamente deixada de lado pelo marido e, em apuros, consentiu em viver com um certo grego como esposa, mas sem se casar. Nalda sentia-se agora muito envergonhada por ter falado tão impensadamente com Jesus, e dirigiu-se muito penitentemente ao Mestre, dizendo: “Meu Senhor, arrependo-me da minha maneira de falar com você, pois percebo que é um homem santo ou talvez um profeta”. E ela estava prestes a procurar ajuda direta e pessoal do Mestre quando fez o que tantos fizeram antes e depois – evitou a questão da salvação pessoal voltando-se para a discussão da teologia e da filosofia. Ela rapidamente desviou a conversa de suas próprias necessidades para uma controvérsia teológica. Apontando para o monte Gerizim, ela continuou: “Nossos pais adoravam nesta montanha, e ainda assim vocês diriam que em Jerusalém é o lugar onde os homens devem adorar; qual, então, é o lugar certo para adorar a Deus?”
143:5.6 (1613.4) Jesus percebeu a tentativa da alma da mulher de evitar o contato direto e buscador com o seu Criador, mas ele também viu que havia presente na alma dela um desejo de conhecer o melhor caminho de vida. Afinal, havia no coração de Nalda uma verdadeira sede da água viva; portanto, ele tratou-a pacientemente, dizendo: “Mulher, deixe-me lhe dizer que logo chegará o dia em que nem neste monte nem em Jerusalém adorará o Pai. Mas agora você adora aquilo que não conhece, uma mistura da religião de muitos deuses pagãos e filosofias gentias. Os judeus pelo menos sabem a quem adoram; eles removeram toda a confusão ao concentrarem sua adoração em um único Deus, Javé. Mas você deveria acreditar em mim quando digo que em breve chegará a hora – já agora – em que todos os adoradores sinceros adorarão o Pai em espírito e em verdade, pois são exatamente tais adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e aqueles que O adoram têm que adorá-Lo em espírito e em verdade. Sua salvação não vem de saber como os outros deveriam adorar ou onde, mas de receber em seu próprio coração esta água viva que estou lhe oferecendo agora mesmo”.
143:5.7 (1614.1) Mas Nalda faria mais um esforço para evitar a discussão da questão embaraçosa da sua vida pessoal na Terra e do status da sua alma diante de Deus. Mais uma vez ela recorreu a questões de religião em geral, dizendo: “Sim, eu sei, Senhor, que João pregou sobre a vinda do Conversor, aquele que será chamado de Libertador, e que, quando vier, ele declarará para nós todas as coisas” – e Jesus, interrompendo Nalda, disse com surpreendente segurança: “Eu, que falo com você, sou ele”.
143:5.8 (1614.2) Este foi o primeiro pronunciamento direto, positivo e indisfarçado da sua natureza e filiação divinas que Jesus fez na Terra; e foi feito a uma mulher, uma mulher samaritana, e uma mulher de caráter questionável aos olhos dos homens até este momento, mas uma mulher a quem o olho divino viu como sendo mais vítima do pecado do que como pecadora por seu próprio desejo e como agora sendo uma alma humana que desejava a salvação, desejava-a sinceramente e de todo o coração, e isso era suficiente.
143:5.9 (1614.3) Quando Nalda estava prestes a expressar o seu anseio real e pessoal por coisas melhores e por um modo de vida mais nobre, exatamente quando ela estava pronta para falar do desejo real do seu coração, os doze apóstolos retornaram de Sicar, e deparando com esta cena em que Jesus conversava tão intimamente com esta mulher – esta mulher samaritana, e sozinho – eles ficaram mais do que atônitos. Rapidamente depositaram seus suprimentos e se puseram de lado, ninguém ousando repreendê-lo, enquanto Jesus dizia a Nalda: “Mulher, siga o seu caminho; Deus lhe perdoou. Doravante você viverá uma nova vida. Você recebeu a água viva e uma nova alegria brotará em sua alma e você se tornará uma filha do Altíssimo”. E a mulher, percebendo a desaprovação dos apóstolos, deixou o seu cântaro e fugiu para a cidade.
143:5.10 (1614.4) Ao entrar na cidade, ela proclamou a todos que encontrava: “Vão até o poço de Jacó e vão depressa, pois lá vocês verão um homem que me contou tudo o que eu fiz. Pode este ser o Conversor?” E, antes do pôr do sol, uma grande multidão tinha se congregado junto ao poço de Jacó para ouvir Jesus. E o Mestre falou-lhes mais sobre a água da vida, a dádiva do espírito residente.
143:5.11 (1614.5) Os apóstolos nunca deixaram de ficar chocados com a disposição de Jesus de conversar com mulheres, mulheres de caráter questionável, até mesmo mulheres imorais. Foi muito difícil para Jesus ensinar aos seus apóstolos que as mulheres, mesmo as chamadas mulheres imorais, têm almas que podem escolher Deus como seu Pai, tornando-se assim filhas de Deus e candidatas à vida eterna. Mesmo dezenove séculos depois muitos mostram a mesma relutância em compreender os ensinamentos do Mestre. Até mesmo a religião cristã tem sido persistentemente construída em torno do fato da morte de Cristo, em vez de em torno da verdade da sua vida. O mundo deveria estar mais envolvido com a sua vida feliz e reveladora de Deus do que com a sua morte trágica e dolorosa.
143:5.12 (1614.6) Nalda contou toda esta história ao apóstolo João no dia seguinte, mas ele nunca a revelou plenamente aos outros apóstolos, e Jesus não falou dela em detalhes aos doze.
143:5.13 (1615.1) Nalda disse a João que Jesus lhe havia contado “tudo o que eu fiz”. Muitas vezes João quis perguntar a Jesus sobre este diálogo com Nalda, mas nunca o fez. Jesus disse-lhe apenas uma coisa sobre ela, mas seu olhar nos olhos dela e a maneira como ele tratou com ela trouxeram toda a sua vida confusa numa revisão panorâmica diante de sua mente num momento que ela associou toda essa autorrevelação de sua vida passada com o olhar e a palavra do Mestre. Jesus nunca lhe disse que ela tivera cinco maridos. Ela havia vivido com quatro homens diferentes desde que seu marido a abandonara, e isto, com todo o seu passado, surgiu tão vividamente em sua mente no momento em que ela percebeu que Jesus era um homem de Deus, que ela posteriormente repetiu a João que Jesus tinha realmente contado a ela tudo sobre si mesma.
6. O Reavivamento Samaritano
143:6.1 (1615.2) Na noite em que Nalda levou a multidão para fora de Sicar para ver Jesus, os doze tinham acabado de voltar com comida, e imploraram a Jesus que comesse com eles, em vez de falar com as pessoas, pois eles tinham estado sem comida o dia todo e estavam famintos. Mas Jesus sabia que em breve a escuridão cairia sobre eles; então persistiu em sua determinação de falar com as pessoas antes de mandá-las embora. Quando André tentou persuadi-lo a comer algo antes de falar à multidão, Jesus disse: “Tenho um alimento para comer que vocês não conhecem”. Quando os apóstolos ouviram isto, disseram entre si: “Alguém lhe trouxe alguma coisa para comer? Será que a mulher lhe deu comida além de bebida?” Quando Jesus os ouviu conversando entre si, antes de falar às pessoas, virou-se e disse aos doze: “O meu alimento é fazer a vontade Daquele que me enviou e realizar a Sua obra. Vocês não devem mais dizer que falta tal e tal tempo para a colheita. Contemplem estas pessoas saindo de uma cidade samaritana para nos ouvir; eu lhes digo que os campos já estão brancos para a colheita. Quem colhe recebe salário e coleta este fruto para a vida eterna; consequentemente, os semeadores e os ceifeiros regozijam-se juntos. Pois aqui é verdadeiro o ditado: ‘Um semeia e outro colhe.’ Agora estou enviando vocês para colher aquilo em que vocês não trabalharam; outros trabalharam, e vocês estão prestes a entrar no trabalho deles”. Isto ele disse em referência à pregação de João Batista.
143:6.2 (1615.3) Jesus e os apóstolos foram para Sicar e pregaram dois dias antes de estabelecerem o seu acampamento no Monte Gerizim. E muitos dos moradores de Sicar creram no evangelho e pediram o batismo, mas os apóstolos de Jesus ainda não batizavam.
143:6.3 (1615.4) Na primeira noite do acampamento no Monte Gerizim os apóstolos esperavam que Jesus os repreendesse pela atitude deles para com a mulher junto ao poço de Jacó, mas ele não fez nenhuma referência ao assunto. Em vez disso, ele lhes deu aquele discurso memorável sobre “As realidades que são centrais no reino de Deus”. Em qualquer religião é muito fácil permitir que os valores se tornem desproporcionais e permitir que os fatos ocupem o lugar da verdade na teologia de alguém. O fato da cruz tornou-se o centro do cristianismo posterior; mas não é a verdade central da religião que pode ser derivada da vida e ensinamentos de Jesus de Nazaré.
143:6.4 (1615.5) O tema do ensinamento de Jesus no Monte Gerizim foi: que ele deseja que todos os homens vejam Deus como um Pai-amigo, assim como ele (Jesus) é um irmão-amigo. E reiteradas vezes ele lhes inculcou de que o amor é o maior relacionamento no mundo – no universo – assim como a verdade é o maior pronunciamento da observação destes relacionamentos divinos.
143:6.5 (1616.1) Jesus declarou-se tão plenamente aos samaritanos porque podia fazê-lo com segurança e porque sabia que não visitaria novamente o coração de Samaria para pregar o evangelho do reino.
143:6.6 (1616.2) Jesus e os doze acamparam no Monte Gerizim até o final de agosto. Eles pregavam as boas novas do reino – a paternidade de Deus – aos samaritanos nas cidades durante o dia e passavam as noites no acampamento. A obra que Jesus e os doze fizeram nestas cidades samaritanas rendeu muitas almas para o reino e fez muito para preparar o caminho para a obra maravilhosa de Filipe nestas regiões após a morte e ressurreição de Jesus, subsequente à dispersão dos apóstolos para os confins da Terra pela amarga perseguição dos crentes em Jerusalém.
7. Ensinamentos Sobre Prece e Adoração
143:7.1 (1616.3) Nas conferências noturnas no Monte Gerizim, Jesus ensinou muitas grandes verdades e, em particular, deu ênfase ao seguinte:
143:7.2 (1616.4) A verdadeira religião é o ato de uma alma individual nas suas relações autoconscientes com o Criador; a religião organizada é a tentativa do homem de socializar a adoração de religiosos individuais.
143:7.3 (1616.5) A adoração – a contemplação do espiritual – tem que ser alternada com o serviço, com o contato com a realidade material. O trabalho deve alternar com a diversão; a religião deve ser equilibrada pelo humor. A filosofia profunda deveria ser aliviada pela poesia rítmica. A tensão da vida – a tensão temporal da personalidade – deve ser relaxada pelo descanso da adoração. Os sentimentos de insegurança decorrentes do medo do isolamento da personalidade no universo deveriam ter antídoto pela contemplação da fé no Pai e pela tentativa de realização do Supremo.
143:7.4 (1616.6) A prece tem como objetivo tornar o homem menos pensante, mas mais realizador; não foi projetada para aumentar o conhecimento, mas sim para expandir o discernimento.
143:7.5 (1616.7) A adoração tem como objetivo antecipar a vida melhor que está por vir e depois refletir estes novos significados espirituais de volta à vida que existe agora. A prece é espiritualmente sustentadora, mas a adoração é divinamente criativa.
143:7.6 (1616.8) A adoração é a técnica de olhar para o Uno em busca de inspiração para servir a muitos. A adoração é o parâmetro que mede a extensão do desapego da alma do universo material e o seu apego simultâneo e seguro às realidades espirituais de toda a criação.
143:7.7 (1616.9) A prece é uma lembrança de si mesmo – um pensamento sublime; adoração é esquecimento de si mesmo – suprapensamento. Adoração é atenção sem esforço, descanso verdadeiro e ideal da alma, uma forma de esforço espiritual repousante.
143:7.8 (1616.10) A adoração é o ato de uma parte se identificando com o Todo; o finito com o Infinito; o filho com o Pai; o tempo no ato de sintonizar a passada com a eternidade. Adoração é o ato de comunhão pessoal do filho com o Pai divino, a assunção de atitudes retemperadoras, criativas, fraternas e românticas por parte da alma-espírito humana.
143:7.9 (1616.11) Embora os apóstolos tenham captado apenas alguns dos seus ensinamentos no acampamento, outros mundos o fizeram, e outras gerações na Terra o farão.
Paper 143
Going Through Samaria
143:0.1 (1607.1) AT THE end of June, a.d. 27, because of the increasing opposition of the Jewish religious rulers, Jesus and the twelve departed from Jerusalem, after sending their tents and meager personal effects to be stored at the home of Lazarus at Bethany. Going north into Samaria, they tarried over the Sabbath at Bethel. Here they preached for several days to the people who came from Gophna and Ephraim. A group of citizens from Arimathea and Thamna came over to invite Jesus to visit their villages. The Master and his apostles spent more than two weeks teaching the Jews and Samaritans of this region, many of whom came from as far as Antipatris to hear the good news of the kingdom.
143:0.2 (1607.2) The people of southern Samaria heard Jesus gladly, and the apostles, with the exception of Judas Iscariot, succeeded in overcoming much of their prejudice against the Samaritans. It was very difficult for Judas to love these Samaritans. The last week of July Jesus and his associates made ready to depart for the new Greek cities of Phasaelis and Archelais near the Jordan.
1. Preaching at Archelais
143:1.1 (1607.3) The first half of the month of August the apostolic party made its headquarters at the Greek cities of Archelais and Phasaelis, where they had their first experience preaching to well-nigh exclusive gatherings of gentiles—Greeks, Romans, and Syrians—for few Jews dwelt in these two Greek towns. In contacting with these Roman citizens, the apostles encountered new difficulties in the proclamation of the message of the coming kingdom, and they met with new objections to the teachings of Jesus. At one of the many evening conferences with his apostles, Jesus listened attentively to these objections to the gospel of the kingdom as the twelve repeated their experiences with the subjects of their personal labors.
143:1.2 (1607.4) A question asked by Philip was typical of their difficulties. Said Philip: “Master, these Greeks and Romans make light of our message, saying that such teachings are fit for only weaklings and slaves. They assert that the religion of the heathen is superior to our teaching because it inspires to the acquirement of a strong, robust, and aggressive character. They affirm that we would convert all men into enfeebled specimens of passive nonresisters who would soon perish from the face of the earth. They like you, Master, and freely admit that your teaching is heavenly and ideal, but they will not take us seriously. They assert that your religion is not for this world; that men cannot live as you teach. And now, Master, what shall we say to these gentiles?”
143:1.3 (1607.5) After Jesus had heard similar objections to the gospel of the kingdom presented by Thomas, Nathaniel, Simon Zelotes, and Matthew, he said to the twelve:
143:1.4 (1608.1) “I have come into this world to do the will of my Father and to reveal his loving character to all mankind. That, my brethren, is my mission. And this one thing I will do, regardless of the misunderstanding of my teachings by Jews or gentiles of this day or of another generation. But you should not overlook the fact that even divine love has its severe disciplines. A father’s love for his son oftentimes impels the father to restrain the unwise acts of his thoughtless offspring. The child does not always comprehend the wise and loving motives of the father’s restraining discipline. But I declare to you that my Father in Paradise does rule a universe of universes by the compelling power of his love. Love is the greatest of all spirit realities. Truth is a liberating revelation, but love is the supreme relationship. And no matter what blunders your fellow men make in their world management of today, in an age to come the gospel which I declare to you will rule this very world. The ultimate goal of human progress is the reverent recognition of the fatherhood of God and the loving materialization of the brotherhood of man.
143:1.5 (1608.2) “But who told you that my gospel was intended only for slaves and weaklings? Do you, my chosen apostles, resemble weaklings? Did John look like a weakling? Do you observe that I am enslaved by fear? True, the poor and oppressed of this generation have the gospel preached to them. The religions of this world have neglected the poor, but my Father is no respecter of persons. Besides, the poor of this day are the first to heed the call to repentance and acceptance of sonship. The gospel of the kingdom is to be preached to all men—Jew and gentile, Greek and Roman, rich and poor, free and bond—and equally to young and old, male and female.
143:1.6 (1608.3) “Because my Father is a God of love and delights in the practice of mercy, do not imbibe the idea that the service of the kingdom is to be one of monotonous ease. The Paradise ascent is the supreme adventure of all time, the rugged achievement of eternity. The service of the kingdom on earth will call for all the courageous manhood that you and your coworkers can muster. Many of you will be put to death for your loyalty to the gospel of this kingdom. It is easy to die in the line of physical battle when your courage is strengthened by the presence of your fighting comrades, but it requires a higher and more profound form of human courage and devotion calmly and all alone to lay down your life for the love of a truth enshrined in your mortal heart.
143:1.7 (1608.4) “Today, the unbelievers may taunt you with preaching a gospel of nonresistance and with living lives of nonviolence, but you are the first volunteers of a long line of sincere believers in the gospel of this kingdom who will astonish all mankind by their heroic devotion to these teachings. No armies of the world have ever displayed more courage and bravery than will be portrayed by you and your loyal successors who shall go forth to all the world proclaiming the good news—the fatherhood of God and the brotherhood of men. The courage of the flesh is the lowest form of bravery. Mind bravery is a higher type of human courage, but the highest and supreme is uncompromising loyalty to the enlightened convictions of profound spiritual realities. And such courage constitutes the heroism of the God-knowing man. And you are all God-knowing men; you are in very truth the personal associates of the Son of Man.”
143:1.8 (1608.5) This was not all that Jesus said on that occasion, but it is the introduction of his address, and he went on at great length in amplification and in illustration of this pronouncement. This was one of the most impassioned addresses which Jesus ever delivered to the twelve. Seldom did the Master speak to his apostles with evident strong feeling, but this was one of those few occasions when he spoke with manifest earnestness, accompanied by marked emotion.
143:1.9 (1609.1) The result upon the public preaching and personal ministry of the apostles was immediate; from that very day their message took on a new note of courageous dominance. The twelve continued to acquire the spirit of positive aggression in the new gospel of the kingdom. From this day forward they did not occupy themselves so much with the preaching of the negative virtues and the passive injunctions of their Master’s many-sided teaching.
2. Lesson on Self-Mastery
143:2.1 (1609.2) The Master was a perfected specimen of human self-control. When he was reviled, he reviled not; when he suffered, he uttered no threats against his tormentors; when he was denounced by his enemies, he simply committed himself to the righteous judgment of the Father in heaven.
143:2.2 (1609.3) At one of the evening conferences, Andrew asked Jesus: “Master, are we to practice self-denial as John taught us, or are we to strive for the self-control of your teaching? Wherein does your teaching differ from that of John?” Jesus answered: “John indeed taught you the way of righteousness in accordance with the light and laws of his fathers, and that was the religion of self-examination and self-denial. But I come with a new message of self-forgetfulness and self-control. I show to you the way of life as revealed to me by my Father in heaven.
143:2.3 (1609.4) “Verily, verily, I say to you, he who rules his own self is greater than he who captures a city. Self-mastery is the measure of man’s moral nature and the indicator of his spiritual development. In the old order you fasted and prayed; as the new creature of the rebirth of the spirit, you are taught to believe and rejoice. In the Father’s kingdom you are to become new creatures; old things are to pass away; behold I show you how all things are to become new. And by your love for one another you are to convince the world that you have passed from bondage to liberty, from death into life everlasting.
143:2.4 (1609.5) “By the old way you seek to suppress, obey, and conform to the rules of living; by the new way you are first transformed by the Spirit of Truth and thereby strengthened in your inner soul by the constant spiritual renewing of your mind, and so are you endowed with the power of the certain and joyous performance of the gracious, acceptable, and perfect will of God. Forget not—it is your personal faith in the exceedingly great and precious promises of God that ensures your becoming partakers of the divine nature. Thus by your faith and the spirit’s transformation, you become in reality the temples of God, and his spirit actually dwells within you. If, then, the spirit dwells within you, you are no longer bondslaves of the flesh but free and liberated sons of the spirit. The new law of the spirit endows you with the liberty of self-mastery in place of the old law of the fear of self-bondage and the slavery of self-denial.
143:2.5 (1609.6) “Many times, when you have done evil, you have thought to charge up your acts to the influence of the evil one when in reality you have but been led astray by your own natural tendencies. Did not the Prophet Jeremiah long ago tell you that the human heart is deceitful above all things and sometimes even desperately wicked? How easy for you to become self-deceived and thereby fall into foolish fears, divers lusts, enslaving pleasures, malice, envy, and even vengeful hatred!
143:2.6 (1610.1) “Salvation is by the regeneration of the spirit and not by the self-righteous deeds of the flesh. You are justified by faith and fellowshipped by grace, not by fear and the self-denial of the flesh, albeit the Father’s children who have been born of the spirit are ever and always masters of the self and all that pertains to the desires of the flesh. When you know that you are saved by faith, you have real peace with God. And all who follow in the way of this heavenly peace are destined to be sanctified to the eternal service of the ever-advancing sons of the eternal God. Henceforth, it is not a duty but rather your exalted privilege to cleanse yourselves from all evils of mind and body while you seek for perfection in the love of God.
143:2.7 (1610.2) “Your sonship is grounded in faith, and you are to remain unmoved by fear. Your joy is born of trust in the divine word, and you shall not therefore be led to doubt the reality of the Father’s love and mercy. It is the very goodness of God that leads men into true and genuine repentance. Your secret of the mastery of self is bound up with your faith in the indwelling spirit, which ever works by love. Even this saving faith you have not of yourselves; it also is the gift of God. And if you are the children of this living faith, you are no longer the bondslaves of self but rather the triumphant masters of yourselves, the liberated sons of God.
143:2.8 (1610.3) “If, then, my children, you are born of the spirit, you are forever delivered from the self-conscious bondage of a life of self-denial and watchcare over the desires of the flesh, and you are translated into the joyous kingdom of the spirit, whence you spontaneously show forth the fruits of the spirit in your daily lives; and the fruits of the spirit are the essence of the highest type of enjoyable and ennobling self-control, even the heights of terrestrial mortal attainment—true self-mastery.”
3. Diversion and Relaxation
143:3.1 (1610.4) About this time a state of great nervous and emotional tension developed among the apostles and their immediate disciple associates. They had hardly become accustomed to living and working together. They were experiencing increasing difficulties in maintaining harmonious relations with John’s disciples. The contact with the gentiles and the Samaritans was a great trial to these Jews. And besides all this, the recent utterances of Jesus had augmented their disturbed state of mind. Andrew was almost beside himself; he did not know what next to do, and so he went to the Master with his problems and perplexities. When Jesus had listened to the apostolic chief relate his troubles, he said: “Andrew, you cannot talk men out of their perplexities when they reach such a stage of involvement, and when so many persons with strong feelings are concerned. I cannot do what you ask of me—I will not participate in these personal social difficulties—but I will join you in the enjoyment of a three-day period of rest and relaxation. Go to your brethren and announce that all of you are to go with me up on Mount Sartaba, where I desire to rest for a day or two.
143:3.2 (1610.5) “Now you should go to each of your eleven brethren and talk with him privately, saying: ‘The Master desires that we go apart with him for a season to rest and relax. Since we all have recently experienced much vexation of spirit and stress of mind, I suggest that no mention be made of our trials and troubles while on this holiday. Can I depend upon you to co-operate with me in this matter?’ In this way privately and personally approach each of your brethren.” And Andrew did as the Master had instructed him.
143:3.3 (1611.1) This was a marvelous occasion in the experience of each of them; they never forgot the day going up the mountain. Throughout the entire trip hardly a word was said about their troubles. Upon reaching the top of the mountain, Jesus seated them about him while he said: “My brethren, you must all learn the value of rest and the efficacy of relaxation. You must realize that the best method of solving some entangled problems is to forsake them for a time. Then when you go back fresh from your rest or worship, you are able to attack your troubles with a clearer head and a steadier hand, not to mention a more resolute heart. Again, many times your problem is found to have shrunk in size and proportions while you have been resting your mind and body.”
143:3.4 (1611.2) The next day Jesus assigned to each of the twelve a topic for discussion. The whole day was devoted to reminiscences and to talking over matters not related to their religious work. They were momentarily shocked when Jesus even neglected to give thanks—verbally—when he broke bread for their noontide lunch. This was the first time they had ever observed him to neglect such formalities.
143:3.5 (1611.3) When they went up the mountain, Andrew’s head was full of problems. John was inordinately perplexed in his heart. James was grievously troubled in his soul. Matthew was hard pressed for funds inasmuch as they had been sojourning among the gentiles. Peter was overwrought and had recently been more temperamental than usual. Judas was suffering from a periodic attack of sensitiveness and selfishness. Simon was unusually upset in his efforts to reconcile his patriotism with the love of the brotherhood of man. Philip was more and more nonplused by the way things were going. Nathaniel had been less humorous since they had come in contact with the gentile populations, and Thomas was in the midst of a severe season of depression. Only the twins were normal and unperturbed. All of them were exceedingly perplexed about how to get along peaceably with John’s disciples.
143:3.6 (1611.4) The third day when they started down the mountain and back to their camp, a great change had come over them. They had made the important discovery that many human perplexities are in reality nonexistent, that many pressing troubles are the creations of exaggerated fear and the offspring of augmented apprehension. They had learned that all such perplexities are best handled by being forsaken; by going off they had left such problems to solve themselves.
143:3.7 (1611.5) Their return from this holiday marked the beginning of a period of greatly improved relations with the followers of John. Many of the twelve really gave way to mirth when they noted the changed state of everybody’s mind and observed the freedom from nervous irritability which had come to them as a result of their three days’ vacation from the routine duties of life. There is always danger that monotony of human contact will greatly multiply perplexities and magnify difficulties.
143:3.8 (1611.6) Not many of the gentiles in the two Greek cities of Archelais and Phasaelis believed in the gospel, but the twelve apostles gained a valuable experience in this their first extensive work with exclusively gentile populations. On a Monday morning, about the middle of the month, Jesus said to Andrew: “We go into Samaria.” And they set out at once for the city of Sychar, near Jacob’s well.
4. The Jews and the Samaritans
143:4.1 (1612.1) For more than six hundred years the Jews of Judea, and later on those of Galilee also, had been at enmity with the Samaritans. This ill feeling between the Jews and the Samaritans came about in this way: About seven hundred years b.c., Sargon, king of Assyria, in subduing a revolt in central Palestine, carried away and into captivity over twenty-five thousand Jews of the northern kingdom of Israel and installed in their place an almost equal number of the descendants of the Cuthites, Sepharvites, and the Hamathites. Later on, Ashurbanipal sent still other colonies to dwell in Samaria.
143:4.2 (1612.2) The religious enmity between the Jews and the Samaritans dated from the return of the former from the Babylonian captivity, when the Samaritans worked to prevent the rebuilding of Jerusalem. Later they offended the Jews by extending friendly assistance to the armies of Alexander. In return for their friendship Alexander gave the Samaritans permission to build a temple on Mount Gerizim, where they worshiped Yahweh and their tribal gods and offered sacrifices much after the order of the temple services at Jerusalem. At least they continued this worship up to the time of the Maccabees, when John Hyrcanus destroyed their temple on Mount Gerizim. The Apostle Philip, in his labors for the Samaritans after the death of Jesus, held many meetings on the site of this old Samaritan temple.
143:4.3 (1612.3) The antagonisms between the Jews and the Samaritans were time-honored and historic; increasingly since the days of Alexander they had had no dealings with each other. The twelve apostles were not averse to preaching in the Greek and other gentile cities of the Decapolis and Syria, but it was a severe test of their loyalty to the Master when he said, “Let us go into Samaria.” But in the year and more they had been with Jesus, they had developed a form of personal loyalty which transcended even their faith in his teachings and their prejudices against the Samaritans.
5. The Woman of Sychar
143:5.1 (1612.4) When the Master and the twelve arrived at Jacob’s well, Jesus, being weary from the journey, tarried by the well while Philip took the apostles with him to assist in bringing food and tents from Sychar, for they were disposed to stay in this vicinity for a while. Peter and the Zebedee sons would have remained with Jesus, but he requested that they go with their brethren, saying: “Have no fear for me; these Samaritans will be friendly; only our brethren, the Jews, seek to harm us.” And it was almost six o’clock on this summer’s evening when Jesus sat down by the well to await the return of the apostles.
143:5.2 (1612.5) The water of Jacob’s well was less mineral than that from the wells of Sychar and was therefore much valued for drinking purposes. Jesus was thirsty, but there was no way of getting water from the well. When, therefore, a woman of Sychar came up with her water pitcher and prepared to draw from the well, Jesus said to her, “Give me a drink.” This woman of Samaria knew Jesus was a Jew by his appearance and dress, and she surmised that he was a Galilean Jew from his accent. Her name was Nalda and she was a comely creature. She was much surprised to have a Jewish man thus speak to her at the well and ask for water, for it was not deemed proper in those days for a self-respecting man to speak to a woman in public, much less for a Jew to converse with a Samaritan. Therefore Nalda asked Jesus, “How is it that you, being a Jew, ask for a drink of me, a Samaritan woman?” Jesus answered: “I have indeed asked you for a drink, but if you could only understand, you would ask me for a draught of the living water.” Then said Nalda: “But, Sir, you have nothing to draw with, and the well is deep; whence, then, have you this living water? Are you greater than our father Jacob who gave us this well, and who drank thereof himself and his sons and his cattle also?”
143:5.3 (1613.1) Jesus replied: “Everyone who drinks of this water will thirst again, but whosoever drinks of the water of the living spirit shall never thirst. And this living water shall become in him a well of refreshment springing up even to eternal life.” Nalda then said: “Give me this water that I thirst not, neither come all the way hither to draw. Besides, anything which a Samaritan woman could receive from such a commendable Jew would be a pleasure.”
143:5.4 (1613.2) Nalda did not know how to take Jesus’ willingness to talk with her. She beheld in the Master’s face the countenance of an upright and holy man, but she mistook friendliness for commonplace familiarity, and she misinterpreted his figure of speech as a form of making advances to her. And being a woman of lax morals, she was minded openly to become flirtatious, when Jesus, looking straight into her eyes, with a commanding voice said, “Woman, go get your husband and bring him hither.” This command brought Nalda to her senses. She saw that she had misjudged the Master’s kindness; she perceived that she had misconstrued his manner of speech. She was frightened; she began to realize that she stood in the presence of an unusual person, and groping about in her mind for a suitable reply, in great confusion, she said, “But, Sir, I cannot call my husband, for I have no husband.” Then said Jesus: “You have spoken the truth, for, while you may have once had a husband, he with whom you are now living is not your husband. Better it would be if you would cease to trifle with my words and seek for the living water which I have this day offered you.”
143:5.5 (1613.3) By this time Nalda was sobered, and her better self was awakened. She was not an immoral woman wholly by choice. She had been ruthlessly and unjustly cast aside by her husband and in dire straits had consented to live with a certain Greek as his wife, but without marriage. Nalda now felt greatly ashamed that she had so unthinkingly spoken to Jesus, and she most penitently addressed the Master, saying: “My Lord, I repent of my manner of speaking to you, for I perceive that you are a holy man or maybe a prophet.” And she was just about to seek direct and personal help from the Master when she did what so many have done before and since—dodged the issue of personal salvation by turning to the discussion of theology and philosophy. She quickly turned the conversation from her own needs to a theological controversy. Pointing over to Mount Gerizim, she continued: “Our fathers worshiped on this mountain, and yet you would say that in Jerusalem is the place where men ought to worship; which, then, is the right place to worship God?”
143:5.6 (1613.4) Jesus perceived the attempt of the woman’s soul to avoid direct and searching contact with its Maker, but he also saw that there was present in her soul a desire to know the better way of life. After all, there was in Nalda’s heart a true thirst for the living water; therefore he dealt patiently with her, saying: “Woman, let me say to you that the day is soon coming when neither on this mountain nor in Jerusalem will you worship the Father. But now you worship that which you know not, a mixture of the religion of many pagan gods and gentile philosophies. The Jews at least know whom they worship; they have removed all confusion by concentrating their worship upon one God, Yahweh. But you should believe me when I say that the hour will soon come—even now is—when all sincere worshipers will worship the Father in spirit and in truth, for it is just such worshipers the Father seeks. God is spirit, and they who worship him must worship him in spirit and in truth. Your salvation comes not from knowing how others should worship or where but by receiving into your own heart this living water which I am offering you even now.”
143:5.7 (1614.1) But Nalda would make one more effort to avoid the discussion of the embarrassing question of her personal life on earth and the status of her soul before God. Once more she resorted to questions of general religion, saying: “Yes, I know, Sir, that John has preached about the coming of the Converter, he who will be called the Deliverer, and that, when he shall come, he will declare to us all things”—and Jesus, interrupting Nalda, said with startling assurance, “I who speak to you am he.”
143:5.8 (1614.2) This was the first direct, positive, and undisguised pronouncement of his divine nature and sonship which Jesus had made on earth; and it was made to a woman, a Samaritan woman, and a woman of questionable character in the eyes of men up to this moment, but a woman whom the divine eye beheld as having been sinned against more than as sinning of her own desire and as now being a human soul who desired salvation, desired it sincerely and wholeheartedly, and that was enough.
143:5.9 (1614.3) As Nalda was about to voice her real and personal longing for better things and a more noble way of living, just as she was ready to speak the real desire of her heart, the twelve apostles returned from Sychar, and coming upon this scene of Jesus’ talking so intimately with this woman—this Samaritan woman, and alone—they were more than astonished. They quickly deposited their supplies and drew aside, no man daring to reprove him, while Jesus said to Nalda: “Woman, go your way; God has forgiven you. Henceforth you will live a new life. You have received the living water, and a new joy will spring up within your soul, and you shall become a daughter of the Most High.” And the woman, perceiving the disapproval of the apostles, left her waterpot and fled to the city.
143:5.10 (1614.4) As she entered the city, she proclaimed to everyone she met: “Go out to Jacob’s well and go quickly, for there you will see a man who told me all I ever did. Can this be the Converter?” And ere the sun went down, a great crowd had assembled at Jacob’s well to hear Jesus. And the Master talked to them more about the water of life, the gift of the indwelling spirit.
143:5.11 (1614.5) The apostles never ceased to be shocked by Jesus’ willingness to talk with women, women of questionable character, even immoral women. It was very difficult for Jesus to teach his apostles that women, even so-called immoral women, have souls which can choose God as their Father, thereby becoming daughters of God and candidates for life everlasting. Even nineteen centuries later many show the same unwillingness to grasp the Master’s teachings. Even the Christian religion has been persistently built up around the fact of the death of Christ instead of around the truth of his life. The world should be more concerned with his happy and God-revealing life than with his tragic and sorrowful death.
143:5.12 (1614.6) Nalda told this entire story to the Apostle John the next day, but he never revealed it fully to the other apostles, and Jesus did not speak of it in detail to the twelve.
143:5.13 (1615.1) Nalda told John that Jesus had told her “all I ever did.” John many times wanted to ask Jesus about this visit with Nalda, but he never did. Jesus told her only one thing about herself, but his look into her eyes and the manner of his dealing with her had so brought all of her checkered life in panoramic review before her mind in a moment of time that she associated all of this self-revelation of her past life with the look and the word of the Master. Jesus never told her she had had five husbands. She had lived with four different men since her husband cast her aside, and this, with all her past, came up so vividly in her mind at the moment when she realized Jesus was a man of God that she subsequently repeated to John that Jesus had really told her all about herself.
6. The Samaritan Revival
143:6.1 (1615.2) On the evening that Nalda drew the crowd out from Sychar to see Jesus, the twelve had just returned with food, and they besought Jesus to eat with them instead of talking to the people, for they had been without food all day and were hungry. But Jesus knew that darkness would soon be upon them; so he persisted in his determination to talk to the people before he sent them away. When Andrew sought to persuade him to eat a bite before speaking to the crowd, Jesus said, “I have meat to eat that you do not know about.” When the apostles heard this, they said among themselves: “Has any man brought him aught to eat? Can it be that the woman gave him food as well as drink?” When Jesus heard them talking among themselves, before he spoke to the people, he turned aside and said to the twelve: “My meat is to do the will of Him who sent me and to accomplish His work. You should no longer say it is such and such a time until the harvest. Behold these people coming out from a Samaritan city to hear us; I tell you the fields are already white for the harvest. He who reaps receives wages and gathers this fruit to eternal life; consequently the sowers and the reapers rejoice together. For herein is the saying true: ‘One sows and another reaps.’ I am now sending you to reap that whereon you have not labored; others have labored, and you are about to enter into their labor.” This he said in reference to the preaching of John the Baptist.
143:6.2 (1615.3) Jesus and the apostles went into Sychar and preached two days before they established their camp on Mount Gerizim. And many of the dwellers in Sychar believed the gospel and made request for baptism, but the apostles of Jesus did not yet baptize.
143:6.3 (1615.4) The first night of the camp on Mount Gerizim the apostles expected that Jesus would rebuke them for their attitude toward the woman at Jacob’s well, but he made no reference to the matter. Instead he gave them that memorable talk on “The realities which are central in the kingdom of God.” In any religion it is very easy to allow values to become disproportionate and to permit facts to occupy the place of truth in one’s theology. The fact of the cross became the very center of subsequent Christianity; but it is not the central truth of the religion which may be derived from the life and teachings of Jesus of Nazareth.
143:6.4 (1615.5) The theme of Jesus’ teaching on Mount Gerizim was: That he wants all men to see God as a Father-friend just as he (Jesus) is a brother-friend. And again and again he impressed upon them that love is the greatest relationship in the world—in the universe—just as truth is the greatest pronouncement of the observation of these divine relationships.
143:6.5 (1616.1) Jesus declared himself so fully to the Samaritans because he could safely do so, and because he knew that he would not again visit the heart of Samaria to preach the gospel of the kingdom.
143:6.6 (1616.2) Jesus and the twelve camped on Mount Gerizim until the end of August. They preached the good news of the kingdom—the fatherhood of God—to the Samaritans in the cities by day and spent the nights at the camp. The work which Jesus and the twelve did in these Samaritan cities yielded many souls for the kingdom and did much to prepare the way for the marvelous work of Philip in these regions after Jesus’ death and resurrection, subsequent to the dispersion of the apostles to the ends of the earth by the bitter persecution of believers at Jerusalem.
7. Teachings About Prayer and Worship
143:7.1 (1616.3) At the evening conferences on Mount Gerizim, Jesus taught many great truths, and in particular he laid emphasis on the following:
143:7.2 (1616.4) True religion is the act of an individual soul in its self-conscious relations with the Creator; organized religion is man’s attempt to socialize the worship of individual religionists.
143:7.3 (1616.5) Worship—contemplation of the spiritual—must alternate with service, contact with material reality. Work should alternate with play; religion should be balanced by humor. Profound philosophy should be relieved by rhythmic poetry. The strain of living—the time tension of personality—should be relaxed by the restfulness of worship. The feelings of insecurity arising from the fear of personality isolation in the universe should be antidoted by the faith contemplation of the Father and by the attempted realization of the Supreme.
143:7.4 (1616.6) Prayer is designed to make man less thinking but more realizing; it is not designed to increase knowledge but rather to expand insight.
143:7.5 (1616.7) Worship is intended to anticipate the better life ahead and then to reflect these new spiritual significances back onto the life which now is. Prayer is spiritually sustaining, but worship is divinely creative.
143:7.6 (1616.8) Worship is the technique of looking to the One for the inspiration of service to the many. Worship is the yardstick which measures the extent of the soul’s detachment from the material universe and its simultaneous and secure attachment to the spiritual realities of all creation.
143:7.7 (1616.9) Prayer is self-reminding—sublime thinking; worship is self-forgetting—superthinking. Worship is effortless attention, true and ideal soul rest, a form of restful spiritual exertion.
143:7.8 (1616.10) Worship is the act of a part identifying itself with the Whole; the finite with the Infinite; the son with the Father; time in the act of striking step with eternity. Worship is the act of the son’s personal communion with the divine Father, the assumption of refreshing, creative, fraternal, and romantic attitudes by the human soul-spirit.
143:7.9 (1616.11) Although the apostles grasped only a few of his teachings at the camp, other worlds did, and other generations on earth will.
Documento 143
Atravessando a Samaria
143:0.1 (1607.1) NO FINAL de junho, do ano 27 d.C., por causa da oposição crescente dos dirigentes religiosos judeus, Jesus e os doze partiram de Jerusalém, depois de enviar as suas tendas e os parcos bens pessoais para serem guardados na casa de Lázaro, em Betânia. Indo para o norte de Samaria, eles detiveram-se para o sábado em Betel. E lá eles pregaram, por vários dias, ao povo que veio de Gofna e de Efraim. Um grupo de cidadãos de Arimatéia e de Tamná chegou com a finalidade de convidar Jesus a visitar as suas aldeias. O Mestre e os seus apóstolos passaram mais de duas semanas ensinando aos judeus e aos samaritanos dessa região, muitos dos quais vieram de tão longe quanto Antipatris para ouvir as boas-novas do Reino.
143:0.2 (1607.2) O povo do sul de Samaria ouviu Jesus entusiasmado e, com exceção de Judas Iscariotes, os apóstolos conseguiram vencer grande parte do seu preconceito contra os samaritanos. Era muito difícil para Judas amar esses samaritanos. Na última semana de julho, Jesus e os seus colaboradores estavam prontos para partir rumo às novas cidades gregas de Fasaeles e de Arquelais, perto do Jordão.
1. Pregando em Arquelais
143:1.1 (1607.3) Na primeira metade do mês de agosto, o grupo apostólico fez o seu centro de apoio nas cidades gregas de Arquelais e de Fasaeles, onde eles tiveram a sua primeira experiência pregando a grupos quase exclusivos de gentios — gregos, romanos e sírios — , já que poucos judeus residiam nessas duas cidades gregas. Ao entrarem em contato com esses cidadãos romanos, os apóstolos encontraram novas dificuldades para a proclamação da mensagem do Reino vindouro e depararam-se com novas objeções aos ensinamentos de Jesus. Numa das muitas conversas noturnas com os seus apóstolos, Jesus escutou atentamente sobre essas objeções, feitas ao evangelho do Reino, que os doze repetiam enquanto reproduziam as experiências com as pessoas envolvidas nos seus trabalhos pessoais.
143:1.2 (1607.4) Uma pergunta, feita por Filipe, era típica das dificuldades deles. Disse Filipe: “Mestre, esses gregos e romanos fazem pouco da nossa mensagem, dizendo que tais ensinamentos servem apenas aos fracos e aos escravos. Eles afirmam que a religião dos pagãos é superior aos nossos ensinamentos, porque inspira a aquisição de um caráter forte, robusto e agressivo. E dizem que nos transformaríamos todos numa espécie debilitada de homens não resistentes e passivos, que seriam logo eliminados da face da Terra. Eles gostam de ti, Mestre, e admitem voluntariamente que o teu ensinamento seja celeste e ideal, mas não nos levarão a sério. Afirmam que a tua religião não é para este mundo; que os homens não podem viver como tu ensinas. E agora, Mestre, o que diremos a esses gentios?”
143:1.3 (1607.5) Depois de ter ouvido outras objeções semelhantes, ao evangelho do Reino, apresentadas por Tomé, Natanael, Simão zelote e Mateus, ele disse aos doze:
143:1.4 (1608.1) “Eu vim a este mundo para fazer a vontade do meu Pai e para revelar Seu caráter amoroso a toda a humanidade. Essa, meus irmãos, é minha missão. E vou realizá-la, independentemente da má compreensão desses meus ensinamentos, da parte de judeus ou gentios, nos dias presentes ou em outra geração. Mas não deveis esquecer-vos do fato de que mesmo o amor divino tem disciplinas severas. O amor de um pai por seu filho muitas vezes leva o pai a restringir os atos pouco sábios da sua prole imprudente. O filho nem sempre compreende a sabedoria e o amor dos motivos da disciplina restritiva do pai. Todavia, eu declaro-vos que meu Pai no Paraíso rege o universo dos universos por meio do poder do pulso do seu amor. O amor é a maior de todas as realidades do espírito. A verdade é uma revelação libertadora, mas o amor é a relação suprema. E quaisquer que sejam os erros cometidos pelos vossos semelhantes na direção do mundo de hoje, o evangelho que eu proclamo, em uma idade que virá, irá reger este mesmo mundo. A meta última do progresso humano é o reconhecimento reverente da paternidade de Deus, e a materialização amorosa da irmandade dos homens.
143:1.5 (1608.2) “E quem vos disse que o meu evangelho é destinado apenas aos escravos e aos debilitados? E vós, meus apóstolos escolhidos, acaso pareceis débeis? Será que João tem a aparência de fraco? Vós já presenciastes a mim sendo escravizado pelo medo? A verdade é que os pobres e os oprimidos desta geração têm o evangelho pregado a eles. As religiões deste mundo têm negligenciado os pobres, mas o meu Pai não tem preferência por ninguém. Além disso, os pobres desta época são os primeiros a dar atenção ao chamado de arrependimento e de aceitação da filiação. O evangelho do Reino deve ser pregado a todos os homens — judeus e gentios, gregos e romanos, ricos e pobres, livres e escravos — e igualmente aos jovens e velhos, aos homens e às mulheres.
143:1.6 (1608.3) “Porque o meu Pai é um Deus de amor e júbilo, na prática da misericórdia, não vos impregneis da idéia de que o serviço do Reino deverá ser de facilidade monótona. A ascensão ao Paraíso é a aventura suprema de todos os tempos, é a árdua realização da eternidade. O serviço do Reino, na Terra, apelará para toda a virilidade corajosa que vós e vossos colaboradores possam reunir. Muitos de vós sereis levados à morte, por causa da vossa lealdade ao evangelho desse Reino. Fácil é morrer na frente física da batalha, onde vossa coragem é fortalecida pela presença dos vossos camaradas na luta; mas uma forma mais elevada e mais profunda de coragem e devoção humana é necessária ao sacrificardes a vida, calmamente e a sós, pelo amor de uma verdade guardada no relicário do coração mortal.
143:1.7 (1608.4) “Hoje, os descrentes podem escarnecer de vós, por causa da pregação de um evangelho de não-resistência e de vidas sem violência, mas vós sois os primeiros voluntários de uma longa linha de crentes sinceros no evangelho deste Reino e irão maravilhar a toda a humanidade pela sua devoção heróica a esses ensinamentos. Nenhum exército do mundo jamais demonstrou mais coragem e bravura do que as que serão mostradas por vós e pelos vossos sucessores leais, que se espalharão por todo o mundo proclamando as boas-novas — a paternidade de Deus e a irmandade entre os homens. A coragem da carne é a forma mais baixa de bravura. A bravura da mente é um tipo mais elevado de coragem humana; e o tipo mais elevado e supremo de bravura é a lealdade sem concessões às convicções esclarecidas das realidades espirituais profundas. E essa coragem constitui-se no heroísmo do homem sabedor de Deus. E vós sois, todos, homens conhecedores de Deus, na verdade sois os companheiros pessoais do Filho do Homem”.
143:1.8 (1608.5) Essa não é a totalidade do que Jesus disse, naquela ocasião, mas é a introdução do seu discurso; e ele delongou-se na amplificação e na ilustração de tudo aquilo que disse. Essa foi uma das elocuções mais apaixonadas que Jesus proferiu aos doze. Raramente o Mestre falara aos seus apóstolos com uma veemência tão evidente, contudo essa foi uma daquelas ocasiões em que ele falou com uma gravidade manifesta, acompanhada de emoção especial.
143:1.9 (1609.1) O resultado sobre a pregação pública e a ministração pessoal dos apóstolos foi imediato; desde esse mesmo dia, a mensagem deles teve um novo tom de predomínio da coragem. Os doze continuaram a adquirir um espírito positivamente dinâmico de agregação em torno do novo evangelho do Reino. Desse dia em diante eles não mais se ocuparam tanto com a pregação contra as virtudes negativas, nem com as injunções passivas dos ensinamentos multifacetados do Mestre.
2. A Lição da Mestria sobre Si Próprio
143:2.1 (1609.2) O Mestre foi um exemplo perfeito do autocontrole humano. Quando insultado, não insultava; quando sofria, não proferia nenhuma ameaça contra aqueles que o atormentavam; quando foi denunciado pelos seus inimigos, ele simplesmente entregou-se ao julgamento justo do Pai no céu.
143:2.2 (1609.3) Numa das conversas noturnas, André perguntou a Jesus: “Mestre, devemos praticar a renúncia como João ensinou, ou devemos buscar o autocontrole que está nos teus ensinamentos? Em que os teus ensinamentos diferem dos de João?” Jesus respondeu: “De fato, João ensinou o caminho da retidão, de acordo com a luz e as leis dos pais dele; e estas formavam uma religião de auto-exame e auto-renúncia. Mas eu venho com uma nova mensagem de auto-esquecimento e autocontrole. E mostro-vos o caminho da vida, como foi revelado a mim pelo Pai do céu.
143:2.3 (1609.4) “Em verdade, em verdade, digo-vos, que aquele que conquista o controle sobre o próprio ego é maior do que aquele que conquista uma cidade. A automestria é a medida da natureza moral do homem; é indicadora do seu desenvolvimento espiritual. Jejuastes e orastes, segundo a velha ordem; e como novas criaturas que sois, no renascimento pelo espírito, vos é ensinado a acreditar e a rejubilar. No Reino do Pai, deveis transformar-vos em novas criaturas; as velhas coisas devem passar; observai, pois vos mostro como todas as coisas devem tornar-se novas. E, pelo amor que tendes uns pelos outros, deveis convencer o mundo de que passastes da escravidão à liberdade, da morte à vida eterna.
143:2.4 (1609.5) “Segundo o velho caminho, buscais suprimir, obedecer e colocar-vos em conformidade com as regras do viver; pelo novo caminho antes sereis transformados, na vossa alma interior, pelo Espírito da Verdade e sereis fortalecidos por ele, com a renovação espiritual constante da vossa mente e, assim, sereis dotados com o poder de atuar do modo certo, rejubilante e cumprindo, com graça e aceitação, a vontade perfeita de Deus. Não vos esqueçais de que vossa fé, pessoal, nas promessas imensamente grandes e preciosas de Deus, é que assegura que vos tornareis participantes da natureza divina. Assim, por vossa fé e transformação do espírito, vos transformais, em realidade, nos templos de Deus; e o espírito Dele, de fato, reside dentro de vós. Se, então, o espírito residir em vós, não mais sereis escravos da carne, mas sereis filhos livres e libertos do espírito. A nova lei do espírito proporciona-vos a liberdade do autocontrole e da automestria, em substituição à velha lei do medo, escravidão e prisão á auto-renúncia.
143:2.5 (1609.6) “Quantas vezes, após haverdes feito o mal, vós pensastes em atribuir os vossos atos à influência do maligno, quando, em realidade, fostes levados pelas vossas próprias tendências naturais? E o profeta Jeremias não vos disse, há muito tempo, que o coração humano engana, acima de todas as coisas, e que é, algumas vezes, até mesmo desesperadamente perverso? Quão fácil para vós é que sejais enganados e que por isso caiais em medos tolos, em concupiscências diversas, nos prazeres escravizantes, da malícia, da inveja e mesmo do ódio vingativo!
143:2.6 (1610.1) “A salvação se dá por meio da regeneração do espírito, e não pelos atos de retidão na carne. Vós vos justificais pela fé e, pela graça, sois admitidos à comunhão entre irmãos, e não pelo medo e pela renúncia da carne; embora os filhos do Pai, nascidos do espírito, sejam sempre e cada vez mais os mestres sobre o próprio ego e tudo o que é pertinente aos desejos da carne. Quando souberdes que sois salvos pela fé, estareis na paz real de Deus. E tudo que vier no caminho dessa paz celeste está destinado a ser santificado no serviço eterno dos filhos, sempre em avanço, do Deus eterno. Doravante não é um dever, mas é como um alto privilégio que, ao buscardes a perfeição no amor do Pai, vos limpeis de todos os males da mente e do corpo.
143:2.7 (1610.2) “A vossa filiação tem o seu fundamento na fé, e deveis permanecer insensíveis ao medo. O vosso júbilo nasce da confiança na palavra divina e, conseqüentemente, não sereis levados a duvidar da realidade do amor e da misericórdia do Pai. É a bondade mesma de Deus que conduz os homens ao arrependimento verdadeiro e genuíno. O vosso segredo da mestria e do controle sobre o ego está ligado à vossa fé no espírito residente, que sempre trabalha por amor. Mesmo essa fé salvadora que tendes, não a tendes por vós próprios, é também uma dádiva de Deus. E, se sois filhos dessa fé viva, não sois mais escravos do vosso ego, pois sois antes os mestres triunfantes de vós próprios, sois os filhos libertados de Deus.
143:2.8 (1610.3) “Se, pois, sois nascidos do espírito, então, meus filhos, estais para sempre libertados das correntes autoconscientes de uma vida de auto-renúncia e vigilância sobre os desejos da carne, e sereis transladados para o Reino rejubilante do espírito, do qual espontaneamente vós mostrareis os frutos, vindos do espírito, na vossa vida diária; e os frutos do espírito são, em essência, o tipo mais elevado de autocontrole agradável e enobrecedor; são o auge mesmo da realização terrestre para os mortais — a verdadeira mestria sobre vós próprios”.
3. A Diversão e o Descanso
143:3.1 (1610.4) Nesse momento, um estado de grande tensão nervosa e emocional desenvolveu- se entre os apóstolos e os seus condiscípulos imediatos. Eles ainda não se haviam acostumado a viver e trabalhar juntos. Estavam experimentando dificuldades cada vez maiores para manter relações harmoniosas com os discípulos de João. O contato com os gentios e os samaritanos fora uma grande provação para esses judeus. E, além de tudo isso, as afirmações recentes de Jesus haviam aumentado o seu tumulto mental. André estava quase fora de si; não sabia mais o que fazer e, assim sendo, foi até o Mestre, levando os seus problemas e perplexidades. Depois de haver escutado o dirigente apostólico relatar os seus problemas, Jesus disse: “André, tu não podes retirar dos homens as suas perplexidades, quando eles estão nesse nível de envolvimento e quando tantas pessoas e sentimentos violentos estão implicados. Não posso fazer o que pedes a mim — não participarei dessas dificuldades sociais pessoais — , mas estarei convosco, no gozo de um período de três dias de descanso e de repouso. Vai aos teus irmãos e anuncia que todos irão comigo ao monte Sartaba, onde desejo descansar um ou dois dias.
143:3.2 (1610.5) “Agora deves ir aos teus onze irmãos e conversar com cada um deles, em particular; deves dizer: ‘O Mestre deseja que tenhamos um período de descanso e de relaxamento, a sós com ele. Já que todos nós recentemente experimentamos muitos aborrecimentos de espírito e de tensão mental, eu sugiro que não se faça menção às nossas preocupações e provações, enquanto estivermos nesse descanso. Posso confiar em ti para cooperar comigo nessa questão?’ E, desse modo, explique particular e pessoalmente a cada um dos teus irmãos”. E André fez como o Mestre havia instruído que fizesse.
143:3.3 (1611.1) Essa foi uma ocasião maravilhosa, nas experiências de cada um deles; e nunca se esqueceram do dia em que subiram a montanha. Durante toda a viagem, dificilmente foi dita uma palavra sobre os próprios problemas. Ao chegarem ao topo da montanha, Jesus assentou-os em volta de si e disse: “Meus irmãos, deveis aprender o valor do descanso e a eficácia do relaxamento. Deveis compreender que o melhor método de resolver certos problemas emaranhados é o de abandoná-los por algum tempo. Então, quando voltardes, refrescados pelo descanso ou adoração, estareis aptos a atacar os vossos problemas com uma cabeça mais clara e com a mão mais firme, para não mencionar o coração que estará mais resoluto. De novo, muitas vezes vereis que o problema terá o seu tamanho e proporções encolhidas, durante o tempo em que estivestes descansando a vossa mente e o vosso corpo”.
143:3.4 (1611.2) No dia seguinte Jesus designou a cada um dos doze um tópico para a discussão. O dia todo foi devotado a reminiscências e a conversas sobre questões não ligadas ao trabalho religioso. Eles ficaram momentaneamente chocados quando Jesus até deixou de fazer os agradecimentos — verbais — no momento de partir o pão para a refeição do meio-dia. Essa foi a primeira vez que perceberam que ele havia negligenciado tais formalidades.
143:3.5 (1611.3) Quando subiram a montanha, a cabeça de André estava cheia de problemas. João tinha o coração excessivamente perplexo. Tiago, a alma gravemente perturbada. Mateus estava muito pressionado, por causa da falta de fundos no caixa, desde que eles permaneciam entre os gentios. Pedro encontrava-se extenuado e, ultimamente, andava mais temperamental do que de costume. Judas sofria de um ataque periódico de sensibilidade e de egoísmo. Simão parecia anormalmente desnorteado nos seus esforços para reconciliar o seu patriotismo com o amor pela irmandade dos homens. Filipe estava mais e mais confuso com o modo pelo qual as coisas caminhavam. Natanael tinha estado com menos bom humor desde que eles haviam entrado em contato com as populações gentias; e Tomé achava-se em meio a uma crise severa de depressão. Apenas os gêmeos aparentavam estar normais e sem perturbações. Todos eles andavam excessivamente atordoados com a questão de como se darem pacificamente com os discípulos de João.
143:3.6 (1611.4) Ao terceiro dia, quando iniciaram a descida da montanha, para voltar ao acampamento, uma grande mudança havia acontecido neles. Tinham feito a descoberta importante de que muitas das perplexidades humanas na realidade inexistem, de que muitos problemas que nos pressionam são criações de um medo e de uma apreensão exagerados. Haviam aprendido que todas essas perplexidades são mais bem manipuladas quando abandonadas; ao distanciarem- se, eles deixaram os problemas resolvendo-se por si próprios.
143:3.7 (1611.5) O regresso dessa folga marcou a abertura de um período de relações bastante melhores com os seguidores de João. Alguns dos doze realmente se viram possuídos de alegria quando perceberam como tudo mudara nas mentes de todos e quando observaram que estavam livres das irritações, tendo tudo surgido como resultado dos três dias de férias dos deveres rotineiros da vida. Há sempre o perigo de que a monotonia no contato humano multiplique, em muito, as perplexidades e aumente as dificuldades.
143:3.8 (1611.6) Não eram muitos os gentios, nas duas cidades gregas de Arquelais e Fasaeles, que acreditavam no evangelho, mas os doze apóstolos ganharam uma boa experiência nesse seu primeiro trabalho extenso, exclusivamente com populações gentias. Numa segunda-feira pela manhã, por volta do meio do mês, Jesus disse a André: “Vamos para Samaria”. E eles partiram imediatamente para a cidade de Sichar, perto do poço de Jacó.
4. Os Judeus e os Samaritanos
143:4.1 (1612.1) Por mais de seiscentos anos os judeus da Judéia, e, mais tarde, também os da Galiléia, mantiveram uma inimizade em relação aos samaritanos. Esse sentimento prejudicial, entre os judeus e os samaritanos, surgira da seguinte maneira: Cerca de setecentos anos a.C., Sargon, rei da Assíria, ao subjugar uma revolta na Palestina Central, levara consigo em cativeiro mais de vinte e cinco mil judeus do reino do norte de Israel e instalou no lugar deles um número quase igual de descendentes de cutitas, sefarvitas e hamatitas. Mais tarde, Assurbanipal enviou ainda outras colônias para residirem em Samaria.
143:4.2 (1612.2) A inimizade religiosa entre os judeus e os samaritanos data do retorno dos judeus, em cativeiro na Babilônia, quando os samaritanos trabalharam para impedir a reconstrução de Jerusalém. Mais tarde eles ofenderam os judeus quando estenderam uma ajuda amigável aos exércitos de Alexandre. Em retribuição à amizade deles, Alexandre deu aos samaritanos a permissão para construírem um templo no monte Gerizim, onde eles adoravam Yavé e os seus deuses tribais e ofereciam sacrifícios muito semelhantes aos da ordem dos serviços dos templos de Jerusalém. E eles continuaram com esse culto, ao menos até a época dos macabeus, quando João Hircano destruiu o templo deles no monte Gerizim. Depois da morte de Jesus, o apóstolo Filipe, nos seus trabalhos com os samaritanos, realizou muitos encontros no local desse velho templo samaritano.
143:4.3 (1612.3) Os antagonismos entre judeus e samaritanos tornaram-se históricos e tradicionais; desde os dias de Alexandre eles davam-se cada vez menos bem uns com os outros. Os doze apóstolos não eram avessos a pregar nas cidades gregas e em outras cidades gentias da Decápolis e da Síria, mas surgia um teste severo para a sua lealdade ao Mestre, quando este dizia: “Vamos a Samaria”. Contudo, nesse período de pouco mais de um ano, em que estiveram com Jesus, eles desenvolveram uma forma de lealdade pessoal que transcendia até mesmo a sua fé nos ensinamentos do Mestre e mesmo até os seus preconceitos contra os samaritanos.
5. A Mulher de Sichar
143:5.1 (1612.4) Quando o Mestre e os doze chegaram ao poço de Jacó, estando cansado da viagem, Jesus parou ao lado do poço, enquanto Filipe levou os apóstolos consigo para ajudar a carregar os alimentos até as tendas de Sichar, pois estavam dispostos a permanecer um pouco mais nessa vizinhança. Pedro e os filhos de Zebedeu teriam permanecido com Jesus, mas este solicitou que fossem com os seus irmãos, dizendo: “Não temais por mim; esses samaritanos serão amigáveis; apenas os nossos irmãos, os judeus, tentam causar danos a nós”. E eram quase seis horas, nessa tarde de verão, quando Jesus assentou-se junto ao poço para aguardar pelo retorno dos apóstolos.
143:5.2 (1612.5) A água do poço de Jacó era menos mineral do que a dos poços de Sichar e, portanto, era de muito mais valor para ser bebida. Jesus estava com sede, mas não havia nenhum meio de retirar a água do poço. Foi quando uma mulher de Sichar surgiu, com o seu cântaro de água, e preparou-se para tirar água do poço, e Jesus disse-lhe: “Dá-me um pouco para beber”. Essa mulher de Samaria sabia que Jesus era judeu, pela sua aparência, e suas roupas, e supôs que ele fosse galileu por causa do seu sotaque. Chamava-se Nalda e era uma pessoa atraente. Ficou muito surpreendida de ouvir um homem judeu falando assim a ela, junto ao poço, pedindo água, pois não era considerado próprio, naqueles dias, a um homem que se respeitasse dirigir-se a uma mulher em público, e menos ainda que um judeu conversasse com uma samaritana. E, sendo assim, Nalda perguntou a Jesus: “Como é que tu, sendo um judeu, pedes a mim, uma mulher samaritana, água para beber?” Jesus respondeu: “De fato eu te pedi um pouco de água, mas, se pudesses compreender, tu me pedirias um pouco da água da vida”. Então Nalda disse: “Mas, Senhor, tu não tens com que retirar água, e o poço é profundo; de onde, então, podes tirar essa água da vida? Será que és maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço e do qual ele próprio bebeu tanto quanto os seus filhos e o seu gado também?”
143:5.3 (1613.1) Jesus respondeu: “Todos os que beberem dessa água terão sede novamente, mas quem beber da água do espírito vivo nunca mais terá sede. Essa água da vida tornar-se-á dentro dele como um poço de água fresca, jorrando até a vida eterna”. Então Nalda disse: “Dê-me dessa água para que eu não sinta mais sede, nem tenha que vir até aqui para retirar mais água. Além do mais, qualquer coisa que uma mulher samaritana possa receber de um judeu, tão louvável, seria um prazer”.
143:5.4 (1613.2) Nalda não sabia como encarar a boa disposição com a qual Jesus conversava com ela. E via, no rosto do Mestre, a expressão de um homem íntegro e santo, mas confundia a boa vontade dele com alguma familiaridade comum; assim ela tomou a sua fala simbólica como um modo dele se insinuar para ela. E, sendo uma mulher de moralidade pouco rígida, estava disposta a iniciar abertamente um namorico, quando Jesus, olhando bem fundo nos seus olhos, disse, em uma voz que demonstrava autoridade: “Mulher, vai buscar o seu marido e traze-o aqui”. Essa ordem trouxe Nalda de volta a si. Ela notou que havia entendido mal a bondade do Mestre; e percebeu que havia interpretado mal o sentido das suas palavras. E chegou a ficar amedrontada; e começou a compreender que estava diante de uma pessoa excepcional e, buscando na sua mente uma resposta adequada, em uma grande confusão, ela disse: “Senhor, eu não posso chamar o meu marido, pois não tenho nenhum marido”. Então Jesus disse: “Tu disseste a verdade, pois, ainda que tenhas tido um marido, aquele com quem tu estás vivendo agora, não é o teu marido. Melhor seria se pudesses deixar de tomar as minhas palavras levianamente, e se procurasses achar a água da vida que eu hoje te ofereci”.
143:5.5 (1613.3) Nesse momento Nalda estava mais calma, e o seu eu mais elevado havia sido despertado. Ela não era uma mulher imoral inteiramente por escolha própria. Havia sido rude e injustamente posta de lado pelo marido e, nessa situação desesperada, tinha consentido em viver com um certo grego, como mulher dele, mas sem casamento. Nalda agora se envergonhava muito de ter falado impensadamente a Jesus, e penitentemente ela dirigiu-se ao Mestre, dizendo: “Meu Senhor, arrependo-me pelos meus modos de falar convosco, pois percebo que és um homem santo ou um profeta, talvez”. E ela estava a ponto de buscar a ajuda direta e pessoal do Mestre quando então fez o que muitos têm feito antes e, subitamente, evadiu-se da questão da salvação pessoal, voltando-se para a discussão sobre a teologia e a filosofia. Rapidamente ela conduziu a conversa, passando das suas próprias necessidades para uma controvérsia teológica. Apontando para o monte Gerizim, ela continuou: “Os nossos pais fizeram a sua adoração nessa montanha, e tu dizes que Jerusalém é o local onde os homens devem adorar; qual, então, é o local certo para adorar a Deus?”
143:5.6 (1613.4) Jesus percebeu a tentativa, da alma da mulher, de evitar o contato direto e de busca junto ao seu Criador, mas percebeu também presente na sua alma um desejo de saber qual o melhor caminho na vida. Afinal, no coração de Nalda havia uma sede verdadeira da água da vida; e, assim, ele tratou-a com paciência, dizendo: “Mulher, deixa-me dizer-te que virá logo o dia em que nem nessa montanha, nem em Jerusalém, tu adorarás o Pai. E agora tu adoras aquilo que não conheces, uma mistura da religião de muitos deuses pagãos e de filosofias gentias. Os judeus ao menos sabem a quem adoram; eles acabaram com toda a confusão, concentrando a sua adoração em um único Deus, Yavé. E tu deverias acreditar em mim quando digo que a hora logo virá — e já veio, agora mesmo — em que todos os adoradores sinceros adorarão o Pai em espírito e em verdade, pois são exatamente a esses adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e aqueles que O adoram devem fazê-lo em espírito e em verdade. A tua salvação não vem de saberes como os outros deveriam adorar, nem onde, mas vem de receberes no teu próprio coração essa água da vida que eu estou oferecendo a ti, neste momento”.
143:5.7 (1614.1) Nalda faria, contudo, ainda um outro esforço para evitar falar da questão embaraçosa da sua vida pessoal na Terra e da posição da sua alma diante de Deus. Uma vez mais, ela recorreu a perguntas sobre a religião em geral, dizendo: “Sim, eu sei, senhor, que João pregou sobre a vinda do Convertedor, daquele que será chamado de Libertador, e que, quando vier, ele declarará para nós todas as coisas” — e Jesus, interrompendo Nalda, disse com uma segurança surpreendente: “Eu, que falo a ti, sou ele”.
143:5.8 (1614.2) Esse foi o primeiro pronunciamento direto, positivo e indisfarçado da própria natureza e filiação divinas, que Jesus fez na Terra; e foi feito a uma mulher, a uma samaritana, uma mulher de caráter questionável aos olhos dos homens, até esse momento, mas uma mulher a quem o olho divino contemplou, como sendo alguém contra quem se tinha pecado mais do que pecara ela própria por seu próprio desejo; sendo agora uma alma humana que desejava a salvação, que a desejava sinceramente e de todo o seu coração, e isso era suficiente.
143:5.9 (1614.3) Quando Nalda estava para dar voz à sua aspiração real e pessoal por coisas melhores e por um caminho mais nobre de viver, quando estava pronta para falar sobre o desejo real do seu coração, os doze apóstolos chegavam de Sichar e, deparando com a cena de Jesus falando tão intimamente com essa mulher — uma samaritana — , e a sós, ficaram mais do que atônitos. Rapidamente colocaram no chão os suprimentos e permaneceram ao lado, nenhum deles ousando reprová-lo, enquanto Jesus dizia a Nalda: “Mulher, toma o teu caminho; Deus te perdoou. De agora em diante viverás uma nova vida. Já recebeste a água da vida, e uma nova alegria brotará dentro da tua alma e tornar-te-ás filha do Altíssimo”. E a mulher, percebendo a desaprovação dos apóstolos, abandonou o seu pote de água e fugiu para a aldeia.
143:5.10 (1614.4) Ao entrar na aldeia, ela proclamou a todos o que havia encontrado: “Ide ao poço de Jacó e ide depressa, pois lá vereis um homem que falou de tudo o que eu fiz. Será que ele pode ser o Convertedor?” E, antes que o sol se pusesse, uma grande multidão reuniu-se no poço de Jacó para ouvir Jesus. E o Mestre falou- lhes ainda mais sobre a água da vida, a dádiva do espírito residente.
143:5.11 (1614.5) Os apóstolos nunca deixaram de chocar-se com a disposição que Jesus tinha de falar com mulheres, mulheres de caráter discutível, e imorais mesmo. Era muito difícil para Jesus ensinar aos seus apóstolos que as mulheres, mesmo as mulheres chamadas imorais, têm almas que podem escolher Deus como o Pai delas, tornando-se assim filhas de Deus e candidatas à vida eterna. E, mesmo dezenove séculos depois, muitos ainda demonstram a mesma relutância em compreender os ensinamentos do Mestre. Mesmo a religião cristã tem sido construída persistentemente sobre o fato da morte de Cristo e não sobre a verdade da sua vida. O mundo deveria estar mais ocupado com a vida feliz, e reveladora de Deus, que Jesus levou, do que com a sua morte trágica e pesarosa.
143:5.12 (1614.6) Nalda contou toda essa história ao apóstolo João, no dia seguinte, mas ele nunca a revelou plenamente aos outros apóstolos, e Jesus não falou detalhadamente desse acontecimento aos doze.
143:5.13 (1615.1) Nalda contou a João que Jesus tinha contado a ela “tudo o que eu fiz na minha vida”. João quis perguntar a Jesus, muitas vezes, sobre essa conversa com Nalda, mas nunca o fez. Jesus apenas havia contado a ela uma coisa sobre ela própria, mas o olhar fundo nos olhos dela e o modo como ele a tratara trouxeram- lhe tudo, em uma revisão panorâmica, bem diante da sua mente, em um lapso de tempo tal que ela associou toda essa auto-revelação, da própria vida que levara, ao olhar e à palavra do Mestre. Jesus nunca lhe havia dito que ela tivera cinco maridos. Ela vivera com quatro homens diferentes, desde que o seu marido a deixara, e isso, junto com todo o seu passado, veio vividamente à sua mente no momento em que compreendeu que Jesus era um homem de Deus, tanto que ela acabou repetindo depois, para João, que Jesus tinha realmente dito a ela tudo sobre a sua vida pessoal.
6. O Renascimento Samaritano
143:6.1 (1615.2) Na noite em que Nalda levou a multidão até o lado de fora de Sichar, para ver Jesus, os doze haviam acabado de voltar com comida; e eles suplicaram a Jesus que comesse com eles em vez de falar com o povo, pois eles tinham estado sem comer todo o dia e estavam famintos. Jesus, entretanto, sabia que a escuridão logo os envolveria; e, desse modo, persistiu na sua determinação de conversar com o povo, antes de mandar todos embora. Quando André tentou persuadi-lo a comer um pouco, antes de falar à multidão, Jesus replicou: “Eu tenho, para comer, um alimento do qual vós nada sabeis”. Quando os apóstolos ouviram isso, eles disseram entre si: “Será que algum homem lhe trouxe algo para comer? Pode ser que a mulher tenha dado comida a ele junto com o que lhe deu para beber?” Quando Jesus os ouviu falando entre si, antes de falar ao povo, ele voltou- se de lado para dizer aos doze: “O meu alimento é fazer a vontade Dele, que me enviou, e realizar o Seu trabalho. Vós não devíeis mais dizer que há tanto e mais tanto tempo ainda antes da colheita. Vede esse povo vindo de uma cidade samaritana para ouvir-nos; eu vos digo que os campos já estão brancos para a colheita. Aquele que colhe recebe o salário, e junta o fruto para a vida eterna; conseqüentemente os semeadores e os colhedores rejubilam-se juntos. Pois nisto reside a verdade do ditado: ‘Um semeia e o outro colhe’. Eu agora vos estou enviando para colher onde não trabalhastes; outros trabalharam, e vós estais para entrar no trabalho deles”. Isso ele disse referindo-se à pregação de João Batista.
143:6.2 (1615.3) Jesus e os apóstolos foram a Sichar e, antes de montarem o acampamento deles no monte Gerizim, pregaram durante dois dias. E muitos dos habitantes de Sichar acreditaram no evangelho e pediram o batismo, mas os apóstolos de Jesus não batizavam ainda.
143:6.3 (1615.4) Na primeira noite do acampamento, no monte Gerizim, os apóstolos esperaram que Jesus os reprovasse pela atitude deles para com a mulher, no poço de Jacó, mas ele não fez referência à questão. Em vez disso fez-lhes aquela maravilhosa palestra sobre “As realidades que são as mais importantes no Reino de Deus”. Em qualquer religião é muito fácil permitir que os valores assumam uma grandeza desproporcional, como também é fácil permitir que acontecimentos ocupem o lugar da verdade, na teologia. O fato da cruz tornou-se o centro mesmo do cristianismo, que estava para vir em seguida; mas não é essa a verdade central da religião que se pode derivar da vida e dos ensinamentos de Jesus de Nazaré.
143:6.4 (1615.5) O tema dos ensinamentos de Jesus no monte Gerizim foi: Ele queria que todos os homens vissem a Deus como um Pai-amigo, exatamente como ele (Jesus) é um amigo-irmão. De novo e de novo, ele inculcou neles o fato de que o amor é a relação mais elevada no mundo — no universo — , do mesmo modo que a verdade é o maior pronunciamento sobre a observação dessas relações divinas.
143:6.5 (1616.1) Jesus revelou-se assim tão completamente aos samaritanos porque ele podia fazê-lo com segurança, e porque sabia que não visitaria de novo o centro de Samaria para pregar o evangelho do Reino.
143:6.6 (1616.2) Jesus e os doze permaneceram acampados no monte Gerizim até o fim de agosto. Eles pregavam as boas-novas do Reino — a paternidade de Deus — , aos samaritanos, nas aldeias, dia após dia, e passavam as noites no acampamento. O trabalho que Jesus e os doze fizeram nessas cidades samaritanas conduziu muitas almas ao Reino e fez muito para preparar o caminho ao trabalho maravilhoso de Filipe nessas regiões, depois da morte e da ressurreição de Jesus, em seguida à dispersão dos apóstolos até os confins da Terra, na perseguição amarga dos crentes em Jerusalém.
7. Os Ensinamentos sobre a Prece e Adoração
143:7.1 (1616.3) Nas conversas noturnas no monte Gerizim, Jesus ensinou muitas grandes verdades e, em particular, colocou ênfase no seguinte:
143:7.2 (1616.4) A verdadeira religião é o ato de uma alma individual, nas suas relações conscientes com o Criador; a religião organizada é a tentativa de socializar o ato da adoração do homem religioso individual.
143:7.3 (1616.5) A adoração — a contemplação do espiritual — deve alternar-se com o serviço, o contato com a realidade material. O trabalho deveria alternar-se com a diversão; a religião deveria ser equilibrada pelo humor. A filosofia profunda deveria receber o alívio da poesia rítmica. A tensão de viver — a tensão da personalidade no tempo — deveria ser afrouxada, no descanso da adoração. Os sentimentos de insegurança que advêm do medo do isolamento da personalidade no universo deveriam receber o antídoto que é a contemplação, na fé, do Pai, e que é a tentativa de realização e compreensão do Supremo.
143:7.4 (1616.6) A prece é destinada a tornar o homem menos pensativo e mais realizador; ela não se destina a fazer o conhecimento crescer, mas antes a expandir o discernimento.
143:7.5 (1616.7) A adoração intenta antecipar a vida melhor, que está adiante, e em seguida destina-se a refletir de volta, para a vida atual, essas novas significações espirituais. A prece sustenta espiritualmente, mas a adoração é divinamente criativa.
143:7.6 (1616.8) A adoração é a técnica de voltar-se para o Um, para receber a inspiração do serviço de muitos. A adoração é a medida pela qual se avalia o distanciamento da alma, até o universo material, e a sua conexão simultânea e segura com as realidades espirituais de toda a criação.
143:7.7 (1616.9) A prece é como a autolembrança — um pensamento sublime -; a adoração é o auto-esquecimento — o suprapensamento. A adoração é a atenção sem esforço, o repouso verdadeiro e ideal para a alma, uma forma de exercício espiritual repousante.
143:7.8 (1616.10) A adoração é o ato de uma parte identificando-se com o Todo; o finito com o Infinito; o filho com o Pai; o tempo no ato de um passo que toca a eternidade. A adoração é o ato da comunhão pessoal do filho com o Pai divino, é deixar que a alma-espírito assuma atitudes reanimadoras, criativas, fraternais e românticas.
143:7.9 (1616.11) Embora os apóstolos tenham captado apenas pouco dos seus ensinamentos no acampamento, outros mundos captaram; e novas gerações na Terra irão alcançar esses ensinamentos.